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segunda-feira, 31 de março de 2014

É preciso fazer muito para atingir o não-fazer

A meditação é sempre passiva; sua própria essência é passiva. Não pode ser ativa porque a própria natureza dela é o não-fazer. Se você está fazendo algo esse fato de fazer algo perturba tudo. O fazer, em si mesmo, sua própria atividade, cria perturbação. 

Não-fazer é meditação, mas quando digo que não-fazer é meditação não quero dizer que você não precise fazer nada. Mesmo para atingir esse não-fazer precisamos fazer muito! Mas esse fazer não é meditação. É, apenas, um degrau, um trampolim. Todo o "fazer" não passa de um trampolim — não é meditação. 

Você está exatamente à porta, nos degraus... A porta é o não-fazer, mas, para atingir o estado de espírito do não-fazer é preciso fazer muito. Mas é preciso não confundir esse fazer com meditação. 

A energia vital trabalha com contradições. A vida existe como uma dialética: não é um simples movimento. Não flui como um rio: é dialética. Com cada movimento a vida cria seu próprio oposto, e através da luta com o oposto move-se para a frente. Cada movimento leva a tese a criar antítese. E isso continua sempre: tese criando antítese, incorporando-se à antítese, e tornando-se a síntese que, então, faz de novo tese. Então, vem de novo a antítese. 

Quando falo em movimento dialético não quero falar de movimento simples, direto: é um movimento dividido em si mesmo, criando o oposto, depois encontrando-se novamente com o oposto, e dividindo-se de novo no oposto. E a mesma coisa se aplica à meditação, porque ela é a coisa mais profunda da vida. 

Se eu lhe digo: "Relaxe, apenas", isso é impossível, porque você não saberia o que fazer. Assim, muitos dos pseudoprofessores de relaxamento continuam dizendo: "Relaxe, apenas, não faça nada, relaxe, apenas." Então, o que você vai fazer? Pode se deitar, mas isso não é relaxamento. Todo redemoinho interno permanece... E agora há um novo conflito: relaxar. Algo foi acrescentado sobre e acima. Toda insensatez está ali, todo redemoinho está ali, com algo acrescentado: relaxar. Uma nova tensão está, agora, acrescentada a todas as velhas tensões. 

Assim, a pessoa que está tentando viver uma vida relaxada é a pessoa mais tensa possível. Está fadada a sê-lo, porque não compreendeu o fluxo dialético da vida. Pensa que a vida é um fluxo reto, bastando que se diga a si mesmo que relaxe para estar relaxado. 

Isso não é possível! Assim, se você vier a mim, jamais direi que apenas relaxe. Primeiro fique tenso, tão fortemente tenso quanto puder. Fique totalmente tenso! Primeiro deixe que todo seu organismo fique tenso, e continue a estar tenso até o máximo, até a sua total possibilidade. E então, subitamente, você sentirá que o relaxamento se instala. Você fez o que lhe era possível: agora a energia da vida cria o oposto. 

Você levou a tensão ao auge. Agora, não há nada para além disso, você não pode continuar. Toda energia foi devotada a tensão. Mas você não pode continuar com essa tensão indefinidamente. Ela tem de se dissolver, e depressa começará a se dissolver. Agora, seja uma testemunha desse acontecimento. 

Através da tensão você chegou ao limiar, do ponto de onde se salta. Por isso você não pode continuar. Se continuasse, poderia estourar, morrer. O ponto excelente foi encontrado. Agora, a energia da vida relaxará a si mesma. 

Ela se relaxa. Agora, fique consciente, e veja esse relaxamento se instalar. Cada membro do corpo, cada músculo do corpo, cada nervo do corpo vai relaxando, inocentemente, sem que nada seja feito de sua parte. Você nada está fazendo para relaxar, ele está se relaxando. Você começará a sentir muitos pontos no organismo que se relaxa. Todo organismo será uma reunião de pontos relaxados. Fique consciente.

Essa consciência é meditação. Não é um não-fazer. Você nada está fazendo, porque estar consciente não é um ato. Não é absolutamente um ato, é sua natureza, uma qualidade intrínseca de seu ser. Você é consciência. Sua não-consciência é a sua conquista... e você a conquistou com muito esforço. 

Assim, para mim, a meditação tem dois passos: primeiro, um ativo (que não é, realmente, de modo algum, meditação) e segundo, um completamente não-ativo (a consciência passiva, que é, realmente, meditação). A consciência, ou conhecimento, é sempre passiva, e, no momento em que você se torna ativo perde seu conhecimento. É possível estar ativo e consciente apenas quando a consciência chegou a um tal ponto que agora já há, necessidade da meditação para alcançá-la, ou conhecê-la, ou senti-la. 

Quando a meditação se torna inútil, você, simplesmente, coloca de lado a meditação. Agora, você está consciente. Se então você pode estar ao mesmo tempo consciente e ativo — de outra maneira não é possível. Enquanto a meditação ainda for necessária, você não será capaz de estar consciente durante a atividade. Mas, quando a meditação já não é necessária...

Se você se tornou meditação, já não precisará dela. Então, pode ser ativo, mas mesmo nessa atividade você é sempre o espectador passivo. Agora, você jamais é o ator: é, sempre, uma consciência que testemunha

A consciência é passiva... e a meditação está fadada a ser passivo porque é apenas uma porta para a consciência — a perfeita consciência. Assim, quando as pessoas falam de meditação "ativa", estão erradas. Meditação é passividade. Você pode precisar de alguma atividade, de algum "fazer" para chegar a ela — e isso pode ser compreendido — mas isso não se dá porque a meditação seja, em si, ativa. Isso, antes, se dá, porque você esteve ativo em tantas e tantas vidas — a atividade tornou-se de tal forma parte e parcela de sua mente — que você precisa até mesmo da atividade para alcançar a não-atividade. 

Você esteve tão envolvido em atividade que não pode abandoná-la. Assim, pessoas como Krishnamurti podem continuar a dizer: "Abandone isso", mas você continuará perguntando como abandonar isso. Krishnamurti dirá: "Não pergunte como. Estou dizendo para que você abandone isso! Não há um 'como' para tanto. Não há necessidade de nenhum 'como'."

De certa forma ele está certo. Consciência passiva ou meditação passiva não têm um "como". Não pode ter, porque se houver um "como" então não pode ser passiva. Mas está certo, também, porque não leva em conta seu ouvinte. Está falando de si próprio. 

A meditação se faz sem "como", sem tecnologia, sem qualquer técnica. Assim, Krishnamurti está absolutamente correto, mas o ouvinte não foi levado em conta. O ouvinte nada mais tem senão a atividade; para ele, tudo é atividade. Assim, quando você diz "A meditação é passiva, não-ativa, sem escolha; você pode apenas estar nela; não há necessidade de esforço, de nenhum esforço, ela é sem esforço", você está falando uma linguagem que o ouvinte é capaz de entender. Ele entende a parte linguística do que você diz — e é isso que torna tudo tão difícil. Ele diz: "Intelectualmente, compreendo tudo. Tudo o que o senhor está dizendo está sendo inteiramente compreendido", mas ele é incapaz de compreender o significado. 

Não há nada de misterioso nos ensinamentos de Krishnamurti. Ele é o menos místico dos mestres. Nada há de misterioso! Tudo é obviamente claro, exato, analisado, lógico, racional, de forma que todos podem entender. E isso tornou-se uma das grandes barreiras, porque o ouvinte pensa que compreendeu. Compreende a parte linguística, mas não compreende a linguagem da passividade. 

Compreende o que lhe está sendo dito — as palavras. Ouve-as, compreende-as, conhece o sentido daquelas palavras. Faz correlações. Um quadro inteiramente correlato vem à sua mente. O que está sendo dito é compreendido, há uma comunicação intelectual. Mas ele não compreende a linguagem da passividade. Não pode compreender. Só pode compreender a linguagem da ação — da atividade.

O S H O — Meditação: a arte do êxtase - Ed. Pensamento

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill