Senhores, compreendam que não se pode procurar a Deus. Não se pode procurar a verdade. Porque, quando procuramos, o que achamos não é a verdade. Nossa busca é o desejo de achar o que desejamos. Como podemos procurar uma coisa que desconhecemos? Vocês procuram uma coisa a cujo respeito leram e a que chamam verdade; ou procuram algo a respeito de que possuem um sentimento interior. Precisam, por conseguinte, compreender o motivo da busca de vocês, que é muito mais importante do que a busca da verdade.
Por que procuram, e o que procuram? Não possuem a vontade de procurar, se são felizes, se há alegria em seu coração. Nós procuramos, porque estamos vazios. Nos vemos frustrados, somos infelizes, violentos, cheios de antagonismo; é por isso que cremos, e desejamos, por isso, fugir desse estado, procurando algo maior. Observem a si mesmos e verifiquem o que estou lhes dizendo — não se limitem, apenas, a escuta das minhas palavras. A fim de escapar de seus atuais conflitos psicológicos, seus sofrimentos, antagonismos, vocês dizem "Estou procurando a verdade". Não encontrarão a verdade, porque a verdade não vem quando estão fugindo da realidade, daquilo que é. Precisamos compreendê-lo. Para compreendê-lo não devem sair em busca de solução fora dele. Não podem, pois, procurar a verdade. Ela tem de vir até vocês. Não podem invocar a Deus, e não podem ir a Ele. A adoração e devoção de vocês é completamente sem valor, porque desejam alguma coisa, vocês estendem a mão para receber uma esmola. Estão, portanto, à procura de quem preencha o vazio de vocês. E vocês sentem mais interesse pela palavra do que pela coisa. Mas se vocês se contentam com aquele extraordinário estado de solidão, sem desvios nem distrações, só então surge na existência aquilo que é eterno. A maior parte de nós estamos de tal maneira condicionados, de tal maneira fomos educados, que desejamos fugir; e a coisa para a qual fugimos chamamos Beleza. Buscamos a beleza por intermédio de uma coisa qualquer — da dança, dos ritos, da oração, da disciplina, de várias espécies de fórmulas, da pintura, da sensação. Não é exato? Assim, enquanto estivermos à procura da beleza por meio de alguma coisa, nunca conheceremos a beleza, porque a coisa por cujo intermédio a procuramos, se torna sumamente importante. Não a beleza, mas sim o objeto por meio do qual a procuramos, assume toda a importância, e ficamos apegados a ele. Não se acha a beleza por meio de coisa alguma; isso seria apenas uma sensação, que costuma ser explorada pelos astutos. A beleza vem com a regeneração interior, com a completa e radical transformação da mente, o que requer excepcional estado de sensibilidade.
A feiura só é um mal quando não temos sensibilidade. Se são sensíveis ao belo, rejeitando o feio, não são sensíveis ao belo. O que mais importa não é o feio, nem o belo, mas sim que haja sensibilidade para ver, para reagir tanto ao que chamamos o feio como o belo.
Mas se só tomam conhecimento do belo e repelem o feio, é a mesma coisa que amputar um braço; toda a existência de vocês fica desequilibrada. Vocês não fecham a porta ao mal, negando-o, chamando-o feio, combatendo-o, se opondo violentamente a ele? Se se interessam pelo belo. Só a ele desejam. Nesse processo perde-se a sensibilidade.
O homem que é sensível tanto para o feio como para o belo, passa além, coloca-se longe das coisas por meio das quais busca a verdade. Mas não somos sensíveis nem para o belo nem para o feio; vivemos fechados com nossos pensamentos, nossos preconceitos, nossas ambições, nossa ganância e inveja. Como pode ser sensível a mente que é ambiciosa, espiritualmente, ou noutro sentido? Só pode haver sensibilidade quando se compreende todo o processo do desejo; porque o processo é um desejo egocêntrico, e no egocentrismo não é possível descortinar o horizonte. A mente é então sacrificada pelo seu próprio vir a ser. A mente só é capaz de apreciar a beleza, através de alguma coisa. Essa mente não é bela. Essa mente não é boa, é uma mente feia, uma mente que está fechada e que busca proteção para si. Nunca essa mente descobrirá a verdade. Só quando a mente deixa de fechar-se com os seus ideais, seus interesses e ambições, só então é bela.
Krishnamurti em, Quando o pensamento cessa