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quinta-feira, 5 de abril de 2018

No estar só, psicologicamente, a liberdade

No estar só, psicologicamente, a liberdade

PERGUNTA: Estudei muitos sistemas de filosofia e as doutrinas dos grandes guias religiosos. Tendes algo melhor para oferecer, do que a que já sabemos?

Krishnamurti: Pergunto-me a mim mesmo porque é que estudais, porque ledes filosofia, porque ledes os ditos dos guias religiosos. Pensais que o saber que tendes adquirido dos instrutores e dos livros vos levará a alguma parte? Ele poderá ser útil, numa discussão, para "deitardes erudição", mostrardes quanto sois perspicaz. Mas o saber acumulado — afora no mundo científico — pode conduzir um homem, a vós ou a mim, ao descobrimento do que é real, do que é verdadeiro, Deus, o Eterno, descobrimento sem o qual a nossa vida muito pouco significa? Sem dúvida, para se achar o Eterno, temos de largar todo o nosso saber, não é verdade? Tudo o que disse Buda, Cristo, ou outro qualquer — tudo isso não tem de ser posto de lado? Senão estareis meramente perseguindo vossas próprias "projeções" ou a "projeção" da vossa igreja; estareis, na verdade, reagindo ao vosso próprio condicionamento.

Ora, vós tendes de deixar de ser cristãos, hinduístas, budistas ou praticantes da ioga, deveis deixar tudo isso completamente para que "o que está além" (caso exista) possa manifestar-se. Se dizemos, simplesmente, que além existe algo, e aceitamos este algo, e esperamos alcançá-lo, com isso nos mostramos muito superficiais. Mas podemos empreender uma jornada sem nada sabermos, sem apoio nenhum, sem sermos cristãos, budistas, hinduístas, que são simples rótulos e denotam uma mente condicionada? O pormos de parte tudo o que sabemos, eis o único problema, e pouco importa que eu tenha "algo melhor para oferecer". Porque, sem dúvida, um homem deve estar só — não isolado, não "sozinho" — no saber, na experiência, porque todo saber e toda experiência são obstáculos ao descobrimento do real. A mente deve estar livre de todo condicionamento, tem de estar só, para descobrir. Quanto mais uma pessoa observa certa prática, quanto mais acumula, quanto mais disciplina, molda, torce, luta, tanto menos compreenderá o que é. Não estou falando de nenhuma filosofia indiana de negação, de "nada fazer", quando tendes a mentalidade ocidental de "fazer algo"; não é disso que estou falando. Estamos tratando de coisa completamente diferente. A mente deve tornar-se pura, nova.

Não pode ser nova e pura se há acumulação de saber ou a mera repetição das palavras de um instrutor, ou o resultado final de certa prática. Não pode a mente tornar-se apercebida de seu próprio condicionamento? Não só do condicionamento superficial, mas de todos os símbolos, ideologias, filosofias, imagens, todas as coisas, enfim, que jazem nas profundezas da mente e a estão condicionando. Tornar-se apercebido dessas coisas e delas libertar-se, eis o que é "liberdade religiosa". Esta liberdade é que opera a revolução - a única revolução que pode transformar o mundo.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Londres
17 de junho de 1955

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O "eu" nunca pode preencher-se

Pergunta: Como pode um homem preencher-se, se não tem ideais?

Krishnamurti: Existirá o preenchimento, — embora a maioria de nós esteja em busca do preenchimento? Queremos nos preencher, por meio da família, de nosso filho, nosso irmão, nossa esposa, por meio da propriedade, da identificação com uma nação ou um grupo, ou pelo cultivo de um ideal, ou pelo desejo e continuidade do "eu". Há formas variadas e diferentes de preenchimento, em diversos níveis da consciência. 

Mas existe de fato o preenchimento? Que é que se preenche? Que entidade é essa que busca existir dentro ou por meio de uma certa identificação? Quando é que vocês pensam em preenchimento? Quando é que procuram o preenchimento? 

Como já disse, não estou fazendo uma conferência no nível verbal. Se assim a consideram, será melhor que se retirem, porque perdem o tempo. Se, porém, desejam penetrar profundamente, então fiquem vigilantes e sigam-me; porque necessitamos de inteligência, e não de uma repetição morta, — repetição de frases, de palavras, de exemplos, dos quais já estamos fartos. 

O que necessitamos é de criação, criação inteligente, "integrada"; o que vale dizer, devem investigar, para descobrir o processo da mente pela própria compreensão de vocês. 

Assim, ao escutarem o que digo, o relacionem diretamente com vocês mesmos, "experimentem" o que estou falando. Não podem experimentá-lo através das minhas palavras. Só o experimentarão se tiverem verdadeiro empenho, se observarem o próprio pensar e o próprio sentir de vocês. 

Quando há de ser preenchido o desejo? Quando possuem consciência desse impulso a ser, a vir-a-ser, a se preencher? Por favor, se observem. Quando possuem consciência dele? Não estão conscientes dele quando ele é contrariado? Não estão conscientes dele quando sentem uma solidão extraordinária, quando possuem um sentimento de nulidade absoluta, o sentimento de não serem alguma coisa? Vocês só possuem percepção desse impulso para o preenchimento, quando sentem um vazio, uma solidão. E, então, procuram o preenchimento por inúmeras maneiras, por meio da seita, pela relação com a propriedade de vocês, as árvores, com todas as coisas, em diferentes níveis de consciência. O desejo de ser, de se identificar, de se preencher, só existe quando há consciência de que o "eu" está vazio, solitário. O desejo de preenchimento é uma fuga daquilo que chamamos solidão. Nosso problema, pois, não é como nos preenchermos, ou o que é o preenchimento; porque tal coisa — o preenchimento — não existe. O "eu" nunca pode preencher-se; ele é sempre vazio; vocês podem ter umas poucas sensações ao alcançarem um resultado; mas assim que se desvanecem as sensações, vocês se encontram de novo naquele estado de vazio. Por isso, começam a seguir o mesmo processo de antes. 

O "eu", pois, é o criador daquele vazio. O "eu" é o vazio; o "eu" é um processo egocêntrico, no qual estamos conscientes daquela extraordinária solidão. Assim, estando conscientes dela, tentamos a fuga, por meio de várias formas de identificação. A essas identificações chamamos preenchimento. Na realidade não existe preenchimento, porque a mente, o "eu", nunca pode preencher-se; pela própria natureza, o "eu" é egocêntrico. 

Nessas condições, que deve fazer a mente que está consciente daquele vazio? Nosso problema é esse, não é verdade? Para a maioria de nós, essa dor do vazio é extremamente forte. Fazemos qualquer coisa, para fugir a ela. Qualquer ilusão serve, e essa é a fonte da ilusão. A mente tem o poder de criar ilusões. E enquanto não compreendermos aquele vazio, aquele estado de vazio, que é egocêntrico, podemos fazer o que quisermos, podemos buscar qualquer espécie de preenchimento, mas haverá sempre aquela barreira que separa, que não conhece a plenitude. 

Nossa dificuldade, por conseguinte, consiste em estarmos conscientes desse vazio, desse isolamento. Nunca nos vemos frente a frente com ele. Não sabemos como ele é, quais são as suas qualidades; porque vivemos continuamente fugindo dele, nos retraindo, nos isolando, nos identificando. Nunca estamos na presença dele, diretamente, em comunhão com ele. Por isso, somos "observador" e a "coisa observada". Isto é, a mente, o "eu", observa o vazio; e, então, o "eu", o pensante, trata de livrar-se desse vazio, ou de fugir.

Esse vazio, esse isolamento, será diferente do observador? Ou será que o próprio observador é que está vazio, e não que está observando o vazio? Porque, se o observador não for capaz de reconhecer esse estado a que ele chama "vazio", não haverá experiência alguma. Ele está vazio; está vazio, não pode atuar sobre isso, nada pode fazer a respeito. Porque, se fizer alguma coisa, torna-se ele o observador a atuar sobre a coisa observada, o que é uma relação falsa. 

Assim, quando a mente reconhece, percebe, está consciente de que está vazia, e que não pode atuar sobre esse estado, então, esse vazio, do qual estamos conscientes, do exterior, tem um sentido diferente. Até agora, tínhamos nos ocupado com ele como "observador". Agora é o "observador" que é vazio, que está só, solitário. Pode ele fazer alguma coisa a respeito? Não pode, evidentemente. Sua relação com esse estado é, então, inteiramente diferente da relação de observador. Ele está só, acha-se naquele estado em que não há a verbalização "estou vazio". No momento em que o verbaliza, em que o exterioriza, é diferente dele. Assim, quando cessa a verbalização, quando cessa o "experimentador" que "experimenta" o vazio, quando deixa de fugir, vê-se ele, inteiramente solitário, sua relação, em si mesma, é isolamento; ele próprio é o isolamento; e ao perceber isso plenamente, com toda a certeza, deixa de existir o vazio, a solidão. 

Mas a solidão é coisa de todo diversa de "estar só". Essa solidão tem de ser transposta, para então "estarmos sós". A solidão não é comparável com o "estar só". O homem que conhece a solidão, nunca conhecerá o "estar só". Estão sós? Nossas mentes não estão integradas para estarmos sós. O próprio processo da mente é separativo. E quem separa, conhece a solidão. 

Mas o "estar só" não é separativo. É algo que não é a multiplicidade, que não é influenciado pela multiplicidade, pela multidão, que não é resultado da multidão, que não é composto de partes, como a mente. A mente é produto da multidão. A mente não é uma entidade que está só, porque foi montada, peça por peça, fabricada, através de séculos. A mente nunca pode estar só, nunca pode conhecer o "estar só". Mas, uma vez consciente do isolamento, ao passar por esse estado, vem ela a conhecer o "estar só". Então, e só então, pode existir aquilo que é imensurável. A maioria de nós, infelizmente, buscamos a dependência. Queremos companheiros, queremos amigos, queremos viver num estado de separação, num estado que produz conflito. O que está só nunca pode se achar em estado de conflito. A mente, porém, não pode perceber isso, não pode compreender isso; só pode conhecer a solidão.

Krishnamurti em, Quando o pensamento cessa

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Todo desejo de pertencer é ilusório

Amado Bhagawan, às vezes vem um sentimento de não pertencer a lugar nenhum, que mesmo as roupas laranja e o mala não servem de consolos. Nós somos realmente tão sós, eu estou sendo negativa e fechada quando sinto isso?
Primeiro: você não pertence a lugar algum; isso é verdade. Todo desejo de pertencer é ilusório. A própria ideia de pertencer cria organizações, cria igrejas, pois você não pode ficar sozinho; então quer mergulhar em algum lugar, numa multidão.

Um sannyasin é aquele que aceitou a própria solidão. Isso é fundamental. Tornando-se um sannyasin, você não está se tornando parte de uma organização; isto aqui não é absolutamente uma organização. Tornando-se um sannyasin, você está se tornando suficientemente corajoso para aceitar um fato: que o homem existe na solidão. E isso é tão fundamental que não há jeito de escapar; é fundamental como a morte. Na verdade, a morte não faz mais do que avisá-lo de que você sempre esteve sozinho e que continua sozinho.

O que é a morte? Durante toda a sua vida você esteve se enganando dizendo para si mesmo que estava com alguém, que pertencia a uma família, a um clã, a uma sociedade, a uma cultura, ao Oriente, ao Ocidente, a uma organização, a um partido... a multidões e multidões. Você se sentia muito bem: "Não estou sozinho".

Então vem a morte e deixa você chocado.Você quer se apegar, começa a chorar, sente-se desamparado. Um sannyasin não se sentirá desamparado quando a morte vier, e, sim, perfeitamente feliz, pois a morte não o deixará chocado. O sannyasin sabe que está sozinho. A morte não pode lhe tirar nada; ela só tira as ilusões que você colocou em sua vida.

Tornar-se um sannyasin significa que você anulou a morte, e pode lhe dizer: "Agora pode vir, que não encontrará nada para destruir, pois eu mesmo destruí tudo." O sannyas é uma morte voluntária, é um suicídio espiritual. É uma declaração: "Estou só, e minha solidão é tão fundamental que não há jeito de perdê-la."

Por momentos você pode esquecer, pode apaixonar-se por uma mulher ou por um homem, e criar a ideia, a ilusão de que está junto. Mas ambos estão sós. Quando duas pessoas se apaixonam, casam-se e começam a viver juntas, são duas solidões vivendo juntas: só isso. Elas não estão juntas; ninguém pode estar junto. Isso não pode acontecer, e é bom que não possa acontecer, senão você perderia a sua alma e não teria mais centro.

Duas pessoas que se amam tocam o ser uma da outra, mas seus seres continuam límpidos e separados. Seus limites podem se sobrepor mas seus centros permanecem distantes. Elas não perdem suas almas; do contrário, o amor não seria belo. Dois amantes não estão juntos no sentido de estarem perdidos um no outro, mas no sentido de que duas solidões estão juntas; de mãos dadas, eles sabem perfeitamente que estão sozinhos, compartilhando a sua solidão, a sua beleza, o seu silêncio, o seu amor, mas sabendo que estão sozinhos. Esse fato é tão fundamental que não pode ser mudado.

As pessoas tentam evitar isso. Da mesma forma que tentam evitar a morte, tentam evitar a solidão.

O S H O em, A Divina Melodia

domingo, 26 de outubro de 2014

A solidão de visão mareja os olhos do coração

A solidão é outro componente intrínseco da emergência espiritual. Pode variar desde uma vaga percepção de separação das outras pessoas e do mundo até um mergulho profundo e abrangente na alienação existencial. Alguns sentimentos de alienação interior têm relação com o fato de que as pessoas em emergência espiritual têm de encarar os estados incomuns de consciência que nunca ouviram ninguém descrever e que são diferentes das experiências diárias de seus amigos e de sua família. Porém, a solidão existencial parece ter muito pouco a ver com as influências pessoais ou exteriores. 

Muitas pessoas em processo de transformação se sentem isoladas pela natureza das experiências que estão tendo. Como o mundo interior se torna mais ativo, pode-se experimentar a necessidade de afastar-se temporariamente das atividades diárias e preocupar-se com pensamentos profundos, com sentimentos e processos internos. O relacionamento com os outros pode ir perdendo a importância e a pessoa chega a se sentir desligada do que realmente é. Quando isso está acontecendo, a pessoa pode ter uma grande sensação de separação de si mesma, dos outros e do mundo que a cerca. Para as pessoas nesse estado, até o calor humano e a segurança familiar são inacessíveis. 

Um jovem professor fala sobre a solidão que viveu durante a emergência espiritual: "Eu costumava me deitar na cama, ao lado de minha esposa, à noite, e me sentia completa e inegavelmente sozinho. Ela foi uma grande ajuda e um grande conforto para mim durante a minha crise. Mas, durante esse período, nada que ela fizesse poderia me ajudar — nenhum carinho, nenhum grau de encorajamento". 

Sempre ouvimos pessoas em emergência espiritual dizerem: "Ninguém nunca passou por isso antes. Sou o único que já se sentiu desse jeito!" Essas pessoas não só sentem que o processo é único para elas, mas também estão convencidas de que ninguém na história jamais passou pelo que estão passando. Talvez porque se sintam tão especiais, acreditem também que determinado terapeuta ou professor confiável seja o único que possa conseguir compartilhar de seus sentimentos e ajudá-las. Suas fortes emoções e percepções estranhas as estão levando para tão longe de suas vivências anteriores que facilmente assumem o fato de serem anormais. Sentem que há algo de muito errado com elas e que ninguém seria capaz de compreendê-las. Se têm terapeutas que também sofrem de mistificação, suas sensações de total isolamento aumentam. 

Mesmo que as pessoas nesse estado estejam conscientes da variedade de planos teóricos e sistemas espirituais que descrevem estados semelhantes, encontrarão diferença entre estudá-los e estar no meio deles. 

(...) Durante a crise existencial, a pessoa se sente separada do seu eu mais profundo, do mais alto poder ou de Deus — o que quer que seja de que ele dependa além de recursos pessoais para ter força se inspiração. O resultado é o mais devastador tipo de solidão, uma total e completa alienação existencial que penetra todo o ser.

(...) Essa profunda sensação de isolamento parece ser acessível a muitos seres humanos, independentemente de sua história e é, quase sempre, um ingrediente fundamental na transformação espiritual. Irina Tweedy, uma mulher russa que estudou com um mestre sufi na Índia, escreveu: 
A grande separação está aqui... uma sensação especial e estranha de solidão absoluta... não pode ser comparada a nenhum sentimento de solidão pelo qual todos tenhamos passado alguma vez na vida. Tudo parece escuro e inanimado. Não há nenhum propósito em lugar algum ou em coisa alguma. Nenhum Deus para quem rezar, nenhuma esperança. Nada, de modo algum.

Essa sensação de extremo isolamento é refletida na desolada prece de Jesus na cruz: "Meu Deus, meu Deus. Por que me abandonaste?" As pessoas que estão assim perdidas frequentemente citam o exemplo do momento mais sombrio de não encontrar nenhuma ligação com o Divino; ao contrário, têm uma sensação permanente e angustiosa de que foram abandonadas por Deus. Mesmo quando a pessoa é cercada de amor e apoio, pode imbuir-se de uma solidão profunda e dolorosa. Quando desce ao abismo da alienação existencial, nenhum calor humano pode mudar isso. 

As pessoas às voltas com uma crise existencial não se sentem apenas isoladas, mas também insignificantes, como pontinhos inúteis na vastidão do cosmos. O universo parece ser absurdo e sem sentido, e nenhuma atividade humana aparenta ter importância. Essas pessoas podem ver a humanidade como que sendo envolvida por estilo de vida em que "um quer engolir o outro", sem um objetivo que valha a pena. Por esse ângulo, não podem entender nenhum tipo de ordem cósmica e não têm contato com a força espiritual. Chegam a tornar-se extremamente depressivas, desesperadas e até suicidas. Frequentemente, percebem que mesmo o suicídio não é a solução; parece que não há nenhuma saída para seu sofrimento.

Christina Grof — A Tempestuosa Busca do Ser

sábado, 30 de agosto de 2014

Somos entes humanos solitários

Interrogante: Há em mim alguma coisa que tem medo de fazer, de seguir, de pensar ou de ver claramente o que você está dizendo. 

Krishnamurti: Aí está! Acho que é bem claro o que digo, não? É algo de positivamente revolucionário. Fazê-lo é extremamente perigoso, porquanto você terá, talvez, de alterar toda a estrutura de sua vida. Intelectualmente, você diz: "Sim, compreendo perfeitamente o que você está dizendo". Inconscientemente, porém, você percebe o perigo que encerra; e, assim sendo, você fica nervoso, apreensivo, assustado, porque deseja viver com muita segurança, conforto, facilidade, bem fechado e protegido em seu isolamento. O que estou dizendo poderá destruir tudo isso. Destruirá! Você deixará de ser cristão, inglês, indiano, etc. Não pertencerá a nenhum grupo ou seita. Estará completamente — "só", não no sentido de "estar isolado". 

O que está só é sempre belo. Uma árvore solitária, no meio de um campo, oferece-nos um belíssimo espetáculo. Temos medo de estar sós, e antes de estar sós tememos o isolamento. Somos entes humanos solitários. Todas as nossas atividades conduzem à solidão, que é isolamento. Embora sejamos casados, tenhamos filhos, empregos, sejamos membros de determinados grupos e seitas, em nosso íntimo profundo existe aquele isolamento, aquele medo da solidão, da privação de relações. Apelamos para diversões de todo gênero, inclusive a missa, a igreja, o culto — qualquer coisa que nos livre da solidão. Não poderemos compreendê-la se não compreendermos as atividades egocêntricas de nossas vidas, causadoras desse isolamento; mas, após tê-las compreendido, penetrado, ultrapassado, alcançaremos aquele estado em que estaremos completamente sós, incontaminados pela sociedade. Se não estamos sós, não temos possibilidade de ir mais longe.

Krishnamurti em, Encontro com o Eterno

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Até quando você vai fugir de si mesmo?

Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos.A solitude é nossa verdadeira natureza, mas não estamos cientes dela. Por não estarmos cientes, permanecemos estranhos a nós mesmos e, em vez de vermos nossa solitude como uma imensa beleza e bem-aventurança, silêncio, paz e um estar à vontade com a existência, a interpretamos erroneamente como solidão.

A solidão é uma solitude mal-interpretada. E, quando se interpreta a solitude como solidão, todo o contexto muda. A solitude tem uma beleza e uma imponência, uma positividade; a solidão é pobre, negativa, escura, melancólica.

A solidão é uma lacuna. Algo está faltando, algo é necessário para preenchê-la e nada jamais pode preenchê-la, porque, em primeiro lugar, ela é um mal-entendido. À medida em que você envelhece, a lacuna também fica maior. As pessoas têm tanto medo de ficar consigo mesmas que fazem qualquer tipo de estupidez. Vi pessoas jogando baralho sozinhas, sem parceiros. Inventam jogos de carta em que a pessoa faz o papel dos dois adversários. 

Aqueles que conhecem a solitude dizem algo completamente diferente. Eles dizem que não existe nada mais belo, mais sereno, mais agradável do que estar só.

A pessoa comum insiste em tentar esquecer sua solidão e o meditador começa a ficar mais e mais familiarizado com a solitude. Ele deixou o mundo, foi para as cavernas, para as montanhas, para a floresta, apenas para ficar só. Ele quer saber quem ele é. Na multidão fica difícil; existem tantas perturbações... E aqueles que conhecem suas solitudes conhecem a maior das bem-aventuranças possíveis aos seres humanos, porque seu verdadeiro ser é bem-aventurado. 

Depois de entrar em sintonia com sua solitude, você pode se relacionar, o que lhe trará grandes alegrias, porque a relação não acontecerá a partir do medo. Ao encontrar sua solitude, você poderá criar, poderá se envolver com tantas coisas quanto quiser, porque esse envolvimento não será mais fugir de si mesmo. Agora ele será a sua expressão, será a manifestação de tudo o que é seu potencial. 

Mas o básico é conhecer inteiramente sua solitude. 

Assim, lembro a você, não confunda solitude com solidão. A solidão certamente é doentia; a solitude é saúde perfeita. Seu primeiro e mais fundamental passo em direção à descoberta do significado e do sentido da vida é mergulhar em sua solitude. Ela é seu templo, é onde vive seu deus, e você não pode encontrar esse templo em nenhum outro lugar. 

O S H O 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem é você longe da multidão?

O primeiro ponto a perceber é que, querendo ou não, você está sozinho. A solitude é sua verdadeira natureza. Você pode tentar esquecê-la, tentar não ficar sozinho fazendo amigos, tendo amantes, misturando-se à multidão... Mas tudo o que você fizer fica apenas na superfície. No fundo de você, sua solitude é inatingível, intocável.

Um curioso fato acontece com todo ser humano: quando ele nasce, a própria situação de seu nascimento começa numa família. E não existe outra maneira, porque o recém-nascido humano é o recém-nascido mais frágil em toda a existência. Outros animais nascem completos. O cachorro vai continuar sendo um cachorro durante toda a vida; ele não vai evoluir, não vai se desenvolver. Sim, ele ficará mais velho, mas não ficará mais inteligente, mais consciente, não se tornará iluminado. Nesse sentido, todos os animais permanecem exatamente no ponto em que nasceram; nada de especial muda neles. A morte e o nascimento deles são horizontais — numa só linha.

Somente o ser humano tem a possibilidade de seguir na vertical, para cima, e não apenas na horizontal. Mas a maioria das pessoas se comporta como os outros animais: a vida é apenas um envelhecer, e não um amadurecer. Amadurecer e envelhecer são experiências totalmente diferentes.

O ser humano nasce numa família, entre seres humanos. Desde o primeiro momento, ele não está sozinho; portanto, ele adquire um certo padrão psicológico de sempre permanecer com pessoas. Em solitude, ele começa a ficar com medo... medos desconhecidos. Ele não está exatamente consciente do que está com medo, mas, quando ele se afasta da multidão, algo dentro dele fica pouco à vontade. Quando está com os outros, ele se sente aconchegado, à vontade, confortável.

Por essa razão, ele nunca vem a conhecer a beleza da solitude; o medo o impede. Por ter nascido num grupo, ele continua fazendo parte de um grupo. E, à medida que envelhece, começa a formar novos grupos, novas associações, novos amigos. As coletividades já existentes não o satisfazem — a nação, a religião, o partido político — e ele cria suas próprias novas associações, Rotary Club, Lions Club... Mas todas essas estratégias estão a serviço de um só objetivo: nunca ficar sozinho.

Toda a experiência de vida é a de conviver com outras pessoas. A solitude parece uma morte. De certa maneira, ela é uma morte, a morte da personalidade que você criou na multidão. Esse é um presente das outras pessoas para você. No momento em que você se afasta da multidão, também se afasta da sua personalidade.

Na multidão, você sabe exatamente quem você é; sabe seu nome, sua posição social, sua profissão, sabe tudo o que é necessário para seu passaporte, para sua carteira de identidade. Mas, no momento em que você se afasta da multidão, qual é a sua identidade? Quem é você? De repente, você fica consciente de que você não é seu nome — seu nome foi dado a você. Você não é sua raça — que relação tem a raça com a sua consciência? Seu coração não é hindu ou muçulmano, seu ser não está confinado à fronteira política de uma nação, sua consciência não é parte de alguma organização ou igreja. Quem é você?

De repente, sua personalidade começa a se dispersar. Este é o medo: a morte da personalidade. Agora você precisará começar a descobrir, precisará, pela primeira vez, perguntar quem você é. Você precisará começar a meditar sobre a questão, quem sou eu? — e existe o temor de que você possa não ser absolutamente nada! Talvez você não seja nada, mas uma combinação de todas as opiniões da multidão; nada, exceto sua personalidade.

Ninguém quer ser nada, ninguém quer ser ninguém e, na verdade, todo mundo é um ninguém.

[...] Assim, o primeiro problema do buscador é entender exatamente a natureza da solitude. Ela significa ser ninguém, significa abandonar sua personalidade, que é um presente a você da multidão. Quando você se afasta, quando sai da multidão, não pode levar esse presente com você em sua solitude. Em sua solitude, precisará descobrir de novo, descobrir outra vez, e ninguém pode garantir que você encontrará alguém ali dentro ou não. 

Aqueles que atingiram a solitude não encontraram ninguém lá. Realmente quero dizer ninguém — sem nome, sem forma, mas uma pura presença, uma pura vida, inominável, amorfa. Essa é exatamente a verdadeira ressurreição e ela certamente precisa de coragem. Somente pessoas muito corajosas foram capazes de aceitar com alegria o seu ser ninguém, o seu ser nada. O ser nada delas é o puro ser delas; é uma morte e uma ressurreição, as duas coisas. 

O S H O

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill