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segunda-feira, 28 de abril de 2014

União Mistica

No processo de autoconhecimento, união é integração, quando todos os aspectos do ser convivem em harmonia, gerando um sentimento de plenitude.

Sentir-se pleno, exige que os conflitos existentes dentro de nós sejam plenamente harmonizados.

Por exemplo, se insistimos em negar nossas reais emoções, ou em racionalizar nossos sentimentos, um desequilíbrio começa a se instalar em nós.

Ele pode, a principio, não ser percebido, e se continuarmos a ignorá-lo, certamente se expandirá, atingindo nosso corpo físico na forma de alguma doença. 

Somente uma atenção permanente que nos permita perceber, a cada momento, as verdadeiras motivações por trás de nossos comportamentos, pode levar-nos a evitar as armadilhas do ego, aquela parte de nós que insiste em manter uma falsa imagem, mesmo quando algo não vai bem.

Mas é preciso estar preparado, pois às vezes pagamos um alto preço por nos mantermos fiéis à nossa voz interior. A princípio, pode parecer mais cômodo ignorar nossa consciência e agir contra ela para garantir a simpatia do mundo.

Entretanto, quando isto se torna um hábito, podemos nos perder de tal modo, que já não saberemos mais diferenciar o nosso real desejo, daquilo que nos foi imposto como sendo o melhor.

A união mística só acontece quando nossa divisão interior desaparece e integramos os opostos existentes em nós, o masculino e o feminino, de forma harmoniosa. Isto pressupõe agir com coragem e determinação, quando necessário, mas também se manter passivo, amoroso e receptivo ao que a vida quiser nos enviar.

Permanecer em silêncio, esperando germinar as sementes que plantamos, ao invés de tentar forçar seu crescimento com atitudes ansiosas e desesperadas, pode ser um sinal de que estamos gradualmente penetrando num novo patamar de crescimento interior. Aos poucos, a verdade de nosso ser passará a predominar, até que finalmente, um dia, substitua a falsa imagem que construímos como defesa contra o mundo.

"Causa da infelicidade
Felicidade ou infelicidade não são dependentes de circunstâncias externas. Não há nem felicidade nem infelicidade nas coisas externas; seu estado de alegria ou de tristeza depende de sua reação a essas coisas externas. Na verdade, as coisas não importam; o que importa é a sua visão das coisas; tudo depende de como olhamos as coisas. Assim, em suma, a importância é do indivíduo, e não do objeto: a importância está em você e não no objeto que você possui. Daí que podemos dizer que a felicidade ou a infelicidade reside dentro de nós... Nós somos a causa de nossa miséria, porque seja de que forma estejamos, nós mesmos criamos essa condição.

Por favor, tenha esta verdade em sua mente, porque você não pode transformar a sua vida sem ela: se você se sente infeliz, saiba que alguma coisa está errada em seu ponto de vista. Uma vida miserável é resultado de uma maneira errada de olhar para as coisas; e uma vida feliz é o resultado de uma abordagem correta em relação à vida. Por favor, sempre que você se sentir miserável, tente buscar pela causa da sua infelicidade dentro de você, não do lado de fora. E então, gradualmente, você descobrirá as causas da sua infelicidade, escondidas em suas próprias reações. Então, uma nova vida começa para você".
 
Osho, Lead Kindly Light.


domingo, 30 de março de 2014

Que preparação é necessária para a experiência do Satori?

Pergunta: "Que espécie de preparação é necessária para a experiência do Satori?"

 O Satori torna-se possível para um grande número de pessoas, porque, às vezes, não necessita preparação. Às vezes acontece por acaso. A situação é criada, mas sem conhecimento. Há muitas pessoas que conhecem o satori. Podem não o ter conhecido com esse nome, podem não o ter interpretado como satori, mas o conheceram. Um grande fluxo de amor pode criá-lo. 

Mesmo através de drogas químicas, o satori é possível. É possível através da mescalina, do LSD, da maconha, porque, através de certa modificação química, a mente pode expandir-se o bastante para que haja o relance. Afinal, todos temos corpos químicos — a mente e o corpo são unidades químicas — assim, através da química, o relance também é possível. 

Às vezes, um perigo súbito pode penetrar tanto em você, que o relance se faz possível... às vezes um grande choque o leva tanto ao momento, que o relance pode ser possível. E, para aqueles que têm alguma sensibilidade estética, que têm coração poético, que têm uma atitude de "sensibilidade" para com a realidade (não uma atitude intelectual) o relance pode ser possível. 

Para uma personalidade racional, lógica, intelectual, o relance é impossível. Às vezes pode acontecer com uma pessoa intelectual, mas através de alguma intensa tensão intelectual — quando, subitamente, a tensão é relaxada. Aconteceu com Arquimedes. Ele estava em satori quando saiu de seu banho, e, nu, correu para a rua gritando: "Eureka, eu encontrei!" Foi uma liberação súbita da constante tensão em que ele estava em relação a um problema. O problema foi resolvido, assim, a tensão causada por ele foi, de súbito, e completamente afrouxada. Ele correu nu pelas ruas, gritando: "Eureka, eu encontrei!"

Para uma pessoa intelectual, se um grande problema exigiu de sua mente total que chegasse ao auge da tensão intelectual, e é subitamente resolvido, isso pode levá-lo ao momento do satori. Mas para as mentes estéticas é mais fácil. 

Pergunta: "Quer dizer que mesmo a tensão intelectual pode ser um caminho para chegar ao satori?"

Pode ser, e pode não ser. Se você se torna intelectualmente tenso durante esta discussão e a tensão não é levada ao extremo, ela será um obstáculo. Mas se você se torna totalmente tenso, e, então, de súbito, algo é compreendido, aquela compreensão será uma libertação, e o satori pode ocorrer. 

Ou, se esta discussão não for absolutamente tensa, se estivermos apenas conversando despretensiosamente — totalmente relaxados, totalmente não-sérios — mesmo que esta discussão pode ser uma experiência estética. Não são estéticas apenas as flores: mesmo as palavras podem sê-lo. Não são estéticas apenas as árvores: seres humanos também podem sê-lo. Não se trata de você estar observando as nuvens flutuantes e isso tornar possível o satori: mesmo se você está participando de um diálogo, isso se torna possível. Mas é necessária uma participação relaxada, ou uma participação muito tensa. Você pode estar relaxado para começar, ou o relaxamento pode vir porque sua tensão chegou ao auge e então liberou-se. Quando qualquer dessas coisas acontece, mesmo um diálogo, uma discussão podem tornar-se fonte de satori

Qualquer coisa pode tornar-se fonte do satori: depende de você. Nunca depende de qualquer outra coisa. Você está passando por uma rua; uma criança está rindo... e satori pode acontecer!

Há um haicai que conta uma história mais ou menos assim: um monge ia atravessando uma rua e uma flor muito comum surgia de uma parede — uma flor muito comum, uma flor cotidiana, que existe por toda a parte. Ele olhou para a flor. Era a primeira vez em que realmente olhava para ela, tão comum, tão encontradiça era essa flor! Por isso mesmo, o monge nunca se dera ao trabalho de realmente contemplá-la. Olhou para ela... e o satori aconteceu!

Nunca se contempla uma flor comum. É tão comum, que nos esquecemos dela. Assim, o monge nunca tinha, antes, olhado realmente aquela flor. Pela primeira vez em sua vida tinha visto, e o fato tornou-se fenomenal. Aquele primeiro encontro com a flor, com aquela flor tão comum, tornou-se único. Agora, ele lamentava aquilo. A flor sempre estivera esperando por ele, mas ele jamais olhara para ela. Sentiu-se penalizado, pediu perdão... e a coisa aconteceu!

A flor está ali, e o monge está ali, dançando. Alguém pergunta: "O que você está fazendo?"

Ele diz: "Vi algo incomum numa flor muito comum. A flor sempre esteve esperando. Eu nunca antes tinha olhado para ela, mas hoje o encontro se deu." Agora, a flor já não é algo comum. O monge penetrou nela, e a flor penetrou no monge. 

Uma coisa comum, mesmo um seixo, pode ser uma fonte. Para uma criança, um seixo é uma fonte, porém para nós não o é, porque se tornou demasiado familiar. Tudo quanto seja incomum, tudo quanto seja raro, tudo quanto surja aos seus olhos pela primeira vez, pode ser a fonte para o satori, e se você estiver disponível — se você estiver ali, se sua presença ali se encontra — o fenômeno pode ocorrer. 

Satori acontece para quase todos. Pode não ser interpretado como tal, você pode não ter sabido que se tratava do satori, mas ocorre. E essa ocorrência é a causa de toda a busca espiritual. De outra forma, a busca espiritual não seria possível. Como você poderia procurar algo do qual nunca tivesse sequer um relance? Primeiro algo deve vir de você, algum raio veio a você (um toque... uma brisa...) algo deve vir até você para tornar-se uma procura. 

Uma procura espiritual só é possível se algo aconteceu sem que você soubesse. Pode ter sido no amor, pode ter sido na música, pode ter sido na natureza, pode ter sido na amizade. Pode estar em qualquer relacionamento. Algo lhe aconteceu e foi a fonte de beatitude; e agora é uma recordação, apenas uma memória. Pode não ser sequer memória consciente, pode ser inconsciente, pode estar à espera, como uma semente, em algum lugar, profundamente dentro de você. Essa semente irá tornar-se a origem de uma procura, e você irá investigando sobre algo que não conhece. O que você está procurando? Não o sabe. Mas ainda assim, em algum lugar, mesmo desconhecido de você, certa experiência, certo momento de beatitude tornou-se parte e parcela de sua mente. Tornou-se uma semente, e agora essa semente está procurando seu caminho de saída, e você está em busca de algo a que não se pode dar um nome, algo que você não pode explicar. 

O que você está procurando? Se uma pessoa espiritual é sincera e honesta, não pode dizer: "Estou procurando Deus", porque não sabe se Deus existe ou não. E a palavra "deus" é absolutamente destituída de significação, a não ser que você tenha tido o conhecimento. Assim, você não pode procurar Deus ou a liberação (moksha). Não pode. 

Um investigador sincero terá de voltar-se para si mesmo. A procura não se dirige para algo exterior: volta-se para algo interior. Em algum lugar, sabe-se que algo foi entrevisto de relance, e tornou-se uma semente, e o está compelindo, empurrando-o, em direção de alguma coisa que você desconhece. 

A busca espiritual não é um arrancar do exterior, é um impelir para o interior. É sempre um empurrão. Se for um puxão, a busca é insincera, sem autenticidade. Então nada mais é do que a procura de uma nova espécie de gratificação, novo movimento dos seus desejos. 

A busca espiritual é sempre um empurrão em direção de alguma coisa que está profundamente dentro de você, e da qual você teve um relance. Você não interpretou aquilo, não o conheceu conscientemente. Pode ser a recordação da infância, de um satori que mergulhou profundamente no inconsciente. Pode ser um beatífico instante de satori, no ventre materno, uma experiência beatífica sem preocupações, sem tensão, com a mente em estado de completo relaxamento. Pode ser um sentimento profundo, inconsciente, um sentimento que você não conheceu conscientemente, e que o está impelindo. 

Os psicólogos concordam em que todo o conceito de busca espiritual vem da experiência beatífica no ventre materno. É tão beatífico, tão escuro; não há um só raio de tensão. Com o primeiro relance de luz a tensão começa a ser sentida, mas a escuridão é de relaxamento completo. Não há preocupação, não há nada a fazer. Você nem mesmo tem de respirar; sua mãe respira por você. Você existe exatamente como se interpreta que alguém existe quando alcançou a liberação (moksha). Tudo apenas é... e ser é beatitude. Nada tem de ser feito para alcançar esse estado: é assim, apenas. 

Assim, pode ser que exista uma profunda e inconsciente semente dentro de você e que experimentou total relaxamento. Pode ser que se trate de alguma experiência da infância, experiência de bem-aventurança estética, um satori infantil. Toda infância é "dada-ao-satori", mas nós o perdemos. O Paraíso foi perdido, e Adão dali foi expulso. Mas a recordação está ali, a memória desconhecida que o impele. 

Samadhi é diferente disso. Você tem de conhecer samadhi, mas, através de satori há a promessa de que algo maior é possível. Satori se torna uma promessa que te leva em direção ao samadhi.

O S H O 

Satori: o bom é o inimigo do Melhor

Pergunta: Qual é a diferença na experiência entre satori (em Zen, um relance da iluminação) e samadhi (consciência cósmica)? 

Samadhi começa com um intervalo, mas nunca termina. Um intervalo sempre começa e termina — tem limites: um início e um fim, mas samadhi começa com um intervalo e assim se eterniza. Não há fim para ela. Portanto se a ocorrência vem como um intervalo, e não há fim nela, trata-se de samadhi, mas se é um intervalo completo — com um início e um fim — então é satori, e isso é diferente. 

Se é apenas um relance, apenas um intervalo, e o intervalo é de novo percebido — se algo está enquadrado e o enquadramento é completo (você dá uma olhada furtiva e volta; você salta para aquilo e volta), se algo acontece e de novo é perdido — trata-se de um satori. É um relance de samadhi, mas não é o samadhi. Samadhi significa o início do conhecimento, sem fim algum. 

Na Índia não temos palavra que corresponda a satori, assim, às vezes, quando o intervalo é grande, podemos confundir satori com samadhi. Mas uma coisa nunca é a outra. Trata-se de um relance, apenas. Você veio ao cósmico, olhou para ele, e então tudo tornou a desaparecer. Você não será o mesmo, naturalmente; agora, nunca mais será o mesmo. Algo penetrou em você, algo lhe foi acrescentado, você não pode ser novamente o mesmo, mas, ainda assim, o que lhe modificou não está em você. É apenas uma recordação, uma memória. É apenas um relance. 

Se você pode recordar isso — se pode dizer "Conheci o momento" — ele foi apenas um relance, porque, do momento em que o samadhi acontece, você não estará ali para recordar. Então, você nunca poderá dizer: "Eu o conheci", porque, com o conhecimento, o conhecedor se perde. Só com o relance o conhecedor permanece. 

Assim, o conhecedor pode conservar aquele relance como memória — pode adorá-lo, ansiar por ele, desejá-lo tentar novamente senti-lo — mas ele ainda ali está. Quem teve um relance, quem olhou, ali está. Aquilo fez-se uma lembrança. E agora aquela lembrança irá segui-lo de perto, irá assediá-lo, e pedirá o fenômeno, uma e muitas vezes. 

Do momento em que o samadhi acontece, você ali não está para recordá-lo. Samadhi jamais se torna uma parte da memória, porque o que era já não é. Como dizem no Zen: "O homem antigo já não existe, e o novo chegou..." Esses dois jamais se encontraram, portanto não há possibilidade de que exista qualquer  lembrança. O antigo se foi e o novo chegou, e não houve encontro entre os dois, porque o novo só pode vir quando o antigo se foi. Então, não há lembrança. Não há assédio nem anseio com relação a isso. Não há desejo dirigido a isso. Então, tal como você é, está à vontade e nada há a desejar. 

Não se trata de você ter matado o desejo — não! É a indesejabilidade, no sentido de que aquele que podia desejar já não está ali. Então, não há anseio, não há futuro, porque o futuro é criado através de nossos anseios, é uma projeção dos nossos desejos. 

Se não há desejo, não há futuro. E, se não há futuro, não há necessidade do passado, porque o passado é sempre o cenário de fundo contra o qual, ou através do qual, o futuro é desejado. 

Se não há futuro, se você sabe que neste  mesmo momento vai morrer, não há necessidade de recordar o passado. Então, não há necessidade nem mesmo de recordar seu nome, porque o nome só tem significação se houver um futuro. Pode ser necessário. Mas, se não há futuro, você apenas queima, todas as pontes que o ligam ao passado. Você não precisa delas. O passado fez-se inteiramente sem importância. É só contra o futuro, ou para o futuro que o passado tem importância. 

Do momento em que aconteceu o samadhi, o futuro torna-se não existencial. Não existe, só o presente existe. É o único tempo. Não há nem mesmo o passado.  O passado desapareceu e o futuro também, e uma só e momentânea existência se torna a existência total. Você está nela, mas não como uma entidade que é diferente dela. Você não pode ser diferente porque você só se torna diferente da existência total devido ao seu passado e ao seu futuro. O passado e o futuro, cristalizados ao seu redor, formam a única barreira entre você e o presente momento que está acontecendo. Assim, quando ocorre o samadhi, não há passado nem futuro. Então, é que você esteja no presente, mas você é o presente, você se tornou o presente. 

Samadhi não é um relance, samadhi é uma morte; satori, porém, é um relance, não uma morte. E satori é possível através de muitas formas! Uma experiência estética pode ser uma possível fonte para o satori; a música pode ser uma possível fonte para o satori, o amor pode ser uma possível fonte para o satori. Em qualquer momento intenso, no qual o passado se torna  sem importância — em qualquer momento intenso que você esteja vivendo no presente (um momento de amor, ou de música, ou de sentimento poético, ou qualquer outro fenômeno estético, no qual o passado não interfira e no qual não haja o desejo do futuro) —, o satori torna-se possível. Mas é apenas um relance. 

O relance é importante, porque através do satori, você pode sentir pela primeira vez o que o samadhi pode significar. O primeiro sabor, ou o primeiro perfume que distingue o samadhi, vem através do satori. Por isso, o satori auxilia. Mas tudo quanto auxilia pode ser um obstáculo se você se agarra a ele, e se você sentir que ele é tudo. O satori tem uma beatitude que pode lhe enganar, tem uma beatitude que lhe é própria. 

Por você não ter conhecido o samadhi, para você, o satori é o definitivo, e você se agarra a ele. Mas se você se agarra a ele, pode transformar o que era útil, o que era amistoso, em algo que se faz uma barreira, um inimigo. Portanto, você deve estar alerta para o possível perigo do satori. Se assim o fizer, então a experiência do satori será útil. 

Um só e momentâneo relance é algo que nunca poderá ser obtido por outros meios. Ninguém pode explicá-lo. Não há palavras, não há comunicação, que possa ao menos dar uma sugestão disso. O satori é importante, mas é apenas um relance, uma ruptura, como uma única e momentânea ruptura na existência, no abismo. 

Você nem sequer tomou conhecimento do instante, nem mesmo se fez alerta para ele, e já está fechado para você. Apenas um clique na máquina fotográfica — um clique — e tudo é perdido. Então uma obsessão é criada: você arriscará tudo por aquele momento. Mas não anseie por ele, não o deseje. Deixe que ele adormeça em sua memória. Não faça dele um problema: esqueça-o, apenas. Se você puder esquecê-lo, se puder não se agarrar a ele, esses momentos voltarão a você, mais e mais; os relances virão a você, mais e mais. 

A mente solicitadora torna-se fechada, o relance está encerrado. Ele sempre vem quando você não está alerta para ele, quando você não o está esperando — quando está relaxado, quando nem mesmo está pensando nisso, quando nem mesmo está meditando. Mesmo quando você está meditando, o relance se torna impossível, mas quando não está meditando, quando está num momento de abandono — nem mesmo fazendo alguma coisa, nem mesmo esperando por alguma coisa — nesse momento de relaxamento, o satori acontece.

Começará acontecer mais e mais, mas não pense nele, não anseie por ele. E nunca o tome, erradamente, por samadhi.

O S H O 

quarta-feira, 26 de março de 2014

O Fracasso como portal de acesso à Realização

Os homens destinados à Realização afastam-se de qualquer tipo de compensação em algum momento de suas vidas consagrando-se UNICAMENTE àquele objetivo. Seu pensamento parece não se desviar para nada além daquilo. Em paralelo ao DESINTERESSE comum, esses homens seguiram caminhos muito diferentes. No entanto, todos eles têm ALGO EM COMUM: o FRACASSO, ou sucessivos fracassos se decidiram percorrer diversos caminhos. Esta é a VIA DESCENDENTE dos fracassos repetidos até o fracasso final. Desejo citar sobre o tema uma notável intuição de Dag Hammarsjöld: "Levado pelo labirinto da vida, chego a um momento e a um lugar onde compreendo que o caminho conduz a um trunfo que é uma catástrofe, e uma catástrofe que é um trunfo... e que a única elevação possível para o ser humano está nas profundezas da humilhação". 

A morte do ego e o renascimento são simultâneos; quanto aos momentos imediatamente anteriores à "morte", são iguais para todos os homens. O estado interior nestes instantes está composto de uma humilhação completa e aceita, isto é, da visão de si como nada, como não sendo nada. O pensamento, desvalorizado, se detém. A afetividade também se dilui, porque o homem experimenta ao mesmo tempo sentimentos de igual intensidade: de um lado, o desespero nas suas próprias possibilidades, de outro, uma total confiança n'Ele a favor da abdicação do Eu. Nesse momento, finalmente, o homem deixa de FAZER algo por sua Realização, desejando-a COM TODO O SEU SER. 

Citemos uma frase do zen: " O SATORI cai sobre nós de maneira imprevista, após esgotarmos todas as forças do nosso SER"...

O instante em que se esgotam todas as forças do nosso ser é o instante da Realização. Eis uma descrição do mesmo Ch'an: "O leve contato de um fio de baixa tensão origina uma explosão que afeta até as estruturas da Terra; tudo o que jazia no espírito explode como uma erupção vulcânica ou brilha como um relâmpago". 

... A duração da evolução interior que vai do primeiro desejo da Realização aos últimos instantes dessa morte-para-renascer é muito variável. Embora tenha sido de apenas dois anos para Ramana Maharshi, também pode durar dezenas de anos. Será que Buda estava pensando nisso quando, ao ser interrogado sobre a maior virtude humana, respondeu que era a PACIÊNCIA?

Hubert Benoit - A Realização Interior

O despertar da essência intrínseca verdadeira

Qual o sentido da prática do Zen? É o despertar do homem para a sua essência intrínseca verdadeira, e, além disso, a disposição de permanecer receptivo ao Ser no seu interior, a fim de manifestá-lo no seu mundo, livremente e sem medo.

A prática do Zen exige três tipos de conhecimento: 
1- saber que é possível a Grande Experiência na qual o homem conhece sua essência intrínseca;

2- o conhecimento da natureza daquilo que o separa enquanto homem consciente da sua essência intrínseca;

3 - o aprendizado do caminho leva do erro à manifestação da sua verdadeira essência.
O conhecimento de tudo o que bloqueia o caminho do despertar e da renovação é decisivo para toda prática que visa forjar um homem novo. E qual é esse obstáculo? O eu que define, com sua forma de consciência e seu sistema de vida, a partir dos quais o homem identificado com esse eu sente e pensa. Portanto, o objetivo central do Zen é abolir essa identificação. É derrubar o eu e a sua carapaça, demolindo o seu sistema de vida.

A principio, todos os exercícios zen visam alcançar o mesmo objetivo: suprimir o ego e seus valores e, ao fazê-lo, puxar de sob os seus pés o chão fictício sobre o qual o homem se apoia, impedindo-o de alcançar os seus verdadeiros alicerces. É preciso derrubar os valores estabelecidos. Rejeitar aquilo a que se crê ter direito. Arrancar aquilo a que nos apegáramos. Ridicularizar aquilo que se pretendia. Desmascarar o que se pensava. Tomar absurdo aquilo que se julgava saber. E, para lográ-lo, o mestre zen lança mão de qualquer meio. Só se pode entender as afirmações e as ações, de outro modo incompreensíveis, do mestre, ao conhecer o elevado objetivo que justifica cada meio empregado. Tudo aquilo que é inconcebível e completamente inesperado para o eu - a resposta sem sentido, a agressão gratuita, o golpe bem dirigido, o choque, o bofetão no rosto, a pancada, a implicância, o riso debochado, o grito assustador -, aquilo que o eu tem de aceitar e suportar, aquilo que o derruba ao fazer cair por água abaixo tudo o que o sustenta, eleva ou abriga na ordem habitual, visa abrir esse eu à consciência de mundo. Pois é justamente nessa derrocada que o homem que busca poderá talvez ter um vislumbre da verdade que está por trás da ordem. Aí ele reconhece que os valores fixos e firmes, supostamente tidos como inabaláveis, que até então lhe pareciam a única verdade imaginável e que lhe davam uma posição estável, não eram senão a mera correlação objetiva da postura adotada pelo seu eu. E como esta sua postura do eu foi afirmada através de sua compreensão fixa, obstruiu aquilo que não era passível de ser determinado.

Porém, tudo isto supõe um pré-requisito: é preciso que aquele que busca esteja realmente disposto a encontrar; que o praticante esteja realmente disposto a aprender, ou seja, que ele também se prontifique a seguir o seu guia, portanto, que se disponha a sentir-se e a manter-se como aluno. Pois o que seria do mestre sem o discípulo? Mas quem pode chamar-se de discípulo? Só aquele que foi arrebatado de suas bases pelo anseio, aquele cuja angústia o levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira barreira, morrerá.Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado pela inquietude do coração, que não o largará mais até ser satisfeita.

Só se pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se conduzir e a obedecer.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança, e quem é capaz de seguir mesmo sem entender, pronto a encarar qualquer desafio.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar tudo pela Unidade que o empurra na direção da luz.

Só se pode chamar de discípulo quem, cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os rigores da senda através da qual o mestre o guia.

TUDO OU NADA está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios freqüentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência, mas do SER que se irradia através da vida.

Karlfried Graf Dürckheim

O que devo fazer para me libertar?

Desde sempre o homem reflete sobre a sua condição, pensa que não é como gostaria de ser, define de maneira mais ou menos correta os vícios do seu funcionamento; faz, em suma, a sua auto­crítica. Esse trabalho de crítica, às vezes grosseiro, atinge ocasionalmente, em alguns ensinamentos, um altíssimo grau de profundidade e sutileza. As modalidades indesejáveis do funcionamento interior do homem comum são com frequência reconhecidas e descritas de modo bastante preciso.

Diante dessa riqueza do trabalho diagnóstico, surpreende a pobreza do trabalho terapêutico. As escolas que ensinaram e ensinam sobre o problema do homem, depois de mostrarem o que não anda bem no homem comum e a forma pela qual isso acontece, chegam necessariamente à pergunta: "Como remediar esse estado de coisas?" E aí começam a debandada e a pobreza das doutrinas. Chegando a esse ponto, quase todas elas se extraviam - ora grosseira ora sutilmente -, exceto a doutrina zen (ou, é preciso ainda esclarecer, "alguns mestres zen").

Isso não quer dizer que, em outros ensinamentos, certos homens não tenham obtido a sua "realização". Mas só o Zen puro expõe a questão e refuta os falsos caminhos de modo claro.

O erro essencial de todos os falsos caminhos consiste no fato de o remédio proposto não ter como objeto a causa profunda da miséria do homem comum. A análise critica do estado do homem não remonta o suficiente ao determinismo de seus fenômenos interiores; nesse encadeamento, ela não remonta ao fenómeno primeiro, detendo-se nos sintomas. O pesquisador que não vai além do sintoma, concentrando nele o seu esgotado pensamento analítico, não pode evidentemente conceber o remédio para a situação senão como a elaboração organizada e artificial de um sintoma que difere por inteiro do sintoma descoberto. Por exemplo: um homem chega à conclusão de que a sua miséria reside em suas manifestações de cólera, de amor-próprio, de sensualidade, etc., e julga que o caminho consiste em dedicar-se a produzir manifestações de doçura, de humildade, de ascetismo, etc. Outro homem, mais inteligente, chegará à conclusão de que a sua miséria reside em sua agitação mental e considerará que o caminho consiste em dedicar-se, por meio de certos exercícios, a tranquilizar a mente. Essa doutrina nos dirá: "A sua miséria vem do fato de você sempre desejar algo, do seu apego ao que você possui"; e isso desembocará, de acordo com o grau de inteligência do mestre, no conselho de distribuir todos os bens ou de aprender o desapego interior dos bens exteriores. Essa doutrina considerará que a miséria do homem reside na sua falta de autocontrole e ensinará "iogas", métodos que visam a um progressivo treinamento do corpo, do sentimento, do comportamento altruísta, do saber ou da atenção.

Tudo isso é, para o Zen, uma sofisticada domesticação e leva a uma ou a outra sujeição (dando a ilusória e exaltadora impressão de que nos tornamos livres). No fundo de todas essas coisas há este raciocínio simplista: "Isto não vai bem em mim dessa maneira; então, a partir de agora, vou fazer tudo ao contrário." Esse modo de apresentar o problema, ao partir de uma forma considerada má, encerra o pesquisador nos limites do domínio formal e lhe recusa, por conseguinte, toda possibilidade de restaurar a sua consciência para além de toda forma; quando me fecho no plano dualista, nenhuma inversão de sinal me liberta da ilusão dualista e me restaura na Unidade. Isso se assemelha por completo ao problema de "Aquiles e a tartaruga"; a maneira de formular o problema o encerra nos limites que devem ser transpostos e o torna, portanto, insolúvel.

O penetrante pensamento do Zen permeia todos os nossos fenômenos sem deter-se na consideração de suas modalidades. Ele sabe que, na realidade, nada vai mal em nós e que sofremos porque não compreendemos que tudo caminha à perfeição, porque cremos ilusoriamente que algo não está bem e que é preciso remediá-lo. Dizer que todo o mal advém do fato de o homem crer ilusoriamente que lhe falta algo constituiria ainda uma frase absurda, já que o "mal" de que fala é destituído de realidade e já que uma crença ilusória - portanto, sem realidade - não poderia ser a causa do que quer que seja. Além disso, se observo bem, não encontro positivamente em mim essa crença de que me falta algo (como poderia estar positivamente presente a crença ilusória numa ausência?); o que constato é que os meus fenômenos interiores caminham como se essa crença estivesse em mim. Mas, se os meus fenômenos o fazem, isso não se deve à presença dessa crença, mas ao fato de a intuição intelectual direta de que não me falta nada estar adormecida no fundo da minha consciência, de ainda não ter sido despertada. Ela está lá, pois nada me falta, sobretudo isso, mas está adormecida e não produz os seus efeitos. Todo o meu "mal" aparente provém do adormecimento da minha fé na perfeita Realidade; despertas em mim, não tenho senão "crenças" no que me oferecem os meus sentidos e a minha mente, que trabalha no plano dualista (crenças na inexistência de uma Perfeita Realidade Una). Essas crenças são formações ilusórias, sem realidade, consequências do adormecimento da minha fé. Sou um "homem de pouca fé", ou, mais exatamente, sem nenhuma fé, ou, melhor ainda, de fé adormecida, que não crê senão no que percebe no plano da forma. (Essa noção da fé presente mas adormecida explica a necessidade que temos, para nos libertar, de um mestre "despertador", de um ensinamento, de uma revelação; com efeito, o adormecimento comporta precisamente a não-fruição daquilo que pode despertar.)

Em suma, todas as coisas parecem ir mal em mim porque a ideia fundamental de que tudo é perfeito, eterno e totalmente positivo está adormecida no centro do meu ser, porque não está desperta, viva e atuante. Aí atingimos enfim o primeiro fenômeno doloroso, aquele de que deriva todo o resto dos nossos fenômenos dolorosos. O adormecimento da nossa fé na Perfeita Realidade Una (fora da qual nada "é") constitui o fenômeno primário de que deriva toda a cadeia distorcida; ele é o fenómeno causal, e nenhuma terapêutica do ilusório sofrimento humano poderá ser eficaz se não se encaminhar para esse ponto.

A pergunta "O que devo fazer para me libertar?" o Zen responde: "Você nada tem a fazer, já que nunca sofreu nenhuma sujeição e já que não existe, na realidade, nada de que você tenha de se libertar." Essa resposta pode ser malcompreendida e parecer desencorajadora porque encerra um equívoco referente à palavra "fazer". No homem comum, "fazer" se decompõe, de forma dualista, em concepção e ação, sendo à ação, à execução do que concebeu que o homem aplica a palavra "fazer"; tudo se organizará de modo espontâneo e harmonioso no nosso "fazer" quando deixarmos justamente de tentar modificá-lo de alguma maneira e trabalharmos apenas em despertar a nossa fé adormecida, isto é, em conceber a ideia primordial que temos de conceber. Essa ideia total, enquanto esférica e imóvel, não resulta, evidentemente, em nenhuma ação particular, não tem nenhum dinamismo específico; ela é a pureza central do Não-Agir, através da qual passará, não perturbado, o dinamismo espontâneo da vida natural real. Do mesmo modo, pode-se e deve-se dizer que despertar e alimentar essa concepção não é em absoluto "fazer", no sentido que essa palavra necessariamente assume para o homem comum, e até que esse despertar no pensamento se traduz na vida por uma diminuição (que tende à cessação) de todas as inúteis manipulações às quais o homem se dedica a partir de seus fenômenos interiores.

Evidentemente, é possível dizer que trabalhar na concepção de uma ideia é "fazer" algo. Mas, tendo-se em vista o sentido que essa palavra tem para o homem comum, é melhor, para evitar um perigoso equívoco, falar como o Zen e mostrar que o trabalho que pode abolir a angústia humana é um trabalho do intelecto puro que não implica a "feitura" de alguma coisa específica na vida interior, envolvendo, pelo contrário, a cessação do desejo de modificá-la.

Vejamos a questão com maiores detalhes. O trabalho que desperta a fé na única e perfeita Realidade que é o nosso "ser" se decompõe em dois momentos. Num momento preliminar, nosso pensamento discursivo concebe todas as ideias necessárias para que compreendamos teoricamente a existência em nós dessa fé adormecida e a possibilidade do seu despertar, bem como o fato de que só este último pode suprimir os nossos sofrimentos ilusórios. No curso desse momento preliminar, o trabalho efetuado pode ser denominado "fazer" alguma coisa. Mas essa compreensão teórica, supostamente obtida, ainda não modifica em nada o nosso estado doloroso; é preciso que ela se transforme numa compreensão vivenciada, experimentada por todo o nosso organismo, compreensão teórica e prática, ao mesmo tempo abstrata e concreta - só então a nossa fé será despertada. Mas essa transformação, esse transcender a forma, não pode resultar de nenhum trabalho direto "feito" pelo homem comum, inteiramente cego ao que não é formal. Não existe nenhum "caminho" para a libertação; isso é evidente, já que na realidade nunca estivemos submetidos a nada e continuamos a não estar. Não é preciso "ir" a lugar algum, não há nada a "fazer". O homem não tem nada a fazer diretamente para vivenciar a sua liberdade total e infinitamente jubilosa. O que ele deve fazer é indireto e negativo; o que deve compreender, através de um trabalho, é a enganosa ilusão de todos os "caminhos" que pode decidir trilhar. Quando seus esforços perseverantes lhe trouxerem a clara compreensão de que tudo o que pode "fazer" para libertar-se é vão, quando desvalorizar concretamente a própria noção de todos os "caminhos" imagináveis, irromperá o "satori", visão real que não tem "caminho" porque não é preciso ir a lugar algum, porque, desde toda a eternidade, estamos no centro único e fundamental de tudo.

Assim, pois, a "libertação", isso a que se dá esse nome e que é o desaparecimento da ilusão da sujeição, sucede cronologicamente a um trabalho interior, mas não é na verdade causada por ele. Esse trabalho interior formal não pode causar aquilo que transcende toda forma e que, por conseguinte, o transcende; ele é apenas o instrumento através do qual age a Causa Primeira.

Em suma, não existem formalmente nem a famosa "porta estreita" nem o "caminho" para o qual ela se abriria, a menos que se queira chamar assim a compreensão de que não há caminho, não há porta, não há lugar algum aonde ir. Eis aí o grande segredo - e, ao mesmo tempo, a grande evidência - que nos revelam os mestres zen.

Hubert Benoit
Do livro "A Doutrina Suprema, segundo o pensamento zen"*

quinta-feira, 13 de março de 2014

Abandone a única barreira e declare-se Deus

Todo o meu esforço é para acabar com todas as suas muletas, todas as suas crenças, inclusive em mim. Primeiro eu finjo que ajudo... porque essa é a única linguagem que você entende" Depois, aos poucos, começo a me retirar. Primeiro afasto-a de seus outros desejos e ajudo-a a se apaixonar pelo nirvana, pela libertação, pela verdade. E quando vejo que todos os seus desejos desapareceram e resta apenas um, então começo a insistir nesse desejo. Digo: "Abandone-o porque ele é a única barreira". 

Nirvana é o último pesadelo. Você não pode voltar atrás, porque uma vez abandonados esses desejos fúteis, você não pode trazê-los de volta. Uma vez abandonados, desaparece todo o charme e mistério que possuem. Você não consegue nem acreditar que os esteve carregando por tanto tempo. Tudo parece tão ridículo que você não consegue voltar atrás.

Então começo a afastar de você o último desejo. Quando ele desaparece, você está iluminado. Então você é Bhagwan. Todo meu esforço aqui é para torná-lo capaz de declarar-se Deus — e não só declarar, mas viver essa declaração. 

O S H O 

segunda-feira, 3 de março de 2014

A realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão

"Quando se quer descobrir a realidade, toda influência, toda imitação, observância de algum princípio ou exemplo, obediência a um guru ou outro qualquer — nada disso tem valor."
...Desde o começo dos tempos, pelos séculos a fora, o homem sempre buscou uma certa coisa que deve achar-se além da monótona rotina da vida de cada dia, uma coisa que o pensamento jamais atingiu e que não é produto do tempo. A essa coisa se tem chamado "Deus", se têm dado inúmeros e diferentes nomes, mas parece que pouquíssimos a alcançaram. Entretanto, todas as vezes que ela foi encontrada, alguns indivíduos muito sagazes trataram de organizá-la e, desse modo, a destruíram". [...] Assim, tem o homem a possibilidade de descobrir algo, de encontrar aquela realidade atemporal, imensurável, sem nenhuma ilusão — não como "experiência", ou uma fórmula, ideia ou conceito, porém como uma realidade? Porque, se não descobrirmos essa coisa, a vida será vã, sem significação. O homem pode ser competente, possuir muitos bens, viver regaladamente, tornar-se famoso, mas, se não encontrar essa coisa suprema, sua vida será SUPERFICIAL, VAZIA, INSIGNIFICANTE. E, percebendo esse estado, essa falta de significação, começa o homem a inventar deuses com o nome de pátria, de partido, e os deuses das igrejas, dos templos, etc. Assim, temos possibilidade de alcançar essa coisa suprema que não se encontra em nenhuma igreja, nenhum templo, nenhuma mesquita? Para descobri-la, para alcançá-la, necessita-se, em primeiro lugar, de ordem, de absoluta ordem interior, e essa ordem, que é virtude, é negada quando não se rejeita TOTALMENTE a moralidade social. Nessa total rejeição da moral social, há moralidade.

[...] Tendo lançado a base, não como ideia, não como conceito, não como abstração, porém na vida real de cada dia, podemos começar a investigar se existe "alguma coisa mais", uma coisa indestrutível; e, para descobri-la, ou, melhor, para encontrá-la, precisamos compreender a meditação.

[...] Meditação é o silêncio da mente; mas, nesse silêncio, nessa intensidade, nesse estado de total alertamento, a mente já não é a sede do pensamento, porque o pensamento é tempo, o pensamento é memória, o pensamento é conhecimento. E, quando se acha de todo quieta e sobremodo sensível, a mente pode começar uma viagem eterna, sem limites. Isso é meditação, e não aquela estúpida repetição de palavras que se está praticando.[...] A hipnose, quer praticada por vós mesmos, quer por outrem, só pode projetar o próprio condicionamento, as próprias ansiedades e temores; não tem absolutamente nenhum valor.

[...] Temos de descobrir por nós mesmos, independente dos teóricos, dos teólogos e dos sacerdotes, o que é a relação com a realidade. Essa realidade pode ser chamada "Deus"; o nome é, em verdade, de ínfima importância, porque a palavra, o símbolo, nunca é a coisa real, e ficar enredado em símbolos e palavras parece-me uma coisa totalmente irracional. [...] Assim, a o fazermos a pergunta sobre a verdadeira relação do homem com a realidade, devemos estar livres da palavra com todas as suas associações, com todos os seus preconceitos e condições. Se não descobrirmos essa relação, a vida terá muito pouca significação; então, inevitavelmente, nossa aflição, nossa confusão, se tornarão maiores, e a vida cada vez mais intolerável, mais superficial e insignificativa. Precisamos ser sobremodo sérios para descobrirmos se tal realidade existe ou não, e qual a relação do homem com ela. [...] Antes de tudo o mais, é possível — não misticamente, nem romântica ou emocionalmente, porém realmente — descobrir ou encontrar esse estado extraordinário?  

Krishnamurti — Onde está a bem-aventurança  

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Breve relato do despertar do processo de retomada da Consciência

D.D.: Estou sem microfone aqui e meu computador está péssimo, travando toda hora mas, eu queria escrever um pouco... Posso?
out: sim
D.D.: Então, com licença a todos. Boa noite.
out: bn
D.D.: Eu quero dizer antes de mais nada que este grupo vem sendo muito importante pra mim. Na verdade eu escuto mais o canal no Youtube do que este canal.
D.D.: Conheci vocês através do Youtube, pesquisando sobre o K
D.D.: O Krishnamurti eu descobri através de um professor de arquitetura, onde a gente fazia com ele uma entrevista sobre escolas, meios de ensinos...
D.D.: Perguntei à ele qual seria, na opinião dele a escola ideal... e ele respondeu que era a escola de Krishnamurti
D.D.: O tempo passou, e um dia eu estava a assistir um documentário onde aparecia o K falando aquele frase " famosa" dele: Não é nenhum pouco saudável ser normal numa sociedade doente
D.D.: Isso me tocou logo, e me vi buscando coisas sobre esse cara em todos os lugares, tanto em livros como em vídeos
D.D.: E foi ai que conheci a confraria!
D.D.: Eu falo uma coisa pra vocês.
D.D.: Eu entro na internet muito pouco, uso para coisas do trabalho como e-mail e Facebook (egobook)
D.D.: ...além disso vejo, ouço e acompanho a página de vocês no Youtube e aqui.
D.D.: Minha vida mudou depois que conheci o K
D.D.: e a coisa mais importante pra mim, a maior descoberta da minha vida ( hoje estou com 37 anos), foi saber que eu não sou a minha mente.
D.D.: Que tenho muitos condicionamentos e que, por conta deles penso do jeito que penso.
D.D.: Tive um insite (visão de dentro).
D.D.: Eu estava encostado no pilar daqui de casa, próximo à uma árvore e, fui deletando os meus pensamentos... Toda palavra que vinha na minha mente eu retirava o significado dela na mesma hora.
D.D.: Quando de repente, tudo me apareceu tão claro, tão nítido
D.D.: Senti que eu era tudo
D.D.: eu era a árvore que estava perto de mim
D.D.: eu era o meu cachorro
D.D.: eu era o céu azul com todas as estrelas que eu não via
D.D.: eu era tudo que estava em meu entorno, até mesmo as coisas que eu não enxergava naquele momento
D.D.: A sensação que eu tive foi de que, a vida, ou melhor escrevendo, na vida não há absolutamente nenhum problema. Nenhum!
D.D.: Se eu saísse na rua e um carro me atropelasse, isso não seria um problema.
D.D.: Se eu perdesse o meu pai, ou minha mãe em morte, isso também não seria um problema
D.D.: Se eu perdesse tudo o que tenho, trabalho, família, bens qualquer, não seriam problemas
D.D.: Esse raciocínio me veio depois.
D.D.: Na hora tive somente uma leveza, uma luz tamanha e, que durou no máximo 1 segundo
D.D.: 1 segundo!
D.D.: Ou seja, em 37 anos de vida eu ti segundo de realidade!
D.D.: Conversando com um amigo ( hoje só tenho um amigo, pois, os outros, que eram muitos, eu não consigo mais me identificar, e, portanto, não frequento mais os mesmos ambientes que eles), contei o que tinha acontecido comigo.
D.D.: E disse à ele como era triste saber que, talvez aquilo jamais iria se repetir na minha vida
D.D.: Ele me disse que pelo menos eu havia visto, enxergado. Que aquilo era como se fosse uma pessoa que vivera toda uma vida trancafiada num quarto sem janelas e portas, um quarto escuro... e que de repente descobrisse um buraquinho, um vão do tamanho de um alfinete, e que avistasse o mundo exterior
D.D.: Bom, já está travando aqui, o meu computador está muito ruim e, eu gostaria de falar muito mais coisas à vocês, coisas que estão acontecendo comigo depois que conheci o K e toda essa verdade que vocês dizem e procuram saber.
D.D.: E são tantas coisas..., mas enfim. Agradeço de coração à todos vocês, está sala é muito importante pra mim, é a única coisa que tenho real satisfação em estar... boa noite. Vou providenciar um mic. Abraço à todos. Voadora krishnamurtiana, como diz o Out!

Confrade Du Duarte - Reunião Paltak

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Minha nova concepção da Vida

Mouni Sadhu
Uma das tarefas mais difíceis com que me deparei durante minha estada no ashram de Ramana Maharishi, foi a necessidade de encontrar a definição clara da nova concepção de vida como tal. Parece-me que há em mim um ponto central ao redor do qual tudo gravita em minha consciência, o meu "EU". Esta concepção deve ser definitiva e absoluta, pois nenhuma outra será aceitável pelo meu "Eu".

Entre as centenas de definições que encontrei, nenhuma delas pareceu-me dar uma síntese perfeita. As definições condicionadas devem ser abandonadas como falsas. As que são demasiadamente abstratas, uma terminologia impossível de ser posta em prática, parecem-me simples acrobacias mentais, boas para os professores aposentados de filosofia teórica, mas não para um homem que se esforça pela realização espiritual. Mas sei que deve existir uma definição que harmonize com as profundezas de meu ser e que não provoque nem dúvida nem ceticismo, pois estará de acordo com minha própria experiência interna. 

Todos os que realizaram a verdade na vida falam dela com maior entusiasmo, COMO SENDO A ÚNICA META, para cujo alcance tudo o mais deveria ser sacrificado, UMA VEZ QUE É PURA ILUSÃO. No entanto, todas as suas palavras não aprecem ser outra coisa senão belas e encantadoras melodias produzidas por um instrumento desconhecido. Em minha busca tive de abandonar tudo o que é limitado, condicionado por nome e forma. Aquilo que sobra, sem forma nem véu, isso deve ser necessariamente a própria vida. 

O processo da investigação — principalmente através da meditação — demonstrou-me que quanto mais eu abandono a ideia de ser realista o que é visível, mais próximo me sinto da minha meta. Quais são, na prática, os estágios desse processo? Naturalmente é impossível descrevê-los em detalhes, mas as linhas gerais são muito simples. Começando a meditar em completa paz e serenidade sobre a relação que os objetos externos têm com o Eu, muitas vezes me parece que atinjo a verdade: eles não significam nada para o "Eu". Nesse momento desponta uma espécie de visão da possibilidade de uma EXISTÊNCIA independente de quaisquer condições. Essa "visão" — a palavra não é exata nem muito própria — dura mais ou menos tempo, dependendo do grau de concentração alcançada, mas seu resultado permanece como a memória de uma coisa duradoura e certa, sem qualquer sombra de dúvida. Ela encontra expressão no pensamento: "Unicamente a CONSCIÊNCIA é VIDA". A Consciência desapegada, independente de tudo, a simples afirmação "EU SOU". 

Mas esse "EU" não é o pequeno eu contido na transitória forma corpórea com seus sentidos, que é, na verdade, a antítese do EU REAL. Esse "EU"-Consciência está mais próximo do termo usado, muitas vezes, na literatura filosófica moderna, a "Consciência Cósmica" ou "Eu Cósmico". Essa Consciência é também FELICIDADE ABSOLUTA. 

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


Como entrar no estado de meditação Supra-mental?

Mouni Sadhu
"A mente tem sua função na evolução do homem, mas essa função é limitada e pode guiar somente até certo nível. Além desse ponto começa outro novo".
— Ramana Maharshi


* * *
Analisando o processo em mim mesmo, acho que primeiro devem ser sustados todos os pensamentos. A Auto-inquirição  amadurece a mente para que o interesse no processo do pensamento desapareça, a fim de que a tranquilidade da mente, tão difícil até então, se torne fácil. 

Segundo, quando a mente está tranquila, surge forte insistência para a unidade com o TODO. Mas o que é esse TODO ainda não pode ser concebido e sinto que nunca pude obtê-lo sozinho. A melhor comparação é "fundir-se e dissolver-se NAQUILO que unicamente É". Diferente é deixar o corpo ou o ego, pois não há movimento. Permanecemos onde estamos, mas não somos o que éramos antes. 

Tudo o que poderia ser visto ou sentido antes, está separado de mim agora. Nada mais pode ser dito. 

Terceiro, o estado de unidade com o TODO traz inabalável certeza de que somente esse estado é o real e permanente; e que é esse o último refúgio que sempre buscamos, e o qual jamais perderemos. Nada há mais além disso, pois — ISSO É TUDO. 

A concepção de como a "morte" é destruída não significa que estamos nesse estado de pensamento de uma "vida depois da morte". O único fato que sabemos é que essa vida continuará para sempre. 

Nesse estado de Ser não há a falta distinção do tempo como passado, presente e futuro. 

É possível força a linguagem para transmitir à mente algo daquilo que trazemos de tal meditação, mas é provável que isto SEJA INÚTIL OU MAL COMPREENDIDO. E não há certeza de que outros cheguem a essa meditação silenciosa do mesmo modo que nós. Assim, qualquer descrição pode ser apenas uma sugestão e pode até não ser o caminho apropriado para outrem. 

Há uma experiência misteriosa que prova o poder de Auto-inquirição. Ramana Maharshi insistia que não devemos usar a Auto-inquirição como se fosse um mantra, isto é, como palavras apenas, mas que cada pergunta esteja PENETRADA do desejo de conhecer "Quem sou eu?". Pelo uso da Auto-inquirição dessa forma, após tranquilizar a mente, a resposta vem por si mesma, sem palavras, nem pensamentos — TU SABES QUEM ÉS. E o que se segue é INEXPRIMÍVEL. 

Esse é o grande serviço que Ramana Maharshi prestou à Humanidade — ter forjado este infalível instrumento de alcance — a inspiradora Auto-inquirição

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

A história de meu coração começa há dezessete anos atrás. Tinha apenas dezoito anos quando um sentido muito íntimo e esotérico começou a surgir em mim através de todo o universo visível e aspirações indefiníveis se apossaram de minha alma. 

Em última instancia, senti-me só com o sol e a terra. Deitado sobre a relva, falei com a alma à terra, ao sol, ao ar, e ao mar distante, longe de meus olhos. Pensei sobre a firmeza da terra, e senti que era envolvido por ela; através da capa de relva, apossou-se de mim uma influência que me fazia sentir como se a terra falasse comigo. Pensei no ar e em sua pureza, que constitui a sua grande beleza. O ar tocou-me e legou-me algo de si mesmo. Orei por todas essas coisas; senti na alma uma emoção que ultrapassa a capacidade de ser definida. 

Pensei em minha existência mais íntima, naquela consciência que se chama alma. Estas, ou seja, eu mesmo, pus na balança para pesar a oração celestial. Aí tirei a força de meu corpo, de minha mente, de minha alma. A oração, essa emoção da alma, existia em si mesma, não em qualquer objeto. Era uma paixão. Escondi meu rosto na relva, senti-me completamente prostrado, perdi-me na luta, fui arrebatado e levado para longe. 

Se algum pastor me tivesse por acaso visto deitado na relva, teria pensado que eu descansava por alguns instantes. Não demonstrei, exteriormente, o que sucedia em meu interior. Poderia ele imaginar que dentro de mim se agitava um verdadeiro vendaval, enquanto aí estava reclinado? Senti-me exausto, quando afinal retornei a casa. 

Tendo bebido abundantemente do céu que tinha sobre mim e sentido a mais gloriosa beleza do dia, e relembrando o mar, imensamente velho, que, como me parecia, estava em alguma parte muito distante, perdi-me então e senti-me absorvido no ser ou existência do universo. Senti a profundeza do que existe debaixo da terra e acima do céu, mais longe ainda do que o sol e as estrelas. Ainda mais longe, além das estrelas, no imenso espaço, e então a separação do meu ser pareceu-me parte do todo. 

Orei com todo esse tempo e poder que posso reunir em minha alma, em sua parte intelectual, a ideia, o pensamento. Agora, esse momento me dá o pensamento por inteiro, a ideia total, a alma completa expressa no Cosmo que me rodeia. Dá-me a noção ilimitada da vida, tal como do mar e do sol, da terra e do ar. Brinda-me com a compreensão da vida física, da mente, iguale além de sua complexidade. Faz-me perceber que a alma é maior e mais perfeita que todas as coisas. Atende ao meu desejo inexprimível que me ata como um nó, que existe em mim como a força do mar. Percebo uma alma-vida ilimitada. Percebo a existência de um pensamento do Cosmo. Creio na forma humana. Deixe-me encontrar alguma coisa, algum método pelo qual essa forma possa alcançar a beleza máxima. Sua beleza assemelha-se à de uma flecha, que pode ser lançada a distância, de acordo com a força do arco. Assim, a ideia que surge na mente humana pode expandir-se indefinidamente e elevar-se à beleza. Quanto à mente, à consciência mais íntima, a alma, minha oração desejou que eu pudesse descobrir um sistema de vida para ela, de tal forma que não apenas pudesse conceber essa vida, mas efetivamente dela desfrutar na terra. Desejei descobrir um conjunto de ideias novo e mais elevado, sobre o qual a mente pudesse trabalhar. O que mais se aproxima desse significado seria um novo livro da alma, um livro esboçado a partir do presente e do futuro, sem contemplar o passado. Em lugar de ideias baseadas na tradição, deixe-me dar à mente um novo pensamento saído do presente, do momento atual. 

Reconhecendo minha própria consciência mais íntima, a psique, tão claramente, não me pareceu que a morte afetasse a personalidade. Não havia, na dissolução, um carisma de separação. O espírito não se fazia imediatamente inacessível, distanciado de forma incomensurável. 

Para mim, tudo é sobrenatural. Não é possível submeter o espírito às leis da matéria. 

Quando penso que percebi esse momento do eterno Agora, que sempre foi e será, que estou em meio às coisas imortais nesse momento, que provavelmente há almas infinitamente superiores à minha, assim como a minha é infinitamente superior a um pedaço de madeira, o que será, então, um milagre? 

Sinto-me à beira de uma vida desconhecida, que se encontra muito perto, que quase posso tocar, no limiar de poderes que, se eu pudesse alcançar, me dariam um imenso alento de existência. Algumas vezes sinto-me invadido por um êxtase de alegria pelo universo inteiro. Desejo maiores noções sobre a alma-vida. Estou certo de que ainda há mais para ser descoberto. Uma grande vida, uma civilização inteira está às portas do pensamento comum. 

Há uma Entidade, uma Alma-Entidade, embora ainda não possa ser reconhecida. 

O homem possui uma alma, embora me pareça que ela permanece em expectativa, pela qual ele ainda pode descobrir coisas que agora lhe parecem sobrenaturais.

Creio, de todo o coração, no corpo e na carne, e creio que eles deveriam ser estimulados e tornados mais belos por todos os meios; creio que os órgãos do corpo podem fazer-me mais fortes em sua ação, perfeitos e duradouros. Creio que a carne exterior pode ser ainda mais bela, que os contornos podem ser mais delicados, que os movimentos podem ser mais graciosos. Creio que todo tipo de ascetismo é vil, é uma blasfêmia contra a raça humana como um todo. 

Como exprimir, adequadamente, minha certeza de que todas as coisas sucedem para o melhor, para um fim mais sábio e benéfico e que estão ordenadas por uma inteligência humana? É um crime contra a raça humana. 

Nada evolui. Não há evolução, assim como não há intenções na natureza. Por haver estado face a face com a natureza, e não com livros, convenci-me de que não há nem intenções, nem evolução. O que é, qual é, qual foi a causa, como e por que, ainda não o sabemos. Mas, certamente, não são aquelas as respostas. Nada há de humano em qualquer das vidas animais. A natureza toda, o universo, até onde posso ver, é ante ou ultra-humano. Nada tem a ver com o homem. Nada havendo de humano na natureza do universo, e sendo todas as coisas ultra-humanas, e sem qualquer intenção ou propósito, concluo que nenhuma deidade tem algo que ver com a natureza. Em seguida, nos assuntos humanos, nas relações do homem com o homem, no comportamento diante da vida, nos acontecimentos que ocorrem nos assuntos humanos em geral, tudo acontece por acaso. E como todas as coisas, nos assuntos humanos, acontecem por acaso, nenhuma deidade pode ser responsabilizada. 

Um impulso irresistível levou-me a escrever essas coisas e esse impulso obrou em mim desde muito jovem. Não a escrevi pelo prazer da discussão, e ainda menos visando a algum proveito. É, na verdade, todo o contrário. Foram-me impostas pela seriedade de coração, e exprimem minhas mais sérias convicções. Uma das maiores dificuldades que encontrei é a falta de palavras para expressar as ideias.

Richard Fefferies - 1848-1887

Extraído do livro "Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana", de R.M Bucke


domingo, 1 de dezembro de 2013

O que é o estado supremo de Consciência?

O que é o estado supremo de Consciência? São Paulo chamou-o de "a paz que está além do entendimento" e R.M. Bucke designou-o de "consciência cósmica". No Zen-Budismo, emprega-se o termo satori ou kensho; no yoga, samadhi ou moksha e, no taoísmo, o "Tao Absoluto". Thomas Merton utilizou, para descrevê-lo, a expressão "inconsciente transcendental; Abraham Maslow criou o termo "experiência máxima"; os sufis falam de fana. Gurdjieff qualificou-o de "consciência objetiva", ao passo que os quacres chamam-no de "a Luz Interior". Jung referiu-se à individuação e Buber falava da conexão Eu-Tu. Quaisquer que sejam, porém, os nomes dados a esse fenômeno antigo e bem conhecido — luz, iluminação, libertação, experiência mística —, todos eles dizem respeito a um estado de percepção radicalmente diferente de nossa compreensão comum, de nossa habitual consciência desperta, de nossa mente diária. 

Além disso, todos concordam em qualificá-lo como o estado supremo da consciência: uma percepção autotransformada de nossa total união com o infinito. Está além do tempo e do espaço. Trata-se de uma experiência da infinitude que é a eternidade, da unidade ilimitada com toda a criação. Nossa percepção sensorial do "eu", socialmente condicionada, despedaça-se e destrói-se devido a uma nova definição de pessoa em si, do eu. Nesta redefinição de pessoa em si, torno-me idêntico a toda a humanidade, a toda a vida e ao universo. As habituais fronteiras do ego esboroam-se à medida que o ego ultrapassa os limites do corpo e, de súbito, torna-se um com tudo aquilo que existe. O eu torna-se integrado à Alma Superior, tal como Emerson a denominou (e talvez integrado ao que Arthur Clarke, em Fim da Infância, chamou de Mente Superior). O eu torna-se abnegado, o ego surge como uma ilusão e o jogo do ego chega ao fim. O Maitrayana Upanishad expressa-se deste modo: "Após perceber seu próprio eu como o EU, um homem torna-se abnegado. (...) Este é o mistério Supremo.

John White (org.) - O mais elevado estado de Consciência


sábado, 30 de novembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

Profundamente agradecido pelo privilégio da "santificação" pela fé", realizada com INESPERADA PLENITUDE, juntei-me, nos bosques, a alguns cristãos que havia conhecido, para juntos esperarmos, diante de Deus, pelo batismo no Espírito. O tempo de espera foi passado em PROFUNDO SILÊNCIO, quebrado apenas por alguns hinos e breves orações. Finalmente, "Veio do céu um ruído semelhante a um vento impetuoso que soprasse e encheu a casa onde estávamos reunidos. Essas são as mais inspiradas palavras que encontro para descrever a minha impressão. Entretanto, a natureza permaneceu imobilizada, sem que se mexesse uma única folha das árvores ou da relva. O Senhor revelou-se pelo Espírito às nossas almas e não aos nossos sentidos. Meu ser por inteiro parecia indescritivelmente cheio por Deus, em quem sempre acreditara. A percepção dos meus sentidos seria impotente para transmitir-me a CONSCIÊNCIA que agora possuía. Compreendi as visões extra-sensoriais de Isaías, Ezequiel e Paulo. Dentre todas as coisas criadas, nada era mais real para a minha alma do que o próprio Criador. A experiência foi terrível, embora não infundisse medo. Conservei total domínio dos meus sentidos e ainda assim percebi que eles haviam sido envolvidos pela sublime manifestação. Cada pergunta era respondida de forma o mais breve possível, a fim de que minha alma não se perdesse, nem por um instante, a PRESENÇA Celestial que a ENVOLVIA e SACIAVA. Não me recordo de haver confidenciado a ninguém essa experiência; porém, alguns dias depois, ao reencontrar minha esposa, ela caiu de lágrimas ao ver-me, antes mesmo de pronunciar uma só palavra, tal a MUDANÇA HAVIDA EM MEUS ASPECTO. Com a CONSCIÊNCIA DO DESPERTAR, as águas vivificantes manaram do meu espírito. Fui invadido por grande medo, mas ele era doce e, não, opressivo. Era a mesma sensação que me havia invadido na presença de Deus e essa impressão ACOMPANHOU-ME SEMPRE, mesmo quando dedicado às mais absorventes atividades. Para mim, a vida converteu-se em um salmo de louvor. 

É evidente que, passado certo tempo, houve um decréscimo nessa exaltação de sentimentos. Entretanto, em meu íntimo permaneci CONSCIENTE DE DEUS, tal como fora dito: Habitarei neles e com eles caminharei"; "Viremos a Ele e faremos nossa morada com Ele"... Não é fácil abordar essas coisas. Minhas palavras parecem pobres e o seu resultado é mais de encobrimento do que de revelação. Fosse a minha linguagem capaz, e a gloriosa realidade seria transmitida a outros corações!"

R.P.S - 1830-1898

A Consciência Integrativa Amorosa em Baruch Spinoza

Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti. 

Baruch Spinoza

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard M. Bucke

— Breve relato do recuperado estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard Maurice Bucke

... Foi no começo da primavera, mo início do seu trigésimo sexto ano de vida. Ele e dois amigos haviam passado a noite lendo Wordsworth, Shelley, Keats, Browning e especialmente Whitman. Separaram-se à meia-noite e ele eprcorreu um longo caminho em trole. Isso ocorreu em uma cidade inglesa. Sua mente, profundamente influenciada pelas ideias, imagens e emoções despertadas pela leitura e conversas da noite, achava-se em estado de calma e paz. Ele desfrutava de UM MOMENTO QUE QUIETUDE, quase de ALEGRIA PASSIVA. De repente, sem aviso de nenhuma espécie, viu-se envolvido por uma nuvem avermelhada. No primeiro momento, pensou em um incêndio subitamente deflagrado na grande cidade. Logo em seguida, porém, percebeu que a luz estava dentro dele mesmo. Imediatamente apoderou-se dele um sentimento de exaltação, de imensa alegria, acompanhado ou logo seguido por uma iluminação intelectual quase impossível de ser descrita. Em seu cérebro explodiu uma momentânea fagulha do Esplendor Brâmico, que antes jamais lhe havia iluminado a vida. Sobre seu coração caiu uma gota da Felicidade Brâmica, deixando-lhe para sempre um sabor de paraíso. Entre outras coisas nas quais não chegava a acreditar, viu e soube que o Cosmo não é matéria morta, mas uma PRESENÇA VIVA; que a alma do homem é imortal; que o universo é tão bem construído e ordenado que sem nenhuma casualidade todas as coisas funcionam juntas para o bem de cada uma delas e do todo; que o fundamento do mundo é o que denominamos amor e que a felicidade de cada um é, a longo prazo, absolutamente certa. Ele declara que aprendeu mais durante os poucos minutos de permanência da Iluminação do que nos meses, nos anos de estudos anteriores e que aprendeu mais do que poderia aprender com qualquer professor ou qualquer escola. 

A iluminação, enquanto tal, não durou mais do que uns poucos instantes, mas seus efeitos demonstraram ser permanentes. Foi-lhe impossível esquecer o que havia visto e aprendido naquela ocasião. Tampouco pode ou quis duvidar da verdade do que então foi apresentado à sua mente. Foi uma experiência sem retorno.(...) O mais importante acontecimento daquela noite foi a sua real iniciação na nova e mais elevada ordem de ideias. Mas foi apenas uma iniciação. Ele viu a luz, mas não soube de onde ela vinha ou o que significava; era como se fosse igual ao primeiro indivíduo que viu a luz do sol.

Consciência Cósmica - Estudo da Evolução da Mente Humana

sábado, 16 de novembro de 2013

Descobrindo o misterioso ser no âmago do coração

A Verdade só pode ser realizada na calma e quietude. 

Se realmente nada existisse além desta branca tranquilidade, deste impasse mental , deste analítico beco sem saída e vazio total, não haveria nem poderia haver nenhuma resposta à vossa indagação. A mente inquieta jamais poderia ser aplacada. Vosso coração indagador estaria sempre insatisfeito; o vazio permanece sempre vazio. Mas os homens receberam uma resposta, a divina resposta do Super-eu. O que eles receberam, também vós podeis receber. 

Nesta etapa, quando a intuição vos manda renunciar a vosso intelecto e vos ordena colocar de lado vossos pensamentos; quando vos ensina que a acumulação de pensamentos constitui um véu que vos tapa a realidade espiritual — então surgirá ali uma grande luta, durante a qual uma parte de vosso corpo parecerá retalhada em pedaços. O intelecto, até aqui o guia venerado e de toda confiança, até aqui dominante em vossas práticas, se acha agora prestes a ficar deserto. Consequentemente, o intelecto declara guerra aberta contra o novo invasor e está determinado a não ceder seu lugar no trono sem uma severa luta. Nesta altura, é difícil verdes vosso caminho e constantemente oscilais entre a alvorescente intuição e o resistente intelecto, esforçando-vos por manter o terreno familiar e todavia permitir que se opere o inevitável crescimento. 

Esta experiência não pode ser evitada, e portanto deve ser aceita. O que se pode fazer, no entanto, é reconhecer a natureza real da luta e determinar-se a aliar-se ao poder superior, que enviou o seu embaixador silencioso. Deveis compreender que o caminho do humilde sacrifício intelectual e do reconhecimento mental é agora o caminho da sabedoria, e agir consequentemente. 

A primeira visita que vos fará o Super-eu, será de maneira humilde. Não sabeis como, nem porque, nem donde ele vem. Da primeira tênue intrusão dificilmente vos apercebereis, porém, gradualmente, ele se fará sentir. Será algo tão suave, tão delicado, que, a não ser que estejais livre de todos os preconceitos, vos inclinareis a reprimi-lo. Precisais estar totalmente vazio e oco, pronto para aceitar o que vier a vós. Esta santa influência pairará sobre vós, vos cobrirá e inundará. Isto significa que o vazio da matéria e da mente está sendo enchido. 

A meta final diante de vós é manter a mente numa condição inteiramente livre de pensamentos, sem cair em sono, nem perder a consciência, ou degenerar em mediunismo psíquico. Se o primordial pensamento do "eu" é assegurado, aquietado, sujeitado, ele é eliminado, pois subsiste por si; só existe em virtude da luz divina da consciência do Super-eu que o informa. Com a anulação deste simples pensamento, todos os inumeráveis pensamentos do ego pessoal que até aqui pulularam ao seu redor, são vistos como uma ilusão, considerando que o sentido de "EU SOU", o sentido do ser que o informa, não existe.

"Como se há de conhecê-lo?" Conhecê-lo é sê-lo. Tudo o mais do mundo se pode conhecer por outras vias, indiretamente mas esta é uma coisa que se deve conhecer tornando-se ela própria. 

Nesta etapa de um tal tornar-se, o próprio "eu" que parecia ser o centro de vossa existência, a última raiz de vossa natureza inteira, dissolve-se, dilui-se em seus próprios fundamentos. O ego pessoal desaparece, sua limitações são despedaçadas qual uma rocha pelo carvalho em crescimento, e é substituído por um sentido de existência que possui a eterna duração. Com essa mudança sentis um extraordinário sentido de alívio, como se todos os interesses da personalidade, suas alegrias e cuidados, suas esperanças e temores fossem apenas um fardo que até aqui havia sido carregado cegamente, , mas é agora alijado. É esta experiência estranha e superior que transmuta o homem em sua própria natureza mais profunda, na base de seu eu. Está também entre as mais elevadas experiências franqueadas à raça humana enquanto ela permanecer humana, pois além dela se estendem os caminhos que conduzem ao reino dos anjos e dos deuses. 

A verdadeira individualidade do homem é a mesma em todos: sagrada, divina, imortal. Nesse mundo elevado a que ela pertence, nada existe alto nem baixo, pois todos ali partilham da mesma sublimidade como gotas disseminadas no único oceano. 

Permanecer sem pensamentos é realmente uma conquista maravilhosa, e à medida que descobris suas possibilidades deveis prolongar esses momentos tão fugazes e tão preciosos, quando a mente, o "eu", retorna à sua fonte, ao seu divino elemento primordial. 

Para a meditação deste tipo psico-espiritual não há um período fixo ou formal. Deveis guiar-vos por vossos sentimentos. Quando o viveis intensamente, podeis levar uma meia hora completa. Mas haverá períodos em que estareis cansados de análises. Nessas ocasiões não é aconselhável prolongá-la além de alguns minutos. Por fim, quando estiverdes suficientemente estabelecidos no domínio do pensamento e na compreensão da análise, não precisareis nem mesmo empregá-la em vossa meditação. Podeis começar por afirmar brevemente, porém com a maior clareza de percepção, que não sois o corpo, não sois o intelecto, mas sois pura percepção.

Daí começais vossa meditação, pela qual conheceis o eu como realmente é, clarificado, limpo de emoções e pensamentos que realmente não lhe pertencem, e então descobris o ser misterioso no âmago de vosso coração

O homem não está encadeado ao eu finito, mas julga estar. Esta suposição se baseia numa ilusão. A ilusão de que os cinco sentidos são os agentes conscientes funcionando na vida do homem, e que, portanto, o mundo que constatam é um mundo sólido de máxima realidade. Os sentidos o enganam, e ele se engana a si próprio. Quando clamar por sua liberdade, ele a encontrará. Ele necessita alimentar esses pensamentos redentores, libertadores, ou jamais começará a descobrir-se, a buscar o seu eu real, ilimitado. 

Assim, em última análise, está claro que era a mente que se envolvia na matéria. É a mente que pode de novo libertar o homem. Não se faz isso correndo para os mosteiros ou montanhas e passando sua existência ali; faz-se USANDO A MENTE PARA INVESTIGAR SUAS PRÓPRIAS OPERAÇÕES.

Paul Brunton — A Realidade Interna

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill