Se um homem sensato inclina-se a cair sob o fascínio das "coisas" e dos prazeres, esse descuido, obscurecendo o seu intelecto, o levará a perder sua defesa, como uma adúltera perde seu amante. Tal como a espuma em movimento sobre a superfície da água não se afasta sequer por um minuto, a ilusão (Maya) domina mesmo aquele que tem discernimento, se não se mantiver constantemente alerta. — Vivekachudamani
...Bem no fundo todos nós conhecemos o vazio de todas as coisas, todos nós o experimentamos, mas, de certa forma, parecemos esquecer essa experiência e suas lições — esquecemos quem somos — na "excitação" da vida cotidiana. Talvez nossa percepção não tenha sido suficientemente clara, ou foi apenas parcial, incipiente, de forma que aquela compreensão ainda não se tornou uma "segunda natureza" e, assim, parte integrante do nosso ser. E, insistimos, o fato de que ainda exista o dualismo entre o estado "excitado" em que nos esquecemos de nós e os momentos mais tranquilos em que podemos nos dar à "auto-recordação", parece dizer-nos algo significativo sobre a nossa natureza. Talvez, então, nosso estado de vigília seja apenas, na verdade, o de uma existência como que de um sonho (na qual conferimos às nossas percepções — e ainda mais às nossas concepções — uma realidade concreta) e isso está, realmente, desenvolvido em certas religiões e filosofias orientais. Parece-me que se o impacto integral desse fato nos houvesse realmente atingido, não estaríamos nos comportando da forma como o fazemos. Para começar, não haveria lugar para qualquer espécie de fanatismo, seja político, sob a forma de nacionalismo ou comunismo, seja religioso, na adesão de um dogma em particular. Tudo isso seria visto como expressões de limitações, incapazes, portanto, de nos "fascinar", ou mesmo, de no motivar. E, o que é mais importante: se vivêssemos verdadeiramente com o Vazio, nossa atitude em relação à questão da vida e da morte seria totalmente transformada — e tal coisa poderia bem ser o aspecto mais interessante de todo esse caso. O que geralmente chamamos "eu" (que, realmente, é "ego") seria visto sob um prisma inteiramente diferente, no qual não haveria auto-afirmação nem a necessidade de nos tornarmos "sem-eu" ou libertos do "eu" pela autodestruição. Os velhos truísmos sobre a vida e a morte, sobre a limitação do "eu" e sobre a sua transcendência, e assim por diante, seriam, então, vistos como irrelevantes, porque baseados em uma visão absoluta do mundo.