Pergunta:Você diz que a vida que levamos é negação e por isso não pode haver amor. Quer ter a bondade de se explicar?
Krishnamurti: Porque quer a minha explicação? Não está ciente disso? Serão nossas vidas criadoras, muito positivas? Pelo menos, nós pensamos que somos positivos. Mas o resultado é sempre negativo. Somos muito positivos em nossa avidez, nossos rancores, nossa inveja, nossa ambição. Sabemos isso muito bem, não é verdade? — divisão de classes, divisão comunal, divisões naturais, todas as formas de destruição, separação, isolamento. Eis os fatos inegáveis.
Nossa vida, conquanto pareça positiva, é em verdade negativa, porque leva à morte, à destruição, ao sofrimento. Não vão querer admitir isso, porque dizem: "Estamos fazendo tudo quanto há de mais positivo no mundo; não se pode viver em estado de negação." O que estão fazendo, contudo, é uma atividade negativa. Tudo o que fazem é um ato de morte. Que mais pode ser tal atividade, senão negação? Sendo ambicioso, são destrutivo, são um elemento corruptor, um elemento corrosivo, nas suas relações. Cada um de seus atos é um ato negativo.
Como pode a mente, cuja existência inteira, é uma série de negação, conhecer o amor? E vocês vêm me perguntar o que é o amor. Imitação é morte, no entanto, temos modelos que desejamos seguir, temos poder; temos gurus; seguimos o processo de repetição, da imitação, da rotina — e o que é isso? Morte, negação! Não é? Como pode tal entidade compreender alguma coisa? Essa entidade não pode conhecer o amor.
A única coisa positiva que existe é o amor. Mas ele só se manifesta quando não existe o estado de negação, quando não são ambiciosos, quando não são corruptos, quando não são invejosos. Precisam, primeiramente, compreender aquilo que é, e ao compreenderem aquilo que é, surge na existência "o outro estado".
Krishnamurti em, Quando o Pensamento Cessa