Olhe uma rosa: ela é bela, mas não existe liberdade alguma de florescer ou não
florescer. Não existe problema, não existe
escolha. A flor não pode dizer, "Eu não quero florescer", ou "Eu me
recuso". Ela nada tem a dizer, nenhuma
liberdade. É por isso que a natureza é tão silenciosa
(...).
Com o surgimento do homem, pela primeira vez aparece a liberdade.
O homem tem a liberdade de ser ou não ser. Por outro lado, surge a angústia, o
medo de que ele possa ou não ser capaz, medo do que vai acontecer. Existe um
tremor profundo. Todo momento é um momento em suspense. Nada é seguro ou certo, nada é previsível
com o homem: tudo é imprevisível.
Nós conversamos a respeito da
liberdade, mas ninguém gosta de liberdade. Nós falamos sobre liberdade, mas
criamos escravidão. Toda liberdade nossa é apenas uma troca de escravidão. Nós
seguimos mudando de uma escravidão para
outra, de um cativeiro para outro.
Ninguém gosta de liberdade porque liberdade cria
medo. Com a liberdade você tem que decidir e escolher. Nós preferimos
pedir a alguém ou a alguma coisa para nos dizer o que fazer – à sociedade, ao
guru, às escrituras, à tradição, aos pais. Alguém deve nos dizer o que fazer:
alguém deve mostrar o caminho, para que possamos seguir – mas nós não
conseguimos nos mover por nós mesmos. A liberdade existe, mas existe o
medo.
É por isso que existem tantas religiões. Não é por causa de Jesus,
de Buda ou de Krishna. É por causa de um
enraizado medo da liberdade. Você não consegue ser simplesmente um
homem. Você tem que ser um hindu, um muçulmano ou um cristão. Apenas por ser um
cristão, você perde a sua liberdade; sendo um hindu, você não é mais um homem –
porque agora você diz, "eu seguirei uma tradição. Eu não vou caminhar no
inexplorado, no desconhecido. Eu seguirei num caminho bem marcado com pegadas.
Eu caminharei atrás de alguém; eu não seguirei sozinho. Eu sou um hindu, assim
eu seguirei com uma multidão; eu não caminharei como um indivíduo. Se eu me
mover como um indivíduo, sozinho, haverá liberdade. Então, a todo momento eu
terei que decidir, eu terei que gerar a mim mesmo, a todo momento estarei
criando a minha alma. E ninguém mais será responsável: somente eu serei o
responsável final."
Nietzche disse ‘Deus está morto e o homem está
totalmente livre.’ Se Deus está realmente morto, então o homem está totalmente
livre. E o homem não tem tanto medo da morte de Deus: ele tem muito mais medo da sua liberdade. Se
existe um Deus, então tudo está bem. Se não existe Deus, então você foi deixado
totalmente livre – condenado a ser livre. Agora faça o que você gosta e sofra as
consequências, e ninguém mais será responsável, só você.
Erich Fromm
escreveu um livro chamado "O Medo da Liberdade". Você se apaixona e começa a
pensar em casamento. O amor é uma liberdade; o casamento é uma escravidão. Mas é
difícil encontrar uma pessoa que se apaixona e não pense imediatamente em
casamento. Existe o medo porque o amor é uma
liberdade. O casamento é uma coisa segura; nele não existe medo. O
casamento é uma instituição – morta; o amor é um evento – vivo. Ele se move; ele
pode mudar. O casamento nunca se move, nunca muda. Por causa disso o casamento
tem uma certeza, uma segurança.
O amor
não tem certeza nem segurança. O amor é inseguro. A qualquer momento
ele pode sumir de vista da mesma forma como apareceu do nada. A qualquer momento
ele pode desaparecer! Ele é muito sobrenatural; ele não tem raízes na terra. Ele
é imprevisível. Por isso, "é melhor casar. Assim, fincamos raízes. Agora esse
casamento não vai evaporar no nada. Ele é uma instituição!"
Em toda
situação – exatamente como no amor –, quando encontramos liberdade, nós a transformamos em escravidão. E quanto
mais cedo melhor! Assim nós podemos relaxar. Por isso, toda história de amor
termina em casamento. "Eles se casaram e viveram felizes para
sempre."
Ninguém está feliz, mas é bom terminar a história ali porque em
seguida vai começar o inferno. Por isso toda história termina no momento mais
bonito. E qual é esse momento? É quando a liberdade se torna escravidão! E isso
não é apenas com o amor: isso é com tudo. Assim o casamento é uma coisa feia; é
provável que venha a ser. Toda instituição tende
a ser uma coisa feia porque ela é apenas um corpo morto de algo que um dia foi
vivo. Mas com uma coisa viva, a incerteza provavelmente estará
presente.
"Vivo" quer dizer que pode mover, pode mudar, pode ser
diferente. Eu amo você; no próximo momento eu posso não amar. Mas se eu sou o
seu marido, ou sua esposa, você pode ter a certeza de que no próximo momento eu
também serei seu marido, ou sua esposa. Isso é uma instituição. Coisas mortas
são muito permanentes; coisas vivas são
momentâneas, mutáveis, estão num fluxo.
O homem tem medo de liberdade, mas a liberdade é a
única coisa que faz de você um homem. Assim, nós somos suicidas – ao
destruir nossa liberdade. E com essa destruição nós estamos destruindo toda
nossa possibilidade de ser. Então você acha que ter é bom porque ter significa
acumular coisas mortas. Você pode continuar acumulando; não existe um fim para
isso. E quanto mais acumula, mais seguro você fica.
Eu digo que agora o
homem tem que caminhar conscientemente. Com isso eu quero dizer que você tem que
estar consciente de sua liberdade e também
consciente de seu medo da liberdade.
Como usar essa
liberdade? A religião nada mais é do que um esforço no sentido da evolução
consciente, em saber como usar essa liberdade. O esforço de sua vontade agora é
significativo. Qualquer coisa que você esteja fazendo não voluntariamente é
apenas parte do passado na escala da evolução. O seu futuro depende de seus atos
com vontade. Um ato muito simples feito com
consciência, com vontade, dá a você um certo crescimento – ainda que
seja um ato comum.
Por exemplo, você resolve jejuar, mas não porque você
não tem comida. Você tem comida; você pode comê-la. Você tem fome; você pode
comer. Você resolve jejuar: isso é um ato voluntário – um ato consciente. Nenhum
animal pode fazer isso. Um animal jejua algumas vezes, quando não existe fome.
Um animal terá que jejuar quando não existir alimento. Mas somente o homem pode
jejuar quando existe ambos: a fome e o alimento. Isso é um ato voluntário. Você usa a sua liberdade. A
fome não consegue incitar você. A fome não consegue empurrar você e o alimento
não consegue puxar você.
Esse jejum é um ato de sua vontade, um ato
consciente. Isso dará a você mais consciência. Você sentirá uma liberdade sutil:
livre do alimento, livre da fome – na verdade, no fundo, livre do seu corpo, e
ainda mais fundo, livre da natureza. A sua
liberdade cresce e a sua consciência cresce.
Na medida que
sua consciência cresce, a sua liberdade cresce. Elas são correlacionadas. Seja mais livre e você será mais consciente; seja mais
consciente e você será mais livre.
Osho, em "The Ultimate Alchemy"