Como pode o homem ter plena certeza de que está no caminho verdadeiro, na linha reta da iniciação espiritual? E se tudo aquilo não passasse de simples emocionalismo, ou até de orgulhosa presunção?...
Para o verdadeiro iniciado, há uma certeza imediata, íntima, que não exige provas externas; o homem que teve o seu encontro com Deus tem plena certeza desse encontro, embora não o possa provar aos outros nem ao próprio ego humano. A certeza não vem das provas; as provas são apenas uma tentativa, assaz pueril, de querer justificar a certeza espiritual, o que é impossível. Se a certeza íntima dependesse das provas analíticas e silogísticas da inteligência, não haveria verdadeira certeza. Mas a certeza vem duma experiência interna, que não pode ser construída nem destruída por nenhum demonstração externa. A certeza espiritual está para além de todas as defensivas e ofensivas das provas; habita no baluarte inexpugnável da intuição espiritual, que é a voz de Deus dentro do homem.
Quem tenta provar a existência de Deus é ateu, e quem adora um Deus cientificamente demonstrado é idólatra. Nem a realidade de Deus nem a imortalidade da alma podem ser provadas, mas são o resultado de uma experiência íntima para além de todos os horizontes das operações da inteligência.
Entretanto, esse encontro íntimo com Deus, além de dar certeza imediata ao iniciado, tem também as suas projeções externas, uma vez que o "agir segue ao ser". O verdadeiro iniciado em seu íntimo ser revela essa iniciação também no seu externo agir, queira ou não queira. E essas consequências externas servem, geralmente, de teste e contra-prova para os de fora; o mundo nada sabe do nosso ser, só conhece o nosso agir, e do modo desse nosso agir infere algo sobre o nosso ser.
Quem se encontrou, de fato, com Deus, na profunda e silenciosa solidão da experiência mística, inicia uma nova vida também na vastidão do seu processo ético... A mística do verdadeiro iniciado transborda, espontânea e irresistivelmente, na sua ética cotidiana; aquela se realiza na profunda vertical do eterno e do infinito, mas esta se revela na vasta horizontal de todos os temporários finitos. A experiência da paternidade de Deus produz necessariamente a fraternidade dos homens.
[...] Uma vez que o homem atingiu a altura do seu auto-conhecimento, sente maior prazer e dar e servir do que em receber e ser servido. E, como ultrapassou a velha ilusão de se identificar com o seu ego corporal, mental e emocional, já não crê numa morte real do seu ser, não se apega freneticamente a objetos materiais, não se sente ofendido, desprezado, preterido; não se julga infeliz pelo fato de sofrer, nem feliz por gozar. Esse homem perdeu também o senso de virtuosidade ou heroicidade; acha natural e evidente todo o bem que faz aos outros, desde que se tornou realmente bom. Quem é bom no seu íntimo ser não se julga merecedor de algum prêmio pelo fato de fazer o bem a seus semelhantes. Esse homem ultrapassou não só o inferno dos seus vícios, mas também o céu de suas virtudes. Não evita o mal por medo de castigo nem pratica o bem com esperança de prêmio; ele é incondicionalmente bom, e, como ser-bom é ser-feliz, ele é profundamente feliz.
Esse ser-bom e ser-feliz envolve-o numa como aura de leveza e luminosidade, que contagia beneficamente todos os homens suscetíveis dessas imponderáveis irradiações e vale mais para a redenção da humanidade do que todas as palavras de outros homens.
Ética não pode ser profissão. A verdadeira ética é um transbordamento espontâneo da mística. O homem realmente místico não necessita de professar ética deliberadamente; o próprio fato de ele ser bom pelo contato com Deus faz dele um poderoso foco de irradiação ética, mesmo inconscientemente.
Ninguém pode ser genuinamente bom sem fazer bem aos outros.
De maneira que a libertação do homem individual pelo conhecimento da verdade sobre si mesmo, e subsequente vivência dessa verdade, é o único meio seguro para redimir a humanidade de todos os males que a afligem.
Quando o homem descobre dentro de si mesmo essa fonte de segurança pode dispensar todas as seguranças externas.
"Conhecereis a Verdade — e a Verdade vos libertará."
"Homem, conhece-te a ti mesmo!"
Huberto Rohden
Para o verdadeiro iniciado, há uma certeza imediata, íntima, que não exige provas externas; o homem que teve o seu encontro com Deus tem plena certeza desse encontro, embora não o possa provar aos outros nem ao próprio ego humano. A certeza não vem das provas; as provas são apenas uma tentativa, assaz pueril, de querer justificar a certeza espiritual, o que é impossível. Se a certeza íntima dependesse das provas analíticas e silogísticas da inteligência, não haveria verdadeira certeza. Mas a certeza vem duma experiência interna, que não pode ser construída nem destruída por nenhum demonstração externa. A certeza espiritual está para além de todas as defensivas e ofensivas das provas; habita no baluarte inexpugnável da intuição espiritual, que é a voz de Deus dentro do homem.
Quem tenta provar a existência de Deus é ateu, e quem adora um Deus cientificamente demonstrado é idólatra. Nem a realidade de Deus nem a imortalidade da alma podem ser provadas, mas são o resultado de uma experiência íntima para além de todos os horizontes das operações da inteligência.
Entretanto, esse encontro íntimo com Deus, além de dar certeza imediata ao iniciado, tem também as suas projeções externas, uma vez que o "agir segue ao ser". O verdadeiro iniciado em seu íntimo ser revela essa iniciação também no seu externo agir, queira ou não queira. E essas consequências externas servem, geralmente, de teste e contra-prova para os de fora; o mundo nada sabe do nosso ser, só conhece o nosso agir, e do modo desse nosso agir infere algo sobre o nosso ser.
Quem se encontrou, de fato, com Deus, na profunda e silenciosa solidão da experiência mística, inicia uma nova vida também na vastidão do seu processo ético... A mística do verdadeiro iniciado transborda, espontânea e irresistivelmente, na sua ética cotidiana; aquela se realiza na profunda vertical do eterno e do infinito, mas esta se revela na vasta horizontal de todos os temporários finitos. A experiência da paternidade de Deus produz necessariamente a fraternidade dos homens.
[...] Uma vez que o homem atingiu a altura do seu auto-conhecimento, sente maior prazer e dar e servir do que em receber e ser servido. E, como ultrapassou a velha ilusão de se identificar com o seu ego corporal, mental e emocional, já não crê numa morte real do seu ser, não se apega freneticamente a objetos materiais, não se sente ofendido, desprezado, preterido; não se julga infeliz pelo fato de sofrer, nem feliz por gozar. Esse homem perdeu também o senso de virtuosidade ou heroicidade; acha natural e evidente todo o bem que faz aos outros, desde que se tornou realmente bom. Quem é bom no seu íntimo ser não se julga merecedor de algum prêmio pelo fato de fazer o bem a seus semelhantes. Esse homem ultrapassou não só o inferno dos seus vícios, mas também o céu de suas virtudes. Não evita o mal por medo de castigo nem pratica o bem com esperança de prêmio; ele é incondicionalmente bom, e, como ser-bom é ser-feliz, ele é profundamente feliz.
Esse ser-bom e ser-feliz envolve-o numa como aura de leveza e luminosidade, que contagia beneficamente todos os homens suscetíveis dessas imponderáveis irradiações e vale mais para a redenção da humanidade do que todas as palavras de outros homens.
Ética não pode ser profissão. A verdadeira ética é um transbordamento espontâneo da mística. O homem realmente místico não necessita de professar ética deliberadamente; o próprio fato de ele ser bom pelo contato com Deus faz dele um poderoso foco de irradiação ética, mesmo inconscientemente.
Ninguém pode ser genuinamente bom sem fazer bem aos outros.
De maneira que a libertação do homem individual pelo conhecimento da verdade sobre si mesmo, e subsequente vivência dessa verdade, é o único meio seguro para redimir a humanidade de todos os males que a afligem.
Quando o homem descobre dentro de si mesmo essa fonte de segurança pode dispensar todas as seguranças externas.
"Conhecereis a Verdade — e a Verdade vos libertará."
"Homem, conhece-te a ti mesmo!"
Huberto Rohden