A maioria das pessoas tem medo, tanto o medo físico quanto o interior. O medo só existe em relação a algo. Tenho medo da doença, da dor física. Eu já passei por isso e tenho medo. Tenho medo da opinião pública. Tenho medo de perder o emprego. Tenho medo de não ser capaz de atingir a plenitude. Tenho medo do escuro, tenho medo da minha própria estupidez, medo da minha insignificância. Temos muitos e diferentes medos e tentamos solucionar esses medos fragmentariamente. Não parecemos capazes de ir além disso. Se acreditamos ter compreendido e solucionado determinado medo, outro medo surge. Quando nos damos conta de que temos medo, tentamos fugir dele, tentamos descobrir a resposta, tentamos descobrir como proceder, ou tentamos reprimi-lo.
Nós, seres humanos, desenvolvemos de modo sagaz uma rede de fugas: Deus, divertimentos, bebida, sexo, tudo. Todas as fugas são a mesma coisa, seja em nome de Deus ou da bebida! Para viver como seres humanos, precisamos resolver esse problema. Viver com medo, consciente ou inconsciente, é o mesmo que viver na escuridão, cheios de conflito interior e de resistência. Quanto maior o medo, maior a tensão, maior a carga neurótica, maior o impulso de fugir. Se não fugirmos, perguntamo-nos: "Como iremos resolver?" Procuramos meios e formas de solucioná-lo, mas sempre dentro do campo do conhecido. Fazemos algo a respeito, e essa ação produzida pelo pensamento é uma ação dentro do campo da experiência, do conhecimento, do conhecido e, portanto, não existe resposta. Isso é o que fazemos, e morremos com medo. Vivemos ao longo de nossas vidas com medo e morremos com medo. Mas, o ser humano pode erradicar por completo o medo? Podemos fazer algo, ou não podemos fazer nada? O nada não significa que aceitemos o medo, que o racionalizemos e que vivamos com ele; não se trata da inação da qual estamos falando.
Fizemos tudo o que podíamos fazer em relação ao medo. Nós o analisamos, mergulhamos nele, tentamos enfrentá-lo, entramos em contato direto com ele, resistimos a ele, fizemos tudo que era possível, e ele permanece. Será possível ter consciência dele, de modo completo, total, e não de um modo meramente intelectual e, ainda assim, não fazer nada a respeito? Precisamos entrar em contato com o medo, mas não o fazemos. A palavra medo produziu o medo. A própria palavra nos impede de entrar em contato com o medo.
Krishnamurti - Paris, 22 de maio de 1966
Fizemos tudo o que podíamos fazer em relação ao medo. Nós o analisamos, mergulhamos nele, tentamos enfrentá-lo, entramos em contato direto com ele, resistimos a ele, fizemos tudo que era possível, e ele permanece. Será possível ter consciência dele, de modo completo, total, e não de um modo meramente intelectual e, ainda assim, não fazer nada a respeito? Precisamos entrar em contato com o medo, mas não o fazemos. A palavra medo produziu o medo. A própria palavra nos impede de entrar em contato com o medo.
Krishnamurti - Paris, 22 de maio de 1966