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sábado, 22 de março de 2014

Valor da vida contemplativa

O homem moderno está condicionado a ver a atividade como uma virtude — mesmo mera atividade, indiferente às suas consequências. Tudo grita para ele:  — Vá, homem, vá... e se ele não "for", já pode considerar-se morto. Geralmente, portanto, o contemplativo é visto como algo semelhante a um peixe morto, bem como uma ameaça à ordem estabelecida das coisas. Isso se dá principalmente porque a existência leva as pessoas a se sentirem constrangidas quanto à sua incessante e (im)pensante atividade — a forma pela qual conferem tanta importância ao que quer que seja que estejam fazendo, jamais discutindo o valor intrínseco de alguma coisa. Uma pessoa pode, é natural, racionalizar suas atividades, das explicações que as justifiquem, e assim por diante — mas tudo isso tem pouco sentido quando se trata das necessidades reais da vida. Porque, se se aprofundar, acabará por descobrir as pressões que estão por trás da atividade, e ficará claro que a atividade, em si mesma, não importa muito, realmente. Aqui estamos tocando em outra característica significativa do homem moderno: ele jamais está livre da tensão e esforço. Está matando-se lentamente, através de pressão auto-imposta, sempre se fustigando, jamais relaxando. Mesmo quando ostensivamente relaxa, "afastando-se de tudo", leva consigo o hábito dos negócios, que já está gravado em seu coração. 

Poucas pessoas existem neste mundo — verdadeiros "forasteiros", como poderiam ser chamadas — que tenham experimentado a autoconfrontação e chegado a um ponto de vista diametralmente oposto ao que constitui uma forma sadia de vida.  Essas pessoas veem a descuidada atividade mecânica do homem dos dias atuais, impulsionados pela ganância, pelo medo, pelo tédio, pela ambição, como uma forma de morte; e a vida contemplativa como a forma de ocupação mais real, mais vital. Falando pessoalmente, e dizendo isso de uma forma talvez um tanto rude, não vejo obrigação nenhuma para o homem, de fazer qualquer coisa. Tudo quanto ele realmente precisa fazer é respirar, e mesmo isso é opcional, se não fosse involuntário. É óbvio que não estamos falando, aqui, de obrigações em sentido estreito, relativo — tal como os deveres para com a família, o empregador, a comunidade, as obrigações econômicas, e assim por diante — mas estamos tratando da finalidade da liberdade na mais profunda significação da palavra. E, se algum sentido há nessa palavra, a liberdade, então, deve significar o direito da autodeterminação . (Na realidade, liberdade é autodeterminação — em ambos os sentidos da expressão. primeiro ela significa a determinação que é essa entidade a que nos referimos como "eu" e com a qual temos convivido todos esses anos, e, em segundo lugar, desde que tenhamos descoberto isso, o direito de sermos nós mesmos, de deixar o "eu" sozinho num mundo onde pressões adaptadoras são exercidas para modelar o indivíduo de acordo com algum padrão "aprovado). E essa autodeterminação inclui, obviamente, a cada um o direito de ser senhor de seu próprio destino, e de se "abster" (de qualquer ação, mundana ou não) se assim o desejar. (E, sem falar na sabedoria disso, em tal direito à autodeterminação seria, logicamente, incluído também, o direito de auto-imolação física). 

O exercício do direito de se abster não significa, entretanto, na prática, que uma pessoa deva tornar-se, de súbito, cem por centro indolente — pelo contrário; mas realmente significa o fim de ser manejado, seja pelo "eu" seja pelo "não-eu". A pessoa chega finalmente a um estado em que pode dizer, de todo o coração e sem a menor reserva: "Que seja". Então, quando não mais existe a compulsão do "eu devo...", uma certa calma se estabelece, na qual a coisa mais sensata a fazer é prosseguir com a autoconfrontação até o "amargo" fim (ou como quer que seja). 

Se a pessoa prosseguir, logo se torna (literalmente) "dolorosamente óbvio" que a ela não é atribuído nenhum valor, que a importância dada as suas ações e a suas memórias é uma fantasia da imaginação, despedida de sentido, e que a verdadeira significação está no entendimento de que não há nenhum propósito na vida — uma conclusão aparentemente negativa que, paradoxalmente, contém tremendas implicações positivas. Vemos que "objetivo" foi apenas um resultado, uma projeção do nosso exagerado sentimento de auto-importância que nega o fato da brevidade do ego, dando-lhe uma permanência desprovida de qualquer apoio na realidade. 

Tendo visto tudo isso, a pessoa vive tanto o que É, que não mais haverá questão do que deveria ser; portanto, por mais complicadas que sejam as circunstâncias nas quais possa encontrar-se, não haverá mais luta para modificar as coisas — embora, também paradoxalmente, a atitude de menos resistência possa acarretar modificações muito grandes, realmente. Já não há pressões, e mais uma vez a vida é doce. Não é essa uma liberação em relação ao tempo, já que todos os "objetivos" devem, inevitavelmente, ficar no futuro, criando mais "obrigações". Assim, não se obtém logo a resposta para a indagação: Que fazer... como viver, embora não seja exatamente o que se espera? 

Então, quando a calma tornou-se Vazio, a inquieta, esforçada entidade, que está sempre planejando, sempre se afligindo a propósito do seu futuro, é, ela própria, uma parte desse Vazio. Porque a carga tremenda do "que fazer da sua vida" foi afastada, e, por assim dizer, retirada para ombros alheios, há uma sensação relaxante.* Por que a pessoa já vive cercada pela camisa-de-força de uma identidade arbitrariamente assumida — socialmente induzida pelos preguiçosos hábitos de pensamento — há, também, a experiência de uma liberdade total.
___________________
          *     Pode ser necessário enfatizar, aqui, que a passividade pressuposta na abstenção quanto à realização dos desejos de uma pessoa não é, de maneira nenhuma, a mesma coisa que a passividade do místico que "abandona" conscientemente sua própria vontade diante de um "poder maior". "Não seja feita a minha vontade e sim a Tua..." Não estamos falando aqui de renúncia (que realmente fortalece a vontade, porque renunciar alguma coisa também é um ato de vontade!), mas do abandono espontâneo do desejo de continuar com as habituais atividades auto-engrandecedoras, porque a pequenez e a falta de significação fundamental destas estão claramente percebidas. É como se a pessoa ficasse entediada com tudo aquilo (isto é, o pequeno "mim", com suas eternas exigências) e esteja agora em posição de dar completa atenção às coisas que dizem respeito ao "não-mim", ou ao Eu maior. Quando isso acontece, o "mim" ficou absorvido pelo "não-mim", ou na linguagem de Ramana Maharshi, o eu verdadeiro (também descrito como "mim-mim") é reconhecido. E essa declaração sugere que nada existe fora do eu, que nossa vida passada, com todos os seus sofrimentos, fora baseada na realidade — o mundo de Maya — portanto tinha sido vã. Essa reorientação representa um verdadeiro ponto de reversão e torna disponível uma tremenda quantidade de energia vital. 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill