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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Por que o pensamento criou o "eu"?

Pergunta: Qual a razão para se construir a estrutura chamada o "eu"? Por que o pensamento fez isso?

Krishnamurti: eis uma questão de extraordinária importância, porque se trata da nossa vida. Precisamos levar isso muito a sério. Por que o pensamento criou o "eu"? Você percebe o fato de que o pensamento construiu o "eu" ou você acha que o "eu" é algo Divino, algo que já existia antes de o tempo existir? É preciso investigar isso também.

Por que o pensamento criou o "eu"? Por quê? Eu não sei, vou descobrir.

Por que você acha que o pensamento criou o "eu"?

Há duas coisas a serem consideradas. A primeira é que o pensamento requer estabilidade, porque o cérebro só pode ficar satisfeito onde há segurança. Ou seja, onde há segurança o cérebro opera maravilhosamente, seja de forma neurótica ou racional. Então, uma das razões é que o pensamento, sendo inseguro, fragmentado, quebrado por natureza, criou o "eu" como algo permanente, o "eu" que se tornou independente do pensamento; e, dessa forma, o pensamento o reconhece como algo permanente. E a permanência é identificada através do apego: minha casa, meu caráter, meu desejo, minha vontade - tudo isso confere um senso de completa segurança e continuidade ao "eu". Não é assim? Esta é uma das razões. E há também a ideia de que o "eu" é algo anterior ao pensamento - será mesmo? Quem pode afirmar que existia antes do pensamento? Se você fizer essa afirmação - como muitos fazem - sua afirmação estará baseada em que raciocínio, em quais fundamentos? Será essa afirmação baseada na tradição e na crença? Ou talvez ela se baseie no desejo de não reconhecer que o "eu" é produto do pensamento, mas algo maravilhoso e Divino, o que, mais uma vez, é uma projeção da ideia de que o "eu" é permanente.

Tendo observado tudo isso, deixa-se de lado a ideia de que o "eu" é eterno e Divino, eternamente atemporal, etc. - isto também é absurdo.

Percebe-se com muita clareza que o pensamento construiu o "eu" - e o "eu" tornou-se independente, adquiriu conhecimento; o "eu" é o observador, o "eu" é o passado. O "eu", que é o passado, flui ao longo do presente e se modifica como o futuro; ele é ainda o "eu" que é fruto do pensamento, e este "eu" tornou-se independente do pensamento. Certo? Podemos prosseguir a partir daqui? Por favor, não aceitem a descrição, as palavras, mas vejam a verdade disso. Assim como vocês vêem o microfone como um fato, vejam também isso. O "eu" tem nome, tem forma. O "eu" tem rótulo, chama-se K ou João, e tem forma, identifica-se com o corpo, com o rosto, e com tudo o mais. Existe, então, a identificação do "eu" com o nome e a forma, que é a estrutura, e com o ideal que ele quer perseguir, ou com o desejo de transformar o "eu" em outra forma de "eu", com outro nome. Então, esse é o "eu". O "eu" é produto do tempo e, portanto, do pensamento. O "eu" é a palavra. Remova-se a palavra, e o que sobra? O que é o "eu"?

Esse "eu", portanto, sofre. O "eu", assim como o "você", sofre. Então o "eu", ao sofrer, é "você". O "eu", na sua grande ansiedade, é a grande ansiedade do "você" - portanto, eu e você somos iguais. Eis a essência básica. Embora você seja maior, ou menor, mais esperto, tenha temperamento diferente, caráter diferente - tudo isso é o movimento periférico da cultura, mas bem lá no fundo, basicamente somos o mesmo.

Então o "eu" é levado pela correnteza da cobiça, do egoísmo, pela correnteza do medo, da ansiedade, etc., que é o mesmo que você estar na correnteza. Ou seja: você é egoísta e um potro é egoísta; você sente medo e um outro sente medo. Resumindo: você está ferido, sofrendo, com lágrimas, cobiça, inveja - este é o destino comum de todos os seres humanos. Este é o curso normal de nossas existências no presente. Vivemos - todos nós - presos a esse fluxo. Vamos apresentar isso de outra forma: nós vivemos nessa correnteza, nesse fluxo de egoísmo. Essa palavra engloba todas as descrições do "eu" dadas até agora. E quando morremos, o organismo morre, mas o fluxo de egoísmo prossegue.

Pensem nisso, Suponhamos que eu tenha vivido uma vida bastante egoísta, numa atividade que gira ao redor de mim mesmo: meus desejos, a importância dos meus desejos, as ambições, a cobiça, a inveja, o acúmulo de propriedades, o acúmulo de conhecimento, o acúmulo de uma grande variedade de objetos - a tudo isso eu dei o nome de egoísmo. E eu vivo dessa maneira, isto é, o "eu" e "você" também. Em nossos relacionamentos dá-se o mesmo. Assim, enquanto vivermos, continuaremos a seguir juntos o fluxo do egoísmo. Isso é um fato; não se trata de minha opinião ou de um conceito meu. Se observar com atenção, você verá. Você encontra o mesmo fenômeno na América, na Índia, por toda a Europa, modificado pelas pressões ambientais, etc. - mas esse, basicamente, é o movimento. E quando o corpo morre, o movimento prossegue.

Portanto, a enorme correnteza de egoísmo, se posso usar esta palavra para englobar tudo o que implica, é o movimento do tempo; e quando o corpo morre, isso prossegue. Continuamos na correnteza, dia após dia, até a morte e, quando morremos, o fluxo prossegue. Esse fluxo é o tempo. Esse movimento do pensamento criou o sofrimento, criou o "eu", e a partir dele o "eu" se afirmou, agora como ser independente e separando-se de "você", mas este "eu" é assim como "você" quando sofre. Então o "eu" é a palavra, o "eu" é a estrutura imaginada do pensamento. Por si mesmo ele não tem nenhuma realidade. Ele é aquilo que o pensamento fez dele; devido ao fato de que o pensamento precisa de segurança e de certeza, ele investiu no "eu" toda a sua certeza. E nisso há sofrimento. Enquanto vivermos, seremos carregados nesse movimento, nesse fluxo de egoísmo. E quando morremos, o fluxo continua a existir.

E será que é possível fazer cessar esse fluxo? Eu morro fisicamente, isso é evidente. Minha mulher pode chorar por causa disso, mas o fato é que eu morro, o corpo morre. E o movimento do tempo, do qual todos fazemos parte, prossegue. É por isso que o mundo é eu e eu sou o mundo. Poderá esse fluxo ser interrompido? E essa interrupção será a manifestação de algo diferente, de algo diferente da correnteza? Em outras palavras, pode o egoísmo, com todos as suas sutilezas, ser totalmente eliminado? E essa eliminação é a eliminação do tempo e, portanto, há uma manifestação inteiramente diferente - que é a ausência absoluta de egoísmo.

Krishnamurti, Saanen, 24 de Julho de 1975.
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill