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domingo, 8 de abril de 2018

Por que não admitimos nosso estado de confusão?

Por que não admitimos 
nosso estado de confusão?

Desejo tratar nesta tarde de um problema um pouco difícil, e espero escuteis com interesse, não pelo resultado final, mas desde o começo.

Parece-me, nem o reformador nem o radicalista, têm a solução real do problema. Suas ações nascem da confusão. Ora, os mais de nós estamos vivamente interessados na ação; queremos fazer alguma coisa, queremos alterar radicalmente a ordem social. Nossa perspectiva, nossa avaliação das coisas estão sempre baseadas no resultado. Tanto o reformador como o radicalista nos prometem resultados. Os dois estão muito seguros dos seus resultados; dizem eles não serem entes confusos; e tudo lhes está muito claro, no seu padrão de ação e de vontade.

Pretendo, agora, falar sobre um modo de proceder, que não é ação, absolutamente. A ação que conhecemos nasce da escolha, da determinação. Como sabemos, como observamos, no mundo, a ação tem várias formas: aceitação da autoridade, liquidação, redistribuição, descentralização, etc. Mas eu acho que existe uma ação que absolutamente não é ação nem tão pouco reação. Conhecemos a ação que vem da escolha, da determinação, do desejo de resultado, de uma Utopia; mas tal não é a ação verdadeira, porque leva ao conflito, à luta entre o homem e o homem. Cumpre-nos, pois, descobrir um estado de onde brote ação que não seja reação ou resultado da ação de um reformador ou radicalista. Considero muito importante descobrirmos se estamos confusos ou não, porque a ação resultante de um estado confuso não é ação verdadeira .

Todos sabemos que estamos confusos. Se não estivéssemos confusos, nossa ação poderia ter sido uma ação verdadeira. Nós, porém, não estamos certos. Nenhum ente humano — nem o capitalista, nem o comunista, nem o socialista — está bem lúcido. Mas, todos querem estar lúcidos e esse próprio desejo de clareza cria a ação produtiva da incerteza; porque, basicamente, todos estão confusos.

Acho ser muito importante admitirmos que estamos confusos... Mas ninguém quer admiti-lo. O reformista e o radicalista asseguram que sabem e que estão lúcidos; e sua ação, por conseguinte, nascida que é da confusão, produz inevitavelmente destruição e incerteza.

Ora, em geral, nós sabemos que estamos confusos, não numa só camada da consciência, porém completamente, das camadas conscientes às camadas inconscientes, mas não temos a coragem de admiti-lo. Se procurarmos compreender realmente a questão da ação, examinando-a, não verbalmente, não intelectualmente, teremos de admitir que estamos confusos; e é o próprio percebimento dessa confusão que produz uma ação que não é da mente. Iniciamos todas as nossas ações na suposição de que sabemos. Mas só dizemos que sabemos. Afora isso, sabemos alguma coisa? O reformista e o radicalista dizem que sabem, e impelem a outros para o seu padrão de ação, padrão que, com efeito, nasceu da confusão. Toda ação proveniente de uma mente confusa há de ser, forçosamente, uma ação confusa.

Estou confuso, e nesse confuso estado mental me persuado de que devo aceitar determinado modo de agir; mas, basicamente, eu estou confuso e de dentro desta confusão procuro criar a certeza, certeza que, essencialmente, é uma “certeza confusa”. Atribuo-lhe, porém, um nome e um padrão, e algumas pessoas me seguem. Entretanto, o fato é que tanto essas pessoas como eu estamos todos confusos. Vós e eu estamos confusos. Nossos guias políticos, sociais e religiosos estão todos confusos. Se pudermos admitir esse fato, não meramente de maneira intelectual ou verbal, porém de um modo real, perceberemos que o resultado de toda ação dessa natureza tem de ser, necessariamente, confuso.

Cada um de nós tem de ver que todos basicamente estamos confusos. Mas é muito difícil admiti-lo. Ora, se estamos confusos, podemos dizer que devemos agir? Se eu estou confuso e percebo que estou confuso, o que aconteceria é que a minha confusão produziria a sua ação própria, que é a incerteza. Julgo importantíssimo compreender isto, porque então a ação se encarregará de si mesma. Por enquanto, não estou interessado na ação. Acho necessário estabelecer-se uma relação entre vós e mim. Não creio na ação do reformista ou radicalista; o que me interessa é só a confusão. Por conseguinte, minha atitude é de humildade e não de asserção.

Vejamos agora o que acontece à mente que sabe que está confusa. Ela não tem guia algum, porque escolher um guia quando se está em confusão é uma ação que redunda em confusão. Evidentemente, ter uma teoria, um plano, um padrão de ação nascido da confusão, é continuar na confusão. Por favor, não digais: “que vamos então fazer?”. Se admitis estardes confusos, isso significa que nada sabeis. Por conseguinte, seria fútil seguirdes qualquer autoridade, qualquer livro, qualquer guia, ou qualquer padrão de ação relativo ao que é bom, ao que é mau, ao que é certo, ao que é errado. Um homem confuso não sabe o que é certo nem o que é errado. Ele não tem guia. Não conhece nenhuma autoridade, nenhum livro em que possa estribar-se, porque a sua mente está fundamentalmente confusa. Não se acha, portanto, num estado em que possa ler um livro ou seguir uma autoridade. Não vos estou hipnotizando, para fazer-vos admitir que estais confusos. Mas vós tendes de pensar por vós mesmos, para verdes se estais ou não confusos, e, se estais, deveis ver se a vossa conclusão a respeito ao que é certo e do que é errado tem alguma significação.

Ora, se o mundo inteiro se acha num estado de confusão, vós também estais confusos, visto serdes uma parte do mundo. Assim, se estais realmente apercebidos de que vos achais confuso, qual será a vossa ação? Vossa ação não será nem a ação do reformador nem a do radicalista. Que fazeis, então? Quando não há escolha, quando não há guia, quando não se segue nenhuma autoridade — pois sabeis que a escolha nascida da confusão é ainda confusão — que fazeis? Que acontece à vossa mente? Um homem que está confuso e sabe que está confuso, não sabe o que deve fazer, porquanto está incerto. Mas os nossos guias sociais, políticos e religiosos acham que, se nos disserem que estão confusos, nós poderemos abandoná-los, e por esta razão ninguém se acha disposto a admitir que está confuso. Mas, uma vez admitamos que estamos confusos, todo o nosso padrão de ação estará destruído. A própria confusão mental produz uma ação que não é uma reação da mente, mas uma ação de incerteza; por conseguinte, não há nenhuma Utopia, nenhum guia, nenhum instrutor.

No vosso estado de completa confusão, tentais descobrir o que é verdadeiro. Muitos outros se acham como vós num estado de confusão, num estado de incerteza, e todos vos juntais. Mas como vos encontrais todos num estado de confusão, num estado de incerteza, há pouca cooperação entre vós.

Ora, o homem que diz que sabe, está na verdade se recusando a admitir que se acha confuso. Mas aquele que admite que está confuso e, por conseguinte, é incapaz de saber alguma coisa, é um homem sincero. Quando digo que não sei, no sentido mais profundo da palavra, estou admitindo que me acho confuso; por conseguinte, há um estado de humildade. Não me tornei humilde, mas h á um estado de humildade, e esse próprio estado é ação, e essa ação é ação real. Porque reconheço que estou confuso, os guias perdem toda a importância; não seguirei ninguém e minha mente estará tranquila. Minha mente já não estará certa; achar-se-á num estado de humildade. O ser que é realmente humilde acha-se num estado de amor. Esse amor não é uma coisa susceptível de cultivar-se. Sem esse amor, não tem a vida nenhum significado.

Ora, os mais de nós andamos preocupados com problemas e as respectivas soluções. Deveríamos, porém, estar sempre interessados na compreensão e esclarecimento do problema, a fim de não criarmos mais problemas. Nossa solução de um problema serve apenas como raiz do problema futuro. Podeis achar uma solução para o problema de hoje; mas essa solução é de tal natureza que transporta o problema para amanhã e dá nascimento a outros problemas, amanhã; quer dizer, não há uma solução real, absolutamente.

Pois bem, tendes vários problemas. Tendes o problema da morte, tendes o problema da frustração. Se transportardes para amanhã o problema da frustração, vós lhe aumentareis a força. Compreendei, por favor, a significação de tudo isso e a necessidade de se não criar a raiz de nenhum problema futuro.

Como posso eu, como pode a mente deixar de dar raiz ao problema de amanhã? Compreendeis o que estou dizendo? Se puderdes realmente compreender isto, vereis que não há mais problema nenhum. Tendes hoje um problema porque o estivestes fabricando nos últimos dias; vossa mente, por conseguinte, não é nova; está sempre vivendo no passado, que já é morto. Mas, se compreendermos realmente um problema e não planejarmos as raízes de nossos problemas de amanhã, não haverá mais problema algum.

Krishnamurti, Sétima Conferência em Bombaim
28 de fevereiro de 1954, As ilusões da Mente

sábado, 7 de abril de 2018

Observando o mecanismo da confusão

Observando o mecanismo
da confusão

PERGUNTA: Os dias se sucedem nesta fútil jornada da existência. Que significa tudo isso? Tem a vida alguma finalidade?

KRISHNAMURTI: Quase todo o mundo faz esta pergunta, não é verdade? Quase todos nos achamos confusos; e quando perguntamos se a vida tem alguma finalidade, significação, queremos que nos garantam que tem, ou que nos digam qual é o alvo, a finalidade da vida.

Ora, a vida tem algum alvo, alguma finalidade? Qual é o estado da mente que faz esta pergunta? Certamente é muito mais importante averiguar isto do que descobrir se a vida tem alguma finalidade. Afinal, que é a vida? Ela pode ser compreendida pela mente? A vida são tristezas e alegrias, sorrisos e lágrimas, e lutas infindas; é a insondável profundeza e a beleza de todas as coisas e de nenhuma coisa. A vida é imensa e não pode ser compreendida por uma mente pequena. E a mente pequena é que faz tal pergunta. Porque a mente pequena se acha confusa — e este é o caso da maioria de nós — ela deseja saber qual é a finalidade da vida. Confusos, que estamos, politicamente, economicamente e, também, espiritualmente, interiormente, queremos uma diretiva, queremos que nos digam o que devemos fazer. E quando o perguntamos, a resposta que recebemos é invariavelmente confusa, porque a mente confusa "projeta" e traduz a resposta.

A questão, por conseguinte, não é de saber qual é a finalidade, o significado da vida — porque não podemos prender o vento em nossa mão nem fechar dentro de uma moldura a vastidão da vida, para adorá-la. Mas o que se pode fazer, é ver o estado de confusão em que vos achais e descobrir como a ele atender. Uma vez tenhamos compreendido a nossa confusão, nunca mais perguntaremos qual é a finalidade da vida, porque então estaremos vivendo, não mais estaremos agrilhoados ao tirânico padrão de uma dada sociedade, comunista ou capitalista. E esse próprio viver encontrará a resposta apropriada.

A mente confusa que busca claridade, só encontrará mais confusão. Não é exato isto? Se estou confuso e busco um caminho, uma diretriz, tanto o caminho como a diretriz hão de ser também confusos. Só a mente esclarecida pode achar o caminho, se caminho existe — e não a mente confusa. Ora, isto é muito simples e óbvio. Pois bem. Se compreendo que é inútil buscar uma diretriz enquanto estou confuso, continuarei a procurá-la? Ou desistirei de recorrer a qualquer pessoa, pedindo-lhe uma diretriz, percebendo que minha escolha de um guru, um político, um livro, ou de determinados valores, há de ser também confusa? Penso, pois, essencial compreendermos a totalidade de nossa confusão, não teoricamente, mas como experiência real.

O fato é que estais confusos, mas tendes medo de reconhecê-lo. Andais nervosos, apreensivos, porque se admitirdes que estais confusos, não sabereis o que deveis fazer. E, assim, vos lançais no torvelinho da ação imediata. Mas se vos tornais apercebidos da totalidade de vossa confusão, que acontece? Ao saberdes que qualquer movimento da mente confusa só pode acarretar mais confusão, não vos detendes imediatamente? Cessa então toda busca; e quando a mente confusa detém a sua busca, desaparece também a confusão e há um novo começo. Isto é muito simples; o difícil é reconhecermos para nós mesmos que estamos confusos.

Assim, pois, estais experimentando, realmente e não apenas verbalmente, este estado de confusão em que vos achais? Se estais, então não perguntareis a mais ninguém qual é o significado da vida. Se percebeis realmente a vossa confusão, se realmente a experimentais, como um fato, urna realidade, deixareis com toda a certeza de fazer perguntas, exigências, buscas, e esse próprio ato, essa própria cessação, é o começo de uma investigação de qualidade inteiramente nova. Descobrirá então a mente o extraordinário significado da vida, sem que ninguém lho diga.

Atualmente, queremos ser tirados de nossa confusão por outra pessoa; mas ninguém nos pode guiar para fora de nossa confusão. Enquanto existir escolha, tem de haver confusão. Escolha indica confusão. No entanto, temos um orgulho imenso dessa faculdade de escolher, a que chamamos "livre arbítrio". É só a mente que não escolhe, mas percebe diretamente, sem interpretação, sem ser influenciada, é só esta mente que não está confusa e, portanto, se acha capacitada para descobrir o incognoscível.

Krishnamurti, Segunda Conferência em Bombaim
7 de maio de 1956, Da Solidão à Plenitude Humana

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Podemos nos abster de agir quando confusos?


Podemos nos abster de agir quando confusos?

PERGUNTA: É hoje um fato definitivamente estabelecido que muitas de nossas doenças são de natureza psicossomática, causadas por profundas frustrações e conflitos interiores de que muitas vezes não estamos apercebidos. Devemos agora correr para os psiquiatras, como antes corríamos para os médicos, ou há um caminho pelo qual o homem pode libertar-se de sua agitação interior?

KRISHNAMURTI: Isto suscita a pergunta: Qual a posição dos psicanalistas? E qual a posição daqueles de nós, portadores deste ou daquele incômodo ou doença? A doença é produzida por nossas perturbações emocionais, ou é sem significação emocional? Quase todos nós sofremos perturbações. Quase todos estamos confusos, agitados, mesmo os mais prósperos de nós, que possuem geladeiras, automóveis, etc.; e, como não sabemos de que maneira atender às perturbações, elas reagem inevitavelmente no nosso físico, produzindo doença, como é bastante óbvio. E a questão fica sendo: Devemos correr para os psiquiatras, para nos ajudarem a livrar-nos de nossos distúrbios e recuperar a saúde, ou é possível descobrirmos por nós mesmos como não nos deixarmos perturbar, não nos deixarmos agitar por ansiedades e temores?

Por que estamos perturbados, se o estamos? Que é uma perturbação? Desejo uma coisa, mas, como não posso obtê-la, fico num certo estado. Desejo preencher-me através de meus filhos, minha esposa, minha propriedade, minha posição, êxitos felizes, etc., mas me vejo contrariado, e isso gera um estado de perturbação. Sou ambicioso, mas outro me empurra para o lado e toma-me a frente; eis-me de novo num caos, numa agitação, que produz sua reação física própria.

Ora bem, podemos, vós e eu, libertar-nos de toda esta agitação e confusão? Que é confusão? Compreendeis? Que é confusão? A confusão existe somente quando há o fato e mais aquilo que eu penso a respeito do fato: minha opinião relativa ao fato, minha desatenção ao fato, minha fuga ao fato, minha avaliação do fato, etc. Se eu puder considerar o fato sem adicionar-lhe alguma qualidade, não haverá confusão. Se reconheço o fato de que um certo caminho leva a Ventura, não haverá confusão. Só pode surgir confusão se me ponho a pensar ou a teimar que o caminho leva a outro lugar; e é este o verdadeiro estado em que em geral nos achamos. Nossas opiniões, nossas crenças, nossos desejos, nossas ambições, são tão fortes, e tão grande o seu peso, que somos incapazes de olhar o fato.

Nessas condições, o fato, mais a opinião, o julgamento, a avaliação, a ambição, etc., geram confusão. E podemos, vós e eu, que estamos confusos abster-nos de agir? Por certo, toda ação nascida da confusão há de levar, necessàriamente, a mais confusão, mais agitação, e tudo isso reage no corpo, no sistema nervoso, produzindo doença. Eu estou confuso, e o admitir para mim mesmo que estou confuso não requer coragem, mas só uma certa clareza de pensamento, clareza de percepção. Em geral, nós temos medo de reconhecer que estamos confusos, e, assim, do meio de nossa confusão, escolhemos os líderes, os guias, os instrutores, os políticos; e quando de dentro da confusão escolhemos alguma coisa, essa própria escolha há de ser confusa e o guia, por conseguinte, tem de ser confuso.

É possível, pois, ficarmos cônscios de nossa confusão, conhecer a causa da confusão, e abster-nos de agir? Quando a mente que está confusa, age, só pode produzir mais confusão; mas a mente que está apercebida de achar-se confusa e compreende todo esse “mecanismo” de confusão, não tem necessidade de agir, porque essa própria claridade é ação. Isto deve ser um tanto difícil de compreender, à maioria das pessoas, pois estamos muito acostumados a agir, fazer alguma coisa; mas, se se puder observar a ação, perceber os seus resultados, observar o que se está passando no mundo, politicamente e a todos os respeitos, tornar-se-á bastante evidente que a chamada ação reformadora só está produzindo mais confusão, mais caos, e mais reformas.

Podemos, então, individualmente, ficar apercebidos de nossa confusão, nossa própria agitação, e “viver com ela”, compreendê-la, sem procurarmos livrar-nos dela, afastá-la, fugir dela? Enquanto ficarmos a dar-lhe pontapés, condená-la, fugi-la, essa própria condenação, essa própria fuga constitui o “mecanismo” de confusão. E, a meu ver nenhum analista pode resolver este problema. Poderá ajudar-vos temporariamente a acomodar-vos a certo padrão social, a que ele chama “existência normal”, mas o problema é muito mais profundo e ninguém, senão vós mesmo, pode resolvê-lo. Vós e eu fizemos esta sociedade; ela é o resultado de nossas ações, nossos pensamentos, do nosso próprio existir, e enquanto ficarmos meramente a procurar reformar o produto, sem compreensão da entidade que o produziu, teremos mais doenças, mais caos, e mais delinquência. A compreensão do “eu” produz a sabedoria e a ação correta.

Krishnamurti, 7 de agosto de 1955, Realização sem esforço
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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O atoleiro da confusão no início do contato com o paradigma

Pergunta: Quando o ouço falar, que você diz parece produzir-me perplexidade e intensificar esse estado de perplexidade. Há oito dias eu não tinha problema algum, e agora me vejo atolado em confusão. Por que razão isso acontece? 

Krishnamurti: Pode ser por uma razão muito simples. Talvez, porque você esteve dormindo e agora está começando a pensar. Entrando e assentando-se aqui, acidentalmente, você se viu, porventura, sacudido, impelido, estimulado. Entretanto, se você está sendo apenas estimulado, quando sair daqui, recairá na mesma condição de antes. O estímulo embota a mente: não a desperta. O estímulo torna a mente embotada, e não a desperta; poderá despertá-la por instantes, mas a mente logo recai no seu habitual estado de embotamento. Depender destas nossas reuniões como meio de estímulo, é o mesmo que beber: no fim a mente se tornará embotada. Se você depende de uma pessoa, para lhe estimular a pensar, você se torna seu discípulo, seu seguidor, seu escravo, com todas as frivolidades inerentes a essa condição; e desse modo, fatalmente, você acaba embotado. Mas se, por outro lado, você reconhecer que tem problemas (eles poderão estar adormecidos, no momento, mas existem) e começar imediatamente a enfrentá-los, já não necessitará de ser estimulado por mim e nem por mais ninguém. Não necessitará de sair em busca dos problemas, porque os enxergará em si mesmo e em todas as coisas que lhe cercam, em seu caminho pela vida — lágrimas, doenças, pobreza, morte. 

A questão, por conseguinte, é de como devemos aplicar-nos ao problema, abeirar-nos dele. Se nos abeiramos de qualquer problema com a intenção de achar-lhe a solução, está solução irá criar mais problemas; isso é bem óbvio. O importante é penetrar o problema, para começar a compreende-lo, e tal só é possível quando não o condenamos, nem lhe resistimos, nem o afastamos de nós. A mente não pode resolver problema algum, enquanto condena, justifica ou compara. A dificuldade não está no problema, mas na mente que dele se aproxima com uma atitude de condenação, justificação e comparação. Assim sendo, primeiramente você deve compreender como a sua mente está condicionada pela sociedade, pelas inumeráveis influências existentes ao seu redor. Você se denomina cristão, hinduísta, muçulmano, ou o que quer que seja, e isso significa que sua mente está condicionada; e é a mente condicionada que cria o problema. Quando uma mente condicionada busca solução para um problema, está se movendo em círculos, e sua busca nada significa; e sua mente está condicionada, porque você é invejoso, porque compara, julga, avalia, porque está acorrentado por crenças e dogmas. É esse condicionamento que cria o problema.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

sábado, 14 de setembro de 2013

A mente em conflito deforma tudo que vê

Vamos falar a respeito da meditação, uma das coisas mais extraordinárias — quando sabemos o que significa ter mente capaz de meditar. Ignorá-lo é ser como um cego, incapaz de ver as cores, como um homem de mente embotada. Se não sabemos o que significa meditar, teremos uma vida muito estreita e limitada, por mais inteligentes e eruditos que sejamos, por melhores que sejam os livros que escrevemos ou os quadros que pintamos. Permanecemos fechados num muito estreito círculo de conhecimento — pois o conhecimento é sempre limitado. Para compreender a questão da meditação, temos de examinar a questão da experiência e também de investigar porque buscamos e o que estamos buscando.

No fundo, a nossa vida é confusão, desordem, aflição, agonia. Quanto mais sensíveis somos, tanto maior o nosso desespero e ansiedade, nosso “sentimento de culpa”; e dessa vida desejamos naturalmente fugir, porque nela não encontramos nenhuma solução; não sabemos de que maneira sair de nossa confusão. Desejamos fugir para um outro mundo, uma outra dimensão. Fugimos por meio da música, da arte, da literatura; mas, trata-se sempre de fuga e a coisa para que fugimos é sem realidade, em comparação com aquilo que estamos buscando. Todas as fugas são iguais, não importa se fugimos pela porta de uma igreja, em busca de Deus ou de um Salvador, ou pela porta da bebida ou de diferentes drogas. Não só temos de compreender o que e  porque estamos buscando, mas também temos de compreender essa necessidade de experiências profundas e duradouras, porque só a mente que nada busca, que não exige experiências de nenhuma forma, poderá ingressar numa esfera ou dimensão inteiramente nova. É o que vamos fazer nesta tarde; assim espero.

Nossa vida em si mesma, é superficial, insuficiente, e desejamos uma outra coisa, uma experiência mais sublime, mais profunda. Também, vivemos num inaudito isolamento. Todas as nossas atividades e pensamentos e maneiras de comportar-nos levam-nos a esse isolamento, a essa solidão a que desejamos fugir. Se não compreendermos esse isolamento, não intelectual, verbal ou racionalmente, porém entrando diretamente em contato com o que estamos realmente buscando, entrando em contato com o estado de solidão; se não compreendermos e dissolvermos, completamente, aquele isolamento, toda meditação, toda busca, toda atividade espiritual ou religiosa (assim chamada) será inteiramente fútil, porquanto representará uma fuga ao que somos. É o mesmo que uma mente superficial, embotada, mesquinha, pensar em Deus. Se existe essa coisa em que ela pensa, aquela mente e seu Deus permanecerão sempre muito insignificantes.

A questão consiste em saber se é possível para a mente que está fortemente condicionada, toda enredada nas aflições e conflitos da vida de cada dia, se é possível a essa mente manter-se desperta, tão ampla e profundamente desperta que não haja busca nenhuma, nenhum desejo de experiência. Quando um indivíduo está desperto, quando em si próprio há luz, não há busca e nenhum desejo de mais experiências. Só o homem que está na escuridão vive a buscar a luz. É possível um indivíduo manter-se tão intensamente desperto, tão altamente sensível, física, intelectualmente e a todos os respeitos, que não haja ima única sombra em sua mente? Só então não há mais busca; só então não há mais ânsia de novas experiências.

É possível isso? A maioria de nós vive de sensações, sensações dos sentidos, e o pensamento adiciona-lhes o prazer. Com o pensar nessas sensações, delas obtemos um grande prazer — e, quando há prazer, há sempre dor. Temos de compreender esse processo, como o pensamento cria o tempo, o prazer e a dor; como o pensamento, depois de cria-los, deles procura fugir; e como essa própria fuga gera conflito. Vejo-me aflito e gostaria de ser feliz, de colocar fim a minha aflição. O pensamento criou a aflição, e espera, depois, colocar-lhe fim. Nesse estado dual, o pensamento cria conflito para si próprio.

A maioria de nós se vê nesse estado de isolamento e solidão, nesse estado de vazio. Embora o indivíduo tenha a companhia de sua família ou de outro grupo qualquer, conhece esse estado, essa profunda ansiedade por causa de nada. Pode o indivíduo libertar-se disso, superá-lo, sem procurar preencher esse isolamento, essa solidão, esse vazio, com conhecimentos, experiências, palavras de todo gênero? Você conhece todas as coisas que uma pessoa costuma fazer para preencher o vazio em si existente. Pode-se transcendê-lo? Para compreender uma coisa e dela libertar-se, a pessoa tem de entrar em contato com ela. (...) temos uma imagem do vazio, da solidão, e essa imagem nos impede o direto contato com o fato — a solidão.

Se você se acha em contato com alguma coisa, sua mulher, seus filhos, o céu, as nuvens, qualquer fato, no momento em que o pensamento intervém perde-se o contato. O pensamento nasce da memória. A memória é a imagem, e é daí que você olha e, por conseguinte, verifica-se uma separação entre o observador e a coisa observada.

(...) É essa separação entre observador e a coisa observada que faz o observador desejar mais experiência, mais sensações, e o impele a uma perene busca. (...) enquanto existir o observador, a entidade que está em busca de experiência, enquanto existir o censor, que avalia, julga, condena, não pode haver contato direto com o que é. (...) Enquanto isso não for plenamente compreendido, percebido, elucidado, e sentido profundamente; enquanto não se aprender integralmente, não intelectual ou verbalmente, que o observador é a coisa observada, a vida continuará a ser toda de conflito e contradição entre desejos opostos; o que deveria ser e o que é. Só é possível essa compreensão quando percebemos que estamos olhando uma coisa como “observador” — uma flor, uma nuvem, qualquer coisa. Se a entidade que olha o objeto, o está observando com seus conhecimentos, não há contato com ele.

A mente que está em conflito, de qualquer natureza e em qualquer nível, consciente ou inconsciente, é uma mente torturada; tudo o que vê se deforma... tudo o que essa mente vê se deforma, necessariamente, enquanto existe conflito, o conflito da ambição, do medo, a agonia da separação etc. A mente em conflito é uma mente deformada. Esse conflito só pode acabar quando o observador deixa de existir e só fica a coisa observada. Tem então a virtude, isto é, o comportamento, um significado inteiramente diferente. Virtude é ordem; (...) Se não existir, profundamente, em nós mesmos, essa ordem, o pensamento criará desordem com o nome de virtude.(...) Uma vez compreendido isso, pode-se começar a compreender o que é meditação, porquanto a compreensão do observador e da coisa observada faz parte da meditação.(...) Necessita-se de uma mente muito sutil e ágil, uma mente capaz de raciocinar, uma mente equilibrada, não neurótica. Todas as neuroses se verificam quando há atividade egocêntrica, quando existe o observador desejoso de expressar-se em várias atividades, e, por conseguinte, a criar conflito em si próprio. Tudo isso faz parte da meditação.

Jiddu Krishnamurti — Encontro com o eterno

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Por que buscamos ajuda para a nossa confusão?

Presumivelmente, a maioria de vocês tem um instrutor de alguma espécie, não é verdade? Alguma espécie de “guru”, lá no Himalaia, ou aqui mesmo. Não é verdade isso? Alguma espécie de guia. Ora, por que precisam dele? Naturalmente, não necessitam dele para fins materiais, a não ser que lhes prometa um bom emprego, para depois de amanhã. Assim sendo, presumo dele necessitam para fins psicológicos, não é? Pois bem, por que precisam dele? Fundamentalmente, é claro que dele necessitam, porque dizem: “Estou confuso; não sei como viver neste mundo; as coisas são muito contraditórias. Há confusão, há sofrimento, há morte, decadência, degradação, desintegração, e preciso de alguém para me aconselhar o que fazer”. Não é esta a razão por que necessitam de um guru, por que se dirigem a um guru?

Vocês dizem: “Confuso como estou, necessito de um instrutor para me ajudar a dissolver a confusão.” Não é isso? A necessidade de vocês, portanto, é psicológica. Não consideram o Primeiro Ministro como o guru de vocês, visto que ele se ocupa, meramente, da existência material da sociedade. Vocês apelam para ele a fim de que atenda às suas necessidades físicas; enquanto, aqui, procuram um instrutor para atender às suas necessidades psicológicas.

Mas, o que é que entendem pela palavra “necessidade”? Preciso de um pouco de sol, preciso de alimento, de roupas, e de morada; preciso, da mesma forma, de um instrutor? Para responder a essa pergunta, devo descobrir quem criou essa terrível confusão que me rodeia e que está também em mim. Se sou responsável pela confusão, sou eu, então, a única pessoa que poderá dissipar a confusão, o que significa que preciso compreender a confusão; mas vocês, em geral, procuram um instrutor para que ele lhes liberte da confusão, ou lhes mostre o caminho, ou lhes dê instruções sobre a maneira de proceder em face da confusão. Ou dizem: “Este mundo é falso, e preciso achar a Verdade” — e por isso vão a ele para compartilhar aquela verdade.

Pode a confusão ser dissipada por outra pessoa, por maior que seja tal pessoa? É bem certo que essa confusão existe nas nossas relações, e que, portanto, precisamos compreender as nossas relações recíprocas, as nossas relações com a sociedade, com a propriedade, as ideias, etc.; e pode alguém lhes dar a compreensão dessas relações? Alguém pode nos apontar ou mostrar isso ou aquilo, mas é a mim que compete compreender as minhas relações, a minha posição. Senhor, isso lhe interessa? Encontro dificuldade, porque sinto que não está interessado: está observando outra pessoa fazendo alguma coisa. Quando faz uma pergunta, não compreende a importância de prestar atenção à resposta. Por conseguinte, está fazendo pouco caso de seu guru e de sua confusão. Em verdade, pouco lhe interessa o que diz o seu guru e você o procura apenas por hábito. Consequentemente, a vida não tem importância para você, ela não é energia, não é criação, não é algo que precisa ser compreendido. E, posso ler em sua fisionomia, você não está seriamente interessado nesta questão. Você escuta, ou para se justificar na sua busca de gurus, ou para fortalecer a sua própria convicção de que os guris são necessários. Mas, dessa maneira não encontraremos a verdade que esta questão encerra. Você só pode encontrar a verdade contida nesta questão, se esquadrinhar o seu coração para achar a razão do por que  você necessita de um guru.

Há, pois muitas coisas contidas nesta questão. Parece que você julga que a verdade é estática, e que, por isso, um guru pode levá-lo onde ela está. Assim como um homem pode indicar o caminho da estação, assim também você julga que um guru pode lhe mostrar o caminho da Verdade. Significaria isso que a Verdade é estática; mas, será estática a Verdade? Você bem gostaria que o fosse, porquanto tudo o que é estático satisfaz, pois, pelo menos, você sabe o que é e pode conservá-lo em suas mãos. De sorte que o que você busca, em verdade, é só satisfação. Você deseja segurança, deseja a garantia de um guru, deseja que ele lhe diga: “você está indo muito bem, continue” — deseja que ele lhe dê conforto mental, que lhe anime, emocionalmente. Assim sendo, você procura, invariavelmente, um guru que de fato lhe satisfaça. Essa é a razão de haver tantos gurus e tantos discípulos; o que significa que realmente você não busca a verdade, mas somente a satisfação; e o homem que lhe der o máximo de satisfação, esse homem você o chamará de seu guru. Tal satisfação, ou é neurológica, isto é, física, ou psicológica; e, na presença do guru, você pensa sentir uma paz profunda, uma grande tranquilidade, uma impressão de ser compreendido. Em outras palavras, você quer um pai ou uma mãe glorificados, para lhe ajudar a vencer a dificuldade. Senhor, já esteve sentando tranquilamente à sombra de uma árvore? Aí também se encontra uma paz profunda. Aí também nos sentimos compreendidos. Em outras palavras, na presença de uma pessoa muito tranquila, ficamos igualmente tranquilos; e você atribuí essa tranquilidade ao instrutor e o rodeia de grinaldas, enquanto trata a pontapés o seu funcionário. Assim, pois, quando diz que necessita de um guru, nisso estão implicadas todas essas coisas, não é verdade? E o guru que lhe garante a fuga, torna-se para você uma necessidade.

A confusão só existe nas relações entre os indivíduos; mas, porque necessitamos de alguém para nos ajudar a compreender esta confusão? Você dirá, agora, porventura: “O que você está fazendo? Não está agindo como um guru?” — certamente, não estou procedendo como seu guru, primeiro, porque não estou lhe dando satisfação alguma, e, depois, porque não estou lhe dizendo o que deve fazer, momento a momento, dia a dia. Estou apenas lhe apontando uma coisa; você pode lavá-la ou deixar ficar — e isso depende de você não de mim. Nada peço de você: nem adoração, nem adulação, nem insultos, nem os seus deuses. Eu só digo: “isso é um fato; leve-o ou deixe ficar”. Mas a maioria de vocês o deixará ficar, pela razão muito clara de não encontrar nele satisfação. Mas o homem que é realmente sincero, verdadeiramente ardoroso na sua intenção de descobrir, encontrará nutrição suficiente no que estamos dizendo, ou seja que a confusão só existe nas suas relações. Tratemos, por conseguinte, de compreender essas relações.

Compreender essas relações significa estar vigilante, não fugir, para que se veja tudo quanto nelas se contém. A verdade não está longe de nós, a verdade está perto; a verdade se encontra debaixo de cada folha, em cada sorriso, em cada lágrima, nas palavras, nos sentimentos e nos pensamentos de cada um. Mas, ela está tão encoberta, que precisamos desencobri-la, para a vermos. E desencobri-la significa descobrir o que é falso; no momento em que reconhecemos que é falso e este desaparece, nos é mostrada a Verdade.

A Verdade, pois, é uma coisa viva, de todos os momentos, que precisamos descobrir, e não somente acreditar nela, falar dela, colocá-la numa fórmula. Mas, para perceberem a Verdade, precisam de uma mente e de um coração extremamente flexíveis e vigilantes. Entretanto, por infelicidade, a maioria de nós não quer uma mente vigilante e flexível, uma mente ágil; queremos ser postos a dormir, sobre ação de mantras e rituais — santo Deus! de quantas maneiras nos colocamos à dormir!

Necessitamos, evidentemente, de um certo ambiente, uma certa atmosfera, de solidão — o que não significa procurar ou evitar o isolamento — mas necessitamos de uma certa solidão, na qual haja atenção plena; e essa solidão, essa atenção plena, só existe quando há perturbação, quando os seus problemas são realmente intensos; e, se possuem um amigo, se possuem alguém que lhes possa ajudar, podem procurá-lo; mas, francamente, tratar essa pessoa como um guru é, obviamente, falta de maturidade, é infantilidade. É como querer se agarrar às saias maternas.

Bem sei que, quando nos achamos em dificuldade, apelamos instintivamente para alguém — para a mãe, para o pai, ou para um pai glorificado, a quem chamam Mestre ou guru. Mas, se o guru for pessoa de algum merecimento, lhes dirá, por certo, que vocês devem compreender a si mesmos em ação, isto é, nas suas relações. Por certo, senhor, vocês são muito mais importantes do que o guru; são muito mais importante do que eu; porque se trata da vida, do sofrimento, dos esforços e lutas de vocês. O guru, ou eu, ou outro qualquer, poderá ser livre, mas de que isso lhes adianta? Por conseguinte, a veneração do guru é prejudicial à compreensão de si mesmos por si mesmos. E existe, aí, um fator peculiar: quanto mais respeito demonstram por uma determinada pessoa, tanto menos vocês respeitam os outros. Vocês fazem uma profunda reverência ao guru e dão um pontapé em seus funcionários. Por conseguinte, o respeito de vocês tem muito pouca significação. Tudo isso são fatos verdadeiros, e o que acabo de dizer provavelmente não agradou à maioria, porque a mente de vocês quer ser confortada e não magoada como foi.  A mente de vocês está no desespero para encontrar a Realidade. Uma mente de todo insatisfeita pode saltar para dentro da Realidade; mas não o pode uma mente satisfeita, uma mente respeitável e cercada por crenças.

Assim, pois,  vocês só podem florescer na vida de relação, só podem florescer no amor, e não no disputar. Mas nossos corações estão ressecados; nós os enchemos com as coisas da mente, e por isso vamos pedir a outros que enchem nossas mentes com suas criações. Como não temos amor, o procuramos no instrutor, o procuramos em outra pessoa. O amor é coisa que que não se pode achar. Você não podem comprá-lo e não podem se imolar à ele. O amor só vem à existência quando o "ego" está ausente; mas, enquanto andam à busca de satisfação e de refúgios, enquanto se recusam a compreender a confusão de vocês nas relações com os outros, estão somente dando mais força ao "ego" e, portanto, negando o amor.

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz?

             

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill