“O que é morte?” Esta é uma pergunta para os jovens e para os idosos, assim, por favor, faça a pergunta a si mesmo. A morte é meramente o fim do organismo físico? É disso que temos medo? É o corpo que queremos que continue? Ou é alguma outra forma de continuidade que ansiamos? Todos nós percebemos que o corpo, a entidade física se deteriora pelo uso, pelas variadas pressões, influências, conflitos, impulsos, exigências, sofrimentos. Alguns provavelmente gostariam que o corpo pudesse continuar por 150 anos ou mais, e talvez os médicos e cientistas juntos finalmente encontrem um modo de prolongar a agonia em que a maioria de nós vive. Mas, mais cedo ou mais tarde o corpo morre, o organismo físico chega ao fim. Como qualquer máquina, ele finalmente se acaba. Para a maioria de nós, a morte é alguma coisa mais profunda do que o fim do corpo, e todas as religiões prometem algum tipo de vida depois da morte. Ansiamos por continuidade, queremos estar seguros de que alguma coisa continuará quando o corpo morrer. Esperamos que a psique, o “eu” – o “eu” que experimentou, lutou, adquiriu, aprendeu, sofreu, gozou; o “eu” que no ocidente chamamos de alma, e no oriente de outro nome – continuará. Então estamos mesmo preocupados com a continuidade, não com a morte. Não queremos saber o que a morte é; não queremos conhecer o extraordinário milagre, a beleza, a profundeza, a vastidão da morte. Não queremos investigar esta coisa que não conhecemos. Tudo que queremos é continuar. Nós dizemos, “Eu que vivi por quarenta, sessenta, oitenta anos; eu que tenho uma casa, uma família, filhos e netos; eu que fui ao escritório dia após dia durante muitos anos; eu que tive disputas, apetites sexuais – quero continuar vivendo”. É só nisso que estamos interessados. Sabemos que existe a morte, que o fim do corpo físico é inevitável, e então dizemos, “Tenho que estar certo da continuidade de mim mesmo depois da morte”. Então temos crenças, dogmas, ressurreição, reencarnação – milhares de maneiras de fugir da realidade da morte; e quando temos uma guerra, colocamos cruzes para os pobres companheiros que foram mortos. Este tipo de coisa vem acontecendo durante milênios.
Krishnamurti - Saanen 7th Public Talk 21st July 1963