A mente não está livre, pois se acha, consciente ou inconscientemente, ligada a alguma forma de conhecimento, a inumeráveis crenças, experiências, dogmas e como pode ser capaz de descobrimento uma mente nessas condições, como pode ser capaz de achar algo novo?
Certamente, até os maiores cientistas têm abandonado todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se você é sério, esse abandono do conhecimento, da crença, da experiência tem de efetuar-se realmente. A maior parte de nós somos um tanto "sérios", quando se trata de nossas conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum é seriedade. Não tem valor nenhum. O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas próprias conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar.[...]
Se minha mente está atada à estaca da crença, da experiência ou do conhecimento, ela não pode ir muito longe; e a investigação implica que se esteja livre da estaca, não acha? Se realmente estou a buscar, então esse estado em que me acho, amarrado a uma estaca, esse estado tem de acabar-se — preciso romper as amarras, cortar a corda. Não existe, então, nenhuma questão de COMO cortar a corda. Quando há percepção de que a investigação só é possível quando estamos livres de nossa obstinação, de nosso apego a uma crença, então esse próprio percebimento liberta-nos a mente. Ora, porque isso não sucede a cada um de nós?
Você se sente mais seguro quando sua mente está condicionada, e eis porque não há aventurar, ousar — e toda a nossa estrutura social está construída dessa maneira. Conheço todas as respostas. Mas porque você não abandona a sua crença? Se não o faz, não é sério. Se está realmente investigando, não diz: "Estou investigando, numa determinada direção e devo ser tolerante a respeito de qualquer direção diferente da que estou seguindo" — pois, quando você está realmente investigando, essa maneira de pensar desaparece completamente. Não existe então a divisão de "seu caminho" e "meu caminho", acaba-se o místico e o oculto, são afastadas definitivamente todas as estúpidas explicações do homem que quer explorar outros homens.[...]
Não pode haver investigação quando a mente tem algum apego. Quase todos dizemos que estamos buscando, e BUSCAR significa realmente investigar; e eu estou perguntando: "você pode investigar, enquanto sua mente está apegada a alguma conclusão?[...]
Como pode a mente ter liberdade de movimentos, se está presa? Dizemos que estamos a buscar, mas, na realidade, não há busca. Buscar implica estar livre de apego a qualquer fórmula, qualquer experiência, qualquer espécie de conhecimento, porque só então a mente é capaz de mover-se amplamente.
Qualquer suposição, qualquer conclusão, qualquer apego ao conhecimento ou à experiência, é um empecilho à investigação. Enquanto a mente está presa a uma certa conclusão, toda investigação representa uma luta ingente, um processo de esforço, atrito, ruptura. Mas se a mente percebe que só pode haver investigação quando há liberdade, tem então a investigação um significado todo diferente. Se se percebe isso claramente, nunca mais se será escravo de nenhum GURU, nenhuma fórmula, nenhuma crença. Então você e eu podemos combinar as nossas investigações e, como resultado disso, cooperar, agir, viver. Mas enquanto a nossa mente estiver presa, terá de haver "seu caminho" e "meu caminho", "sua opinião" e "minha opinião", "sua senda" e "minha senda", e todas as demais divisões e subdivisões que se põem entre um homem e outro homem.
Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana