Krishnamurti: Escutem, primeiramente, a pergunta; é muito importante compreender uma pergunta, e não, simplesmente, esperar uma resposta. A pergunta é: se todos os indivíduos se achassem em revolta, o mundo não seria levado a um estado de caos? Ora, se acha em tão perfeita ordem a presente sociedade, que se todos se revoltassem, sobreviria o caos? Não há caos agora? Tudo é belo e incorrupto? Todos estão vivendo felizes, com plenitude e riqueza? O homem não está contra o homem? Não vê ambição e encarniçada competição? Por conseguinte, o mundo já se acha no caos, e esta é a primeira coisa que cumpre perceber. Não suponham que esta é uma sociedade em que há ordem; não se mesmerizem com palavras. Seja aqui na Europa, seja na América, seja na Rússia, o mundo se acha num processo de decomposição. Se vocês percebem a decomposição, vocês têm um desafio: estão sendo desafiado a descobrir uma maneira de resolver este urgente problema. E a maneira como "respondem" ao desafio é importante, não acham? Se "respondem" como hinduísta ou budista, como cristão ou comunista, a resposta de vocês é, então, muito limitada, vale dizer, não é resposta. Podem "responder" plenamente, adequadamente, mas só se não há medo em vocês, se não pensam como hinduísta, comunista ou capitalista, porém como ente humano total, interessado em resolver este problema; e não poderão resolvê-lo, se não se acharem em revolta contra tudo — contra a ambição, a avidez, em que está baseada a sociedade. Quando você mesmo não é ambicioso, ávido, quando não está apegado à sua própria segurança — só então é capaz de "responder" ao desafio e de criar um novo mundo.
Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano