A meditação é sempre passiva; sua própria essência é passiva. Não pode ser ativa porque a própria natureza dela é o não-fazer. Se você está fazendo algo esse fato de fazer algo perturba tudo. O fazer, em si mesmo, sua própria atividade, cria perturbação.
Não-fazer é meditação, mas quando digo que não-fazer é meditação não quero dizer que você não precise fazer nada. Mesmo para atingir esse não-fazer precisamos fazer muito! Mas esse fazer não é meditação. É, apenas, um degrau, um trampolim. Todo o "fazer" não passa de um trampolim — não é meditação.
Você está exatamente à porta, nos degraus... A porta é o não-fazer, mas, para atingir o estado de espírito do não-fazer é preciso fazer muito. Mas é preciso não confundir esse fazer com meditação.
A energia vital trabalha com contradições. A vida existe como uma dialética: não é um simples movimento. Não flui como um rio: é dialética. Com cada movimento a vida cria seu próprio oposto, e através da luta com o oposto move-se para a frente. Cada movimento leva a tese a criar antítese. E isso continua sempre: tese criando antítese, incorporando-se à antítese, e tornando-se a síntese que, então, faz de novo tese. Então, vem de novo a antítese.
Quando falo em movimento dialético não quero falar de movimento simples, direto: é um movimento dividido em si mesmo, criando o oposto, depois encontrando-se novamente com o oposto, e dividindo-se de novo no oposto. E a mesma coisa se aplica à meditação, porque ela é a coisa mais profunda da vida.
Se eu lhe digo: "Relaxe, apenas", isso é impossível, porque você não saberia o que fazer. Assim, muitos dos pseudoprofessores de relaxamento continuam dizendo: "Relaxe, apenas, não faça nada, relaxe, apenas." Então, o que você vai fazer? Pode se deitar, mas isso não é relaxamento. Todo redemoinho interno permanece... E agora há um novo conflito: relaxar. Algo foi acrescentado sobre e acima. Toda insensatez está ali, todo redemoinho está ali, com algo acrescentado: relaxar. Uma nova tensão está, agora, acrescentada a todas as velhas tensões.
Assim, a pessoa que está tentando viver uma vida relaxada é a pessoa mais tensa possível. Está fadada a sê-lo, porque não compreendeu o fluxo dialético da vida. Pensa que a vida é um fluxo reto, bastando que se diga a si mesmo que relaxe para estar relaxado.
Isso não é possível! Assim, se você vier a mim, jamais direi que apenas relaxe. Primeiro fique tenso, tão fortemente tenso quanto puder. Fique totalmente tenso! Primeiro deixe que todo seu organismo fique tenso, e continue a estar tenso até o máximo, até a sua total possibilidade. E então, subitamente, você sentirá que o relaxamento se instala. Você fez o que lhe era possível: agora a energia da vida cria o oposto.
Você levou a tensão ao auge. Agora, não há nada para além disso, você não pode continuar. Toda energia foi devotada a tensão. Mas você não pode continuar com essa tensão indefinidamente. Ela tem de se dissolver, e depressa começará a se dissolver. Agora, seja uma testemunha desse acontecimento.
Através da tensão você chegou ao limiar, do ponto de onde se salta. Por isso você não pode continuar. Se continuasse, poderia estourar, morrer. O ponto excelente foi encontrado. Agora, a energia da vida relaxará a si mesma.
Ela se relaxa. Agora, fique consciente, e veja esse relaxamento se instalar. Cada membro do corpo, cada músculo do corpo, cada nervo do corpo vai relaxando, inocentemente, sem que nada seja feito de sua parte. Você nada está fazendo para relaxar, ele está se relaxando. Você começará a sentir muitos pontos no organismo que se relaxa. Todo organismo será uma reunião de pontos relaxados. Fique consciente.
Essa consciência é meditação. Não é um não-fazer. Você nada está fazendo, porque estar consciente não é um ato. Não é absolutamente um ato, é sua natureza, uma qualidade intrínseca de seu ser. Você é consciência. Sua não-consciência é a sua conquista... e você a conquistou com muito esforço.
Assim, para mim, a meditação tem dois passos: primeiro, um ativo (que não é, realmente, de modo algum, meditação) e segundo, um completamente não-ativo (a consciência passiva, que é, realmente, meditação). A consciência, ou conhecimento, é sempre passiva, e, no momento em que você se torna ativo perde seu conhecimento. É possível estar ativo e consciente apenas quando a consciência chegou a um tal ponto que agora já há, necessidade da meditação para alcançá-la, ou conhecê-la, ou senti-la.
Quando a meditação se torna inútil, você, simplesmente, coloca de lado a meditação. Agora, você está consciente. Se então você pode estar ao mesmo tempo consciente e ativo — de outra maneira não é possível. Enquanto a meditação ainda for necessária, você não será capaz de estar consciente durante a atividade. Mas, quando a meditação já não é necessária...
Se você se tornou meditação, já não precisará dela. Então, pode ser ativo, mas mesmo nessa atividade você é sempre o espectador passivo. Agora, você jamais é o ator: é, sempre, uma consciência que testemunha.
A consciência é passiva... e a meditação está fadada a ser passivo porque é apenas uma porta para a consciência — a perfeita consciência. Assim, quando as pessoas falam de meditação "ativa", estão erradas. Meditação é passividade. Você pode precisar de alguma atividade, de algum "fazer" para chegar a ela — e isso pode ser compreendido — mas isso não se dá porque a meditação seja, em si, ativa. Isso, antes, se dá, porque você esteve ativo em tantas e tantas vidas — a atividade tornou-se de tal forma parte e parcela de sua mente — que você precisa até mesmo da atividade para alcançar a não-atividade.
Você esteve tão envolvido em atividade que não pode abandoná-la. Assim, pessoas como Krishnamurti podem continuar a dizer: "Abandone isso", mas você continuará perguntando como abandonar isso. Krishnamurti dirá: "Não pergunte como. Estou dizendo para que você abandone isso! Não há um 'como' para tanto. Não há necessidade de nenhum 'como'."
De certa forma ele está certo. Consciência passiva ou meditação passiva não têm um "como". Não pode ter, porque se houver um "como" então não pode ser passiva. Mas está certo, também, porque não leva em conta seu ouvinte. Está falando de si próprio.
A meditação se faz sem "como", sem tecnologia, sem qualquer técnica. Assim, Krishnamurti está absolutamente correto, mas o ouvinte não foi levado em conta. O ouvinte nada mais tem senão a atividade; para ele, tudo é atividade. Assim, quando você diz "A meditação é passiva, não-ativa, sem escolha; você pode apenas estar nela; não há necessidade de esforço, de nenhum esforço, ela é sem esforço", você está falando uma linguagem que o ouvinte é capaz de entender. Ele entende a parte linguística do que você diz — e é isso que torna tudo tão difícil. Ele diz: "Intelectualmente, compreendo tudo. Tudo o que o senhor está dizendo está sendo inteiramente compreendido", mas ele é incapaz de compreender o significado.
Não há nada de misterioso nos ensinamentos de Krishnamurti. Ele é o menos místico dos mestres. Nada há de misterioso! Tudo é obviamente claro, exato, analisado, lógico, racional, de forma que todos podem entender. E isso tornou-se uma das grandes barreiras, porque o ouvinte pensa que compreendeu. Compreende a parte linguística, mas não compreende a linguagem da passividade.
Compreende o que lhe está sendo dito — as palavras. Ouve-as, compreende-as, conhece o sentido daquelas palavras. Faz correlações. Um quadro inteiramente correlato vem à sua mente. O que está sendo dito é compreendido, há uma comunicação intelectual. Mas ele não compreende a linguagem da passividade. Não pode compreender. Só pode compreender a linguagem da ação — da atividade.
O S H O — Meditação: a arte do êxtase - Ed. Pensamento
O S H O — Meditação: a arte do êxtase - Ed. Pensamento