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domingo, 1 de abril de 2018

O sofrimento é atividade egocêntrica

O sofrimento é atividade egocêntrica

A semana passada falamos da vida holística (uma maneira de viver sem fragmentação, sem divisões, ao contrário de nossas vidas). Analisamos essa questão com bastante profundidade. Vimos que as causas da fragmentação são os diferentes fatores de nossa vida social, moral e religiosa que nos dividem em hindus, muçulmanos, cristãos, budistas, etc. As religiões são as máximas responsáveis desta catástrofe. Também falamos do tempo (o passado com todas recordações, a acumulação de experiências, etc.) Dizemos que o tempo se modifica no presente e segue para o futuro. Assim é a nossa vida. Segundo os biólogos e os arqueólogos, levamos mais de três milhões e meio de anos vivendo na Terra. Durante este longo período chamado “evolução”, temos acumulado muita memória. Também falamos da limitação da memória e do pensamento, e de como essa limitação divide o mundo geográfica, nacional e religiosamente.

[...] Nossas vidas, nossa vida cotidiana está em desordem. Isso significa uma contradição: dizer uma coisa e fazer outra, crer em algo e atuar de maneira totalmente diferente a como o faríamos. Essa contradição gera desordem. Pergunto-me se todos nos percebemos desse problema. Segundo parece, cada vez há mais e mais desordem no mundo, devido aos maus governos, à economia e às condições sociais. Sempre está presente a ameaça da guerra, que cada vez parece mais iminente, mais e mais pressionada, e os governos de todo o mundo, inclusive das pequenas nações, estão comprando armamento. Em todo o mundo há uma enorme desordem, e nossas vidas diárias também bebem dessa fonte, ainda que constantemente tratemos de conseguir ordem. Queremos ordem, porque sem ela, os seres humanos, sem dúvida, se destruirão entre eles.

Espero que compartilhemos este tema, que pensemos, observemos e escutemos juntos, para ter um diálogo no qual possam participar. Não se trata de acumular umas poucas ideias ou conclusões, senão que juntos devemos averiguar por que vivemos em desordem, e se pode haver uma completa ordem em nossas vidas e, portanto, na sociedade.

Nós temos criado a sociedade com nossa cobiça, nossa ambição, nossa inveja e com nosso conceito de liberdade individual. Essa sensação de individualidade tem gerado enorme desordem. Por favor, não estamos acusando a ninguém; tão só observamos o que ocorre no mundo. Em nossas vidas, tal como vivemos depois destes milhões de anos, segue havendo desordem, apesar de que sempre buscamos ordem, porque sem ordem não é possível funcionar com liberdade e de maneira holística. Assim, pois, devemos descobrir o que é ordem, não como um projeto, não como algo que devemos enquadrar e logo seguir. A ordem é algo muito ativo, muito vivo; não se adapta a nenhum modelo, seja idealista, histórico, conclusões dialéticas ou imposições religiosas. As religiões de todo o mundo se apoiam em certas leis, imposições e preceitos, mas os seres humanos não os seguem de nenhuma maneira. De modo que vamos descartar todas estas conclusões ideológicas e crenças religiosas, que nada têm que ver com nossa existência cotidiana. Já temos aceitado e seguido leis impostas pelas religiões, mas só tem gerado mais fanatismo, etc.

O que é a ordem? É possível descobrir o que é ordem quando nossos cérebros estão confusos e em desordem? Por isso devemos saber o que é desordem e não o que é a ordem, porque quando não há desordem, naturalmente aparece a ordem. Estão de acordo? Uma das causas da desordem, talvez a maior causa, seja o conflito. Se há conflito (não só entre homem e mulher, senão também entre nações, religiões, crenças e fés) deve haver desordem.

[...] Devemos estudar a questão de se vivemos nessa ilusão de que somos indivíduos separados. A teoria comunista, como talvez saiba a maioria, diz que somos o resultado de nosso meio ambiente e, em consequência, se modificamos nosso ambiente, também modificaremos os seres humanos. Isso é totalmente absurdo, como se torna patente quando se observa a Rússia totalitarista. O domínio de uns poucos e o controle do pensamento, entre outras coisas, não tem colocado fim a individualidade como se esperava, senão totalmente o contrário. De modo que uma das maiores causas da desordem em nossas vidas se deve a que cada um acredita que é livre, cada um pensa em sua própria realização, em seus desejos, em suas ambições, em seus prazeres particulares. Descubramos se a individualidade é um fato ou se é uma ilusão largamente estabelecida e respeitada. Podemos investigá-lo juntos sem aceitá-lo ou negá-lo? É uma tolice dizer: “Estou de acordo com você”, ou “Não estou de acordo”. Não estão de “acordo” ou em “desacordo” com o nascer ou pôr do Sol; é um fato. Nunca dizem: “Estou de acordo de que o Sol nasce pelo leste”. Assim, pois, podemos deixar de lado esse conceito de estar de acordo ou em desacordo, e investigar sem preferências, sem resistências, se existe realmente a individualidade ou se existe algo totalmente diferente?

Nossa consciência é o resultado de um milhão de anos ou mais. Contém toda a essência animal e primitiva, visto que viemos do animal, da natureza. Vemos que no mais profundo de nossas consciências, ainda há fortes respostas animais: estão os medos e o desejo de segurança. Tudo isso faz parte de nossa consciência. Nossas consciências também contém inumeráveis crenças, fés, reações, ações, diferentes recordações, medos, prazeres, sofrimentos e essa busca de total segurança. Isso é tudo o que somos. Podemos pensar que temos uma parte divina, mas isso só faz parte de nosso pensar. Acreditamos que toda essa consciência pertence a cada um de nós, não é verdade? O cristianismo, o hinduísmo e as demais religiões sustentam que somos almas separadas.

Bem, agora, nós o questionamos. Você não compartilha do sofrimento com o resto dos seres humanos? Os homens de todo o mundo têm diferentes tipos de medo e de prazeres. Eles sofrem e você também o faz. Eles rezam e fazem todo tipo de absurdas cerimônias, igual a vocês; e buscam estímulos e sensações através de cerimônias, igual a vocês. De modo que compartilhamos a consciência com toda a humanidade; você é a humanidade inteira. Primeiro, veja a lógica de tudo isto. Qualquer ser humano sofre na Terra, independente de sua religião ou crença. Todo ser humano sofre, profunda ou superficialmente, e trata de escapar desse sofrimento. Mas essa consciência, que consideramos “minha”, que é “nossa consciência pessoal”, não é um fato, porque todos os seres humanos que vivemos nesta maravilhosa e bela Terra (que pouco a pouco destruímos) passamos pelos mesmos problemas: dor, ansiedade, solidão, desespero, lágrimas, risos, contradições, o conflito entre o homem e a mulher, entre o esposo e a esposa. Bem, se temos essa consciência, somos indivíduos? Porque você é isso, sua consciência. Não importa o que pense ou imagine, suas tendências, suas atitudes, seus talentos e seus dons, já que tudo isso é compartilhado pelo resto dos seres humanos, que são exatamente como você ou semelhantes. Isso é um fato lógico. E a lógica tem seu lugar. Você deve pensar com clareza, com lógica, com sanidade, raciocinando. Mas a lógica se baseia no pensamento. Por mais lógico que possa ser, o pensamento é limitado. Por isso deve ir mais além do pensamento, mais além dos limites do raciocínio e da lógica.

Você é a humanidade inteira; não somos indivíduos. Escutem esta informação: você são a humanidade inteira; são a humanidade, não são indianos nem todas essas absurdas divisões. Ao escutar uma afirmação como esta, a convertem numa abstração? Quer dizer, convertem esse fato numa ideia? O fato é uma coisa e a ideia a respeito do fato é outra. O fato é que vocês acreditam que são indivíduos. Suas religiões, suas vidas cotidianas, seus condicionamentos lhes faz crer que são indivíduos. E se alguém como o orador lhes diz: “analisem-no com cuidado, estão seguros de que é assim?” A princípio resistem e respondem: “O que está dizendo?”. O descartam. Mas se escutam detidamente, então acabamos compartilhando essa informação de que são a humanidade inteira. Como escutam essa afirmação, como escutam seu som? A convertem numa ideia afastada do fato e logo perseguem essa ideia?

Ao escutar a afirmação de que sua consciência, com todas as reações e ações, é compartilhada por toda a humanidade, porque cada ser humano passa pelo desespero, a sensação de solidão, o sofrimento e a dor, igual a você, como escuta essa afirmação? A recusa ou a examina? A analisa ou tão só diz: “Que besteira?” O que está fazendo, não amanhã, senão agora? Qual é a sua reação? Pode escutar sua profundidade, seu som, sua beleza, sua imensidade, sua tremenda responsabilidade, ou tratá-la de forma superficial, verbal, dizendo: “Sim, a entendo intelectualmente”. O entendimento intelectual pouquíssimo significado. Deve estar em seu sangue, em suas entranhas, e daí surge uma qualidade diferente no cérebro, uma qualidade holística, não fragmentada. A fragmentação é o que cria a desordem. Nós, como indivíduos, temos fragmentado a consciência humana e, portanto, vivemos em desordem.

Perceber que somos a humanidade inteira é amor. Então não matará a ninguém, não fará dano a ninguém. Se afastará de qualquer agressão, da violência e da crueldade das religiões. Nossa consciência é uma com a humanidade. Não veem a beleza, a imensidão disso. Regressarão a seus próprios padrões, pensando que todos somos indivíduos; lutarão, se esforçarão, competirão, cada um tratando de preencher seu próprio pequeno e detestável ego. Sim, senhor, isso não significa nada para você, porque regressará ao seu modo de viver. De modo que é preferível que não escute nada de tudo isto. Se escuta uma verdade e não atua, essa verdade se converte em veneno. Por isso nossas vidas são muito opacas e superficiais.

Também devemos falar juntos do porque o homem busca sempre o prazer: de possuir, de realizar, de poder, de ter um status. Está o prazer sexual, que se mantém com o incessante pensamento centrado no sexo, o imaginar, o criar representações e imagens, quer dizer, o pensamento estimula o prazer, e as sensações se convertem em prazer. Assim, pois, devemos compreender o que é o prazer e por que o buscamos. Não dizemos que é bom ou mal. Não estamos condenando o prazer, da mesma maneira que não fazemos o mesmo com o desejo. O desejo é parte do prazer. Realizar um desejo é a mesma natureza do prazer. O desejo pode ser a causa da desordem, cada um querendo realizar seu próprio e particular desejo.

Assim que juntos vamos estudar se o desejo é uma das maiores causas da desordem; devemos explorar o desejo, não condená-lo, não escapar dele, nem tratar de reprimi-lo. Quase todas as religiões dizem: “Reprima o desejo”, o qual é absurdo. Vejamos: o que é o desejo? Façam-se essa pergunta. Seguramente muitos de nós nunca nos temos questionado. O aceitamos como parte da vida, como um instinto natural do homem ou da mulher e, em consequência, dizemos: “por que devemos nos preocupar?” Há pessoas que renunciam ao mundo, que ingressam em mosteiros, e tratam assim de reprimir seus desejos adorando a um símbolo ou a uma pessoa. Tenham presente que não estamos condenando o desejo. Tratamos de descobrir o que é e por que o homem leva milhões de anos preso no solo do desejo físico, senão também no psicológico, na rede dos desejos.

[...] Estamos observando o desejo, sua origem, e por que sempre os seres humanos estão presos no desejo. Se têm um pouco de dinheiro querem mais; se têm um pouco de poder, querem mais. E o poder em todas as suas formas, seja sobre sua esposa ou seus filhos, político ou religioso, é uma coisa abominável. É maléfico, porque não tem nada que ver com a verdade. Assim, qual é a origem do desejo? Vivemos de sensações; se não as tivéssemos, sejam elas biológicas e psicológicas, seríamos seres humanos mortos; não é certo? O grasnar de um corvo atua sobre o tímpano e os nervos, e esse som se traduz como o grito do corvo. Isso é uma sensação. A sensação surge do escutar ou de ver, e logo vem o contato. Você vê um jardim muito bem cuidado: tem uma cor verde intensa, perfeita, não têm ervas daninhas. É belo de contemplar. Primeiro o vê, então, se é sensível, se aproxima e toca a relva. Quer dizer, primeiro vê, depois há um contato, e logo se produz a sensação.

Vivemos de sensações; são necessárias. Se você não é sensível está embotado, está meio morto, como a maioria das pessoas. Tomemos um exemplo simples. Observa um belo sári ou camisa em uma tenda. A vê. Entra na tenda e a toca; ao tocá-la surge uma sensação e diz: “Deus meu, que textura tão bela!” O que ocorre mais tarde?...

Vejo um belo automóvel, tocam o abrilhantado, sua forma e seu perfil. Daí surge uma sensação. Mais tarde, o pensamento interfere e diz: “Que fantástico seria tê-lo, que bonito seria dirigi-lo!” Que ocorreu? O pensamento interferiu e deu forma à sensação, acrescentou à sensação a imagem de si mesmo sentado no automóvel e o dirigindo. Nesse momento, nesse segundo, quando o pensamento cria a imagem de si mesmo sentado no automóvel, surge o desejo. O desejo aparece quando o pensamento lhe dá forma, quando cria uma imagem da sensação. Bem, agora, esta é uma expressão da existência, é parte da vida. Mas vocês têm aprendido a reprimir, a dominar ou a viver com o desejo e todos os seus problemas. Então, se compreendem isso, não intelectualmente, senão de verdade, se entendem que o pensamento da forma à sensação, e um segundo depois surge o desejo, a pergunta seguinte é: podemos ver e tocar o automóvel, o qual é uma sensação, mas não permitir que o pensamento crie uma imagem? Trata-se de manter um intervalo.

Mas também deve-se averiguar o que é a disciplina, já que está relacionada com o desejo. A palavra disciplina procede do termo discípulo cujo significado etimológico é “aquele que aprende”. Um discípulo é aquele que aprende (aprender, não conformar-se, não controlar, não reprimir, não obedecer, não seguir, senão o contrário, aprender através da observação). Assim, estamos aprendendo sobre o desejo. Aprender não é memorizar. A maioria estão treinados, em especial se pertencem ao exército, a disciplinar-se segundo um padrão, a copiar, a seguir, a obedecer. Mas se você aprende, então esse mesmo aprender tem sua própria ordem; não há necessidade de impor uma ordem mediante uma lei ou qualquer outra coisa. Aprender, descobrir se é possível que a sensação floresça sem permitir que o pensamento interfira, manter a sensação e o pensamento separados. O farão? Se o fazem, verão, descobrirão que o desejo tem seu lugar. E quando se compreende a natureza do desejo, o conflito cessa.

Também devemos falar do amor, do sofrimento e da morte. Tudo isto é muito sério porque afeta a sua vida diária. Não se trata de um jogo intelectual, pois que afeta a sua vida; não a de outros, senão à maneira em que se vive há milhões de anos. Observem isso. Tudo isto têm criado grandes estragos no mundo. Todos querem uma posição de destaque, realizar algo, ser algo. E se observamos, vemos que há um enorme sofrimento. Cada ser humano no mundo, tanto se ocupa uma posição destacada como se é um simples aldeão ignorante, passa por esse enorme sofrimento. Pode ser que não reconheça a natureza, a beleza e a força do sofrimento, mas passa por essa dor igual a sua. Os seres humanos têm padecido do sofrimento durante milhões de anos, e não têm solucionado este problema, senão, ao contrário, porque tratam de fugir dele. Qual é a relação entre o sofrimento, o amor e a morte? É possível colocar fim ao sofrimento? Essa é uma das perguntas que a humanidade tem se feito durante um milhão de anos. É possível terminar com a dor, a ansiedade, a tristeza e o sofrimento?

O sofrimento não é só particular, senão que também se inclui o da humanidade. Historicamente, tem havido cinco mil anos de guerras. Isso significa que cada ano muitas pessoas matam a outras para garantir a segurança de sua tribo, sua religião, sua nação, sua comunidade e sua proteção individual, entre outras coisas. Percebem o que as guerras fazem, dos estragos que geram? Quantos milhos têm chorado, quantos milhões têm sido feridos, têm perdido os braços, pernas, olhos, e inclusive seus rostos? Vocês não sabem nada de tudo isto. Bem, é possível colocar fim ao sofrimento e toda a dor que isso implica? O que é o sofrimento? Não sabem o que é? Lhes envergonha reconhecê-lo? Quando seu filho, sua filha ou outro que acredita amar se parte, não tem derramado lágrimas? Não tem sentido uma terrível solidão ao perder para sempre um companheiro? Não se fala da morte, senão dessa coisa imensa que o homem padece sem nunca encontrar uma solução.

Se o sofrimento não cessa, não há amor. O sofrimento é parte de nosso interesse próprio, de nosso egoísmo, de nossa atividade egocêntrica. Possivelmente chora por alguém, por seu filho, por seu irmão, por sua mãe, por quê? Porque perdeu alguém a quem estava unido, a alguém que lhe oferecia companhia e conforto, entre outras coisas. Ao perder essa pessoa se dá conta do muito vazia, do muito solitária, que é sua vida. Então chora. E aparecem muitas outras pessoas dispostas a lhe consolar, e você cai com muita facilidade nessa armadilha do conforto. Há o conforto de Deus, que é uma imagem criada pelo pensamento, ou de alguma ideia ou conceito ilusório. Isso é tudo o que queremos. Nunca questionamos essa urgência, esse desejo de conforto. Nunca questionamos se realmente existe o conforto. Necessita-se de uma cama ou uma cadeira confortável, o que está bem. Mas nunca nos questionamos se existe realmente o conforto psicológico, interno. Por acaso esse conforto não é uma ilusão que você tem convertido em sua verdade?

Você pode converter uma ilusão em sua verdade (a de que você é Deus, de que Deus existe). Esse deus foi criado pelo pensamento, pelo medo. Se não tivesse medo, não haveria nenhum deus. Deus é uma invenção que nasce do medo, da solidão, do desespero e da busca de um conforto duradouro do homem. Nunca nos questionamos se existe satisfação profunda e duradoura. Todos querem sentir-se satisfeitos, não só com a comida, senão também sexualmente, ou conseguindo alguma posição de autoridade e obtendo conforto dessa posição. Questionamo-nos se realmente existe algum tipo de conforto, se existe algo que seja gratificante desde o momento em que nascemos até que morremos. Não escutem só a mim; investiguem, ponham sua energia, seu pensamento, seu sangue e seu coração em descobri-lo. Se não tivessem ilusões, existiria o conforto? Há que se ter em conta que é outro tipo de prazer.

Esse é um problema muito complexo de nossa vida (por que somos tão superficiais, banais, cheios de conhecimentos de outras pessoas e de livros; por que não somos independentes, seres humanos livres para descobrir, por que somos escravos). Não se trata de perguntas retóricas, senão de questionamentos que cada um deve se fazer. No próprio perguntar e duvidar, chega a liberdade. Sem ela, a verdade não tem nenhum sentido.

Amanhã analisaremos a questão do que é uma vida religiosa, e se existe algo totalmente sagrado, santo, algo que não tenha sido inventado pelo pensamento.

Krishnamurti, Bombaim, terceira palestra pública
9 de fevereiro de 1985
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sábado, 5 de dezembro de 2015

Nossa protegida trave de tropeço da servidão egóica

"O âmago do enfoque científico é a sua recusa em contemplar os próprios desejos, gostos e interesses como a chave para a compreensão do mundo." — Bertrand Russell
[...]Todo homem que adotou a disciplina filosófica está inclinado a atribuir aos seus julgamentos um valor muito maior que o devido. Via de regra, ele procura tirar conclusões que venham de encontro aos seus mais caros preconceitos e convenham às suas tendências herdadas. É para ele um hábito não aceitar numa discussão senão os fatos que se encaixam perfeitamente nos seus pontos de vista já existentes. Por essa forma, e não raro, vem ele a recusar aquilo que mais urgentemente necessita, da mesma maneira pela qual um inválido poderá recusar-se a tomar um medicamento de gosto amargo do qual necessita inadiavelmente, por preferir alguma guloseima de sabor adocicado. 

Toda vez que um homem insere o seu ego num raciocínio, este resulta desequilibrado e distorcido no que respeita o seu sentido da verdade. Se ele se limitar a julgar todo e qualquer fato pelos padrões da sua experiência prévia, impedirá com isso o surgimento de novos conhecimentos. Ao examinarmos as manifestações da sua mentalidade em palavras e atos, sua atitude habitual (conquanto inconsciente) será esta: "Isto se encaixa dentro daquilo que eu acredito; deve, portanto, ser verdade; este fato não contradiz aqueles fatos dos quais eu tenho conhecimento; por isso, aceitá-lo-ei; esta crença é totalmente contrária às minhas; deve, portanto, ser errônea; este fato não me interessa; portanto não tem valor numa discussão; aquela explicação é de difícil compreensão para mim, por isso ignoro-a em favor de uma outra a qual compreendo e a qual deve, consequentemente, ser verdadeira!"

Todos os que desejarem iniciar-se na verdadeira filosofia devem começar por deixar de lado esses pontos de vista meramente egoístas. O que neles se evidencia é apenas orgulho e vaidade; cuida-se tão somente de corroborar os próprios preconceitos e não de promover a busca da verdade; ali o estudo das obras impressas visa exclusivamente a confirmar conclusões prévias; o recurso ao mestre se faz não para obter novos conhecimentos mas para ratificar antigas crenças. Mantendo o eu em primeiro plano no seu pensamento, o indivíduo será inconscientemente atraído para numerosos e perigosos enganos. As simpatias e antipatias geradas por esses pontos de vista pessoais constituem empecilhos à descoberta daquilo que uma ideia ou objeto realmente é. Amiúde fazem com que um homem veja coisas que absolutamente não existem, mas que, através de associações de ideias, ele imagina existir. Fato patológico é que as várias formas de insanidade e perturbações mentais estão enraizadas no ego e que todas as obsessões e complexos estão igualmente vinculados ao eu

Aquele que jamais adotou a disciplina filosófica amiúde se enamora de si mesmo e a sua disposição mental fica presa por todos os lados ao pronome eu. Esse eu priva-o da verdade, bloqueando o seu acesso à percepção correta. Esse eu prejulga de forma inconsciente os argumentos e decide por antecipação as crenças, de modo que desaparece a garantia de se chegar às conclusões certas, restando apenas voltar, através das justificativas e racionalizações, ao ponto de vista mental inicial. Esse eu é como uma aranha apanhada na sua própria teia. Quando tal egoísmo dita o padrão de raciocínio, a razão tem de permanecer à parte por impotente. Esse eu tranca a mente dentro de um armário, perdendo assim as vantagens das novas ideias que de bom grado entrariam. Quando o ego se converte no centro dos estados obsessivos, nós nos deparamos com inteligências amesquinhadas pela intolerância religiosa ou toldadas pelas sinuosidades metafísicas ou embrutecidas pelo materialismo irreflexivo ou desequilibradas pelas crenças tradicionais e sobrecarregadas pelas crenças adquiridas — todas recusando-se cegamente a examinar aquilo que não é conhecido, que não é agradável,  que não é sabido, repudiando tudo a priori. Tais inteligências aceitam de boa vontade aquilo que lhes agrada e repudiam aquilo que lhes desagrada, inventando depois racionalizações para justificar suas preferências, mas em nenhum dos casos a pergunta: — "Isto é verdade?" — é investigada independentemente das suas predileções, nem é o resultado de tal investigação aceito, quer venha de encontro àquelas predileções quer não. 

Significa tudo isto que aqueles que professa as opiniões pessoais mais fortes são os mais difíceis de levar á verdade Tais pessoas precisariam absorver a lição de Jesus: "Se não vos tornardes como as criancinhas, jamais entrareis no reino do Céu".

A humildade implicada neste dito tem sido objeto de muita incompreensão. Trata-se de uma mentalidade inocente mas não pueril. Não se trata de uma dócil submissão a pessoas malévolas ou de uma ridícula sujeição à pessoas tolas. Trata-se de deixar a parte todos os preconceitos oriundos da experiência e todas as preconcepções decorrentes do pensamento inicial até que, ao enfrentar o problema da verdade, não nos sintamos peados nem perturbados por eles. Trata-se de chegar a uma alienação total das inclinações pessoais e de fugir por completo à influência dos pensamentos do eu e do meu. Trata-se de deixar de usar como argumento as expressões: "Eu penso assim" — ou — "Ficarei com a minha opinião" — e de deixar de crer que aquilo que nós sabemos tem, necessariamente, de ser verdadeiro. Tal argumento leva simplesmente a uma opinião, e não à verdade. As crenças pessoais podem ser falsas, o conhecimento aceito pode ser fictício. É preciso caminharmos com humildade nestes redutos filosóficos. Os mestres certos são reconhecidamente raros, mas os discípulos certos também o são! 

A filosofia é um estudo puramente desinteressado e deve ser abordada sem quaisquer restrições mentais prévias. Mas as predisposições estão amiúde tão arraigadas, e por conseguinte tão escondidas, que os estudantes nem sempre suspeitam, e menos ainda constatam, a sua presença. Até mesmo alguns dos assim chamados filósofos são portadores de uma determinação subconsciente de não aceitar senão aquilo que contam ouvir e sob influência dessa auto-sugestão permitem que as suas inclinações sobreponham-se aos seus julgamentos e que a prepotência escravize a razão. Por isso o estudante compenetrado deve extirpar de forma consciente esses confortáveis subterfúgios atrás dos quais ocultam as insinceridades e as hipocrisias do raciocínio, suas fraquezas pessoais e seu egoísmo. No decurso de seus estudos, e sempre que a sua mente estiver empenhada em algum problema, ele deverá pelejar por livrar-se da pressão de todas as predileções de ordem pessoal. Tal desprendimento mental é raro e só poderá ser conseguido através de um desenvolvimento intencional. Deve o estudante lembrar-se sempre que lhe cabe primeiro enunciar simplesmente e depois analisar com isenção um caso sob todos os ângulos, antes de preferir um julgamento. A verdade nada teme da investigação plena, pelo contrário, é por ela fortalecida. Se descobrir então que está errado, o estudante deverá acolher de boa sombra a revelação e não esquivar-se a ela, por condoer-se das machucaduras da vaidade ferida e da inesperada humilhação. Ele precisa de uma completa elasticidade mental a fim de livrar-se da escravidão aos preconceitos e conseguir uma integridade interior absoluta e uma saúde mental genuína.  

[...] O estudante não deve nunca esquivar-se a um problema. Não se deve furtar a enfrentar seus próprios complexos. Não lhe resta senão encará-los resolutamente. Ele tem de, ao menos, ser sincero consigo próprio, tentando colocar-se acima das preconcepções pessoais, pois somente assim poderá ver as coisas na sua exata perspectiva. Sua afeição à verdade tem de ser sincera e incorruptível como era a de Sócrates. Uma firme objetividade intelectual ao invés de uma débil esperança emancipará a sua mente da servidão do ego e a capacitá-la-á a absorver a verdade sem oferecer resistência. A mente será assim alçada a uma atmosfera de imparcialidade e impessoalidade e habituada a um raciocínio ininterrupto de autonegação, que é o único a propiciar um discernimento correto. E mesmo aqueles que consideram essa tarefa demasiado difícil na vida cotidiana podem ao menos tentar objetivar temporariamente o seu ideal durante aqueles minutos ou horas dedicados a tais estudos. 

Onde quer que a verdade conduza, para lá deverá ir o estudante. Se ele trair sua percepção racionalista e se demonstrar um traidor de seu mais alto ideal ante as pressões violentas de preconcepções que exijam um rasteiro conformismo, ele se condenará à pena de permanecer perpetuamente cativo de uma ignorância banal. 

Em resumo: a busca da verdade encetada pelo estudante principia pela dependência à autoridade, prossegue com o uso da lógica e depois da razão, tem continuidade com o cultivo da intuição e da experiência mística, e culmina com o desenvolvimento da percepção ultramística. A filosofia mais elevada é tão sabiamente balanceada e tão lindamente integrada que não desdenha qualquer das formas de conhecimento, mas usa-as cada uma no seu devido lugar. Daí, embora o nome filosofia tenha por vezes sido usado na sua acepção acadêmica referindo-se a um sistema metafísico, o mais das vezes foi ele usado na sua acepção mais antiga e verdadeira referindo-se à visão unificada que completa a metafísica com o misticismo e incorpora a religião à ação. 

[...] O estudante de filosofia deveria compreender que, uma vez que ele também pratica a meditação, é preciso que preencha os mesmo requisitos purificadores que são preconizados ao estudante místico. Se os seus exercícios de meditação devem ser protegidos dos perigos ali envolvidos, ele deverá abster-se sempre de prejudicar os outros, enobrecendo assim o seu caráter, dominando suas paixões e cultivando suas virtudes, essas virtudes recomendadas pelos profetas de todas as grandes religiões.

Paul Brunton em, A sabedoria oculta além da ioga

domingo, 30 de agosto de 2015

É possível à mente ficar livre da atividade egocêntrica?

[...] Para compreender o que é a atividade egocêntrica, precisamos, naturalmente, examiná-la, observá-la, estar cônscios do seu processo, na sua inteireza. Se for possível ficamos cônscios dele, haverá então a possibilidade de sua dissolução; mas o estar cônscio requer certa compreensão, certa intenção de enfrentar a coisa tal como ela é, abstendo-se de interpretá-la, modificá-la, ou condená-la. Temos de estar cônscios daquela atividade que estamos desempenhando, oriunda daquele estado egocêntrico; precisamos estar cônscios dela. Essa é uma das nossas principais dificuldades, uma vez que no momento em que ficamos cônscios daquela atividade queremos moldá-la, queremos controlá-la, queremos condená-la, queremos modificá-la; mas nunca estamos em situação de enfrentá-la diretamente; e quando estamos, pouquíssimos de nós somos capazes de saber o que se deve fazer. 

Reconhecemos que as atividades egocêntricas são prejudiciais, são destrutivas e que toda forma de atividade egocêntrica — tal como a identificação com a nação, com determinado grupo, com determinados desejos, com desejos que produzem ação, a busca de um resultado, neste mundo ou no outro, a glorificação de uma ideia, o surgimento de um exemplo, a veneração e o cultivo da virtude — é, essencialmente, a atividade de uma pessoa egocêntrica. Todas as suas relações, — com a natureza, com pessoas, com ideias — são produto daquela atividade. Sabendo de tudo isso, que cabe a uma pessoa fazer? Toda atividade dessa ordem tem de findar voluntariamente, e não por imposição própria, não por ter sido influenciada, guiada. Espero que estejam percebendo a dificuldade aí existente. 

A maioria de nós somos sabedores de que essa atividade egocêntrica gera malefícios e o caos; mas só estamos cônscios disso em certas direções. Ou o observamos noutras pessoas e ignoramos nossas próprias atividades; ou, se em nossas relações com outras pessoas, tomamos conhecimento de nossa atividade egocêntrica, desejamos fazer uma transformação, desejamos encontrar um substituto, desejamos passar além. Antes de podermos atender a esse processo, precisamos saber como é que ele se origina, não é verdade? Para compreender alguma coisa, precisamos ser capazes de a observar; e, para observá-la, precisamos conhecer as suas várias atividades em níveis diferentes, tanto conscientes como inconscientes, e bem assim as diretrizes conscientes, os movimentos egocêntricos resultantes dos motivos e intenções inconscientes. Trata-se, sem dúvida, de um processo egocêntrico, resultado do tempo, não é verdade? 

Que é ser egocêntrico? Quando é que vocês têm consciência de ser "eu"?

[...] Só estou consciente das atividades do "eu" quando existe oposição, quando a consciência se vê contrariada, quando o "eu" está  desejoso de alcançar um resultado. O "eu" está ativo, ou tenho consciência daquele centro, quando o prazer termina e eu desejo mais desse prazer; há então resistência e um intencional ajustamento da mente a um determinado fim, o qual me proporcionará deleite, satisfação; estou cônscio de mim mesmo e das minhas atividades quando estou cultivando a virtude conscientemente. É só isso que sabemos. Um homem que cultiva a virtude conscientemente, não é virtuoso. A humildade não pode ser cultivada e nisso é que consiste a beleza da humanidade. 

Nessas condições, enquanto existe esse centro de atividade, em qualquer direção, consciente ou inconsciente, há o motivo do tempo e estou consciente do passado e do presente em conjunção com o futuro. O centro dessa atividade, da atividade egocêntrica do "eu", é um processo de tempo. É isso o que vocês entendem por tempo — referem-se, ao processo psicológico do tempo; é a memória que dá continuidade à atividade do centro, que é o "eu". Tenham a bondade de se observarem em funcionamento; não ouçam apenas as minhas palavras, não fiquem hipnotizados pelas minhas palavras. Se observarem a si mesmos e tomarem conhecimento desse centro de atividades, verão que ele é apenas o processo do tempo, da memória, do experimentar e traduzir cada experiência, segundo a memória; verão também que a atividade do "eu" é recognição, sendo isso processo da mente. 

Pois bem, pode a mente ficar livre da atividade egocêntrica? Talvez seja possível, em momentos raros; talvez possa acontecer à maioria de nós, quando praticamos um ato inconsciente, não intencional, não propositado. É possível à mente ficar livre da atividade egocêntrica? Eis uma pergunta muito importante, que, devem se fazer em primeiro lugar, pois, precisamente no fazê-la encontraram a resposta. Isto é, se estão conscientes do processo total dessa atividade egocêntrica, se estão perfeitamente cientes de suas atividades em diversos níveis da consciência de vocês, então, de certo, terão de se perguntar se é possível aquela atividade chegar a um fim; isto é, não pensar dentro dos limites do tempo, não pensar com referência ao que serei, ao que fui, ou ao que sou. Desse modo de pensar procede todo o processo da atividade egocêntrica; aí também tem começo a determinação de vir-a-ser, a determinação de escolher e de evitar, tudo isso processo de tempo. Notam-se, nesse processo, malefícios sem fim, miséria, confusão, perversão, degenerescência. Fiquem conscientes disso, enquanto falo, nas suas relações, nas suas mentes. 

Positivamente, o processo de tempo não é revolucionário. No processo do tempo não há transformação; só há uma continuidade e nunca um findar. No processo do tempo só existe recognição. Só quando temos a cessação completa do processo do tempo, da atividade do "eu", há o novo, há revolução, há transformação. 

Uma vez consciente de todo esse processo do "eu", em sua atividade, o que deve a mente fazer? Só com a renovação, só com a revolução — não pela evolução, não com o "eu" na atividade de vir-a-ser, mas sim pelo completo findar do "eu", há o novo. O processo do tempo não pode trazer o novo; o tempo não é o caminho da criação. 

Não sei se qualquer um de vocês já teve algum momento de criação — não "ação", não me refiro à execução algum ato — quero significar o momento de criação em que não há reconhecimento algum. Nesse momento se realiza aquele estado extraordinário em que o  "eu" como "atividade de reconhecimento" deixou de existir. Acredito que alguns de nós já conhecemos um momento desses; talvez a maioria de nós já o conhecemos. Se estamos vigilantes, veremos que naquele estado não existe nenhum "experimentador" que lembra, que traduz, reconhece, e depois identifica. Não há nenhum processo de pensamento, que é coisa do tempo. Naquele estado de criação, de ação criadora, naquele estado do novo, que é atemporal, não existe, absolutamente, nenhuma ação do "eu". 

Nossa questão, agora, é certamente esta: é possível à mente experimentar, conhecer aquele estado, não momentaneamente, não em instantes raros, mas — não quero usar a expressão "eternamente" ou "para sempre", que implicam o tempo — conhecer aquele estado, achar-se naquele estado, sem relação alguma com o tempo? Esta, sem dúvida, é uma descoberta muito importante, que cada um de nós deve fazer, porquanto ela é a porta do amor; todas as outras portas representam atividades do "eu". Onde há ação do "eu" não há amor. O amor não é do tempo. Não podem praticar o amor, pois isso seria uma atividade consciente do "eu", que espera, por meio do amor, alcançar um resultado. 

O amor, pois, não é coisa do tempo; não podem chegar a ele por meio de um esforço consciente, por meio de uma disciplina, por meio de identificação, porque tudo isso é processo do tempo. A mente que só conhece o processo do tempo é incapaz de reconhecer o amor. O amor é a única coisa que é nova, eternamente nova. Uma vez que a maioria de nós temos cultivado a mente, que é um processo de tempo, resultado do tempo, não sabemos o que é o amor. Falamos a respeito do amor; dizemos que amamos pessoas, que amamos nossos filhos, nossas esposas, nosso próximo; que amamos a natureza; mas, no momento em que estou consciente de que amo, entrou em atividade o "eu" e, consequentemente, o amor deixou de existir. 

O processo total da mente só é compreensível no estado de relação — relação com a natureza, com pessoas, com nossa própria "projeção", com tudo, enfim. Na realidade, a vida não é outra coisa senão relações. Ainda que tentemos nos isolar das nossas relações, não podemos existir sem elas; embora as relações sejam dolorosas e procuremos evitá-las pela fuga, nos recolhendo ao isolamento, nos tornando eremitas, etc., não o podemos fazer. Todos esses métodos constituem um indício de atividade do "eu". Ao perceberem o quadro, em sua inteireza, ao perceberem integralmente esse processo do tempo como consciência — perceber, sem que haja escolha, sem que haja nenhuma intenção determinada no sentido de um objetivo, sem desejo de resultado — verão como esse processo do tempo chega a um fim, espontaneamente — um fim não provocado, um fim que não é resultado do desejo. Só quando cessa aquele processo existe o amor, que é eternamente novo. 

Não temos de procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que se acha longe de nós. A verdade habita a mente, está presente em suas atividades de cada instante. Ao perceberem essa verdade existente, momento por momento, ao perceberem inteiramente esse processo do tempo, então, esse percebimento libera, descarrega aquela consciência ou energia que está toda aplicada a ser. Quando a mente se serve da consciência como atividade egocêntrica, entra em cena o tempo, com todas as suas misérias, todos os seus conflitos, todos os seus malefícios, todas as suas ilusões intencionais; é só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa, pode existir o amor. Podemos chamá-lo amor ou por qualquer outro nome; o nome que lhe damos não tem importância.

Krishnamurti em, Quando o pensamento cessa
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill