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sexta-feira, 6 de abril de 2018

O mecanismo da ação contraditória


O mecanismo da ação contraditória

Um dos nossos grandes problemas, quer-me parecer, é saber o que nos cumpre fazer, que espécie de ação empreender, nesta civilização tão confusa e contraditória e exigente. Quase todos somos educados para fazer uma coisa e desejamos fazer outra coisa. O governo quer soldados e burocratas eficientes, e os pais desejam que seus filhos se adaptem à sociedade e ganhem o seu sustento; tal é mais ou menos o padrão adotado no mundo inteiro. A ocupação do indivíduo é determinada principalmente pela sua educação e as exigências da sociedade que o cerca.

Se estais de acordo, vou nesta tarde falar sobre um problema um tanto complicado e se tiverdes a bondade de prestar um pouco de atenção, penso que daí resultará uma ação não cultivada nem moldada por determinado meio social; e essa ação bem pode ser a solução do complicado problema de nossa existência.

Naturalmente, a todos nós interessa a ação, o que é necessário fazer; e "o que é necessário fazer" é geralmente ditado pelo mundo que nos cerca. Isto é, sabemos que temos de ganhar o nosso sustento numa dada função, como engenheiro, cientista, advogado, funcionário de escritório, ou o que quer que seja; e a isso se restringe a nossa superficial cultura, nossa educação. Nossa mente está ocupada, na maior parte do dia, com o meio de ganharmos o nosso sustento, o modo de nos ajustarmos ao padrão de nossa sociedade. Nossa educação limita-se ao cultivo de capacidades e à "memorização" de uma série de fatos, que nos habilitará a passar num dado exame e obtermos um dado emprego; assim, a nossa ação se estabiliza nesse nível, moldando-se de acordo com as necessidades de uma certa sociedade, uma sociedade que se está preparando para a guerra. A industrialização exige mais cientistas, mais físicos, mais engenheiros, e por consequência torna-se necessário cultivar essa camada da mente, pois é isso que interessa em primeiro lugar à sociedade.

E, se examinardes bem, reconhecereis que é isto que interessa à maioria de nós: — adaptar-nos às exigências da sociedade. E surge, assim, em nossa vida, uma contradição entre esse nível mental, supostamente educado, e aquela atividade mental profunda, inconsciente, contradição de que bem poucos se dão conta. E se dela nos damos conta, passamos meramente a buscar alguma espécie de satisfação, uma certa solução fácil para as torturas impostas pela necessidade de ganharmos nosso sustento, numa dada profissão, enquanto interiormente desejamos ser ou fazer outra coisa. É isto que está realmente acontecendo, em nossa vida, ainda que não o notemos. Toda ação nascida do nível mental superficial, "educado", é evidentemente ação incompleta, e esta ação parcial se acha sempre em contradição com a ação total do homem. Isto me parece bastante claro.

Isto é, um indivíduo é educado para ser funcionário de escritório, para ser advogado, ou exercer qualquer outra profissão, e é só isso que interessa à sociedade. Os governos e as indústrias querem cientistas, físicos, engenheiros, a fim de prepararem a guerra, incrementarem a produção, etc. etc. E, assim, cada um é educado para uma certa profissão, mas a totalidade do seu ser fica por descobrir, não revelada, e, por consequência, vê-se o homem num perene conflito interior. Acho que isso se torna bastante claro a quem observa as atividades sociais e políticas, e as práticas religiosas do homem. Quase todos fazemos, na vida diária, alguma coisa em franca contradição com o que sentimos ser a verdadeira coisa que desejamos fazer. Temos responsabilidade e deveres que nos escravizam e dos quais gostaríamos de livrar-nos, e a fuga que empreendemos assume o aspecto de especulação, de teorias a respeito de Deus, de ritos religiosos, etc. Há inumeráveis formas de fuga, inclusive o beber, mas nenhuma delas resolve o nosso conflito interior. Que cumpre então fazer?

Não sei se já fizestes, alguma vez, esta pergunta a vós mesmos. Toda ação nascida dessa contradição interior, tem de criar inevitavelmente, mais malefícios e sofrimentos. E é isto justamente o que estão fazendo os políticos, neste mundo. Por mais sensato que seja o político, criará inevitavelmente malefícios se não compreender o movimento total da mente e promover uma ação resultante dessa compreensão. E é sobre isto que quero falar: se se pode promover ação que não seja a ação da mera influência ou "motivo".

Tende a bondade de acompanhar-me um pouquinho mais longe. A ação que é produto da influência é ação limitada. Nossas mentes são o resultado de inumeráveis e contraditórias influências, e toda ação nascida desse estado contraditório tem de der também contraditória. E a cultura, a sociedade, baseada nessa contradição, há de criar, necessariamente, intermináveis conflitos e sofrimentos. Isto também é muito claro é um fato histórico, quer vos agrada, quer não. Pode-se ver que, enquanto a mente está ocupada, à superfície, com o viver de cada dia, existem, abaixo desse nível, uma infinidade de "motivos": Desejos de satisfação, avidez, inveja, os impulsos da paixão, do medo, etc. — com os quais a mente está também ocupada, embora possa o indivíduo não o perceber. E pode a mente descer além desse nível?

Expressando-o de outra maneira: com o que está ocupada a mente? Notai: não a minha mente, mas a vossa mente. Sabeis com o que está ocupada à vossa mente? É óbvio que, durante o dia, ela está sempre ocupada, com o trabalho do escritório, a rotina da profissão. Abaixo dessa ocupação superficial da mente, existe uma ocupação de outra ordem: desejo de proteção, de segurança, ambição, etc. — e esta ocupação, em geral, está em contradição com a outra ocupação.

Para que esta palestra seja frutuosa e significativa, permito-me sugerir-vos escuteis com o fim de observar e descobrir de que modo está ocupada a vossa mente. Desejo examinar este problema da ocupação, porque estou convencido de que, se pudermos compreender perfeitamente a questão da ocupação da mente, nascerá, dessa compreensão uma ação que será a ação verdadeira, ação não nascida da vontade, da disciplina, e portanto não contraditória. Está claro o que estou dizendo?

Isto é, a menos que compreendais a totalidade de vossa ocupação, não é possível a ação "integrada". Vossa mente está superficialmente ocupada, no correr do dia, com as atividades de vosso emprego e outras, mas se acha também ocupada noutros níveis, noutras direções. Existe pois uma contradição entre essas duas camadas da mente, contradição que procuramos vencer pela disciplina, pelo conformismo, por várias maneiras de ajustamento, baseadas todas elas no temor; e a ação, por conseguinte, permanece contraditória; e é isso que se está passando com a maioria de nós. "O que cumpre fazer" não é problema nenhum, porque, quando perguntamos o que cumpre fazer, a resposta que vem está inevitavelmente em correspondência com os vossos níveis de ocupação e, consequentemente, só criará mais contradição.

Ora, com o que está ocupada a vossa mente? Prestai bem atenção a isto. Sabeis com o que a vossa mente está ocupada, todos os dias? Sabeis muito bem que ela se ocupa com os seus deveres e obrigações de cada dia. Abaixo desse nível, com o que mais está ocupada? Estais apercebidos da ocupação mais profunda? Se estais, percebereis que ela está em contradição com as atividades diárias; e, ou a mente consegue, de alguma maneira, adaptar-se, ajustar-se às atividades diárias, ou a contradição se torna tão completa que alimenta um conflito perpétuo, conducente a enfermidades de toda ordem.

Agora, senhores, de onde deve partir a ação? Desejo fazer certas coisas no mundo, tenho de ganhar a vida, trabalhar como um mouro; ou desejo pintar, escrever, pensar, ser uma entidade religiosa. Desejo trabalhar de uma certa maneira e, assim, a ação se torna necessária. De que fonte, de que centro, deve emanar essa ação? Eis o problema. Percebo que a ação procedente de qualquer "nível de ocupação", não pode deixar de criar contradição e sofrimentos. Não há diferença entre a ação de uma dona de casa, a ação de um advogado, e a ação da mente que busca Deus. Essas ações podem ser diferentes do ponto de vista social, mas na realidade não há diferença alguma, uma vez que a dona de casa, o advogado, e o homem que busca a Deus, estão todos ocupados. Socialmente, uma ocupação pode ser melhor do que outra, mas fundamentalmente todas as ocupações são mais ou menos a mesma coisa — não há "ocupação melhor".

Assim sendo, de onde deve partir a ação? De que centro deve proceder a ação para não ser contraditória, não produzir malefícios, sofrimentos e corrupção? Pode haver ação procedente de uma fonte verdadeira, que não seja "ação da ocupação"? Estou esclarecendo bem o ponto? Provavelmente, não. Como disse, este é um problema muito complexo, e espero não o estar tornando complicado demais.

Deixai-me expor a questão de maneira diferente. Vossas mentes estão ocupadas, não é verdade? E que aconteceria, se a mente não estivesse ocupada? Que aconteceria a uma dona de casa, se não estivesse ocupada com as coisas da cozinha, ou ao homem que não estivesse ocupado com os seus negócios? Que vos aconteceria, se vossa mente não estivesse ocupada? A reação imediata é de responder que estaríamos ocupados com isto ou aquilo, se não estivéssemos ocupados com o que ora estamos fazendo — o que indica a necessidade que temos, de ocupação. A mente que se vê desocupada, sente-se perdida e, por isso, está sempre em busca de ocupação. Sua ocupação é invariavelmente contraditória, gerando, portanto, malefícios. E depois de criarmos o malefício, nos preocupamos sobre como afastá-lo, e nunca damos atenção à ocupação da mente. Mas se pudermos compreender a ocupação da mente, em diferentes níveis, descobriremos a ação que surge quando a mente já não está ocupada, a ação que não gera malefícios.

Já procurastes averiguar porque a mente está ocupada? Tentai-o agora, senhores, pelo menos para vos distrairdes. Mas, antes de tudo, precisais estar apercebidos de que vossa mente está ocupada, como é bem óbvio. Estais ocupado com vossos negócios, vosso progresso ou fracasso, as brigas de vossa mulher convosco, ou vossas brigas com ela, etc. E há a ocupação do sanyasi, do homem dito religioso, que está sempre lendo, murmurando palavras, cantando litanias, celebrando intermináveis rituais, disciplinando-se, adaptando-se ao padrão de um ideal. Tudo isso é ocupação.

Todos vivemos ocupados, não é verdade? É o natural da mente, estar sempre ocupada? Se é esse o seu estado natural — estar ocupada, com coisas elevadas ou com coisas vulgares (o que é muito relativo) — a mente então nunca descobrirá a verdadeira ação. Não pode a mente observar, prestar atenção, descobrir, quando está constantemente ocupada e, sim, apenas, quando é capaz de não estar ocupada. Enquanto a mente estiver ocupada, toda ação nascida dessa ocupação há de ser restritiva, limitada, causadora de confusão. Experimentai para ver como é sutil e difícil ter uma mente que não esteja sempre cheia; entretanto, se há um impulso ardoroso, para descobrir a ação correta, neste mundo louco, confuso e sofredor, tendes de chegar a esse ponto.

Nosso problema, por conseguinte, é: De que fonte, de que centro deve emanar a ação, para que não seja contraditória e causadora de confusão? O reformador social nunca faz esta pergunta, porque ele quer agir, reformar; e no próprio processo de reformação está criando malefícios. Todos os políticos e guias religiosos estão procedendo desse modo. Nem as mais extensas leituras de Escrituras, nem os maiores esforços de adaptação, ajustamento à sociedade, jamais deram solução aos nossos problemas. Pelo contrário, eles se estão multiplicando. Percebendo bem isso, cabe-nos compreender por que razão surgiu este estado de confusão e aflições. Ele surgiu, porque todos queremos ação imediata; e a ação imediata só se pode achar nas camadas superficiais de nossa consciência, procede da ocupação, da chamada mente educada.

Ora, existe ação que não seja resultado de esforço, que não seja da vontade? A ação da vontade é a ação do desejo; e o desejo, educado ou não, refreado ou livre, está circunscrito às camadas superficiais da consciência. Já não notastes, senhores, que quando desejais fazer determinada coisa, surge imediatamente uma contradição, sob a forma de temores coibitivos, exigências, exemplos, um senso de disciplina, que vos diz: "Não façais isto"? E vos vedes, assim, envolvidos em conflito. Em toda a duração de nossa vida, estamos presos nestas redes, da infância à morte, existe este perene estado de contradição e ajustamento. Em vista disso, pode a mente descobrir uma ação que não seja contraditória, que não seja mero ajustamento, que não seja produto de influências? Penso ser esta a questão fundamental, a questão certa. E aquela ação só pode ser achada quando estamos apercebidos da total ocupação da mente, e a compreendemos.

Sabeis com que está ocupada a vossa mente? Percorrei-a, camada por camada, e nela não encontrareis espaço algum não ocupado. E quando investigais o inconsciente, para descobrir a sua ocupação, mesmo assim a mente superficial, que está examinando o inconsciente, tem a sua ocupação própria. Que se deve então fazer? Queremos descobrir a total ocupação da mente, porque percebemos que, se dela não nos tornamos conhecedores, toda ação criará necessariamente contradição e, portanto, maiores sofrimentos.

Com que está ocupada a mente, a vossa mente? E, se não estivesse ocupada, que aconteceria? Não vos assustaríeis se descobrísseis que vossa mente não estava ocupada com coisa nenhuma? Surgiria imediatamente o impulso para vos ocupardes com alguma coisa. "Experimentai", e vereis que não há um só momento de desocupação da mente. E se experimentardes um raro momento em que ela não esteja ocupada — e esse é um estado indescritível — então, o "como retornar a esse estado" ou como retê-lo, se tornará vossa nova ocupação.

Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e conhecer o momento em que cessou a ocupação. Vereis, então, que a ação resultante desses momentos de desocupação, é a única ação "integrada". Quando não está ocupada, a mente não está contaminada pela sociedade, não é produto de inumeráveis influências, não é hinduísta nem cristã, nem comunista, nem capitalista. Por conseguinte, ela própria é uma totalidade de ação, com que não tereis de ocupar-vos e em que não precisais pensar.

Agora, se tivestes a bondade de escutar até aqui com atenção, se não estivestes dormindo, porém escutando com atenção completa, tereis experimentado, diretamente, o estado de não ocupação. Quando falamos ou escutamos, estamos apercebidos dos vários níveis de ocupação e de como eles são contraditórios. E apercebida da natureza totalmente contraditória da consciência, descobre a mente um estado em que não há ocupação. Isso traz um senso de ação completamente diferente. Não tendes então de fazer nada, porque a própria mente atuará.

Krishnamurti, Terceira Conferência em Madrasta, 18 de janeiro de 1956
Da Solidão à Plenitude Humana


quarta-feira, 4 de abril de 2018

Podemos nos abster de agir quando confusos?


Podemos nos abster de agir quando confusos?

PERGUNTA: É hoje um fato definitivamente estabelecido que muitas de nossas doenças são de natureza psicossomática, causadas por profundas frustrações e conflitos interiores de que muitas vezes não estamos apercebidos. Devemos agora correr para os psiquiatras, como antes corríamos para os médicos, ou há um caminho pelo qual o homem pode libertar-se de sua agitação interior?

KRISHNAMURTI: Isto suscita a pergunta: Qual a posição dos psicanalistas? E qual a posição daqueles de nós, portadores deste ou daquele incômodo ou doença? A doença é produzida por nossas perturbações emocionais, ou é sem significação emocional? Quase todos nós sofremos perturbações. Quase todos estamos confusos, agitados, mesmo os mais prósperos de nós, que possuem geladeiras, automóveis, etc.; e, como não sabemos de que maneira atender às perturbações, elas reagem inevitavelmente no nosso físico, produzindo doença, como é bastante óbvio. E a questão fica sendo: Devemos correr para os psiquiatras, para nos ajudarem a livrar-nos de nossos distúrbios e recuperar a saúde, ou é possível descobrirmos por nós mesmos como não nos deixarmos perturbar, não nos deixarmos agitar por ansiedades e temores?

Por que estamos perturbados, se o estamos? Que é uma perturbação? Desejo uma coisa, mas, como não posso obtê-la, fico num certo estado. Desejo preencher-me através de meus filhos, minha esposa, minha propriedade, minha posição, êxitos felizes, etc., mas me vejo contrariado, e isso gera um estado de perturbação. Sou ambicioso, mas outro me empurra para o lado e toma-me a frente; eis-me de novo num caos, numa agitação, que produz sua reação física própria.

Ora bem, podemos, vós e eu, libertar-nos de toda esta agitação e confusão? Que é confusão? Compreendeis? Que é confusão? A confusão existe somente quando há o fato e mais aquilo que eu penso a respeito do fato: minha opinião relativa ao fato, minha desatenção ao fato, minha fuga ao fato, minha avaliação do fato, etc. Se eu puder considerar o fato sem adicionar-lhe alguma qualidade, não haverá confusão. Se reconheço o fato de que um certo caminho leva a Ventura, não haverá confusão. Só pode surgir confusão se me ponho a pensar ou a teimar que o caminho leva a outro lugar; e é este o verdadeiro estado em que em geral nos achamos. Nossas opiniões, nossas crenças, nossos desejos, nossas ambições, são tão fortes, e tão grande o seu peso, que somos incapazes de olhar o fato.

Nessas condições, o fato, mais a opinião, o julgamento, a avaliação, a ambição, etc., geram confusão. E podemos, vós e eu, que estamos confusos abster-nos de agir? Por certo, toda ação nascida da confusão há de levar, necessàriamente, a mais confusão, mais agitação, e tudo isso reage no corpo, no sistema nervoso, produzindo doença. Eu estou confuso, e o admitir para mim mesmo que estou confuso não requer coragem, mas só uma certa clareza de pensamento, clareza de percepção. Em geral, nós temos medo de reconhecer que estamos confusos, e, assim, do meio de nossa confusão, escolhemos os líderes, os guias, os instrutores, os políticos; e quando de dentro da confusão escolhemos alguma coisa, essa própria escolha há de ser confusa e o guia, por conseguinte, tem de ser confuso.

É possível, pois, ficarmos cônscios de nossa confusão, conhecer a causa da confusão, e abster-nos de agir? Quando a mente que está confusa, age, só pode produzir mais confusão; mas a mente que está apercebida de achar-se confusa e compreende todo esse “mecanismo” de confusão, não tem necessidade de agir, porque essa própria claridade é ação. Isto deve ser um tanto difícil de compreender, à maioria das pessoas, pois estamos muito acostumados a agir, fazer alguma coisa; mas, se se puder observar a ação, perceber os seus resultados, observar o que se está passando no mundo, politicamente e a todos os respeitos, tornar-se-á bastante evidente que a chamada ação reformadora só está produzindo mais confusão, mais caos, e mais reformas.

Podemos, então, individualmente, ficar apercebidos de nossa confusão, nossa própria agitação, e “viver com ela”, compreendê-la, sem procurarmos livrar-nos dela, afastá-la, fugir dela? Enquanto ficarmos a dar-lhe pontapés, condená-la, fugi-la, essa própria condenação, essa própria fuga constitui o “mecanismo” de confusão. E, a meu ver nenhum analista pode resolver este problema. Poderá ajudar-vos temporariamente a acomodar-vos a certo padrão social, a que ele chama “existência normal”, mas o problema é muito mais profundo e ninguém, senão vós mesmo, pode resolvê-lo. Vós e eu fizemos esta sociedade; ela é o resultado de nossas ações, nossos pensamentos, do nosso próprio existir, e enquanto ficarmos meramente a procurar reformar o produto, sem compreensão da entidade que o produziu, teremos mais doenças, mais caos, e mais delinquência. A compreensão do “eu” produz a sabedoria e a ação correta.

Krishnamurti, 7 de agosto de 1955, Realização sem esforço
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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Existe uma ação sem passado e sem futuro?


Existe uma ação sem passado e sem futuro?

O orador gostaria de saber, o por que de estarem aqui. Com que intenção, com que propósito, com que tipo de conceitos imaginários ou conceitos supersticiosos que tenham? E quem sabe, se me permitem ser tão audacioso como para sugerir que, talvez, tenham chegado com essas ideias, com as fórmulas. E temo que será decepcionante porque — espero que você possa ouvir, está de acordo?

Tenho falado em todo o mundo por um logo tempo, setenta anos, isso é muito tempo, e tem sido criado, naturalmente todo tipo de fantasia, superstição imaginária, reputação, e as imagens que foram criadas, realmente são sem sentido.

O que estamos falando é totalmente diferente de uma conferência. Uma conferência está destinada a informar, instruir, orientar e assim sucessivamente. Isto não é uma conferência. Por favor, devemos ser muito claros sobre este ponto. Isto não é uma conferência. Não há nenhuma intenção por parte do orador, em guiar-lhe, em ajudar-lhe, perdoem se uso essas palavras, ou para informe-lhe a respeito de algo que você gostara que se falasse, teórico, supersticioso, imaginário e ficções, por assim dizer. Mas vamos deliberar juntos. Essa palavra tem um significado muito profundo, deliberar, o que significa um peso em conjunto, ter um consenso em conjunto, nutrindo-se um ao outro, não fisicamente, espero, mas psicologicamente, intelectualmente e penetrar o mais profundamente possível na própria consciência, em sua própria função, sua própria maneira de pensar, viver. Não se trata de um encontro teórico, falando de coisas distintas que devem ser, ou que não tenha sido, mas juntos, você e o orador estão tomando um consenso juntos, com um peso de coisas juntos. Por favor, não se trata só de um monte de palavras. O orador realmente diz o que significa, goste você ou não. Ele diz que vamos tem um consenso em conjunto, pesando as coisas juntos, eu não penso e logo lhe digo a respeito, mas sim que juntos, você e o consenso do orador, tomam em conjunto, pesam juntos. Isto não é propaganda, porque estamos juntos investigando, perguntando, questionando, duvidando.  A ideia e o fato são coisas diferentes. O fato é uma coisa. O microfome não é uma ideia, é um fato. Portanto, o fato é o que vamos discutir, não a ideia do fato. Espero que esteja claro. Tudo bem? Devo manter-me em silêncio enquanto vocês se mantêm em silêncio?

Esta é uma reunião séria, e não só uma troca de palavras. Algo mais, senhor? Portanto, desde o princípio temos que ver muito claro que isto não é uma conferência, não estamos falando de teorias, o que tem ocorrido aos seres humanos através dos longos dois milhões e meio de anos de evolução, mas que somos o que temos passado a ser, e o que é o nosso futuro — não da humanidade, qual é o futuro de todos nós? Certo? Sejamos claros sobre este ponto. Vamos deliberar juntos o consenso, nutrindo uns aos outros, tanto intelectualmente, não verbal e psicológico. Não é algo intelectual. Não é romântico, não é supersticioso, imaginário. Etc. Assim que estamos juntos; não pode simplesmente se sentar ai e dizer, sim, sim, ou não, não. Você está participando, está compartilhando, que são as pesagens, tomando assim o consenso. Verdade? Estamos entendidos? E não estamos fazendo nenhum tipo de propaganda, ou de convidá-lo para unir-se a uma seita. E aqui devo acrescentar que não sou seu guru, que vocês não são meus seguidores. Não somos a criação de um novo culto, uma nova sociedade, um novo ashram, um novo tipo de campo de concentração. Se isto está muito claro entre nós, você e o orador, juntos, vão formar parte de todas as conversações, isso depende, da condição física do corpo.

Então, tem existido nesta terra, de acordo com os cientistas e arqueólogos, e assim sucessivamente, durante mais de dois milhões de anos e aqui estamos. O que somos? Não é verdade? Faça-se a pergunta. Não estou sugerindo o que você é. Estamos abrindo a profunda cova, as profundas causas subjacentes, a realidade que se esconde por detrás da causa. É assim que vamos entrar nas conversações. Não sei quantas haverá, mas não posso assegurar-lhe. Eles lhe dirão se haverá uma amanhã, ou não. Ou só haverá uma fala, que é a de hoje, e quarta-feira uma sessão de perguntas e respostas, e o próximo sábado a última reunião. Assim que juntos vamos olhar este mundo, que somos nós mesmos. Certo? Você está disposto? Ou está assustado, escondendo-se por detrás de todos os tipos de absurdas teorias, todas as insinuações psicológicas; todos os homens que têm se ajuntado, que chamamos religião, a sociedade existente, que é a degeneração do que está ocorrendo: a contaminação em todas as cidades, os ataques aéreos, também a corrupção. Isto é o que se apanha. Então, o que tem ocorrido de errado conosco? Ou se trata de um curso natural? Entendem a pergunta? Realmente querem escutar todo este lixo? Vocês devem ler sobre tudo isto nos jornais, se são honestos, revistas e é claro, todos os gurus no mundo que têm destruído o que querem. Assim, começamos, mas, por favor, tenha em conta, isto não é uma conferência. Você não veio escutar-me, veio escutar a si mesmo, contudo a regulação de si mesmo é complicada, sem dúvida é superficial, é profunda. Vamos entrar nisto tudo. Talvez não numa fala, mas veremos ao final da fala se o orador sobrevive. Esse que está atrás dele, lhe solicitará que se sentem em silêncio durante dois ou três minutos, depois sairei, e o orador averiguará se pode continuar amanhã, ou se colapsará ao final ele mesmo? Tudo depende de você, porque do contrário, como ouvinte, pode dizer, sim, sim, soa muito bem, ou não conduz a nada de bom. Não é lógico ou ilógico e assim sucessivamente.  Certo?

O que somos, como seres humanos, que têm vivido nesta terra por um período tão longo de tempo, por que somos como somos? Estão entendendo a pergunta? Verdade? Estão entendo a minha pergunta? É muito simples, senhor. Estou utilizando o inglês ordinário, inglês não profissional. Digo mais uma vez: todos estamos compartilhando juntos. Você não somente escuta o orador, o consultamos juntos, estamos deliberando. Essa palavra é realmente muito boa, para deliberar, consultar significa tomar em conjunto, pesar as coisas juntos, não seu preconceito, não suas opiniões, não suas conclusões, mas todo o processo de pensar, o que tem feito o homem e assim sucessivamente, certo? Se não entendem, eu sinto muito, não vou voltar novamente a ela. Estamos falando inglês ordinário.

Então, o que tem ocorrido conosco, a cada um de nós? Quer dizer, temos vivido nesta terra como seres humanos, durante muito, muito anos, o que se chama evolução. E durante a evolução da experiência, o conhecimento, o pensamento, todas as coisas que o homem criou, incluindo suas superstições, seus deuses, seus diferentes impérios, e quando chega a realidade, o que ocorreu a cada um de nós? Não querem saber? Ou estamos assustados para saber? O que é? Deus, o que se passa? Não é uma resposta.

Q: Queremos perguntar.

K: Não entendo do que está falando. E você é o resto do mundo, o que sofrem, o que passa, o aborrecimento diário, a mesquinhez da vida: a luta, a dor, a ansiedade, a tristeza, a negligência, o descuido, a indiferença.  E isto é compartilhado por toda a humanidade. Não é verdade? Todo mundo passa por isto: seu guru — se você tem um, espero que não tenha nenhum — seu guru, se estão todos despertos, se estão todos sãos e racionais... vá através de tudo isto. Os reis e os ministros passam por tudo isto: a dor, a ansiedade, a incerteza, a tristeza, a morte, com a esperança de ter algo no futuro. Isto é o que todos os seres humanos, onde quer que você esteja, sem é civilizado, ou não, cada ser humano passa por isto, não é verdade? Vocês duvidam desse fato? Você duvida que, todos os seres humanos em todo o mundo passam por tudo isto? E isto constitui a nossa consciência, certo? Estamos nos entendendo uns aos outros? Estamos trabalhando juntos? Estamos investigando juntos? Ou estou guiando-lhe, ajudando-lhe? Não estou. Pode estar seguro de um fato: não quero lhe ajudar, eu não sou seu guia ou seu ajudante; então, você vai se perguntar: por que estou aqui?  Você está sentado aqui, provavelmente por curiosidade, do que tem ouvido falar ou ler umas poucas linhas de um livro, ou tem dito, vê e escuta, se encontra fora. Assim que, por favor, sejamos claros, o orador não vai lhe guiar, não o está ajudando. Ele não vai lhe ajudar. Porque há anos estão lhe ajudando, lhe tem ajudado: salvadores, gurus, mahatmas, você sabe a lista completa deles, todos estão demasiados dispostos a lhe ajudar, com seus ashrams, com suas fundações, incluída esta. E o tem ajudado. Se você tem alguma dificuldade, corre à um guru, à um templo ou pede por ajuda, o que se chama oração. E eles os têm ajudado, têm sido guiados, politicamente, religiosamente, psiquiatricamente, e ao fim disto tudo, você é o que era. Portanto, o orador diz: por favor, leve isto a sério — não está sendo guiado, não está sendo ajudado, ao contrário, estamos caminhando juntos no mesmo caminho, juntos.

Assim que estamos compartilhando, nutrindo-nos. Estou utilizando a palavra “alimentação”, tanto intelectualmente, como psicologicamente. Não podemos nos alimentar mutuamente, há gente demais. Então, tendo em conta todo o tempo, você e o orador estão buscando juntos todo este problema, não só minha tristeza, ou sua tristeza, a ansiedade, a incerteza, é compartilhada por todos os seres humanos sobre a terra. E sua consciência é a consciência da humanidade. Não é verdade? Você pode não estar de acordo, mas investigar, inclusive intelectualmente, logicamente, não emocional, pois assim se perdem. Logicamente, sadiamente, olhando, não com preconceito, opiniões, mas olhe: você sofre e o faz o homem na Rússia. Você não está seguro, também não está o homem na China. Por que sua consciência é compartilhada por toda a humanidade, de maneira que você é a humanidade, não é verdade? Você se encontra na humanidade, não é Sr. Smith, ou Sr. Rao, o algo assim. No caso de que se mostre a você, mas não se aceita, logicamente, se mostra, a investigação de todos juntos, compartilhando juntos, que faremos? Entende minha pergunta? Vendo tudo isto, como a humanidade tem se dividido em nações, em seitas, em religiões — meu guru é melhor que seu guru — e assim sucessivamente. Esta divisão, esta separação existe em todo o mundo. Essa é uma das principais causas da guerra, as nacionalidades. Mas vai continuar com seu nacionalismo, com o hinduísmo, com sua tradição apesar do que disse o orador. Não é verdade? Certo, senhores? Estão de acordo, me alegro, mas vamos continuar como antes, não é verdade?  São uma multidão estranha.

Então, quando você se percebe deste fato, toda a humanidade, não fisicamente, mas psicologicamente, então vocês sempre devem se fazer a pergunta, o que vou fazer? Certo? Não esperem que lhe digam, estamos compartilhando juntos. Estamos tomando um consenso juntos. Isto não é uma conferência. Devo repetir, já que isto se utiliza para conferências, alguém vertendo sucessivamente para sua informação. Então, o que vamos fazer, se vemos racionalmente este fato de que somos toda a humanidade? Verdade? É claro que, você não o verão porque é muito importante dispor da individualidade: Estou separado de você. É claro que estão fisicamente separados de mim, você é uma mulher, sou um homem, ou sou mais alto, são mais baixos e tudo o mais.

A parte da divisão biológica, a consciência, nossa consciência, que é essa, todas suas recordações, experiências, seus anseios e todo o resto dela, a consciência é compartilhada por todos os seres humanos. Não é verdade? Vocês não estão de acordo com tudo isto. Não importa, seguirei se desejam me escutar. Vou fazê-lo, não importa se escutam ou não. Como os pássaros, vão cantando, como uma tormenta cheia de vento, a chuva e o trovão e a grande beleza da luz.

Portanto, se na realidade, não em teoria ou intelectualmente, se percebe, quer dizer, se aperceber de algo, é como uma cobra venenosa, uma serpente cascavel é venenosa, assim que não se aproxima dela. Não é mera conclusão, é sua morte se você se aproxima dela. Então, fisicamente estamos condicionados a uma serpente. Certo? Então, estamos condicionados, em forma, moldados na ideia de que você está separado dos seres humanos. Você tem uma alma separada, a ideia cristã e, se se apercebe são a humanidade, se não se questionam, o que são? Se observa com cuidado, se vê em forma deliberada, sem evitá-lo, verá que você sofre, o outro homem sofre, as brigas com sua esposa, e todos os meninos e o resto da vida cotidiana. Então, o que você deverá fazer? Não é verdade? O que você vai fazer? Qual é a sua ação? Não uma conclusão. Você entende, senhor? Devido a ser uma conclusão, não é o fato. Um fato pode se transformar numa conclusão, mas a conclusão não é o fato.

Estou no meio de um mar de pessoas que não parecem reagir a tudo isto. Seu conjunto de religiões se baseiam na individualidade, todas as suas orações, seu culto. Não importa, seguirei. Então, o que você deverá fazer? Que vou fazer, vivendo nesta sociedade, a sociedade que é tão corrupta, que devo fazer? Qualquer coisa que faça, vai afetar a sociedade? Entendem? Afetará ao meu vizinho, vai afetar ao homem, não na lua, mas o homem na Rússia? Portanto, tenho que perguntar: quem criou está sociedade? Certo? Estão pensando todos juntos, ou não? Oh! Deus meu! Que devo fazer se não reagem, se não falam algo, por que estamos perguntando quem criou esta sociedade que é tão imoral, tão corrupta, todo o mundo, que está destruindo ao homem, que está degenerando, que está contaminando todo o mundo, que devo fazer, ou não, influir nesta sociedade? Entendem minha pergunta? Sou diferente da sociedade? Verdade? Quem tem criado esta sociedade na qual vivemos? Estão pedindo que se trate, ou só escutam a mim? Certo? Está pedindo que se trate? Qual é a sua resposta? Se realmente usam o cérebro, não só consentindo com a cabeça, qual é a sua surpresa? Não uns deuses.

Q: Algo...

K: Refiro-me por um tempo, se não se importa, um pouco mais tarde. Não se importa? Quando for uma sessão de perguntas e respostas, se a há, você pode me perguntar o que quiser. Então, quem criou esta sociedade? Meu pai, seu pai, minha avó e sua avó. Certo? Todo eles ajudaram a construir esta sociedade corrupta na qual vivemos.  Então, somos os criadores desta sociedade, os construtores desta sociedade, através de nossas aspirações, nossos medos, o desejo da segurança em minha relação, em meu trabalho, poder, posição. Certo. Todos queremos isso. Estou dizendo a verdade, ou algo imaginário? Portanto, somos os construtores desta sociedade. A sociedade não é diferente de mim, de nós, porque somos ambiciosos, somos cobiçosos, estamos assustados, queremos posição, poder, privilégios. Não é verdade? Queremos tudo isto, e Deus também, de vez em quando. Portanto, a criação de Deus é nossa também. Você pode não estar de acordo, não está de acordo, vamos investigar, partilhar. O mundo ocidental é capturado por essa religião particular, e estão fazendo estragos fora dela. Sinto muito, devo dizer que não. Deus e o dinheiro vão na mão. Quando vocês têm problemas, querem alguém que os ajude, emocional, sexual, ou psicologicamente. Existem em todos os templos, mesquitas e igrejas e há uma cura. Não estou sendo cínico, estou mostrando os fatos. Então, o que você deve fazer? Ao saberem que, eu sou o resto da humanidade... não o senhor K! Entendem a pergunta? Que sou eu, que sou o resto da humanidade, não me pergunte aonde vai a humanidade, me pergunto se você vê a importância disto. Me pergunto se você vê a profundidade disto, a beleza disto, a imensidão e a responsabilidade disso. Temo que não. Porque se realmente visse isso, se sentiria totalmente responsável por seu irmão, totalmente responsável por seu vizinho. Você não vai interferir com ele ou lhe golpear na cabeça, ou lhe dizer o que fazer. Você é o vozinho, você é o guardião de seu irmão. Não sei se vocês veem tudo isto.

Então, o que devo fazer? Não estou pedindo sua ajuda. Não estou pedindo através de orações para que um todo poderoso me guie — se é que existe um todo poderoso. E levantamos esta questão a si mesmo, e devo, e espero que você faça. O que devo fazer, ao saber que eu sou o resto da humanidade? Eu sou a humanidade. Posso ser uma mulher ou um homem, baixo, alto, moreno, ou qualquer que seja a cor, a cor não é o importante; o importante é o que está dentro do crânio. Então, o que devo fazer? O que quer que eu seja, afetará a sociedade, que vem de mim. Entendem? A sociedade sou eu. Eu me separei da sociedade, mas o fato é que a sociedade tem sido elaborada pelo homem e o homem, em seu desejo de ter segurança, segurança permanente, através da propriedade, através das convicções, através das fórmulas, etc., etc., através de qualquer coisa, certo? Tem construído igrejas, mesquitas, templos, não só neste país, senão que estão tomando a América por desgraça. Então, o que devo fazer? Não estou separado da sociedade, não estou separado do resto da humanidade, a fim de fazer o que tem significado e a imensa responsabilidade. Verdade? Imensa. Então, qual é a minha responsabilidade? Verdade? Qual é a sua resposta? Não sente aí e me olhe. Minha primeira resposta a isto é: o que entendemos por ação?

Quero fazer algo, não só como um ser humano, tenho afeto pela sociedade, quero mudar a sociedade, quero colocar fim nesta degeneração que está ocorrendo. Você sabe o que está se passando no mundo. Não vou entrar em tudo isso. Então, que medidas devo tomar? Assim, antes de levantar esta pergunta, ou que a ponha em questão, devo perguntar: o que é ação? Certo? Diga-me você, qual é a ação? Para atuar de acordo com uma fórmula, não é ação total, porque a repetem e a repetição é parte de nossa segurança. E a repetição nos dá uma certa sensação de bem-estar, são estáveis, são firmes. Portanto, a ação é baseada em certas recordações, certos conhecimentos, certas experiências do passado e assim sucessivamente?  O que é a ação? O que é agir? Não, vou atuar, ou como atuei, para atuar agora. Você entende minha pergunta? Não? Vocês estão todos muito comportados. Todos vocês são bem educados, e provavelmente nunca se fizeram esta pergunta: O que devo fazer? Eu sou a realização de toda a humanidade, e a responsabilidade por ela, a grandeza.  Por isso perguntamos: o que é ação? Para atuar, não no futuro, que não é ação, não como tenho atuado, que é o passado. Então, qual é a ação que tem passado ou futuro? Entrar nela, esta é uma pergunta tremendamente importante. Se você baseia sua ação no passado, não é ação, é uma repetição, uma modificação, um pouco modificada, mas segue sendo a repetição. Certo? Deus, onde vocês foram educados?

Portanto, há uma ação, por favor, esta questão é mais séria: há uma ação que não dependa do passado ou do futuro ou conforme algum padrão? Entendem? Ou — trata-se de um pouco mais difícil — ou não há nenhuma ação em absoluto. Teremos que entrar nela muito mais devagar. Querem escutar tudo isto? Ou querem ficar quietos e meditar? Não sei o que vocês chamam de meditação. É uma dessas palavras que vai de boca em boca por todo lugar. Você vão num pequeno povoado da Califórnia e falam de meditação. E eles dizem, o que querem dizer com essa palavra? Não sabem, mas vão meditar. Não entrarei nisso agora.  

Portanto, ação que não é dependente do tempo. Entendem isso? Não, cuidado, senhor, não esteja de acordo com o que foi dito, pelo amor de Deus. Existe uma ação sem motivo, o auto interesse, sem querer obter recompensa?  Entendem a minha pergunta? Tudo isto implica tempo. Certo? Serei recompensado pelo meu belo trabalho, serei recompensado se rezo por uma geladeira — por que não? É tão bom, meu Deus, mais real que Deus, mais efetiva que Deus.

Então, há uma ação, a qual requer o uso de seu cérebro — não de suas emoções —, que não se baseia no auto interesse, ou numa conclusão na qual você esteja trabalhando? Por isso temos que investigar, o que é tempo? Entendem? Devido a função do tempo, você está entediado? Podem ter a amabilidade de me dizerem se estão entediados?

Q: Não, senhor.

K: “Eu sei, eu sei”. (Risos) A resposta invariável. Você não, mas estou realmente entediado com você? Assim, temos que olhar a natureza do tempo, não é verdade? O que é o tempo? Não de acordo com o nascer do sol, o pôr do sol, que tem seu próprio padrão, uma nova lua, um presente do céu e a lua cheia, que outro dia vi aumentando o mar. Foi uma maravilhosa visão. A saída do sol e as estrelas, a noite, tudo isso faz parte do tempo. E também há tempo se você tem um pequeno menino, um bebê tornar-se um homem, o que requer muito tempo, 20 nos, 30 anos, 90 anos, o que também significa tempo. Vivemos com o tempo. Há que se levantar pela manhã, num determinado momento, cozinhar e tudo o mais. Assim que vivemos em função, atuando nos limites do tempo. Para nós, o tempo é extraordinariamente importante. Faço uma reunião aqui, às 17:30, e você tem que fazer todo tipo de arranjos para chegar às 17:30. O orador também os fez. Assim que vivemos no tempo, não no momento dos cientistas, que é demasiado complicado. Não vou entrar nisso.

Vivemos no tempo, mas além do tempo físico e há também o tempo psicológico. Não é verdade? Quer dizer, estou e serei. Estou enciumado, incerto, ambicioso, quero cumprir, subir no escalão e todo o resto do mesmo; subir no escalão necessita tempo, passo a passo para chegar lá em cima, não é verdade? Portanto, há tempo psicológico e tempo físico. Isto está claro? Não concordem, por favor. Vocês não estão de acordo comigo, isto é um fato. Vocês não têm utilizado este tipo de pensamento, que é seu problema. Vocês não querem compartilhar nada com ninguém. Portanto, estamos obrigados ao tempo,  entendem? Eu sou cobiçoso, mas se me dão um pouco de tempo, serei não cobiçoso; deem-me um pouco de tempo para ser não-violento, não é verdade? Portanto, utilizamos o tempo como um meio de recompensa e castigo, não é verdade?

Vocês leem jornais? Eles lhes informam a respeito de tudo o que está ocorrendo conforme seu editor, e absorvem tudo o que o jornal está dizendo. Mas aqui não se trata de absorção, estão na realidade, pensando. E se você não quer pensar, pode ir para sua casa, pois é muito melhor. Mas se querem pensar, saber, não só têm que usar seu cérebro, que é extraordinariamente ativo. Se querem dinheiro, trabalhem como um inferno para consegui-lo. Se deseja uma posição, o poder, o bom, senhor, olhem todos os que trabalham fora de suas mãos. E se há uma ação que é eterna... entendem a pergunta? Que não é baseada no tempo como passado, presente e futuro. Então, o que é o tempo? Separado do tempo físico, o tempo inclui o passado, não é Verdade? Todos os conhecimentos que os cientistas têm adquirido, passo a passo, experiência por experiência, tratando sem defeito, adicionando mais e mais e mais ao que já sabem. Certo? Entendem algo do que estou dizendo? Ótimo!

Assim que o tempo é o passado, tempo é o presente, tempo é o futuro. Este é o círculo em que estamos presos. Recordo-me de minha experiência, a qual é um tempo preciso que eu tinha, estas memórias. Então, esse dia que foi tão horrível, me recordo disto. Assim que meu cérebro está cheio de recordações do passado, o presente e o futuro. Portanto, o futuro é o que sou agora, não é verdade? Certo, senhores? Não estejam de acordo, senhores, por favor, pelo amor de Deus não estejam de acordo. Se não o veem, isso não importa. Mas desde que tenham se incomodado de vir aqui, é um desperdício de dinheiro e de energia se não escutam, se não captam a verdadeira história do perfeccionismo de tudo isto; estão perdendo tempo, sua energia, seu dinheiro.

Assim que o tempo é o passado, o presente e o futuro. Os cientistas dizem algo mais, tenho falado deste assunto com eles, querem todo tipo de complicadas manobras para chegarem em suas próprias conclusões. Agora, o passado é tempo. Todas as recordações, todos os conhecimentos, toda a experiência, toda a dor, a ansiedade, a solidão, desespero, a incerteza, tudo isso é o passado que está atuando no presente. Não é verdade? Modificado, mudado ligeiramente, mas todo o passado está atuando agora. O que pensava há dez anos, ligeiramente modificado, segue seu curso. Você acredita em Deus, porque a fé lhe dá uma certa segurança, e amanhã você ainda acredita em Deus, se é uma ilusão ou fantasia ou sem sentido. Portanto, modificar o passado no presente se converte no futuro. Isso é bem claro, muito simples. Portanto, o futuro é agora. Não? Porque o que há, terá lugar amanhã, a menos que você realize uma radical mutação. Entendem isto? Todos vocês estão dormindo? Gostariam de ir para a cama?

Provavelmente, vocês nunca tenham pensado nisto tudo, nunca tenham visto isso, nunca se incomodaram em investigar, nunca tiveram tempo, um pouco de tempo durante o dia para dizer: “Meu Deus, o que é tudo isto?” Tudo isto é a vida e qual é o significado desta absurda forma de vida? Assim, se puder dar dez minutos agora, prestar atenção em seu coração para descobrir, não como um mero fato intelectual, uma ação verbal, senão dar a totalidade de seu ser, para averiguar, se encontra muito rapidamente, por si mesmo. Então nenhum deus, nenhum sacerdote, nenhum país, nenhum poder, posição e tudo isso, desaparecem completamente, carecem de sentido.

Portanto, o futuro é agora. Entendem? Porque sou agora: sou cobiçoso, invejoso, tenho vários inimigos — eu não, suponho que o tenham — inimigos, meu deus é, meu guru é melhor que seu guru, e todos os demais absurdos. Portanto, se vocês podem colocar de lado tudo isto — as opiniões, juízos, valores e enfrentar o fato de que vocês estão ao fim de dois milhões de anos, o que são agora: medo, solidão, depressão, ansiedade, incerteza, que é o que são agora, hoje. Amanhã serão exatamente os mesmos, ligeiramente modificados, mas vocês serão exatamente os mesmos.  Portanto, o futuro é agora. Não sei se veem isto.

Assim, que a questão que se levanta: o que é a transformação? Entendem? Se sou cobiçoso agora, ou então raivoso, se tenho sido invejoso, ciumento, tenho uma dor ou um grande número de dor, se não há agora uma mutação radical, amanhã será exatamente o mesmo. Isso é lógico, sensato, portanto, pergunto-me: qual é a transformação? Entendem? Existe tal coisa como a transformação? Entendem isto? Ao menos alguns de vocês? Usamos a palavra “transformar”, que significa mudar as formas: sou isto, mas vou mudar para ser isso, o que continua sendo o mesmo padrão. Não é verdade?

O que significa a palavra “amor”? O que ela significa para você? Alguma vez já trataram disso? Amor de deus, o amor das imagens, o amor da literatura, o amor para com minha esposa, que pode ser bastante duvidoso, e a literatura me encanta, etc. O que significa a palavra amor para cada um de nós? Você gostaria de esperar a resposta, tem tempo? Ou continuamos com ele? Entendem? Você gostaria de responder estar pergunta, o que é amor? Ou, se querem, o orador adentrará nela, é muito mais fácil para o orador nela entrar, eu sei. É uma importante questão, bastante, o que é amor? Como você saberá? Como averiguará, por si mesmo, a verdade desta questão, não todos os valores românticos; já sabem tudo isso. Então, o que é o amor, que não é emoção, que não é resposta sexual, que não é uma imaginação, já sabem de todas essas coisas. Então, para você, o que é o amor?

Q: O silêncio.

K: Silêncio. Isso é amor? Silêncio? Quando você bate em sua esposa, ou seu impulso de fazer algo para ela, estão em silêncio? Tudo é válido neste país, não é verdade? Todos os santos, todos os gurus, o último milagre de todos os trabalhadores, e tudo isso, que absorvem tudo, não é verdade? Alguém escreve um livro, e você diz, sim, estou de acordo com isso. Alguém vem e contradiz e você diz, sim. E vocês têm banido Buda deste país. Ou dizem, é um dos nossos. Para que seu cérebro seja capaz de absorver os resíduos, estão de acordo com o que parece ser certo. Não fazem tudo isto? Realmente estão enfrentando ao fato? Não? Seu cérebro é capaz de absorver tudo o que segue em nome da religião: puro lixo, e algo mais extraordinariamente certo. E esta mistura está em nossas vidas, não é verdade? Tenho que parar. Então, o que é amor?  

Tenho que parar agora. Teremos que seguir melhor nesta quarta-feira, ou amanhã ou no próximo sábado, não é verdade? Está bem? Importam-se?

Q: Amanhã.

K: Gostaria disso? Ao seja gracioso, senhor. Por que você quer amanhã? É conveniente para você, não é verdade? O que?

Q: Amanhã é domingo.

K: Amanhã é domingo, isso é correto, senhor? Ou é conveniente para você? Suponho que não seja conveniente para mim, pois vocês não são sérios. Vale tudo. (Risos)

Portanto, senhores, o Sr. Narayan anunciará se falo amanhã ou quarta-feira. Correto, senhores?

Q: Sim.

K: Adeus, senhores.

Krishnamurti, Madras, primeira  palestra pública, 1986 
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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

É possível investigar e agir coletivamente?

[...]Pode haver tal coisa — "ação coletiva"? Bem sei que esta é a frase em moda — ação em massa, ação coletiva, espírito de cooperação. Mas que significa "ação coletiva"? Podemos pintar um quadro, todos juntos? Prestem atenção a isso. Podemos escrever juntos uma poesia? Podemos arar juntos um campo ou trabalhar juntos numa fábrica? — Ora, senhores, o que realmente se entende não é ação coletiva. O que se entende é o pensar coletivo. Temos pois que ver com o pensamento coletivo, e não com a ação coletiva. Pois bem, do pensamento coletivo pode resultar ação; isto é, se todos nós pudermos concordar, unanimemente, sobre o que é bom para a Índia ou outro país qualquer, se as autoridades puderem "nos condicionar" dessa maneira o pensamento, haverá então ação coletiva, ação de forma coletiva, em que tomam parte individualmente; e se não tomarem parte nela, haverá sempre meios de obrigá-los a fazê-lo —  compulsão, extermínio, castigo, recompensa, etc. 

Essencialmente, a natureza da ação coletiva é o pensamento coletivo. Que se entende, porém, por "pensamento coletivo"? Podemos, vocês e eu e mais alguns milhões de pessoas, resolver juntos um problema, seja econômico, social, político, religioso, ou seja qual for? Sabemos resolver um problema independentemente, ou somos persuadidos por ameaça da punição ou promessas de recompensa, pelas tradições, pelas influências condicionadoras? Pode haver pensamento coletivo? Verifiquem, Senhores, observem por si mesmos, pensem! Vocês não são o resultado do pensamento coletivo? Quando se dizem hinduísta, brâmane, cristão, isso não é resultado de pensamento coletivo? Vocês são "condicionados" pelo pensamento coletivo, para serem hinduísta, budista, cristão, católico romano, ou comunista; e todo grupo, toda sociedade, toda religião condiciona, inculca suas ideias na nossa mente. É possível pensarmos independentemente, se estamos juntos, condicionados por uma determinada maneira? Somos gregários; não sabemos pensar independentemente. Não há pensamento independente, porque todo pensamento procede de uma mente condicionada; o pensamento é símbolo da reação à memória. Por conseguinte — todo pensar — consciente ou inconsciente — tem de ser coletivo. Não podem pensar independentemente, desde que sua mente já está condicionada pelo padrão comunista, católico, etc. Senhores, não há liberdade de pensamento. Ação coletiva é pensamento coletivo

Quando dizemos que vamos fazer o homem pensar diferentemente, não mais de acordo com o velho padrão mas pelas novas normas, isso representa, não obstante, a continuação do velho padrão, sob forma modificada. É só nisso que estamos interessados, e é isso o que entendemos por pensamento coletivo. Quando temos essa espécie de pensamento coletivo, necessitamos da propaganda para nos incitar a pensar de uma certa maneira, necessitamos dos jornais. E dessa forma, nos tornamos escravos da autoridade, das compulsões infligidas por mentes sutis, que nos gravam constantemente no espírito certas impressões. Nessas condições, o pensamento coletivo pode produzir ação individual, mas essa ação se realizará dentro de uma atmosfera de pensamento condicionado, e por isso não há nenhuma liberdade. A liberdade só é possível quando percebemos e admitimos que estamos completamente condicionados. Então existe a possibilidade de quebrarmos as cadeias e encontrar um estado mental livre de qualquer condicionamento. Quando percebermos toda a verdade a este respeito, haverá então ação coletiva — que não é pensamento condicionado coletivo. 

Quando vocês e eu afirmarmos que todo o nosso pensamento está condicionado — pelo molde católico, comunista, hinduísta, budista ou muçulmano — quando reconhecermos esse fato e vocês não desejarem que eu me torne comunista, nem eu desejar que se tornem católicos (visto que isso é a continuação do antigo padrão sob forma modificada, implicando temor, ameaça, compulsão, extermínio, campos de concentração, e toda espécie de propaganda, para nos obrigar a fazer coisas) quando reconhecermos que todo o nosso pensar está condicionado e por isso não pode haver revolução fundamental, então talvez cheguemos, vocês e eu, à compreensão daquela Verdade que não é produzida por pensamento condicionado. Quando a compreendermos, vocês e eu, haverá então ação coletiva. 

Não é nossa missão — suas e minha — descobrir a Verdade que se encontra além dos limites da mente condicionada, de modo que possamos trabalhar juntos, criar um novo mundo que nos pertença, a vocês e a mim, o nosso mundo — não o mundo comunista, capitalista, socialista ou hinduísta. Mas dirão talvez, ser esse um estado impossível, só realizável por pouquíssimos indivíduos, — colocando assim de parte a questão Senhores, é o nosso mundo. Podemos transformar o mundo, podemos realizar essa obra, para nós mesmos e nossos semelhantes; precisamos, porém, dar toda a atenção e reflexão ao assunto. A verdadeira ação coletiva, não a ação coletiva produzida pela mente condicionada, só será possível, só será realizável, quando vocês, como indivíduo, compreenderem o processo total. Eis porque as organizações políticas, religiosas ou sociais jamais conduzirão o homem à felicidade. 

Pode o homem ter roupas, a alimentação ou o teto de que necessita; existe, porém, na vida, uma coisa muito mais significativa do que a mera aquisição. Isso não significa que vocês devem se tornar um santo, sanyasi, e se retirar para uma caverna, numa fuga suprema. Entretanto, quando compreendermos, de verdade, a significação da mente que é livre de condicionamento e, por conseguinte, todas as nossas ações procederem dessa compreensão — isso será a verdadeira revolução. 

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill