O sofrimento é atividade egocêntrica
A
semana passada falamos da vida holística (uma maneira de viver sem
fragmentação, sem divisões, ao contrário de nossas vidas). Analisamos essa
questão com bastante profundidade. Vimos que as causas da fragmentação são os
diferentes fatores de nossa vida social, moral e religiosa que nos dividem em
hindus, muçulmanos, cristãos, budistas, etc. As religiões são as máximas
responsáveis desta catástrofe. Também falamos do tempo (o passado com todas
recordações, a acumulação de experiências, etc.) Dizemos que o tempo se
modifica no presente e segue para o futuro. Assim é a nossa vida. Segundo os
biólogos e os arqueólogos, levamos mais de três milhões e meio de anos vivendo
na Terra. Durante este longo período chamado “evolução”, temos acumulado muita
memória. Também falamos da limitação da memória e do pensamento, e de como essa
limitação divide o mundo geográfica, nacional e religiosamente.
[...]
Nossas vidas, nossa vida cotidiana está em desordem. Isso significa uma
contradição: dizer uma coisa e fazer outra, crer em algo e atuar de maneira
totalmente diferente a como o faríamos. Essa contradição gera desordem.
Pergunto-me se todos nos percebemos desse problema. Segundo parece, cada vez há
mais e mais desordem no mundo, devido aos maus governos, à economia e às
condições sociais. Sempre está presente a ameaça da guerra, que cada vez parece
mais iminente, mais e mais pressionada, e os governos de todo o mundo,
inclusive das pequenas nações, estão comprando armamento. Em todo o mundo há
uma enorme desordem, e nossas vidas diárias também bebem dessa fonte, ainda que
constantemente tratemos de conseguir ordem. Queremos ordem, porque sem ela, os
seres humanos, sem dúvida, se destruirão entre eles.
Espero
que compartilhemos este tema, que pensemos, observemos e escutemos juntos, para
ter um diálogo no qual possam participar. Não se trata de acumular umas poucas
ideias ou conclusões, senão que juntos devemos averiguar por que vivemos em
desordem, e se pode haver uma completa ordem em nossas vidas e, portanto, na
sociedade.
Nós
temos criado a sociedade com nossa cobiça, nossa ambição, nossa inveja e com
nosso conceito de liberdade individual. Essa sensação de individualidade tem
gerado enorme desordem. Por favor, não estamos acusando a ninguém; tão só
observamos o que ocorre no mundo. Em nossas vidas, tal como vivemos depois
destes milhões de anos, segue havendo desordem, apesar de que sempre buscamos
ordem, porque sem ordem não é possível funcionar com liberdade e de maneira
holística. Assim, pois, devemos descobrir o que é ordem, não como um projeto,
não como algo que devemos enquadrar e logo seguir. A ordem é algo muito ativo,
muito vivo; não se adapta a nenhum modelo, seja idealista, histórico,
conclusões dialéticas ou imposições religiosas. As religiões de todo o mundo se
apoiam em certas leis, imposições e preceitos, mas os seres humanos não os
seguem de nenhuma maneira. De modo que vamos descartar todas estas conclusões
ideológicas e crenças religiosas, que nada têm que ver com nossa existência
cotidiana. Já temos aceitado e seguido leis impostas pelas religiões, mas só
tem gerado mais fanatismo, etc.
O
que é a ordem? É possível descobrir o que é ordem quando nossos cérebros estão
confusos e em desordem? Por isso devemos saber o que é desordem e não o que é a
ordem, porque quando não há desordem, naturalmente aparece a ordem. Estão de
acordo? Uma das causas da desordem, talvez a maior causa, seja o conflito. Se
há conflito (não só entre homem e mulher, senão também entre nações, religiões,
crenças e fés) deve haver desordem.
[...]
Devemos estudar a questão de se vivemos nessa ilusão de que somos indivíduos
separados. A teoria comunista, como talvez saiba a maioria, diz que somos o
resultado de nosso meio ambiente e, em consequência, se modificamos nosso
ambiente, também modificaremos os seres humanos. Isso é totalmente absurdo,
como se torna patente quando se observa a Rússia totalitarista. O domínio de
uns poucos e o controle do pensamento, entre outras coisas, não tem colocado
fim a individualidade como se esperava, senão totalmente o contrário. De modo
que uma das maiores causas da desordem em nossas vidas se deve a que cada um
acredita que é livre, cada um pensa em sua própria realização, em seus desejos,
em suas ambições, em seus prazeres particulares. Descubramos se a
individualidade é um fato ou se é uma ilusão largamente estabelecida e
respeitada. Podemos investigá-lo juntos sem aceitá-lo ou negá-lo? É uma tolice
dizer: “Estou de acordo com você”, ou “Não estou de acordo”. Não estão de
“acordo” ou em “desacordo” com o nascer ou pôr do Sol; é um fato. Nunca dizem:
“Estou de acordo de que o Sol nasce pelo leste”. Assim, pois, podemos deixar de
lado esse conceito de estar de acordo ou em desacordo, e investigar sem
preferências, sem resistências, se existe realmente a individualidade ou se
existe algo totalmente diferente?
Nossa
consciência é o resultado de um milhão de anos ou mais. Contém toda a essência
animal e primitiva, visto que viemos do animal, da natureza. Vemos que no mais
profundo de nossas consciências, ainda há fortes respostas animais: estão os
medos e o desejo de segurança. Tudo isso faz parte de nossa consciência. Nossas
consciências também contém inumeráveis crenças, fés, reações, ações, diferentes
recordações, medos, prazeres, sofrimentos e essa busca de total segurança. Isso
é tudo o que somos. Podemos pensar que temos uma parte divina, mas isso só faz
parte de nosso pensar. Acreditamos que toda essa consciência pertence a cada um
de nós, não é verdade? O cristianismo, o hinduísmo e as demais religiões
sustentam que somos almas separadas.
Bem,
agora, nós o questionamos. Você não compartilha do sofrimento com o resto dos
seres humanos? Os homens de todo o mundo têm diferentes tipos de medo e de
prazeres. Eles sofrem e você também o faz. Eles rezam e fazem todo tipo de
absurdas cerimônias, igual a vocês; e buscam estímulos e sensações através de
cerimônias, igual a vocês. De modo que compartilhamos a consciência com toda a
humanidade; você é a humanidade inteira. Primeiro, veja a lógica de tudo isto.
Qualquer ser humano sofre na Terra, independente de sua religião ou crença.
Todo ser humano sofre, profunda ou superficialmente, e trata de escapar desse
sofrimento. Mas essa consciência, que consideramos “minha”, que é “nossa
consciência pessoal”, não é um fato, porque todos os seres humanos que vivemos
nesta maravilhosa e bela Terra (que pouco a pouco destruímos) passamos pelos
mesmos problemas: dor, ansiedade, solidão, desespero, lágrimas, risos,
contradições, o conflito entre o homem e a mulher, entre o esposo e a esposa.
Bem, se temos essa consciência, somos indivíduos? Porque você é isso, sua
consciência. Não importa o que pense ou imagine, suas tendências, suas
atitudes, seus talentos e seus dons, já que tudo isso é compartilhado pelo
resto dos seres humanos, que são exatamente como você ou semelhantes. Isso é um
fato lógico. E a lógica tem seu lugar. Você deve pensar com clareza, com
lógica, com sanidade, raciocinando. Mas a lógica se baseia no pensamento. Por
mais lógico que possa ser, o pensamento é limitado. Por isso deve ir mais além
do pensamento, mais além dos limites do raciocínio e da lógica.
Você
é a humanidade inteira; não somos indivíduos. Escutem esta informação: você são
a humanidade inteira; são a humanidade, não são indianos nem todas essas
absurdas divisões. Ao escutar uma afirmação como esta, a convertem numa
abstração? Quer dizer, convertem esse fato numa ideia? O fato é uma coisa e a
ideia a respeito do fato é outra. O fato é que vocês acreditam que são
indivíduos. Suas religiões, suas vidas cotidianas, seus condicionamentos lhes
faz crer que são indivíduos. E se alguém como o orador lhes diz: “analisem-no
com cuidado, estão seguros de que é assim?” A princípio resistem e respondem:
“O que está dizendo?”. O descartam. Mas se escutam detidamente, então acabamos
compartilhando essa informação de que são a humanidade inteira. Como escutam
essa afirmação, como escutam seu som? A convertem numa ideia afastada do fato e
logo perseguem essa ideia?
Ao
escutar a afirmação de que sua consciência, com todas as reações e ações, é
compartilhada por toda a humanidade, porque cada ser humano passa pelo
desespero, a sensação de solidão, o sofrimento e a dor, igual a você, como
escuta essa afirmação? A recusa ou a examina? A analisa ou tão só diz: “Que
besteira?” O que está fazendo, não amanhã, senão agora? Qual é a sua reação?
Pode escutar sua profundidade, seu som, sua beleza, sua imensidade, sua
tremenda responsabilidade, ou tratá-la de forma superficial, verbal, dizendo:
“Sim, a entendo intelectualmente”. O entendimento intelectual pouquíssimo
significado. Deve estar em seu sangue, em suas entranhas, e daí surge uma
qualidade diferente no cérebro, uma qualidade holística, não fragmentada. A
fragmentação é o que cria a desordem. Nós, como indivíduos, temos fragmentado a
consciência humana e, portanto, vivemos em desordem.
Perceber
que somos a humanidade inteira é amor. Então não matará a ninguém, não fará
dano a ninguém. Se afastará de qualquer agressão, da violência e da crueldade
das religiões. Nossa consciência é uma com a humanidade. Não veem a beleza, a
imensidão disso. Regressarão a seus próprios padrões, pensando que todos somos
indivíduos; lutarão, se esforçarão, competirão, cada um tratando de preencher
seu próprio pequeno e detestável ego. Sim, senhor, isso não significa nada para
você, porque regressará ao seu modo de viver. De modo que é preferível que não
escute nada de tudo isto. Se escuta uma verdade e não atua, essa verdade se
converte em veneno. Por isso nossas vidas são muito opacas e superficiais.
Também
devemos falar juntos do porque o homem busca sempre o prazer: de possuir, de
realizar, de poder, de ter um status. Está o prazer sexual, que se mantém com o
incessante pensamento centrado no sexo, o imaginar, o criar representações e
imagens, quer dizer, o pensamento estimula o prazer, e as sensações se
convertem em prazer. Assim, pois, devemos compreender o que é o prazer e por
que o buscamos. Não dizemos que é bom ou mal. Não estamos condenando o prazer,
da mesma maneira que não fazemos o mesmo com o desejo. O desejo é parte do
prazer. Realizar um desejo é a mesma natureza do prazer. O desejo pode ser a
causa da desordem, cada um querendo realizar seu próprio e particular desejo.
Assim
que juntos vamos estudar se o desejo é uma das maiores causas da desordem;
devemos explorar o desejo, não condená-lo, não escapar dele, nem tratar de
reprimi-lo. Quase todas as religiões dizem: “Reprima o desejo”, o qual é
absurdo. Vejamos: o que é o desejo? Façam-se essa pergunta. Seguramente muitos
de nós nunca nos temos questionado. O aceitamos como parte da vida, como um
instinto natural do homem ou da mulher e, em consequência, dizemos: “por que
devemos nos preocupar?” Há pessoas que renunciam ao mundo, que ingressam em
mosteiros, e tratam assim de reprimir seus desejos adorando a um símbolo ou a
uma pessoa. Tenham presente que não estamos condenando o desejo. Tratamos de
descobrir o que é e por que o homem leva milhões de anos preso no solo do
desejo físico, senão também no psicológico, na rede dos desejos.
[...]
Estamos observando o desejo, sua origem, e por que sempre os seres humanos
estão presos no desejo. Se têm um pouco de dinheiro querem mais; se têm um
pouco de poder, querem mais. E o poder em todas as suas formas, seja sobre sua
esposa ou seus filhos, político ou religioso, é uma coisa abominável. É
maléfico, porque não tem nada que ver com a verdade. Assim, qual é a origem do
desejo? Vivemos de sensações; se não as tivéssemos, sejam elas biológicas e
psicológicas, seríamos seres humanos mortos; não é certo? O grasnar de um corvo
atua sobre o tímpano e os nervos, e esse som se traduz como o grito do corvo.
Isso é uma sensação. A sensação surge do escutar ou de ver, e logo vem o
contato. Você vê um jardim muito bem cuidado: tem uma cor verde intensa, perfeita,
não têm ervas daninhas. É belo de contemplar. Primeiro o vê, então, se é
sensível, se aproxima e toca a relva. Quer dizer, primeiro vê, depois há um
contato, e logo se produz a sensação.
Vivemos
de sensações; são necessárias. Se você não é sensível está embotado, está meio
morto, como a maioria das pessoas. Tomemos um exemplo simples. Observa um belo
sári ou camisa em uma tenda. A vê. Entra na tenda e a toca; ao tocá-la surge
uma sensação e diz: “Deus meu, que textura tão bela!” O que ocorre mais tarde?...
Vejo
um belo automóvel, tocam o abrilhantado, sua forma e seu perfil. Daí surge uma
sensação. Mais tarde, o pensamento interfere e diz: “Que fantástico seria
tê-lo, que bonito seria dirigi-lo!” Que ocorreu? O pensamento interferiu e deu
forma à sensação, acrescentou à sensação a imagem de si mesmo sentado no
automóvel e o dirigindo. Nesse momento, nesse segundo, quando o pensamento cria
a imagem de si mesmo sentado no automóvel, surge o desejo. O desejo aparece
quando o pensamento lhe dá forma, quando cria uma imagem da sensação. Bem,
agora, esta é uma expressão da existência, é parte da vida. Mas vocês têm
aprendido a reprimir, a dominar ou a viver com o desejo e todos os seus
problemas. Então, se compreendem isso, não intelectualmente, senão de verdade,
se entendem que o pensamento da forma à sensação, e um segundo depois surge o
desejo, a pergunta seguinte é: podemos ver e tocar o automóvel, o qual é uma
sensação, mas não permitir que o pensamento crie uma imagem? Trata-se de manter
um intervalo.
Mas
também deve-se averiguar o que é a disciplina, já que está relacionada com o
desejo. A palavra disciplina procede do termo discípulo cujo
significado etimológico é “aquele que aprende”. Um discípulo é aquele que
aprende (aprender, não conformar-se, não controlar, não reprimir, não obedecer,
não seguir, senão o contrário, aprender através da observação). Assim, estamos
aprendendo sobre o desejo. Aprender não é memorizar. A maioria estão treinados,
em especial se pertencem ao exército, a disciplinar-se segundo um padrão, a
copiar, a seguir, a obedecer. Mas se você aprende, então esse mesmo aprender
tem sua própria ordem; não há necessidade de impor uma ordem mediante uma lei
ou qualquer outra coisa. Aprender, descobrir se é possível que a sensação
floresça sem permitir que o pensamento interfira, manter a sensação e o
pensamento separados. O farão? Se o fazem, verão, descobrirão que o desejo tem
seu lugar. E quando se compreende a natureza do desejo, o conflito cessa.
Também
devemos falar do amor, do sofrimento e da morte. Tudo isto é muito sério porque
afeta a sua vida diária. Não se trata de um jogo intelectual, pois que afeta a
sua vida; não a de outros, senão à maneira em que se vive há milhões de anos.
Observem isso. Tudo isto têm criado grandes estragos no mundo. Todos querem uma
posição de destaque, realizar algo, ser algo. E se observamos, vemos que há um
enorme sofrimento. Cada ser humano no mundo, tanto se ocupa uma posição
destacada como se é um simples aldeão ignorante, passa por esse enorme
sofrimento. Pode ser que não reconheça a natureza, a beleza e a força do
sofrimento, mas passa por essa dor igual a sua. Os seres humanos têm padecido
do sofrimento durante milhões de anos, e não têm solucionado este problema,
senão, ao contrário, porque tratam de fugir dele. Qual é a relação entre o
sofrimento, o amor e a morte? É possível colocar fim ao sofrimento? Essa é uma
das perguntas que a humanidade tem se feito durante um milhão de anos. É
possível terminar com a dor, a ansiedade, a tristeza e o sofrimento?
O
sofrimento não é só particular, senão que também se inclui o da humanidade.
Historicamente, tem havido cinco mil anos de guerras. Isso significa que cada
ano muitas pessoas matam a outras para garantir a segurança de sua tribo, sua
religião, sua nação, sua comunidade e sua proteção individual, entre outras
coisas. Percebem o que as guerras fazem, dos estragos que geram? Quantos milhos
têm chorado, quantos milhões têm sido feridos, têm perdido os braços, pernas,
olhos, e inclusive seus rostos? Vocês não sabem nada de tudo isto. Bem, é
possível colocar fim ao sofrimento e toda a dor que isso implica? O que é o
sofrimento? Não sabem o que é? Lhes envergonha reconhecê-lo? Quando seu filho,
sua filha ou outro que acredita amar se parte, não tem derramado lágrimas? Não
tem sentido uma terrível solidão ao perder para sempre um companheiro? Não se
fala da morte, senão dessa coisa imensa que o homem padece sem nunca encontrar uma
solução.
Se
o sofrimento não cessa, não há amor. O sofrimento é parte de nosso interesse
próprio, de nosso egoísmo, de nossa atividade egocêntrica. Possivelmente chora
por alguém, por seu filho, por seu irmão, por sua mãe, por quê? Porque perdeu
alguém a quem estava unido, a alguém que lhe oferecia companhia e conforto,
entre outras coisas. Ao perder essa pessoa se dá conta do muito vazia, do muito
solitária, que é sua vida. Então chora. E aparecem muitas outras pessoas
dispostas a lhe consolar, e você cai com muita facilidade nessa armadilha do
conforto. Há o conforto de Deus, que é uma imagem criada pelo pensamento, ou de
alguma ideia ou conceito ilusório. Isso é tudo o que queremos. Nunca
questionamos essa urgência, esse desejo de conforto. Nunca questionamos se
realmente existe o conforto. Necessita-se de uma cama ou uma cadeira
confortável, o que está bem. Mas nunca nos questionamos se existe realmente o
conforto psicológico, interno. Por acaso esse conforto não é uma ilusão que
você tem convertido em sua verdade?
Você
pode converter uma ilusão em sua verdade (a de que você é Deus, de que Deus
existe). Esse deus foi criado pelo pensamento, pelo medo. Se não tivesse medo,
não haveria nenhum deus. Deus é uma invenção que nasce do medo, da solidão, do
desespero e da busca de um conforto duradouro do homem. Nunca nos questionamos
se existe satisfação profunda e duradoura. Todos querem sentir-se satisfeitos,
não só com a comida, senão também sexualmente, ou conseguindo alguma posição de
autoridade e obtendo conforto dessa posição. Questionamo-nos se realmente
existe algum tipo de conforto, se existe algo que seja gratificante desde o
momento em que nascemos até que morremos. Não escutem só a mim; investiguem,
ponham sua energia, seu pensamento, seu sangue e seu coração em descobri-lo. Se
não tivessem ilusões, existiria o conforto? Há que se ter em conta que é outro
tipo de prazer.
Esse
é um problema muito complexo de nossa vida (por que somos tão superficiais,
banais, cheios de conhecimentos de outras pessoas e de livros; por que não
somos independentes, seres humanos livres para descobrir, por que somos
escravos). Não se trata de perguntas retóricas, senão de questionamentos que
cada um deve se fazer. No próprio perguntar e duvidar, chega a liberdade. Sem
ela, a verdade não tem nenhum sentido.
Amanhã
analisaremos a questão do que é uma vida religiosa, e se existe algo totalmente
sagrado, santo, algo que não tenha sido inventado pelo pensamento.
Krishnamurti, Bombaim, terceira palestra
pública
9 de fevereiro de 1985
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