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quarta-feira, 11 de abril de 2018

O mecanismo da mediocridade


O mecanismo da mediocridade

[...] A mediocridade é própria da mente vulgar, da mente estreita, limitada. Em regra, a mente vulgar está interessada nas coisas imediatas; e as coisas imediatas podem ser projetadas para o futuro, mas continuam a ser “as coisas imediatas”. Os políticos, ainda que se interessem pelo futuro, estão realmente interessados no “imediato”, em relação com o futuro. A maioria de nós também está interessada nas coisas imediatas — a “perspectiva curta” em vez da “perspectiva longa” — nossa vida está circunscrita aos interesses imediatos. Isto não significa que o imediato não seja importante; mas se ele se torna de suma importância e nos esquecemos totalmente da “perspectiva longa”, então a imediata preocupação pelo pão de cada dia — a maneira de viver, o marido, a mulher, os pensamentos banais — esta “perspectiva curta”, limitada, estreita, conduz à aflição, conduz ao sofrimento e à luta. E a mente vulgar, medíocre, sempre se devota a um certo movimento, uma certa crença, um certo dogma. É da natureza da mente medíocre o pertencer a alguma coisa. É da natureza da mediocridade, hoje tão generalizada no mundo, o interessar-se exageradamente pela sociedade.

[...] Ao falarmos da mente medíocre, da mente superficial, não a estamos considerando como uma idéia — como coisa que devemos desfazer, que devemos substituir por uma mente bem inteligente, muito ativa, ampla e profunda. Estamos, apenas, mostrando que a mente medíocre é o solo em que medra o sofrimento. E, como a maioria de nós se encontra em sofrimento, desta ou daquela natureza, se não tratarmos de deitar abaixo os muros da mediocridade, o sofrimento invariavelmente continuará existente.

[...] O homem interessado nos fatos não tem ideais; e nós estamos interessados nos fatos. O fato é que há mediocridade, vulgaridade — e isto não significa que outro qualquer seja medíocre, mas, sim, que cada um de nós é medíocre. Assim, devemos estar apercebidos desse fato, devemos aplicá-lo a nós mesmos. A mais elevada forma da crítica é a autocrítica; mas não gostamos de criticar-nos: tratamos meramente de evitar o que vemos. Ao falarmos de mediocridade, vulgaridade, superficialidade, ficai apercebidos disso em vós mesmos. O percebê-lo apenas verbalmente nenhum valor tem. Essa percepção nenhuma modificação opera na mente medíocre.

A mente medíocre se dedica a uma dada ação — ação social, ação econômica, ação política, ou à aquisição de conhecimentos. A mente vulgar está sempre assumindo compromissos; ela sempre pertence a alguma coisa — e o desejo de pertencer é um fenômeno psicológico da mente intelectual. Hoje, ela pertence ao partido comunista e amanhã o rejeita; está entregue a uma certa atividade dogmático-religiosa, que mais tarde rejeita. Deveis observar, se tendes notado esse fato, que os chamados “intelectuais” aderem, coletiva ou individualmente, a uma dada teoria, uma dada utopia, um certo movimento religioso. O desejo de pertencer é desejo de permanência.

Segui o que estou dizendo, por favor, pois estamos investigando o processo da meditação, e isto faz parte da meditação. Todos vós pertenceis a alguma coisa. Não sois uma entidade individual, integrada. Sois agrupados pela sociedade, pelas influências ambientes, que vos impelem a pertencer. Sempre que uma pessoa se interessa em operar uma modificação no mundo, pertence a alguma coisa. Todos nós pertencemos a crenças de várias formas, dogmas e atividades várias, porque, no pertencer, nós não somente nos expandimos, mas também, identificando-nos com a coisa a que nos devotamos, temos o sentimento de atuar — intelectual, física, emocionalmente — como uma entidade total num mundo em desintegração. Se não se compreende o impulso e nos devotamos a determinada norma de ação — qualquer que seja ela, um certo pensamento, uma certa ideia, um certo aspecto do saber técnico — ou pertencemos a alguma coisa, isso por certo é um indício de mediocridade.

A mente medíocre quer então investigar a imensidade da vida. Tendo-se ligado a alguma coisa, quer então, em virtude dessa ligação, compreender o sentido de todas as coisas. Ora bem, cumpre-nos investigar o que é a meditação — algo verdadeiramente maravilhoso, que nada tem que ver com romantismos, com combinações de ideias, especulações, visões, ou sensações de toda ordem — pois tudo isso é completamente infantil. Assim, esse impulso a pertencer, a ligar-se a um método, um sistema, tem de ser compreendido.

A maioria de nós — se me permitis dizê-lo sem nenhum desrespeito — é medíocre; mesmo os mais talentosos são medíocres, porque seu talento é parcial, limitado, estreito. Nenhum dom vos deva acima da mediocridade. Pode um pintor pintar os mais belos quadros, mas é ainda uma pessoa medíocre se tem ânsia de fama, de reconhecimento pela sociedade. Ele quer tornar-se rico, conhecido, famoso e tudo isso é indicativo de uma mente pequenina, superficial, vulgar, embora dotada de talento. Em geral, infelizmente, não temos grandes talentos nem grande capacidade de pensamento. Talvez seja melhor assim, porquanto, quando desejamos ardentemente investigar, descobrir algo, o homem que se ligou a alguma coisa se recusa a investigar o que quer que seja a não ser pelas diretrizes que ele próprio escolheu.

Nessas condições, para descobrir o que é a mente meditativa não deve haver ligação nenhuma — e isso é dificílimo, visto que a pessoa pode estar inteiramente devotada à oração, à repetição de palavras, à meditação sobre uma dada coisa, ou devotada a um símbolo. A maior parte de nós estamos devotados a símbolos — e não à realidade, porque a realidade é perigosa demais, sobremodo destrutiva. A mente vulgar não pode conter a realidade; por consequência, procura símbolos, devotou-se aos símbolos — o símbolo da igreja, do cristianismo; o símbolo do hinduísmo; o símbolo do islamismo, etc. A mente medíocre se ligou ao símbolo, à palavra, à sombra, ao irreal; não ao fato, mas à imagem esculpida pela mente ou pela mão, no templo, ou na mesquita, ou na igreja. Observai isso, vede-o vós mesmo. Uma vez ligado a alguma coisa, tratais de meditar e precisais, então, de métodos, de sistemas, para alcançardes o que pensais ser o permanente, o que pensais ser Deus, o que pensais ser a mais maravilhosa das visões. O que pensais é condicionado por vosso passado, pela sociedade em que viveis. Naturalmente, se sois cristão, tendes visões extraordinárias do Cristo, e “projetais” essas visões. Se sois hinduísta, tendes vossas próprias imagens, vossas próprias visões. Toda visão, toda imagem, uma vez projetada, proporciona uma certa sensação; a isso chamais meditação. Mas, se o examinardes, vereis quanto é infantil, porque é vosso próprio desejo que está a buscar preenchimento numa irrealidade sem nenhuma base, a não ser vosso próprio pensamento; este se acha condicionado pelo passado, pela sociedade em que viveis, pela experiência que acumulastes em virtude dessa condição.

A meditação, pois, não é uma busca de visões, imersão na oração. A oração implica súplica, rogo. Quando pedis algo? Quando buscais? Quando achais? Fazeis tudo isso quando vos vedes perturbado, sofrendo, aflito, quando estais em conflito. E isso significa que desejais conforto — não o conforto do lar, porém conforto psicológico. Por isso, orais; e, infelizmente, vossa oração é ouvida, porque achais o desejado conforto. Esse conforto é provocado, formado, numa ideia que tendes projetado, numa ideia ou numa crença ou num dogma em que buscais abrigo, assim como quem busca abrigo numa tempestade — um abrigo feito de palavras, de ideias. Com o perseverar nessa prática, o devotar-se inteiramente a ela, a pessoa espera encontrar abrigo; mas esse abrigo consiste apenas em palavras, não é a realidade, algo substancial. E isso satisfaz à maioria de nós.

Meditação, pois, não é oração, não é o desejo de achar a Verdade. A mente vulgar que busca Deus encontrará o Deus de sua própria vulgaridade. Compreendeis, senhores? Se tenho uma mente comum, limitada, estreita, superficial, cheia de ambição e avidez, de inveja e ciúme de outrem — e começo a pensar em Deus, meu Deus é igualmente vulgar, estúpido; e essa estupidez me satisfaz.

Pois bem, estamos investigando o processo da meditação. Para investigar, deveis em primeiro lugar negar, deveis proceder negativamente — isto é, deveis estar apercebido de algo que nenhuma realidade tem, a não ser a realidade projetada de vosso próprio desejo, vossa própria fantasia; deveis repudiar o falso. Assim, pelo pensar negativo vamos descobrir alguma coisa positiva. Mas o pensar negativo é essencial, pois é a mais elevada forma de pensar e não o pensar positivo. Pensar positivo é mecanismo de imitação, movimento de conhecido para conhecido. Jamais descobriremos o desconhecido se nos movemos meramente do conhecido para o conhecido, que é o chamado processo positivo. Dessa maneira, jamais descobrireis por vós mesmo o que é a meditação real. As coisas que nos têm sido oferecidas como meditação são por demais elementares, completamente desprovidas de base psicológica. Assim, se tendes suficiente interesse, se desejais realmente examinar até o fim a questão da meditação — e não apenas vos entreterdes com ela — deveis meditar quando vos dirigis ao escritório, quando constituís família, quando gerais filhos. A meditação é necessária, porque destrói os muros da mediocridade, os muros da respeitabilidade e da imitação. Necessária é uma mente de todo livre exatamente no começo, e não no fim.

Estamos, pois, pensando negativamente para descobrir o que é a meditação. Meditação não é contemplação: contemplar é pensar numa ideia, concentrar-se numa certa coisa, geralmente um símbolo ou uma frase lida nos chamados “livros sagrados” — que em nada são sagrados, porém simples livros como outros quaisquer. Selecionais uma frase e nela começais a refletir; e chamais isso “contemplação”. Não cuidais de investigar a entidade que contempla. Essa entidade é condicionada; essa entidade é medíocre, estreita, ciumenta. E essa é a entidade que investiga, que se concentra na contemplação de uma certa coisa!

A meditação, pois, não é oração. Meditação não é contemplação. Meditação não é observância de um dado método ou sistema, O método ou sistema condiciona a mente. E, aquilo que o método ou o sistema oferece, obtereis; mas o que obtiverdes será uma coisa morta. É como ter uma mente embotada e estúpida que se disciplinou por um sistema e se recusa a pensar mais; essa mente perdeu toda a flexibilidade, toda a sensibilidade; já não é nova. Assim, a meditação não é um sistema para ser praticado. Não é, por igual, um processo de disciplinar a mente. Segui intelectualmente tudo isso que estou dizendo, se não puderdes fazê-lo realmente. Se na realidade o seguirdes, podereis ir muito longe. Nesta tarde, pretendo ir muito longe com aqueles que sejam capazes de acompanhar-me, sem bagagens, livres.

Consequentemente, a meditação não é nenhuma dessas coisas, nem tampouco é disciplina. Que significa disciplina? Disciplina significa obediência, imitação, ajustamento a um padrão, uma ideia, um ideal; por conseguinte, exprime “controle” que, por sua vez, implica repressão — mas isso não quer dizer que uma pessoa pode fazer o "'que entender. Estamos examinando todo o mecanismo da disciplina. Sempre que há repressão, há contradição; e sempre que há contradição, há conflito e esforço. A mente que forceja para alcançar algo — com exceção de coisas mecânicas — alcançar aquilo a que chama Deus, alcançar um alvo, um fim — é uma mente morta. Para a meditação necessita-se de uma mente sobremaneira flexível, altamente sensível. E ninguém pode ser sensível se está “comprometido”, se está preso a um sistema inventado pelo homem sob a compulsão do medo.

Nada disso, pois, é meditação. Mas é preciso preparar a base para a meditação. Não sendo ela nenhuma daquelas coisas, é de todo fútil pensar sequer nos óbvios artifícios psicológicos com que nos temos enganado através de séculos. É preciso lançar a base correta. A base correta da meditação é: não ser ambicioso, não ter inveja, não aceitar autoridade de espécie alguma. O lançamento da base é da mais alta importância, porquanto sem ela não podemos edificar. Não se pode construir uma casa sem alicerces; ela desaba. Ser sem ambição, sem autoridade, sem inveja, sem medo, sem ciúme, tem de ser uma coisa que deve ser vista imediatamente, e não cultivada como ideal; e aí é que está a dificuldade.

A importância de lançar a base da meditação tem de ser de pronto percebida. Se dizeis: “Eu lançarei a base”, estais introduzindo o fator tempo. Servindo-vos apenas de um tijolo — a inveja — para lançardes a base, podeis dizer: “Não serei invejoso”, por terdes percebido intelectualmente que não é vantajoso sê-lo, que a inveja implica tensão, luta, penas. Mas a mera aceitação intelectual não vos livra da inveja; tampouco vos libertará o dizerdes: “Usarei de um ideal, a fim de livrar-me da inveja; isto é, não serei invejoso” — porque esse “serei” supõe o tempo. Ao afirmardes “Não serei invejoso”, estais introduzindo o fator tempo; isto é, pensais que necessitareis de tempo para vos livrardes da inveja e dizeis que daqui a alguns anos ou em certa data futura estareis livre da inveja. E quando se introduz o tempo, a inveja perdura, sem solução de continuidade; vós não ficais livre dela; sois ainda invejoso quando dizeis:  “Não deve haver inveja”. Por favor, compreendei isto: a inveja tem de ser cortada imediatamente, e só poderá ser cortada imediatamente quando virdes a coisa, quando virdes a inveja.

Como já tive ocasião de dizer, nós não “vemos”, nem tampouco escutamos. Nunca vemos, porque temos opiniões a respeito daquilo que vemos. Quando sois invejoso e vos pondes a refletir sobre a inveja, vós a justificais, porque toda a estrutura social baseia-se na inveja e vós sois educado para serdes invejoso; e dizeis: “Como poderei viver neste mundo sem inveja?” Assim, considerais o fato, que é a inveja, com uma opinião preconcebida a respeito dele. A palavra “inveja” já é condenatória e, por isso, considerais a inveja com condenação. Por conseguinte, para verdes a inveja, tendes de estar livre da palavra.

O que estou dizendo não é complicado; é bem simples. Em verdade, é extraordinariamente simples, se escutais, se tentais, mesmo intelectualmente, escutar. A palavra não é a coisa. A palavra é o símbolo. Nós somos criados com símbolos e não com realidades, com aquilo que constitui o fato. A inveja não é coisa que se possa adiar. Ou sois invejoso, ou não sois invejoso. O homem que deseja meditar, que deseja investigar em profundidade a questão da meditação, não tem tempo para adiar a inveja. A inveja tem de cessar completamente, totalmente. Também a ambição tem de cessar por inteiro, porque o homem ambicioso não tem amor. Aqueles que, impelidos pela ambição, buscam posição, prestígio, poder, não têm amor, ainda que falem de paz e de fraternidade. Poderão ter compaixão, piedade, capacidade organizadora para a ação social; mas, amor não têm.

A pessoa invejosa, que compara, que deseja, que busca poder, posição, autoridade, não tem amor. Pode-se ler a respeito do amor no Gita, nos Upanishads e noutros livros; mas o amor não vem por meio dos livros. Só vem o amor se deixastes de ser invejoso, ambicioso, se já não buscais o poder, se já não sois escravo da moralidade social. À moralidade social só uma coisa interessa: o sexo. Não interessa à sociedade a compreensão da avidez, da ambição, da inveja, nem a razão por que seguimos isto ou aquilo.

Para meditardes, precisais lançar a base correta, não nos dias vindouros, porém imediatamente. Isso é dificílimo — é em verdade o ponto crucial da questão, pois nós queremos ser ambiciosos, queremos ser invejosos; e também falamos a respeito de Deus, da Verdade, etc. Nenhum valor têm vossos deuses e vossas verdades, enquanto não houver a base correta. Quando já não estais preso na engrenagem da sociedade e de sua moralidade, quer dizer, quando vossa mente está livre da ambição, da avidez, da inveja, do poder e de todas as coisas que o homem busca porque a isso a sociedade o estimulou desde a infância — então, há liberdade; não amanhã, não no fim de vossa vida, porém exatamente no começo — agora!

Esse é o início da meditação. Implica o conhecimento de si mesmo, e não o conhecimento do Ser Supremo. Não há Ser Supremo para a mente vulgar, a não ser aquilo que ela inventou e a que chama “Ser Supremo”. Assim, quando a mente é livre — não amanhã, porém realmente, imediata e instantaneamente — da inveja, da avidez, da ambição da busca de fama e de poder, então, começa a meditação. Para essa mente cessou o buscar. Ao dizerdes que estais “buscando”, que buscais? Estais buscando algo que já conheceis; do contrário, não “buscaríeis”. Não podeis buscar algo que desconheceis; podeis buscar algo que se pode reconhecer — e o reconhecimento vem do passado. O reconhecimento é parte essencial do conhecimento — isto é, do conhecido. Assim, quando, mediante o autoconhecimento, negais de todo a ambição, a avidez, a inveja, a autoridade, vos tornastes a luz de vós mesmo; a mente, estando então livre, não “comprometida”, já não busca, porque nada tem que buscar; ela está tranquila.

Como pode uma mente limitada buscar a Imensidade? Só será capaz de traduzir a Imensidade nos termos de sua própria vulgaridade e superficialidade. A mente, por conseguinte, deve ficar livre de todas essas coisas. Quando inteiramente livre de todas elas, a mente se torna tranquila; não tem então necessidade de buscar paz de espírito, pois isso seria absurdo, coisa semelhante a pregar contra a corrupção e ao mesmo tempo querer apoderar-se do dinheiro alheio. A pessoa precisa desligar-se completamente da sociedade.  Isso não significa abandonar a sociedade, retirar-se para uma floresta, tornar-se eremita — o que é uma mera troca de roupas, mudança de habitação. Vós tendes de desligar-vos da sociedade, para ficardes só; vossa mente já não estará, então, influenciada pela sociedade.

Quando a mente deixa de sofrer a influência social, ela se torna capaz de ficar só. Começa, então, a meditação. Notareis, assim, que o cérebro — que é resultado do tempo; o resultado de todos os instintos animais, biológicos; o resultado do conhecimento acumulado pela sociedade, pela nação, pela raça, pela família — notareis então que o cérebro se torna sobremodo quieto, porque já não está buscando. O cérebro já não está assustado; já não está a perseguir uma ideia; já não está a ansiar por conforto, segurança, permanência. Por isso, ele se torna extraordinariamente quieto; e ele precisa estar quieto, porque todo movimento do cérebro, que é impulsionado pelo passado, tende a “projetar-se” e criar ilusões. Por conseguinte, o cérebro deve estar completamente sereno.

A serenidade do cérebro não é adquirível. Não se pode adquirir quietude; não se pode praticar a tranquilidade, porque o cérebro que a pratica é um cérebro morto. Como é possível forçar o cérebro, em extremo ativo e, necessariamente, sensível — a ficar quieto? Podeis destruí-lo — e de fato o destruís — renunciando ao mundo e fugindo para uma espécie de “outro mundo”, destruindo a beleza e pensando que Deus é diferente dela. A mente sensível não pode ser destruída; ela tem de permanecer sensível. Se compreenderdes o inteiro significado da disciplina, vereis que há uma extraordinária disciplina, resultante da liberdade, livre de controle. Ao praticardes uma disciplina, a praticais por medo ao castigo ou por desejo de recompensa, ou para ganhardes algo que cobiçais. Essa espécie de disciplina torna o cérebro embotado, insensível.

A vida não pertence ao eremita, nem ao sannyasi, nem ao político, ainda que virtuoso. A vida é algo extraordinariamente vasto, imensurável. A mente medíocre não tem possibilidade de compreendê-la. Ela é essencialmente uma mente ambiciosa, ávida, aquisitiva. E no momento em que deixais de ser ambicioso, sob qualquer aspecto — mesmo que se trate da ambição de descobrir Deus — ao abandonardes a ambição, vosso cérebro se torna singularmente quieto. Está então sem nenhum movimento de desejo, porque o desejo foi compreendido. Se um homem compreendeu as visões da imaginação, se compreendeu o significado do pertencer a isto ou àquilo, e tudo isso foi posto de parte, esquecido, esse homem já não é, então, prisioneiro do conhecido. Em geral nos movemos do conhecido para o conhecido; esta é nossa atividade diária. Toda a vossa vida se consome num escritório ou num trabalho técnico, num constante movimento do conhecido para o conhecido. Vossa mente pensa em termos do “conhecido” e, por conseguinte, nunca está livre do conhecido.

A mente meditativa é livre do conhecido — isto é, livre da palavra, do símbolo, da ideia, da crença, do dogma, das projeções do passado. Quando o cérebro está livre do passado, ou, antes, quando o cérebro está quieto, a consciência se torna completamente tranquila — a totalidade da consciência, e não apenas uma parte dela — porque está, então, de todo sã, livre de influências. Já não pertence a nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhuma casta, nenhuma religião, nenhum dogma; para ela tudo isso se acaba. Portanto, há tranquilidade completa na mente; e nessa quietude não existe observador nem coisa observada — porque o observador, conforme já expliquei, resulta da reação do pensamento; o observador, o pensador, é reação do pensamento. Podeis pensar nisso de maneira completa, mais tarde, se vos interessa.

Não há, pois, “estado de experimentar”; é muito importante compreender isso. A experiência — rápida e concisamente definida — é aquele estado em que há reação a um desafio. Toda reação a desafio produz uma experiência, e essa experiência promana de vosso condicionamento. Se sois hinduísta, com esse fundo é que reagis aos desafios, por insignificantes que eles sejam. Mesmo a um “desafio” insignificante, “reagis” com o fundo de vosso hinduísmo, de vosso condicionamento, e essa reação é experiência. Assim, a mente que está experimentando está reagindo e, por conseguinte, não é uma mente livre.

A mente tranquila nunca está em busca de experiência, de qualquer espécie que seja. E, se não está buscando e, por conseguinte, está perfeitamente serena, sem nenhum movimento do passado e, portanto, do conhecido, podereis ver, então, que há um movimento do Desconhecido, o qual não é reconhecível, nem traduzível, nem exprimível por palavras; podereis ver, então, que há um movimento que é o movimento da Imensidade. Esse movimento é o movimento do Atemporal, porque, nele, o tempo não existe, nada existe para experimentar, nada para ganhar, alcançar. A mente conhece, então, a criação — não a criação do pintor, do poeta, do discursador, porém aquela criação que não tem “motivo”, que não tem expressão. Essa criação é amor e morte.

Tudo isso, do começo ao fim, é o caminho que a meditação percorre. O homem que deseja meditar deve compreender a si próprio. Se não conheceis a vós mesmo, não podeis ir longe. Por mais que tenteis ir longe, nunca ultrapassareis vossa própria “projeção”; e vossa própria “projeção” está muito perto, e a parte alguma vos leva. Meditação é aquele processo de lançar imediatamente a base e de fazer nascer — naturalmente, sem esforço algum — aquele estado de tranquilidade. Só então existe uma mente fora do tempo, fora da experiência e fora do conhecimento.

Krishnamurti, Nova Déli, 7 de fevereiro de 1962, A mutação Interior


segunda-feira, 9 de abril de 2018

A mente em conflito é uma mente medíocre


A mente em conflito é uma mente medíocre

Estivemos falando sobre a necessidade de termos uma mente nova, fresca. Em toda parte aonde vamos encontramos tremenda desordem, sofrimento em grande escala, físico e moral, infinita confusão. E, parece-me, em vez de tratarmos de resolver o problema do sofrimento e da confusão, estamos mais interessados em fugir dele — em busca da Lua, de entretenimentos, de ilusões várias. Mas, o que quer que façamos, continuam existentes o sofrimento e a confusão e, para livrar-nos dessas condições, é-nos necessário, penso eu, uma mente nova, viçosa. Desejo, pois, continuar do ponto em que paramos e considerar se é possível vivermos neste mundo sem conflito. Porque, quer-me parecer, uma mente invadida pelo conflito está embotada, é medíocre. Todos nos achamos em conflito, desta ou daquela natureza, em níveis diferentes e de diferentes formas. E, ou nós nos conformamos com ele, ou tratamos ansiosamente de refugiar-nos em entretenimentos, reformas sociais e nas coisas que as igrejas e as religiões oferecem, com seus rituais, suas misteriosas palavras, suas crenças e dogmas — românticas formas de consolação. E, à medida que vamos envelhecendo e as fugas se tornando cada vez mais habituais e constantes, nossa mente se torna mais e mais embotada, lerda, estúpida. Isso é um fato ocorrente com a maioria de nós. Poderá haver momentos em que, apesar de todos os sofrimentos causados pelo conflito, as nuvens se abrem, deixando-nos ver algo, muito claramente, que nos desperta um sentimento de tranquilidade, profundeza; mas raramente isso acontece.

Acho que precisamos investigar esta questão profundamente — tarefa bem difícil. Não se trata apenas de examinar umas poucas ideias; trata-se, antes, de penetrarmos mui profundamente em nós mesmos, para vermos se é possível extirpar o conflito em todas as suas formas. Requer-se uma mente ardorosa, penetrante, mente que não se deixe prender na rede das palavras. Infelizmente, tendemos a prestar atenção apenas a certas palavras, frases e ideias; limitamo-nos a deslizar sobre a superfície das coisas. E, provavelmente, tal é a razão por que vimos assistir a estas conferências, ano por ano, e o resultado final se torna um tanto estúpido; porque ficamos apenas a trocar ideias sem jamais penetrarmos a matéria profunda e diretamente, para extirparmos deveras o conflito.

Penso, portanto, que devemos restringir-nos nesta manhã a ver se é verdadeiramente possível — não teórica ou verbalmente — compreender deveras a natureza do conflito e, dessa investigação, sairmos renovados, rejuvenescidos, purificados. A mente purificada, “inocente”, nunca se acha em conflito; está num estado de ação. Uma mente em ação, em movimento, sempre a renovar-se, nunca se achará em conflito. Só aquela que encerra contradição está perpetuamente em luta.

Por favor, enquanto falo, não vos limiteis a ouvir minhas palavras, porquanto as palavras só têm significado superficial. Pois estou certo de que, se examinardes a vós mesmos, encontrareis muitas contradições. Assim, tende a bondade de acompanhar-me atentamente, “experimentando” durante o percurso, porque, então, ao concluirmos o nosso exame, talvez alcanceis um sentimento de clareza, um sentimento de libertação da terrível opressão do conflito.

Vimos aceitando o conflito desde a infância. No setor educativo, todas as escolas do mundo estão criando bases de conflito e há a luta constante para emularmos com os que são mais talentosos que nós. E ao nos tornarmos mais velhos começamos a seguir o exemplo, o líder, a autoridade, o ideal; e surge, assim, a separação entre o que deveria ser e o que realmente é, e, daí, a contradição. Temos não apenas o conflito exterior, mundano, a competição, os ideais, a ambição, o perpétuo impulso, na moderna vida social, a nos tornarmos inteligentes, mais belos; imitação não só de nossos semelhantes, mas também de Jesus, de Deus; imitação não só da moda, mas também da virtude. De tudo isso resultam, exteriormente, guerras entre os povos, as raças, as nações e os estadistas. E se um homem repudia tudo isso, por demasiado estúpido, volta-se para o seu interior, onde novo problema se apresenta — o de alcançar a paz, a tranquilidade, a felicidade, Deus, o amor, o céu. A busca interior é uma reação à busca exterior, sendo, por conseguinte, o mesmo movimento — movimento semelhante ao vaivém das marés. São estes óbvios fatos psicológicos; e se nos tornamos apercebidos de tudo isso, não há mais discutir a seu respeito: é o fato. Poder-se-á argumentar sobre a possibilidade de transcender tudo isso; mas o fato real é que existe conflito interior e exteriormente, de onde se origina um espírito de espantosa brutalidade, uma eficiência cruel. O movimento exterior poderá produzir um certo progresso, prosperidade, mas pode-se ver o que está acontecendo no mundo: tanta prosperidade e menos, cada vez menos, liberdade. Isso se pode observar muito claramente na América: lá existe esta grande prosperidade, mas o espírito pioneiro, o espírito de liberdade vai desaparecendo gradualmente. Interiormente, também, quanto mais intenso o conflito, tanto maior o impulso para a atividade; e surgem assim os ‘‘beneméritos”, os reformadores, os chamados “ santos” e os intelectuais, autores de livros e mais livros, etc. etc. Quanto maior a tensão do conflito, tanto mais ela se expressa por meio da capacidade.

Sabemos de tudo isso, todos sentimos o “puxão” em diferentes direções. Conhecemos o impulso da ambição. E onde há ambição, não há amor em forma nenhuma, não há compaixão, piedade ou afeição. E a fuga ao conflito, seja conflito entre duas pessoas, seja entre nações — e não importa se nosso refúgio é Deus, a bebida, o nacionalismo, a conta bancária — a fuga nos afunda mais e mais no ilusório sentimento de segurança. Nossa mente se nutre de mitos, especulações.

Cresce, assim, o conflito e desse estado resulta ação que, por sua vez, produz mais contradição ainda. E ficamos a debater-nos nesse torvelinho de luta. Estou apenas expressando em palavras o que realmente está acontecendo. Tal é a sina de todos. Podemos ver diretamente que a mente está sempre tentando fugir, por meio da repressão, da disciplina — sempre advogada pelos santos, em todo o mundo e, de feito, tudo submetendo a seu controle. E, se não é a disciplina o nosso meio de fuga, é então uma certa atividade: reforma social, reforma política, estudo de cursos especiais, fomento da fraternidade — conheceis todas essas atividades, essa agitação, esse impulso para fazer algo em relação com alguma coisa. O que sabemos é apenas que nossa ação cria mais misérias, mais perversão, mais ilusão e sofrimento, interior e exteriormente. Todo estado de relação, no começo tão novo, tão original, degenera em algo feio, estúpido ou venenoso. Todos, sem dúvida, conhecemos esse processo dual de amor e de ódio. E rogamos aos deuses os meios de ocultá-lo... e, infelizmente, os deuses nos atendem, pois não faltam meios de fuga.

Eis o quadro que se nos depara: uma ideia, um ideal, e a ação resultante, visando a concretizar essa ideia. A mente cria a ideia e em seguida procura agir, a fim de realizá-la. Está assim criado um intervalo, sobre o qual procuramos tenazmente lançar uma ponte. E nunca o conseguimos, porquanto a ideia é estática, criamo-la firme, fixa; a ação, entretanto, tem de ser necessariamente variada, mutável, em constante movimento, conforme as exigências da vida. Por isso, há conflito perene.

E embora apercebidos de todas essas tremendas tensões e violentas exigências, nunca perguntamos a nós mesmos se é possível viver neste mundo sem conflito. É possível? No meu sentir, só é criadora a mente em que não existe um só movimento de conflito. Não me refiro à ação criadora dos poetas, dos pintores, dos arquitetos etc. Estes poderão possuir certos dons, certas capacidades; poderão ocasionalmente vislumbrar algo, num rápido clarão, e expressá-lo no mármore, num poema, num monumento arquitetônico; mas não são verdadeiramente criadores, porque continuam em guerra, com si mesmos e com o mundo; são impulsionados por suas ambições, seus ciúmes, suas irritações e rancores, tal como nós outros. Mas, para encontrar Deus — ou o nome que preferirdes — para descobrir realmente se tal entidade existe, a mente deve estar de todo livre de conflito. Isso exige enorme esforço; e, talvez, os mais velhos dentre nós já estão acabados, fora de combate. Podemos estar assim, ou talvez não.

Não sei se já vistes as pinturas das cavernas de Dordogne, velhas de dezessete mil anos. As cores são muito vivas, porque os ventos e as chuvas nunca as atingiram. Representam essas figuras o homem em luta com animais, cavalos, touros de graciosos chifres; e são representações cheias de extraordinário movimento. Mas... a mesma luta, sempre.

A questão, pois, é: Que devemos fazer em relação a tudo isso? E tendes de resolver este problema, porque sois vós quem sofre, quem está em conflito. Não podeis ficar a esperar descansadamente que outra pessoa o resolva. E isso, afinal, nada tem que ver com a idade, não depende de se a pessoa é velha ou nova.

Enunciando diferentemente o problema: viver é agir. Não se pode viver sem ação. Cada gesto, cada ideia, cada onda de pensamento é ação; e toda ação dá origem a uma reação, e dessa reação resulta mais ação. Assim, todas as nossas ações são reações; e estamos aprisionados nisso. Ora, é possível vivermos com ação em extraordinária abundância e sem raízes nenhumas no conflito? Eis a questão, que espero vos esteja clara.

APARTE: Suponho que isso acontece ocasionalmente a cada um de nós; vem e vai independentemente de nossa vontade, como o vento entre as árvores ou as folhas mortas levadas pelo vento.

KRISHNAMURTI: Quer dizer, isso acontece casualmente e fica-nos sua lembrança, despertando o desejo de repetição — e temos assim, de novo, conflito. Percebeis? Tenho uma experiência que me deleita: contemplando uma bela nuvem, um rosto bonito, um doce sorriso; e essa experiência deixa-me uma impressão de prazer, de alegria — êxtase. Desejo vê-la repetir-se, e começa o conflito. Tende a bondade de seguir isso, completamente, e vereis algo por vós mesmo.

APARTE: O conflito começa com o desejar.

KRISHNAMURTI: De fato? Que mal há em desejar algo belo?

APARTE: Desejar a repetição, quero dizer.

KRISHNAMURTI: Um momento, senhor. Todo desejo é de repetição. Não haveria desejo de uma coisa, se não a tivéssemos provado antes, sem uma lembrança prévia. Todo desejar representa reconhecimento de uma coisa antes conhecida.

APARTE: E se se trata de desejar Deus?

KRISHNAMURTI: É a mesma coisa, não? Desejar uma mulher, um filho, apreciar um belo poente, ou desejar Deus, e desejar a repetição da experiência — tudo é a mesma coisa, não? Parece que não estais percebendo o aspecto mais importante da questão.

APARTE: É a resistência ao desejar que cria a contradição.

KRISHNAMURTI: O desejar gera conflito, e qualquer espécie de resistência gera conflito; mas é este o problema? O perpétuo clamor do artista provém de ter ele conhecido esse ocasional vislumbre da beleza e desejar segurá-lo; e, assim, ele luta, entrega-se às mulheres, à bebida etc. E nós fazemos a mesma coisa; vivemos no passado, nos “dias felizes que se foram”, os rostos lembrados, nossas memórias, e todas as coisas que desejamos recordar. Há o desejo, e a resistência a esse desejo; mas é este o problema? Todos os santos disseram: “Eliminai o desejo”; mandam-nos voltar-lhe as costas, asfixiá-lo, controlá-lo, não nos deixarmos apaixonar. Mas é este o problema que nos interessa?

APARTE: Acho que não compreendo o desejo.

KRISHNAMURTI: É esse o problema? Vede, senhores, quando tendes uma experiência e desejais repeti-la, continuá-la, não criastes um problema? Quer resistais, quer cedais, não criastes um problema? Criamos o problema de como manter um determinado estado, não é certo? Ora, que é um problema? Problema, por certo, é tudo aquilo que eu não compreendi. Compreendida uma coisa, o problema deixou de existir. Para um mecânico, um desarranjo num motor não constitui problema real: ele sabe o que deve fazer. Nós aqui não sabemos o que devemos fazer, e esse “não saber” é um problema. Não podemos destruir o desejo, pois isso seria terrível, estúpido; seria assumir a vulgaridade do santo — perdoai-me, se vos choco. E a resistência é uma forma de repressão. Certo?

E que há para compreender no desejo? Não muita coisa. Sabeis o que são desejos e como eles nascem; e conheceis também a resistência, e como nasce: de nossa educação, nossas tradições, nosso conteúdo mental (background), a atitude do dizer “isto é certo e aquilo errado”, o sentimento de que devo ser respeitável a todo custo e que minha respeitabilidade deve ser reconhecida pela sociedade. Conheceis tudo isso.

Podemos agora passar adiante? Que é um problema, que é que cria o problema?

APARTE: A lembrança da experiência.

KRISHNAMURTI: Não se pode eliminar a experiência, pode-se? Isso significaria morrer, fechar os olhos à vida, tornar-se insensível. Viver é experiência. Mas a experiência deixa-nos o seu resíduo, como memória — a cicatriz da memória. Estais-me seguindo? O problema, pois, é a memória e não o desejo ou a resistência. Pode, então, a mente viver num “estado de experimentar”, sem que fique resíduo, isto é, memória?

Podeis compreender isso verbalmente, mas trata-se de coisa realmente extraordinária e que deve ser investigada; mas para tanto requer-se excepcional vitalidade e energia. Não pode a mente fugir à experiência, entretanto todos tentamos furtar-nos a uma experiência vital; reforçamos as paredes da crença; recusamo-nos a ver que o mundo é uma unidade, que a Terra é vossa e minha; dividimo-la em britânica, europeia, indiana, russa; e quedamo-nos, paralisados, no interior dessas muralhas. Repelimos, com efeito, a experiência porque não desejamos mudanças; cultivamos a memória, adicionando-lhe em vez de subtrair-lhe.

O problema, portanto, é este: Pode a mente receber uma coisa sem que esta deixe marca? Não podeis dizer que isso é possível ou impossível. Pensai, por favor. Porque só a mente que experimenta, vê, olha, vibra, está viva. Não está viva a mente que leva a carga de memórias seculares, a que chamamos conhecimento, tradições. Entretanto, não podemos suprimir o conhecimento; ele precisa existir, senão não saberemos voltar para casa. Mas pode-se viver sem a interferência do passado?

APARTE: O problema é que, para impedirmos a memória de deixar-nos marca na mente, precisamos possuir extraordinário interesse em cada uma de nossas experiências.

KRISHNAMURTI: Por favor, senhor, atentai no que acabais de dizer: “precisamos”. Esse “precisamos” já lançou na mente o germe do conflito, não?

APARTE: Talvez eu devesse perguntar: Como criar esse interesse?

KRISHNAMURTI: Para termos uma resposta correta, temos de fazer uma pergunta correta. Esta pergunta é correta?

APARTE: Seria mais correto perguntar: Por que não estou interessado?

KRISHNAMURTI: Ora, isto é como tirar o tom correto de um violino. Só se pode tirar o tom correto quando a corda está na tensão correta. Estais fazendo esta pergunta com a tensão correta? Tensão correta; não, estado de conflito. Se considerarmos bem, encontrareis em vós mesmo a resposta. Talvez a própria pergunta que estais fazendo vos esteja impedindo de descobrir diretamente. Percebeis? Vou expressá-lo de maneira diferente.

Percebo realmente, visualmente, o conflito existente no mundo e em mim mesmo. Há contradição interna e externa. E o esforço para fazer alguma coisa a esse respeito: tornar-me pacífico, evitar todo sofrimento — implica conflito. Isso, fora de qualquer dúvida, é o fato. Estais percebendo? E o desejar fazer alguma coisa contra o fato é a reação de procurar fugir-lhe, repudiá-lo, resistir-lhe, transcendê-lo. Correto? Portanto, o desejo, a ânsia, o impulso para fazer alguma coisa em relação ao fato é que é o problema. Mas, se o fato existe e percebeis que nada podeis fazer contra ele, o próprio fato vos dá então a resposta. Existe, então, problema?

Krishnamurti, Londres, 07 de maio de 1961, O Passo Decisivo

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Verdade não se apresenta à mente superficial

Pergunta: Há muitos anos o ouvimos. Entretanto, continuamos abjetos, ignóbeis, rancorosos. Não raro nos sentimos como que abandonados por você. Sabemos que não nos quer para discípulos, mas há necessidade de se eximir completamente da vossa responsabilidade perante nós? Não deve nos dar a mão, nos guiar?

Krishnamurti: Senhores, eis uma maneira indireta de perguntar: "Por que você não quer ser nosso guru?" (Risos). Ora, Senhores, o problema nada tem a ver com abandoná-los ou dar-lhes a mão, porque, presume-se, somos pessoas adultas. Pelo menos fisicamente já somos adultos; mentalmente, somos crianças de catorze e quinze anos; e queremos um ente glorificado, um Salvador, um guru, um Mestre, que venha nos tirar de nossa desgraça, de nossa confusão; que nos explique o presente estado de caos; que "explique", e não que produza uma revolução em nosso pensar; e isso basta para nós. 

Fazem estar pergunta com o desejo de encontrar uma saída desta confusão; com o desejo de se libertarem do temor, do ódio, de toda mesquinhez da vida; e contam com a ajuda de alguém, a esse respeito. Ou talvez, outros gurus não conseguiram fazer com que adormecessem com uma dose de ópio, com uma explicação; por isso se voltam para outra pessoa, dizendo: "por favor, nos guie". É este o problema, para vocês — a substituição de um antigo guru por um novo, de um antigo mestre por um novo, de um antigo líder por um novo? Tenham a bondade de ouvir com toda a atenção. Pode alguém conduzi-los à Verdade, ao descobrimento da Verdade? É possível o descobrimento, quando somos levados à fazê-lo? Se forem conduzidos à Verdade, vocês a descobriram, vocês a experimentaram? Pode alguém — seja qual for essa pessoa — conduzi-los à Verdade? Quando dizem que precisam seguir alguém, não implica isso em que a Verdade é uma coisa estacionária, que a Verdade está em algum lugar, para serem conduzidos até lá, olhá-la, e levá-la? 

A Verdade é algo que tem de ser descoberto ou algo a que somos conduzidos? Se é algo a que somos conduzidos, então o problema se torna muito simples: tratarão de encontrar o guru ou guia que mais lhe agrade, e ele os levará onde a Verdade está. Mas, por certo, a Verdade que buscam se acha acima do plano das explicações; ela não é estática, tem de ser experimentada; tem de ser descoberta; e não pode ser experimentada por intermédio de um guia. Como posso experimentar espontaneamente uma coisa original, se me dizem "olhe aqui uma coisa original — experimente-a!" O ódio, a vileza, a ambição, a frivolidade, são os problemas de vocês, e não o descobrimento da Verdade. Não podem achar o que é a Verdade com uma mente frívola. Uma mente superficial, maledicente, estúpida, ambiciosa — jamais descobrirá o que é a Verdade. Uma mente frívola não pode criar senão uma coisa frívola; não pode criar senão um Deus frívolo. Nosso problema, por conseguinte, não é o de achar ou descobrir o que é Deus, mas o de percebermos como somos frívolos. 

Veja, Senhor, se sei que sou frívolo, que estou desgraçado, que sou infeliz, posso então fazer alguma coisa. Entretanto, se sou frívolo e digo "não devo ser frívolo, quer ser um homem superior", nesse caso estou fugindo, e isso é frivolidade. Compreenda isso, por favor.

O importante é descobrir-se e compreender-se o que é, e não, transformá-lo noutra coisa final. Afinal, uma mente estúpida, mesmo quando procura se tornar muito sagaz, muito penetrante e inteligente, continua estúpida do mesmo modo, porque sua essência mesma é a estupidez. Não gostamos de escutar. Queremos alguém que nos converta a frivolidade numa coisa superior e nunca aceitamos, jamais o que é, na sua realidade. O descobrimento do que é, da realidade, é importante; é a única coisa verdadeiramente importante. Em qualquer nível que seja — econômico, social, religioso, político, psicológico — o que mais deve interessar é o descobrimento do que é, no seu aspecto exato — e não o que deveria ser

Prestem atenção. Esta pergunta suscita várias questões. O interrogante deseja alguém, para ajudá-lo a se libertar das complicações de sua vida; está, portanto, à procura de um guia. O guia que ele busca é produto da sua confusão, da sua atribulada condição; e por isso o guia é também confuso. Senhor, não sabem o que ocorre pelo mundo? Um homem que se vê confuso, no meio de tanta agitação; aparece um líder político; o homem vota nele, por causa da confusão em que se acha; e criou, dessa maneira, um político também confuso, que se torna seu líder, seu guia. Assim também o guru, ou o mentor, ou o guia que escolhem; o escolhem por causa da confusão de vocês, por causa de seus desejos de satisfação e segurança; consequentemente, "projetam" o desejo de vocês, e o guru, portanto, é criação de vocês. Ele vai lhes dar satisfação e por isso aceitam o que ele oferece — o que denota que nunca enfrentam o que é, o que existe em si mesmos, o que realmente são. É só quando a mente de vocês não está fugindo, evitando o que é, perseguindo um ideal — quando a mente não diz "não deve ser assim", dever "ser assim", etc., é só então que se pode descobrir a maneira de agir com relação ao que é. Então, o problema será resolvido. Só resolverão o problema quando, na realidade, descobrirem o que é o "eu". Se sabem que são frívolos, que possuem uma mente superficial, que odeiam seus semelhantes; se percebem bem esse fato, sabem então agir com relação a ele. Podemos examinar a questão de como agir em relação ao fato. Se afirmam, porém, "não devo odiar, devo amar", nesse caso estão penetrando num mundo ideológico — o que representa a maneira mais estúpida de fugir ao que é

Esta pergunta denuncia a falta de interesse em compreender a verdade relativa aos nossos problemas. Só a Verdade pode nos libertar. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém, quando não existe autoridade de espécie alguma — se a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros, do guru, da nossa própria existência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência não pode nos ajudar a descobrir o que é a Verdade.

Nessas condições, os que se sentem seriamente interessados, os que desejam de fato descobrir a Verdade relativa aos seus problemas, devem, naturalmente, colocar à margem, tudo quanto é autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar, para nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" — aquele que mora na Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaia, ou "ali na esquina". Todos precisamos de alguém para nos ajudar. Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos assim, a nós mesmos, o descobrimento da Verdade.

Escutem o que estou dizendo; não o rejeitem, pois ainda não resolveram o problema de vocês e ainda são tão infelizes como antes. Enquanto estiverem seguindo um guru ou seus líderes políticos, estarão confusos. Há uma única maneira de resolver este problema, que é pela compreensão de si mesmos, nas suas relações, de momento em momento, de dia em dia: os antagonismos, os ódios, as paixões, o amor efêmero etc. estão embaraçados no problema, e só o resolverão quando o aceitarem, quando o virem tal qual é. Só depois de o resolverem, terão a possibilidade de libertar do condicionamento a mente de vocês, deixando assim a Verdade reinar. 

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pode a mente experimentar o desconhecido?

Por que é que as pessoas, tendo uma certa renda e podendo retirar-se do trabalho de responsabilidade, tanta vezes se deterioram e se desintegram psicologicamente?

Krishnamurti: A deterioração é mera resultante da renda certa? A renda certa talvez apenas exagere a deterioração já existente. Não, meus senhores, não foi riam disso, como se nada fosse. Interessa-nos saber por que a mente se deteriora numa determinada fase, ou por que razão ela se deteriora

Um homem que está trabalhando, ganhando dinheiro, frequentando regularmente um escritório, não está se deteriorando, aparentemente, pois está em atividade; ao cessar, porém, essa atividade, torna-se perceptível a deterioração. 

A mente sujeita a uma rotina, seja a rotina de um escritório, de um rito, ou a rotina de um certo dogma, já está se deteriorando, não é verdade?

Por certo, vale muito mais a pena descobrir as causas determinantes da deterioração da mente, do que inquirir por que razão o seu vizinho se desintegra, quando se retira das atividades. Se pudermos realmente compreender só esta questão, talvez venhamos a conhecer a eternidade da mente.

Por que se deteriora a mente — não apenas a sua mente, mas a mente do homem? Pode-se ver que o fator da deterioração surge quando a mente se transforma em máquina de hábito, quando a sua educação é mero exercício de memória, e quando se acha numa luta incessante, procurando ajustar-se a um padrão imposto de fora ou criado por ela própria. 

Há medo, deterioração, destruição da mente, quando ela está constantemente em busca de segurança, ou quando sujeita do desejo de preenchimento.  

E tal é o nosso estado, não é verdade? Ou estamos na sujeição do hábito, da rotina, fazendo a mesma coisa sempre e sempre, exercitando-nos na virtude, ajustando-nos ao padrão de uma disciplina, para chegarmos a um certo resultado, para encontrarmos segurança psicológica ou material; ou, ainda, estamos a competir, a fazer esforços inauditos, na nossa ambição de sucesso mundano. 

Certo, é isso que cada um de nós está fazendo, e, por conseguinte, já pusemos em funcionamento o mecanismo da deterioração. Se qualquer dessas reações existe em nós, em qualquer nível que seja, estamos nos deteriorando. 

Pois bem. Pode a mente renovar-se com frequência? Pode a mente ser criadora momento por momento? 

Não me refiro à criação compreendida como mera atividade de planejar e expressar, compreendida como capacidade ou aplicação de uma técnica. Não estou me referindo à criação sob nenhum desses aspectos. Mas pode a mente experimentar o desconhecido? Sem dúvida, só no estado de não-conhecimento não há deterioração.

Qualquer outro estado acarretará, por força, o envelhecer da mente. Como qualquer mecanismo posto a funcionar seguidamente durante dias, semanas, meses e anos, a mente, sempre em atividade, se deteriora, inevitavelmente. 

Enquanto você fizer uso da sua mente como se fosse máquina, para realizar, produzir, ganhar, tem em si as sementes da deterioração, da velhice e da decrepitude. E quer se trate de um menino de dezesseis anos ou de um velho de sessenta, o "processo" é o mesmo. 

Nós, porém, em geral, não estamos cônscios desse processo de deterioração. Estamos cônscios, apenas, de nos acharmos entre as rodagens da máquina de prazeres e dores e sofrimentos, e da nossa luta para sairmos dela. 

A mente, pois, nunca está quieta, despreocupada; sempre se acha envolvida com alguma coisa: com Deus, com o comunismo, com o capitalismo, com o enriquecer, com a opinião dos outros ou... com a cozinha. Com quantas coisas ela anda preocupada! Como está constantemente ocupada, nunca é livre, jamais tranquila. 

Só a mente que está tranquila — não por estar insensibilizada, mas por encontrar-se naquele estado de silêncio que é criador — só essa mente pode sustar a deterioração. 

A imunidade à deterioração não é possível à mente que se preenche pelo exercício de capacidades. À medida que nos tornamos mais idosos, a capacidade se embota. Você pode ser um exímio pianista; como o envelhecer, porém, vem o reumatismo, vêm os achaques, vem a cegueira, ou você pode ser vitima de um acidente. 

A mente que anda à procura de preenchimento, em qualquer sentido, em qualquer nível, já contém em si a semente da destruição. É o "eu" que quer preencher-se, quer tornar-se alguma coisa; vendo-se vazio, frustrado, busca o "eu" preenchimento em minha família, meu filho, minha propriedade, minha ideia, minha experiência. 

Quando reconhecemos tudo isso e lhe percebemos os perigos, só então a mente pode estar vazia momento por momento, dia por dia, não embargada pela carga do passado ou pelo temor do futuro. 

O viver naquele momento não é nenhuma coisa fantástica, só concedida a uns poucos.

Afinal de contas, como disse, cada um de nós vive num mundo de sofrimento, luta, dor, efêmera alegria, e cada um de nós deve encontrar aquela coisa desconhecida; ela não foi reservada só para um e negada aos demais. É justo que podemos criar um mundo novo; mas este mundo novo não pode nascer da revolução exterior, que produz decomposição. 

A mente se deteriora quando busca um fim, quando se submete à autoridade, nascida do temor. Há um definhar-se da mente, quando não há autoconhecimento, e o autoconhecimento não é uma coisa que se possa aprender de um livro. Ele tem de ser descoberto a cada momento, o que requer uma mente vigilante ao extremo; e a mente não está vigilante quando achou um fim. 

Assim, o fator que acarreta a deterioração se encontra em nossas próprias mãos. A mente, presa à experiência, vivendo da experiência, nunca encontrará o incognoscível. O incognoscível só pode manifestar-se quando o passado já não existe; e só não há passado, quando a mente está tranquila.

Krishnamurti em, Percepção Criadora

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A tecnologia está tornando a mente estreita, vulgar, limitada e burguesa

A maioria de nós vive muito superficialmente; vivemos com os nossos conhecimentos e informações e os julgamos suficientes. Mas, sem a meditação, nossa vida é muito superficial. Por "meditação" não entendo contemplação ou oração. Para a pessoa achar-se no "estado de meditação", ou, melhor, para nele entrar natural e facilmente, sem nenhum esforço, deve primeiro compreender a mente superficial, a mente ordinária, a mente que tão facilmente se satisfaz com informações. Tendo acumulado conhecimentos ou adquirido uma certa capacidade técnica, que nos habilita a exercer determinada especialidade, para vivermos neste mundo mais ou menos superficialmente, a maioria de nós contenta-se em viver nesse nível, sem nenhuma compreensão de qualquer problema psicológico que se apresente. Parece-me, pois, sobremodo relevante observar quanto a mente é agora superficial, e investigar se há possibilidade de a mente transcender a si própria. 

Quanto mais conhecimento e preparo uma pessoa tem, tanto maior a sua capacidade na vida diária; e é bem óbvio que necessitamos desses conhecimentos, desse preparo, dessa capacidade, pois não podemos "jogar fora" as máquinas e a ciência e voltar ao estado primitivo.  Isso seria proceder como algumas pessoas ditas "religiosas" que querem retornar a uma tradição ou ressuscitar antigos conceitos e fórmulas filosóficas, destruindo, dessa maneira, a si próprias e ao mundo em que vivem. A ciência, a matemática, as técnicas atualmente à disposição do homem, são coisa absolutamente necessárias. Mas viver neste mundo tecnológico, de conhecimentos e ilustração que rapidamente se avolumam, tende a tornar a mente muito superficial; e, em geral, contentamo-nos em permanecer nesta superficialidade, visto que o conhecimento e a tecnologia nos fazem ganhar dinheiro, mais confortos, mais da chamada "liberdade" — coisas, essas, todas muito respeitadas numa sociedade degradada e em estado de desintegração. Assim, para poder ultrapassar a si própria, deve a mente compreender as limitações da tecnologia, do conhecimento e da ilustração, e ficar livre dessas limitações.

Como se pode observar, todas as nossas atividades, todas as nossas emoções, todas as nossas reações neurológicas são muito pouco profundas, muito periféricas. Vivendo, como vive a maioria de nós, na superfície, procuramos pesquisar as profundezas, penetrar mais e mais fundo, abaixo da superfície, porquanto depressa nos cansamos dessa maneira superficial de viver. Quanto mais inteligentes, quanto mais intelectuais, quanto mais apaixonados formos, tanto mais vivo será o nosso percebimento da superficialidade de nossa existência; ela se torna cansativa, aborrecida, e sem muita significação. Assim, trata a mente superficial de descobrir a finalidade da vida ou de procurar uma fórmula que dê sentido à vida. Luta essa mente para viver de acordo com um conceito por ela própria concebido, ou uma crença que aceitou; e sua ação por conseguinte é sempre superficial. É necessário perceber com toda a clareza esse fato. 

O que vamos fazer nesta manhã é tirar, uma por uma, as camadas superficiais, para penetrarmos até à origem, até à última profundeza das coisas. A superficialidade se perpetua pela experiência, e por essa razão muito revela compreender o inteiro significado da experiência. 

Em primeiro lugar, vemos quanto a especialização tecnológica em toda espécie tende a tornar a mente estreita, vulgar, limitada — qualidades que constituem a verdadeira essência do burguês. Então a mente, superficial que é, busca aquilo a que chama "significado da vida", projetando, ao mesmo tempo, um padrão que lhe é grato, lucrativo, aprazível, e a esse padrão se ajusta. Esse processo lhe confere uma certa determinação, certo ímpeto, um senso de realização. 

(...) Meditação é o total "esvaziamento" da mente — e não se pode esvaziar a mente à força, de acordo com um certo método, escola ou sistema. Mais uma vez, é necessário perceber a extrema falácia de todos os sistemas. A prática de um sistema de meditação é busca de experiência; é esforço para alcançar uma experiência mais elevada, ou a experiência final; e quem compreende a natureza da experiência rejeita tudo isso, que se acaba para sempre, porque sua mente já não está seguindo ninguém; ela não busca experiência, e nenhum desejo tem de visões. Toda a busca de visões, toda intenção de aumentar a sensibilidade por meios artificiais, — drogas, disciplinas, rituais, adoração, oração — constitui atividade egocêntrica

Nossa questão, pois, é a seguinte: Como pode a mente que se tornou superficial, por influência da tradição, pela ação do tempo, da memória, da experiência — como pode essa mente libertar-se, sem esforço, de sua superficialidade? Como pode tornar-se tão completamente desperta que a busca da experiência nada mais signifique? Compreende? A mente que está toda iluminada não pode por mais luz — ela própria é luz; e toda influência, toda experiência que penetra nessa luz, nela se consome de instante a instante, de modo que a mente está sempre clara, imaculada, inocente. Só a mente iluminada, a mente inocente pode ver o que está fora dos limites do tempo. E como pode nascer esse estado mental?

(...) Não é uma simples pergunta retórica, a que se pode responder prontamente ou colocar de lado. É uma pergunta de extraordinária importância para a mente que penetrou a FUTILIDADE da religião organizada e "VARREU" todos os sacerdotes e gurus, templos, igrejas, rituais, incenso — atirou tudo isso aos ventos. E se você já atingiu esse ponto,  a si mesmo deve ter perguntado: Como pode a mente ultrapassar a si própria?

Krishnamurti em, A MENTE SEM MEDO

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Só a meditação pode matar a mente

Lembre-se disto: a mente é velha, não pode nunca ser nova. Portanto, não pense nunca que a sua mente é original. Nenhuma mente pode ser original. Todas as mentes são velhas, repetitivas. É por isso que ela gosta tanto das repetições e está sempre contra o novo. Por ter sido criada pela mente, a sociedade também está sempre contra o novo. Por terem sido criados pela mente, o estado, a civilização, a moral estão sempre contra o novo. Nada pode ser mais ortodoxo do que a mente.

Com a mente, nenhuma revolução é possível. Se você é um revolucionário através da mente, pare de enganar a si mesmo. Um comunista não pode ser revolucionário porque nunca meditou. Seu comunismo é mental. Apenas trocou de Bíblia: não acredita mais em Jesus, acredita em Marx ou em Mao, a última edição de Marx. O comunista é tão ortodoxo quanto qualquer católico, hindu ou maometano. Seu ortodoxismo é o mesmo porque a ortodoxia não depende do que é acreditado. A ortodoxia depende de se acreditar através da mente. E a mente é o elemento mais ortodoxo, mais conformista do mundo.

Qualquer coisa que a mente crie, nunca será nova, será sempre anti-revolucionária. É por isso que a única revolução possível no mundo é a religiosa, não pode haver outra. Apenas a religião pode ser revolucionária porque só ela chega à própria fonte. Só ela abandona a mente, o velho. Assim, de repente, tudo é novo, porque era a mente que estava tornando tudo velho através de suas interpretações.

De repente, você volta a ser criança. Seus olhos são jovens, inocentes. Você olha sem informações, sem ensinamentos. De repente, as árvores têm um novo frescor, o verde mudou — já não é mais opaco; é vivo, brilhante. De repente, o canto dos pássaros é totalmente diferente.

Isso é o que tem acontecido a muitas pessoas pelas drogas. Aldous Huxley ficou intensamente fascinado pelas drogas por causa disso. Em todo o mundo, a nova geração sente-se atraída pelas drogas. A razão disso é que a droga, por um momento, por algum tempo, coloca sua mente de lado quimicamente. Você olha para o mundo e, então, as cores ao seu redor são simplesmente miraculosas. Você nunca viu algo assim! Uma flor comum transforma-se em toda a existência, traz consigo toda a glória do Divino. Uma folha comum adquire tanta profundidade que é como se estivesse revelando toda a Verdade. Todas as coisas imediatamente mudam. A droga não pode mudar o mundo; o que ela faz é colocar sua mente de lado por um processo químico.

Mas a pessoa pode tornar-se viciada; então, a mente terá absorvido a droga também. Apenas no começo, nas primeiras duas ou três vezes, é que a mente pode ser enganada quimicamente. Depois, pouco a pouco, a mente entra num acordo com a droga e novamente toma as rédeas. O choque original é perdido. Torna-se viciado pela droga. O comando volta a pertencer à mente. Pouco a pouco, mesmo quimicamente, torna-se impossível colocar a mente de lado. Ela continua presente. Então, você está viciado. As árvores voltam a ser velhas, as cores já não são tão radiantes, tudo está novamente opaco. A droga o matou, mas não a sua mente.

A droga pode dar apenas um tratamento de choque. Ela é um choque químico para todo o corpo. Nesse choque, o velho ajustamento é quebrado. As brechas aparecem e, através delas, você pode olhar. Mas isso não pode se tornar um hábito. É impossível fazer da droga uma prática. Cedo ou tarde, ela fará parte da mente, a mente assumirá a direção. E tudo voltará a ser velho.

Só a meditação pode matar a mente — nada mais. A meditação é o suicídio da mente, é a mente cometendo suicídio. Sem qualquer química, sem qualquer meio físico, você põe sua mente de lado. Torna-se o mestre. E quando você é o mestre, tudo é novo. Desde a própria origem até o derradeiro final, tudo é novo, jovem, inocente. A morte não existe, nunca ocorreu neste mundo. A vida é eterna.

Osho, em "Nem Água, Nem Lua"



terça-feira, 29 de julho de 2014

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 2

Observe as nuvens: as nuvens movem-se e podem ser tão densas que você não consegue ver o céu através delas. A vasta extensão azul do céu está perdida e você está coberto pelas nuvens. Então, você continua a observar: uma nuvem se move e outra ainda não chegou ao seu campo de visão — subitamente, há um ponto na vastidão do céu. 

O mesmo acontece interiormente: você é a vastidão azulada do céu, e os pensamentos são nuvens pairando em torno de você, entrando em você. Mas os intervalos existem, o céu existe. Ter um vislumbre do céu é satori; tornar-se o céu é samadhi. De satori a samadhi, todo o processo é uma profunda visão interior para a mente; nada mais. 

Em primeiro lugar: a mente não existe como uma entidade; apenas os pensamentos existem. 

Em segundo lugar: os pensamentos existem separados de você; não são ligados à sua natureza. Eles vêm e vão — você permanece, você persiste. Você é como o céu: nunca vem, nunca vai, está sempre ali. As nuvens podem ir e vir, são fenômenos momentâneos, não são eternas. Mesmo que você tentasse se agarrar a um pensamento, não poderia retê-lo por muito tempo. Ele tem de ir, tem seu próprio nascimento e morte. Os pensamentos não são seus, não lhe pertencem. Chegam como visitantes, hóspedes, mas não são o hospedeiro. 

Observe profundamente e se tornará o hospedeiro e terá os pensamentos como hóspedes. Como hóspedes, eles são belos; mas se você esquece completamente de que é o hospedeiro, eles se tornam os hospedeiros e você fica em confusão. Isso é o inferno. Você é o dono da casa, a casa lhe pertence, mas os hóspedes se tornam donos. Receba-os, cuide deles, mas não se identifique com eles; de outra maneira, eles se farão senhores. 

A mente torna-se problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente, dentro de você, que se esqueceu por completo a distância, o fato deles serem visitantes, de irem e virem. Lembre-se, sempre, do que é duradouro: o que é a sua natureza, seu Tao. Fique sempre atento ao que nunca vem e nunca se vai, tal como o céu. Muda o gestalt: não faça dos visitantes o seu foco; permanece enraizado no hospedeiro. Os visitantes vêm e vão. 

Há, naturalmente, bons e maus visitantes, mas você não precisa se preocupar com eles. Um bom hospedeiro trata todos os hóspedes da mesma maneira, sem fazer distinções. Um bom hospedeiro é apenas um bom hospedeiro: quando um mau pensamento surge, ele trata o mau pensamento da mesma forma como trataria um bom pensamento. Não é de sua competência julgar o pensamento bom o mau. 

O que você está fazendo quando distingue este pensamento como bom e aquele como mau? Você está trazendo o bom pensamento para para mais junto de você, e empurrando para longe o mau pensamento. Mais cedo ou mais tarde, você estará identificado com o bom pensamento, que passará a ser o hospedeiro. E qualquer pensamento, quando se torna o hospedeiro, cria sofrimento — porque não é a verdade. O pensamento é um simulador, e você se identifica com ele. A identificação é a doença. 

Gurdjieff costumava dizer que só uma coisa é necessária: não se identificar com o que vem e vai. A manhã vem, depois dela o meio-dia, vem a tarde, e todos eles se vão. Chega a noite e, novamente, a manhã. Você permanece — não como você, porque isso também é um pensamento, mas como pura percepção. Não o seu nome, porque isso também é um pensamento; não sua forma, porque isso também é um pensamento; não o seu corpo, porque um dia você compreenderá que também ele é um pensamento. Apenas pura percepção sem nome, sem forma: somente a pureza, somente o que não tem forma nem nome, somente o próprio fenômeno de estar consciente — só isso é duradouro. 

Se você se torna identificado, torna-se mente. Se você se torna identificado, torna-se corpo. Se você se torna identificado, torna-se um nome e uma forma e, então, o hospedeiro está perdido. Você esquece o eterno e o momentâneo torna-se importante. O momentâneo é o mundo, o eterno é Divino. 

Esta é a segunda visão interior a ser obtida; a de que você é o hospedeiro e os pensamentos são os hóspedes.

O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 1

O problema-raiz de todos os problemas é a própria mente.

Assim, a primeira coisa a ser compreendida é o que vem a ser a mente, de que matéria é feita, se é uma entidade ou apenas um processo, se é substancial ou apenas ideal. A não ser que você conheça a natureza da mente, não poderá resolver nenhum dos problemas da sua vida. 

Você pode tentar duramente, mas, se você tentar resolver problemas isolados, individuais, estará voltado ao fracasso —  isso é absolutamente certo. Porque, na realidade, não existe problema individual: a mente é o problema. Resolver este ou aquele problema de nada adiantará porque a raiz deles permanece intocada. 

É tal como cortar os galhos de uma árvore, podando as folhas, sem desenraizá-la. Novas folhas virão, novos galhos brotarão — até mais do que antes. A poda ajuda a árvore a se tornar mais espessa. A menos que você saiba como arrancá-la pela raiz, sua luta será injustificada, tola. Destruirá a si mesmo, não a árvore. 

Lutando, você desperdiçará sua energia, seu tempo, sua vida, e a árvore continuará tornando-se cada vez mais forte, mais espessa, mais densa. E você fica surpreendido com o que vai acontecendo. Você trabalha tão duramente, tentando resolver este e aquele problema, e eles continuam crescendo, aumentando. E mesmo quando você consegue que um problema seja resolvido, dez outros, subitamente, ocupam seu lugar.

Não tente resolver problemas individuais, isolados — eles não existem: a própria mente é o problema. A mente, porém, está oculta subterraneamente; por isso eu a chamo raiz, ela não é aparente.  Em qualquer ocasião em que se depare com um problema, ele está acima do solo; você pode vê-lo, por isso é iludido por ele. 

Lembre-se sempre: o visível jamais é a raiz. A raiz sempre permanece invisível, a raiz sempre está oculta. Nunca lute contra o visível, pois você estará lutando contra sombras. Será em vão, não poderá haver nenhuma transformação em sua vida. Os mesmos problemas aflorarão novamente, novamente e novamente. Observe sua própria vida e você verá o que eu quero dizer. Não estou falando de teoria alguma sobre a mente, mas sobre a "artificialidade" da mente. 

As pessoas vêm a mim e perguntam: "Como obter uma mente pacífica?" E eu lhes respondo: "Não existe tal coisa, mente pacífica. Jamais ouvi falar disso."

A mente nunca é pacífica. A "não-mente" é paz. A mente, em si mesma, nunca pode ser pacífica, silente. A própria natureza da mente é estar tensa, confusa. A mente nunca pode ser clara, nem ter clareza , porque a mente é, por natureza, confusão, nevoeiro. A clareza é possível sem a mente, a paz é possível sem a mente, o silêncio é possível sem a mente — portanto, nunca tente obter uma mente silenciosa. Se você o fizer, desde início você estará se movendo num plano impossível. 

Assim, a primeira coisa a compreender é a natureza da mente; e, só então, algo poderá ser feito. 

Se você observar, jamais encontrará uma outra entidade parecida com a mente. Ela não é uma coisa, é apenas um processo; não é uma coisa, é como uma multidão. Pensamentos individuais existem, mas seu movimento é tão rápido que você não pode ver as brechas entre eles. Os intervalos não podem ser vistos porque você não está consciente e alerta; você precisa de uma visão interior mais profunda. Quando seus olhos puderem ver profundamente, você verá, subitamente, um pensamento, outro pensamento e ainda outro pensamento — mas não verá a mente

Pensamentos reunidos, milhões de pensamentos, dão-lhe a ilusão de que a mente existe: como uma multidão, milhões de pessoas em pé, em multidão; há tal coisa, multidão? Você pode encontrar a multidão separada dos indivíduos que estão ali? Mas estão reunidos e a reunião faz com que você sinta que existe algo que é multidão — mas só indivíduos existem. 

Este é o primeiro olhar interior para a mente. Observe e você encontrará pensamentos, mas nunca se deparará com a mente. E, se isso se tornar uma experiência sua... se isso se tornar a sua própria experiência, se isso se tornar um fato de seu próprio conhecimento, então, subitamente, muitas coisas começarão a se modificar. Porque você terá compreendido algo tão profundo sobre a sua mente, que muitas coisas podem seguir-se a isso. 

Observe a mente e veja onde ela está, o que é. Você sentirá pensamentos flutuando e intervalos. E, se você observar por bastante tempo, verá que os intervalos existem em maior número do que os pensamentos, porque cada pensamento precisa estar separado de outro pensamento. De fato, cada palavra precisa estar separada de outra palavra. Quanto mais profundamente você for, mais e maiores brechas encontrará. Um pensamento flutua e, então, surge uma brecha onde não existe pensamento. Então surge outro pensamento e outra brecha se segue. 

Se você estiver inconsciente, não poderá ver os intervalos, as brechas. Você saltará de um pensamento a outro e nunca verá a brecha. Se você se tornar consciente, então, milhares de intervalos lhe serão revelados. 

E nesses intervalos, acontece o satori
Nesses intervalos, a Verdade bate à sua porta. 
Nesses intervalos, Deus é compreendido, 
ou outra forma, seja lá o que for, em que você expresse tal coisa. 
Então, a percepção é absoluta, 
então, haverá apenas um vago intervalo de inanidade. 


O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill