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sexta-feira, 6 de abril de 2018

O mecanismo da ação contraditória


O mecanismo da ação contraditória

Um dos nossos grandes problemas, quer-me parecer, é saber o que nos cumpre fazer, que espécie de ação empreender, nesta civilização tão confusa e contraditória e exigente. Quase todos somos educados para fazer uma coisa e desejamos fazer outra coisa. O governo quer soldados e burocratas eficientes, e os pais desejam que seus filhos se adaptem à sociedade e ganhem o seu sustento; tal é mais ou menos o padrão adotado no mundo inteiro. A ocupação do indivíduo é determinada principalmente pela sua educação e as exigências da sociedade que o cerca.

Se estais de acordo, vou nesta tarde falar sobre um problema um tanto complicado e se tiverdes a bondade de prestar um pouco de atenção, penso que daí resultará uma ação não cultivada nem moldada por determinado meio social; e essa ação bem pode ser a solução do complicado problema de nossa existência.

Naturalmente, a todos nós interessa a ação, o que é necessário fazer; e "o que é necessário fazer" é geralmente ditado pelo mundo que nos cerca. Isto é, sabemos que temos de ganhar o nosso sustento numa dada função, como engenheiro, cientista, advogado, funcionário de escritório, ou o que quer que seja; e a isso se restringe a nossa superficial cultura, nossa educação. Nossa mente está ocupada, na maior parte do dia, com o meio de ganharmos o nosso sustento, o modo de nos ajustarmos ao padrão de nossa sociedade. Nossa educação limita-se ao cultivo de capacidades e à "memorização" de uma série de fatos, que nos habilitará a passar num dado exame e obtermos um dado emprego; assim, a nossa ação se estabiliza nesse nível, moldando-se de acordo com as necessidades de uma certa sociedade, uma sociedade que se está preparando para a guerra. A industrialização exige mais cientistas, mais físicos, mais engenheiros, e por consequência torna-se necessário cultivar essa camada da mente, pois é isso que interessa em primeiro lugar à sociedade.

E, se examinardes bem, reconhecereis que é isto que interessa à maioria de nós: — adaptar-nos às exigências da sociedade. E surge, assim, em nossa vida, uma contradição entre esse nível mental, supostamente educado, e aquela atividade mental profunda, inconsciente, contradição de que bem poucos se dão conta. E se dela nos damos conta, passamos meramente a buscar alguma espécie de satisfação, uma certa solução fácil para as torturas impostas pela necessidade de ganharmos nosso sustento, numa dada profissão, enquanto interiormente desejamos ser ou fazer outra coisa. É isto que está realmente acontecendo, em nossa vida, ainda que não o notemos. Toda ação nascida do nível mental superficial, "educado", é evidentemente ação incompleta, e esta ação parcial se acha sempre em contradição com a ação total do homem. Isto me parece bastante claro.

Isto é, um indivíduo é educado para ser funcionário de escritório, para ser advogado, ou exercer qualquer outra profissão, e é só isso que interessa à sociedade. Os governos e as indústrias querem cientistas, físicos, engenheiros, a fim de prepararem a guerra, incrementarem a produção, etc. etc. E, assim, cada um é educado para uma certa profissão, mas a totalidade do seu ser fica por descobrir, não revelada, e, por consequência, vê-se o homem num perene conflito interior. Acho que isso se torna bastante claro a quem observa as atividades sociais e políticas, e as práticas religiosas do homem. Quase todos fazemos, na vida diária, alguma coisa em franca contradição com o que sentimos ser a verdadeira coisa que desejamos fazer. Temos responsabilidade e deveres que nos escravizam e dos quais gostaríamos de livrar-nos, e a fuga que empreendemos assume o aspecto de especulação, de teorias a respeito de Deus, de ritos religiosos, etc. Há inumeráveis formas de fuga, inclusive o beber, mas nenhuma delas resolve o nosso conflito interior. Que cumpre então fazer?

Não sei se já fizestes, alguma vez, esta pergunta a vós mesmos. Toda ação nascida dessa contradição interior, tem de criar inevitavelmente, mais malefícios e sofrimentos. E é isto justamente o que estão fazendo os políticos, neste mundo. Por mais sensato que seja o político, criará inevitavelmente malefícios se não compreender o movimento total da mente e promover uma ação resultante dessa compreensão. E é sobre isto que quero falar: se se pode promover ação que não seja a ação da mera influência ou "motivo".

Tende a bondade de acompanhar-me um pouquinho mais longe. A ação que é produto da influência é ação limitada. Nossas mentes são o resultado de inumeráveis e contraditórias influências, e toda ação nascida desse estado contraditório tem de der também contraditória. E a cultura, a sociedade, baseada nessa contradição, há de criar, necessariamente, intermináveis conflitos e sofrimentos. Isto também é muito claro é um fato histórico, quer vos agrada, quer não. Pode-se ver que, enquanto a mente está ocupada, à superfície, com o viver de cada dia, existem, abaixo desse nível, uma infinidade de "motivos": Desejos de satisfação, avidez, inveja, os impulsos da paixão, do medo, etc. — com os quais a mente está também ocupada, embora possa o indivíduo não o perceber. E pode a mente descer além desse nível?

Expressando-o de outra maneira: com o que está ocupada a mente? Notai: não a minha mente, mas a vossa mente. Sabeis com o que está ocupada à vossa mente? É óbvio que, durante o dia, ela está sempre ocupada, com o trabalho do escritório, a rotina da profissão. Abaixo dessa ocupação superficial da mente, existe uma ocupação de outra ordem: desejo de proteção, de segurança, ambição, etc. — e esta ocupação, em geral, está em contradição com a outra ocupação.

Para que esta palestra seja frutuosa e significativa, permito-me sugerir-vos escuteis com o fim de observar e descobrir de que modo está ocupada a vossa mente. Desejo examinar este problema da ocupação, porque estou convencido de que, se pudermos compreender perfeitamente a questão da ocupação da mente, nascerá, dessa compreensão uma ação que será a ação verdadeira, ação não nascida da vontade, da disciplina, e portanto não contraditória. Está claro o que estou dizendo?

Isto é, a menos que compreendais a totalidade de vossa ocupação, não é possível a ação "integrada". Vossa mente está superficialmente ocupada, no correr do dia, com as atividades de vosso emprego e outras, mas se acha também ocupada noutros níveis, noutras direções. Existe pois uma contradição entre essas duas camadas da mente, contradição que procuramos vencer pela disciplina, pelo conformismo, por várias maneiras de ajustamento, baseadas todas elas no temor; e a ação, por conseguinte, permanece contraditória; e é isso que se está passando com a maioria de nós. "O que cumpre fazer" não é problema nenhum, porque, quando perguntamos o que cumpre fazer, a resposta que vem está inevitavelmente em correspondência com os vossos níveis de ocupação e, consequentemente, só criará mais contradição.

Ora, com o que está ocupada a vossa mente? Prestai bem atenção a isto. Sabeis com o que a vossa mente está ocupada, todos os dias? Sabeis muito bem que ela se ocupa com os seus deveres e obrigações de cada dia. Abaixo desse nível, com o que mais está ocupada? Estais apercebidos da ocupação mais profunda? Se estais, percebereis que ela está em contradição com as atividades diárias; e, ou a mente consegue, de alguma maneira, adaptar-se, ajustar-se às atividades diárias, ou a contradição se torna tão completa que alimenta um conflito perpétuo, conducente a enfermidades de toda ordem.

Agora, senhores, de onde deve partir a ação? Desejo fazer certas coisas no mundo, tenho de ganhar a vida, trabalhar como um mouro; ou desejo pintar, escrever, pensar, ser uma entidade religiosa. Desejo trabalhar de uma certa maneira e, assim, a ação se torna necessária. De que fonte, de que centro, deve emanar essa ação? Eis o problema. Percebo que a ação procedente de qualquer "nível de ocupação", não pode deixar de criar contradição e sofrimentos. Não há diferença entre a ação de uma dona de casa, a ação de um advogado, e a ação da mente que busca Deus. Essas ações podem ser diferentes do ponto de vista social, mas na realidade não há diferença alguma, uma vez que a dona de casa, o advogado, e o homem que busca a Deus, estão todos ocupados. Socialmente, uma ocupação pode ser melhor do que outra, mas fundamentalmente todas as ocupações são mais ou menos a mesma coisa — não há "ocupação melhor".

Assim sendo, de onde deve partir a ação? De que centro deve proceder a ação para não ser contraditória, não produzir malefícios, sofrimentos e corrupção? Pode haver ação procedente de uma fonte verdadeira, que não seja "ação da ocupação"? Estou esclarecendo bem o ponto? Provavelmente, não. Como disse, este é um problema muito complexo, e espero não o estar tornando complicado demais.

Deixai-me expor a questão de maneira diferente. Vossas mentes estão ocupadas, não é verdade? E que aconteceria, se a mente não estivesse ocupada? Que aconteceria a uma dona de casa, se não estivesse ocupada com as coisas da cozinha, ou ao homem que não estivesse ocupado com os seus negócios? Que vos aconteceria, se vossa mente não estivesse ocupada? A reação imediata é de responder que estaríamos ocupados com isto ou aquilo, se não estivéssemos ocupados com o que ora estamos fazendo — o que indica a necessidade que temos, de ocupação. A mente que se vê desocupada, sente-se perdida e, por isso, está sempre em busca de ocupação. Sua ocupação é invariavelmente contraditória, gerando, portanto, malefícios. E depois de criarmos o malefício, nos preocupamos sobre como afastá-lo, e nunca damos atenção à ocupação da mente. Mas se pudermos compreender a ocupação da mente, em diferentes níveis, descobriremos a ação que surge quando a mente já não está ocupada, a ação que não gera malefícios.

Já procurastes averiguar porque a mente está ocupada? Tentai-o agora, senhores, pelo menos para vos distrairdes. Mas, antes de tudo, precisais estar apercebidos de que vossa mente está ocupada, como é bem óbvio. Estais ocupado com vossos negócios, vosso progresso ou fracasso, as brigas de vossa mulher convosco, ou vossas brigas com ela, etc. E há a ocupação do sanyasi, do homem dito religioso, que está sempre lendo, murmurando palavras, cantando litanias, celebrando intermináveis rituais, disciplinando-se, adaptando-se ao padrão de um ideal. Tudo isso é ocupação.

Todos vivemos ocupados, não é verdade? É o natural da mente, estar sempre ocupada? Se é esse o seu estado natural — estar ocupada, com coisas elevadas ou com coisas vulgares (o que é muito relativo) — a mente então nunca descobrirá a verdadeira ação. Não pode a mente observar, prestar atenção, descobrir, quando está constantemente ocupada e, sim, apenas, quando é capaz de não estar ocupada. Enquanto a mente estiver ocupada, toda ação nascida dessa ocupação há de ser restritiva, limitada, causadora de confusão. Experimentai para ver como é sutil e difícil ter uma mente que não esteja sempre cheia; entretanto, se há um impulso ardoroso, para descobrir a ação correta, neste mundo louco, confuso e sofredor, tendes de chegar a esse ponto.

Nosso problema, por conseguinte, é: De que fonte, de que centro deve emanar a ação, para que não seja contraditória e causadora de confusão? O reformador social nunca faz esta pergunta, porque ele quer agir, reformar; e no próprio processo de reformação está criando malefícios. Todos os políticos e guias religiosos estão procedendo desse modo. Nem as mais extensas leituras de Escrituras, nem os maiores esforços de adaptação, ajustamento à sociedade, jamais deram solução aos nossos problemas. Pelo contrário, eles se estão multiplicando. Percebendo bem isso, cabe-nos compreender por que razão surgiu este estado de confusão e aflições. Ele surgiu, porque todos queremos ação imediata; e a ação imediata só se pode achar nas camadas superficiais de nossa consciência, procede da ocupação, da chamada mente educada.

Ora, existe ação que não seja resultado de esforço, que não seja da vontade? A ação da vontade é a ação do desejo; e o desejo, educado ou não, refreado ou livre, está circunscrito às camadas superficiais da consciência. Já não notastes, senhores, que quando desejais fazer determinada coisa, surge imediatamente uma contradição, sob a forma de temores coibitivos, exigências, exemplos, um senso de disciplina, que vos diz: "Não façais isto"? E vos vedes, assim, envolvidos em conflito. Em toda a duração de nossa vida, estamos presos nestas redes, da infância à morte, existe este perene estado de contradição e ajustamento. Em vista disso, pode a mente descobrir uma ação que não seja contraditória, que não seja mero ajustamento, que não seja produto de influências? Penso ser esta a questão fundamental, a questão certa. E aquela ação só pode ser achada quando estamos apercebidos da total ocupação da mente, e a compreendemos.

Sabeis com que está ocupada a vossa mente? Percorrei-a, camada por camada, e nela não encontrareis espaço algum não ocupado. E quando investigais o inconsciente, para descobrir a sua ocupação, mesmo assim a mente superficial, que está examinando o inconsciente, tem a sua ocupação própria. Que se deve então fazer? Queremos descobrir a total ocupação da mente, porque percebemos que, se dela não nos tornamos conhecedores, toda ação criará necessariamente contradição e, portanto, maiores sofrimentos.

Com que está ocupada a mente, a vossa mente? E, se não estivesse ocupada, que aconteceria? Não vos assustaríeis se descobrísseis que vossa mente não estava ocupada com coisa nenhuma? Surgiria imediatamente o impulso para vos ocupardes com alguma coisa. "Experimentai", e vereis que não há um só momento de desocupação da mente. E se experimentardes um raro momento em que ela não esteja ocupada — e esse é um estado indescritível — então, o "como retornar a esse estado" ou como retê-lo, se tornará vossa nova ocupação.

Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e conhecer o momento em que cessou a ocupação. Vereis, então, que a ação resultante desses momentos de desocupação, é a única ação "integrada". Quando não está ocupada, a mente não está contaminada pela sociedade, não é produto de inumeráveis influências, não é hinduísta nem cristã, nem comunista, nem capitalista. Por conseguinte, ela própria é uma totalidade de ação, com que não tereis de ocupar-vos e em que não precisais pensar.

Agora, se tivestes a bondade de escutar até aqui com atenção, se não estivestes dormindo, porém escutando com atenção completa, tereis experimentado, diretamente, o estado de não ocupação. Quando falamos ou escutamos, estamos apercebidos dos vários níveis de ocupação e de como eles são contraditórios. E apercebida da natureza totalmente contraditória da consciência, descobre a mente um estado em que não há ocupação. Isso traz um senso de ação completamente diferente. Não tendes então de fazer nada, porque a própria mente atuará.

Krishnamurti, Terceira Conferência em Madrasta, 18 de janeiro de 1956
Da Solidão à Plenitude Humana


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill