Observando-se o que está acontecendo no mundo, o caos, o desnorteamento e a brutalidade do homem para com o homem, a qual nem a religião, nem a ordem social (nem a desordem) nunca conseguiram impedir; observando-se as atividades dos políticos, dos economistas, dos reformadores sociais, em todas as partes do universo, vê-se que eles estão causando cada vez mais confusão, crescente angústia. As religiões, isto é, as crenças organizadas, não concorreram, a nenhum respeito, para proporcionar ao homem um estado de ordem e felicidade duradoura, de profundas raízes. E tampouco as utopias — dos comunistas ou dos grupos menores que se constituíram em comunidades — trouxeram ao homem uma perene clareza. E necessita-se de uma tremenda revolução, no mundo inteiro, de uma mudança de inaudita magnitude. Não temos em mente uma revolução externa, mas, sim, uma revolução interior, no nível psicológico, a qual, como é perfeitamente óbvio, representa para o homem a única esperança de salvação. As ideologias carrearam a brutalidade, o assassinato em várias formas, as guerras. As ideologias, por mais nobres que se afigurem, são, em verdade, ignóbeis. É de toda necessidade uma mudança total na própria estrutura de nossas células cerebrais, na estrutura mesma do pensamento. E, para promover-se essa profunda e duradoura mutação, revolução ou mudança, requer-se uma enorme soma de energia. Requer-se um “ímpeto”, uma intensidade constante e inalterável, e não o interesse fortuito ou passageiro entusiasmo, geradores de certa qualidade de energia, que depressa se dissipa.
Para efetuar essa mudança nos entes humanos, no nível psicológico, “da pele para dentro”, por assim dizer, necessitamos de energia, eficiência, intensidade, ímpeto. E o homem sempre esperou alcançar tal força por meio da resistência, de constante disciplina, imitação, ajustamento. Esse é um fato observável nas ordens religiosas, em todo o mundo, ou nas pessoas que se ligaram a uma determinada ideologia. Esperam essas pessoas que, crendo em alguma coisa, atuando em conformidade com uma ideologia, ou dedicando-se a uma determinada crença, doutrina, dogma, adquirirão aquela intensa energia, necessária para se promover uma radical mutação na mente e no coração humanos. Entretanto, essa resistência, essa disciplina, esse mero ajustamento a uma ideia, não deram ao homem aquela indispensável força e eficiência. Cumpre, pois, descobrir uma ação de espécie diferente, capaz de produzir a energia indispensável.
Na presente estrutura social, em nossas relações humanas, quanto mais agimos, menos energia temos. Isso porque em nossa ação há contradição, fragmentação e, por conseguinte, tal ação gera conflito e, com isso, desperdício de energia. Cabe-nos encontrar aquela energia inalterável, constante, que nunca esmorece. E, para mim, existe essa ação produtiva daquela força vital necessária à revolução radical da mente.
[...] Necessitamos de uma enorme quantidade de energia para efetuarmos uma transformação psicológica em nós mesmos, como entes humanos, porque já vivemos demais num mundo de hipocrisia, num mundo de brutalidade, violência, desespero, ansiedade. Para vivermos humanamente, com sanidade, temos de transformar-nos. Para operar uma mutação em si próprio e, portanto, na sociedade, necessita o indivíduo daquela energia vital, porque ele não difere da sociedade; a sociedade é o indivíduo, e o indivíduo é a sociedade. E para operar a mudança radical, essencial, que se faz necessária, na estrutura da sociedade — que é corrupta, imoral — requer-se mudança na mente e no coração humanos. Para efetuarmos essa mudança necessitamos de abundante energia, e essa energia é negada e pervertida, ou deturpada, quando atuamos em conformidade com um conceito; e é isso o que fazemos no cotidiano viver. O conceito se baseia no passado, na História, ou numa conlusão e, portanto, não há ação verdadeira, porém, tão só, "aproximação de uma fórmula".
Assim, perguntamos se há uma ação não baseada na ideia, numa conclusão formada com coisas mortas, passadas.[...] Essa ação existe. Dizer que ela existe não é criar uma ideia. E para descobrirdes individualmente essa ação, tendes de iniciar exatamente do começo, ou seja partindo de vosso comportamento pessoal, de vossa própria estrutura mental humana.
[...] Necessitamos de uma enorme quantidade de energia para efetuarmos uma transformação psicológica em nós mesmos, como entes humanos, porque já vivemos demais num mundo de hipocrisia, num mundo de brutalidade, violência, desespero, ansiedade. Para vivermos humanamente, com sanidade, temos de transformar-nos. Para operar uma mutação em si próprio e, portanto, na sociedade, necessita o indivíduo daquela energia vital, porque ele não difere da sociedade; a sociedade é o indivíduo, e o indivíduo é a sociedade. E para operar a mudança radical, essencial, que se faz necessária, na estrutura da sociedade — que é corrupta, imoral — requer-se mudança na mente e no coração humanos. Para efetuarmos essa mudança necessitamos de abundante energia, e essa energia é negada e pervertida, ou deturpada, quando atuamos em conformidade com um conceito; e é isso o que fazemos no cotidiano viver. O conceito se baseia no passado, na História, ou numa conlusão e, portanto, não há ação verdadeira, porém, tão só, "aproximação de uma fórmula".
Assim, perguntamos se há uma ação não baseada na ideia, numa conclusão formada com coisas mortas, passadas.[...] Essa ação existe. Dizer que ela existe não é criar uma ideia. E para descobrirdes individualmente essa ação, tendes de iniciar exatamente do começo, ou seja partindo de vosso comportamento pessoal, de vossa própria estrutura mental humana.
Krishnamurti — Amsterdã — V — Onde está a Bem-aventurança