DESDE o primeiro dia e em toda a duração destas reuniões, espero que todos nós sejamos aplicados. É de crer que a maioria de nós veio ter aqui com a idéia de passar umas horas de folga, olhando os montes e as montanhas, os vales verdejantes e as águas correntes; para fruir um pouco de sossego, encontrar- se com amigos, palestrar e divertir-se um pouco. Tudo isso está muito certo, mas, para que estas reuniões nos sejam verdadeiramente proveitosas e significativas, devemos ter seriedade.
Problemas tremendos estão desafiando os entes humanos, e, vivendo neste mundo insano e estúpido, cabe-nos ser ponderados. Os que, no âmago do próprio ser, são realmente ardorosos — não por efeito de neurose ou em conformidade com um dado princípio ou compromisso — esses demonstram possuir aquela peculiar e indispensável seriedade.
Observando o que se está passando no mundo — estudantes em revolta, ameaças de guerra, pobreza extrema, ódios e distúrbios raciais, etc. — sentimo-nos confusos. Temos ouvido explicações inúmeras, dadas por filósofos, pelos intelectuais, pelos teólogos, sacerdotes, sociólogos, pelas burocracias organizadas, etc. Mas, explicações nos são de pouca utilidade; e, mesmo quando conhecemos a causa de todas essas perturbações, nem por isso estamos habilitados a resolver o problema. Durante estas reuniões, seremos, como indivíduos e como entes humanos, pessoas responsáveis. Iremos descobrir se há possibilidade de resolvermos os problemas de nossa existência, a agitação, o caos, a aflição e o imenso sofrimento nela existentes, interior e exteriormente. Cumpre-nos, evidentemente, dissipar a escuridão que criamos em nós mesmos e em outros. E esta é a razão por que, no meu sentir, devemos ter seriedade.
Há indivíduos que são sérios um tanto neuroticamente; pensam que, seguindo certos princípios ou uma certa crença, dogma ou ideologia, e praticando- os persistentemente, são pessoas sérias. Mas, não são sérios esses indivíduos; eles crêem, e sua crença gera um peculiar estado de desequilíbrio. Devemos, pois, estar sumamente vigilantes, para sabermos o que significa "ser sério".
Vê-se que as ideologias exercem uma extraordinária influência na vida do homem, em todo o mundo, e que essas ideologias estão dividindo os homens em grupos - republicanos, democratas, "a direita", "a esquerda", etc. Elas separam os homens e, por sua própria natureza, se convertem em "autoridade". Os que, nessas ideologias, assumem o poder, o exercem tiranicamente, democraticamente, ou cruelmente; isso se pode observar em todo o mundo. Ideologias, princípios e crenças não só dividem os homens em grupos, mas também impedem, efetivamente, a cooperação, a qual é realmente necessária neste mundo: cooperar, trabalhar juntos, atuar juntos - e não, um atuando de uma maneira, porque pertence a um dado grupo, e outro atuando de maneira diferente. A divisão resulta inevitavelmente da crença numa ideologia. A ideologia, seja comunista, seja socialista, capitalista, etc., separa os homens e gera conflito.
O "ideologista" não é um homem sério; não enxerga as consequências de sua ideologia. Para ser sério, ele tem de repudiar, completa e totalmente, as divisões nacionais e religiosas, rejeitar tudo o que é falso; terá então, talvez, a possibilidade de tornar-se real e verdadeiramente sério. Cabe-nos construir um mundo de todo diferente - um mundo sem nenhum ponto de contato com o mundo atual, de desatinos e conflitos, de competição, crueldade, brutalidade e violência.
Só a pessoa religiosa é verdadeiramente revolucionária. Não há outro revolucionário; ainda que um homem se diga revolucionário da extrema esquerda ou do centro, não é revolucionário. Aquele que se diz da "esquerda" ou do "centro" está ocupado com apenas um fragmento da totalidade e, ainda, quebrando esse fragmento em outras e diferentes partes; não é de modo nenhum uma pessoa verdadeiramente revolucionária. O homem autenticamente religioso — no sentido profundo dessa palavra — é que é o verdadeiro revolucionário, porquanto está fora da esquerda, da direita ou do centro. Compreender isso e cooperar é estabelecer uma ordem social diferente. Se pudéssemos lançar fora todas aquelas infantilidades, penso que poderíamos tornar-nos "o sal da terra". Esta é a única razão por que aqui estamos reunidos; não há outra razão. Vós não ides ganhar nada de mim, nem eu de vós. O que é absolutamente essencial não pode achar-se em torno de uma ideologia. Isso me parece bem óbvio, historicamente e na realidade de cada dia. O que está sucedendo no mundo mostra-nos a divisão e o conflito das ideologias. Nenhuma ideologia, por superior e grandiosa que seja, pode promover a cooperação; poderá criar uma tirania destruidora, da direita ou da esquerda, mas de modo nenhum estabelecer a cooperação da compreensão e do amor. Só há cooperação quando nenhuma autoridade existe. Esta é uma das coisas mais perigosas do mundo — a "autoridade". Sempre se assume autoridade em nome de uma ideologia, ou em nome de Deus ou da Verdade; e o indivíduo ou o grupo que assumiu tal autoridade não tem aptidão para estabelecer uma ordem mundial.
Espero estejais escutando sem vos deixardes mesmerizar por palavras ou, quiçá, pela "intensidade" do orador; que estejais participando nessas coisas junto com ele. Portanto, desde o começo destas palestras, devemos compreender bem claramente pelo menos este ponto: a seriedade não exige aceitação da autoridade, inclusive a deste orador. Certas pessoas — infelizmente vindas do Oriente — alegam ter tido extraordinárias experiências e ser capazes de mostrar o caminho a outros, ensinar-lhes uma certa palavra que lhes possibilitará meditar da melhor maneira. Não sei se vos deixasses cair em tais armadilhas — como tem acontecido a muita gente, a milhares e milhões de pessoas. Essa autoridade impede um ente humano de ser "a luz de si mesmo". Quando cada um de nós for sua própria luz, só então estaremos aptos a cooperar, a amar, só então haverá um estado de comunhão entre nós. Mas, se tendes vossa particular autoridade, seja a autoridade de um indivíduo, seja a de uma experiência que vós mesmos conhecesses, então essa experiência, essa autoridade, essa conclusão, essa posição fixa vos impedirá a comunhão. Só a mente que está de fato livre pode comungar, cooperar.
Durante estes dias, peço-vos vos mostreis verdadeiramente judiciosos, não aceitando a autoridade de ninguém, nem aquela que em vós mesmos cultivasses, baseada na experiência, no saber, nas numerosas conclusões a que chegasses, e tampouco a autoridade deste orador. Só quando livre, realmente livre, uma pessoa é capaz de aprender; ela é, então, ao mesmo tempo instrutor e discípulo. Muito importa compreender isto, porque é desta matéria que vamos tratar em todos estes diálogos e palestras.
Cada um de nós deve ser, para si próprio, tanto o instrutor como aquele que é instruído. Isso só se torna possível quando se percebe a importância de vermos, de observarmos, por nós mesmos, as coisas tais como são. Em geral, estamos pouco cientes de nosso interior. Não sei se já observastes as pessoas que estão sempre a falar de si; da posição que a si próprias atribuem na vida: "Eu, em primeiro lugar; tudo o mais é secundário." Para que possa haver cooperação, comunhão e comunicação entre nós, é claro que tem de desaparecer essa barreira — "Primeiro eu, e tudo mais é secundário." O "eu" assume desmedida importância e se manifesta de inúmeras maneiras. Eis porque se torna perigosas as organizações, embora tenhamos necessidade de organização. Os que se acham à testa de uma organização ou empunham o poder da organização se tornam gradualmente a fonte da "autoridade". E com tais pessoas é impossível cooperar, comungar.
Nós temos de criar um mundo novo. Isto não são meras palavras, uma mera idéia: temos realmente de criar um mundo totalmente diferente, onde, como entes humanos, não vivamos a batalhar uns contra os outros e a entredestruir-nos; onde um indivíduo não domine outro com suas idéias ou seu saber; onde cada ente humano seja realmente, e não teoricamente, livre. Porque só nessa liberdade se pode estabelecer a ordem no mundo. Vamos, pois, se possível, desembaraçar-nos da rede que tecemos em redor de nós mesmos, a qual impede a cooperação, a qual nos separa e cria tanta ansiedade, e tristeza, e isolamento.
Seria verdadeiramente maravilhoso se, no encerramento destas reuniões, cada um de nós pudesse partir daqui dizendo: "Tenho-a" (a liberdade). Isso não significa "possuí- la", mas, sim, que, por vós mesmos, tereis visto que sois totalmente livre, que vos tornastes um ente humano cheio de vitalidade, energia, clareza, "intensidade". Isso poderá parecer muito; mas, a menos que aconteça, continuaremos a criar no mundo aflições sem conta, e guerras, como a que ora se está travando, pela qual somos nós os responsáveis, e não os americanos e os norte-vietnamitas; cada ente humano é por ela responsável. E os que porventura vivem neste país, onde há tanta segurança, esses também são responsáveis. E somos igualmente responsáveis pela divisão que está ocorrendo no mundo, não apenas ideologicamente, mas também religiosamente. Vede, pois, por favor, que temos de devotar nossa mente e nosso coração a, esse trabalho. Ele não exige muito esforço intelectual. O intelecto nunca resolveu coisa alguma; pode inventar teorias, explicações, pode enxergar a fragmentação e criar mais fragmentos, mas, sendo ele próprio um fragmento, não pode resolver o problema da existência humana. Tampouco podem resolvê-lo o emocionalismo e o sentimentalismo - que são também reações de um fragmento.
Só podemos agir totalmente (não fragmentariamente), quando vemos o problema humano em seu todo, e não apenas fragmentos dele. Qual é, pois, o problema? Qual é o problema humano total, essencial, que, uma vez compreendido, uma vez visto, assim como se vê uma árvore ou uma nuvem formosa, todos os demais problemas serão resolvidos? Nessa base, pode-se agir. Que é essa percepção total, esse ver total? Eu vos estou perguntando, e cabe-vos achar a resposta. Se esperardes por minha resposta, para a aceitardes, a resposta não será então vossa, e eu me tornarei a "autoridade" — coisa que detesto. Assim, qual a vossa resposta, como ente humano que vive neste mundo cheio de agitação, de perturbações, revoluções, onde há esta terrível divisão entre os homens, uma sociedade imoral, a imoralidade religiosa dos sacerdotes; ao verdes tudo isso estendido à vossa frente, ao verdes a agonia do homem — qual é vossa resposta? Como agis, em face desse problema? Ou, por pertencerdes a uma parte, a um fragmento, quereis converter os demais fragmentos ao vosso próprio fragmento (o que, afinal, é uma infantilidade); ou percebeis a fragmentação, e esse próprio ver dá-vos uma percepção total. Qual é, pois, para vós, o problema essencial, a questão essencial, o desafio único, que, se for completamente resolvido, todos os outros problemas se dissolverão, serão compreendidos ou superados?
Não achais verdadeiramente interessante descobrirdes o problema essencial da vida sem serdes guiado pelo psicólogo, o filósofo, o teólogo, ou por Krishnamurti — sem serdes guiado por ninguém: descobri-lo por vós mesmos? Como o descobrireis? Talvez não tenhais pensado nisso, ou, se pensastes, como ireis descobrir esse essencial requisito ou problema? Ireis perguntar a outrem? Não, decerto, porque isso é buscar uma autoridade. O que a autoridade diz não tem realidade; o que interessa é o problema máximo, e vós é que tendes de descobri-lo. Se não estais a procurar ninguém para ajudar-vos a descobrir o problema central, o problema verdadeiro, que fareis então? Como o ireis descobrir? Vede, por favor, que esta é uma pergunta muito séria.
Em primeiro lugar, algum de vós já fez a si próprio tal pergunta, já perguntou a si próprio se existe um problema essencial, cuja compreensão dará a solução de todos os outros problemas secundários? Se a não fizestes, então eu a faço. E, se a escutais — como espero esteja is fazendo — como ireis descobrir aquele problema essencial? Por meio do pensamento, pelo refletir nele e pensar em cada problema, cada particularidade, cada fragmento, absorvendo- vos cada vez mais nesse trabalho e chegando, por fim, a uma conclusão: "Eis o problema essencial"? Pode o pensamento ajudar-vos? Pode uma indicação, por mais sutil que seja, ajudar-vos? Porque, se dela dependerdes, vos vereis novamente perdido. Assim, o pensar a respeito daquele problema não dará a solução, dará?
Qual a natureza do pensamento? O pensamento, como se pode observar, brota da memória acumulada. Observai esse fato em vós mesmos! O desafio é este: Qual é a problema essencial da vida? Um desafio novo; se a ele "respondeis" com base no pensamento, vossa resposta procede da memória acumulada e, por conseguinte, do "velho". Isso é bem claro, não?
Se me conservo apegado ao meu hinduísmo e às respectivas superstições, crenças, dogmas, tradições e demais absurdos — e surge à minha frente uma coisa nova, só sou capaz de "responder" com base no "velho". Mas, vendo que essa resposta do "velho" não representa o meio de descobrir o problema essencial, não quero mais depender do pensamento, seja da pessoa mais erudita, seja de meu próprio pensamento. Ponho, assim, de lado (por favor, fazei-o, enquanto falamos), completamente, o emprego do pensamento como meio de descobrimento. Isso é possível? Parece fácil — mas, podeis fazê-lo? Isso significa — em presença de um desafio totalmente novo — olhá-lo com olhos novos, com lucidez. E o pensamento, por mais racional e sagaz e douto que seja, não traz esclarecimento. Vejo, pois, que o pensamento não é o meio de descobrir "o essencial" e, portanto, não pode participar nesta busca, nesta investigação. Sois capaz disso (pôr de lado o pensamento)? Se sois, isso significa que o pensamento, que é velho e está sempre a interferir, deixa de impor-se e de dominar. E, então, que sucede? Verificai-o vós mesmos, por favor. Quando já não estais a buscar com base em vosso condicionamento, isso significa que alijastes toda a carga do passado.
O que estou tentando comunicar-vos é com efeito muito simples. Compete-vosdes cobrir uma nova maneira de viver e de agir, descobrir o que significa o amor. E, para esse descobrimento, não podeis servir-vos dos velhos instrumentos que possuís: o intelecto, as emoções, a tradição. Temos manejado e utilizado continuamente esses instrumentos, e não conseguimos criar um mundo diferente, uma nova mentalidade. Portanto, eles são de todo inúteis. Têm seu valor próprio em certos níveis da existência, mas não valem nada quando se trata de descobrir uma maneira de viver totalmente nova. Em outras palavras: a crise atual não se acha no mundo, mas em nossa própria consciência. Não se trata de descobrir como pôr fim à guerra, ou reformar as universidades, ou dar mais trabalho ou menos trabalho e maiores salários, etc. Nesse nível não se encontra nenhuma solução; toda reforma produz mais complicações. A crise está na própria mente, na vossa mente, na vossa consciência. E, a menos que saibais reagir a essa crise, a esse desafio, tornareis — consciente ou inconscientemente — cada vez maiores a confusão, a aflição, a imensa angústia já existentes.
Nossa crise se acha na mente, em nossa consciência, e a ela compete-nos reagir totalmente. Qual a verdadeira reação, e qual o problema essencial? Obviamente, como já vimos, o pensamento, neste particular, não pode ajudar-nos. Mas isso não significa que tenhamos de ficar num estado vago, como que a sonhar, embotados. Quando já não fazeis uso do pensamento para descobrirdes o problema essencial da vida, que sucede em vossa mente? Compreendeis esta pergunta? — estamos em comunicação uns com os outros? Respondei "sim" ou "não"! Para estarmos em comunicação, em comunhão, temos de encontrar-nos no mesmo nível, ao mesmo tempo, com a mesma intensidade — como no amor. Se respondeis "sim", isso significa que, por ora, rejeitasses o pensar como meio de descobrir. Então, vós e eu, que vos falo, estaremos no mesmo nível. Achamo-nos todos interessados em descobrir e não estais esperando que eu vos diga nada. Ao dizerdes a alguém "amo-te", ou o dizeis indiferentemente, sem sinceridade — ou o dizeis com intensidade, com ardor — e se a outra pessoa se mostra indiferente, não há então comunhão entre ambos. Só é possível a comunhão quando ambas as partes se mostram igualmente "intensas", e não indiferentes ou reservadas. Quando um e outro dão generosamente, isso produz uma extraordinária "intensidade"; já não há "um que dá e outro que recebe".
Assim, que pensais, que sentis, que vos parece ser o problema essencial da vida? Vamos deixar esta questão para a próxima terça-feira? Precisais de tempo para sobre ela refletirdes, conversardes com outras pessoas, ou desejais sentar-vos à sombra de uma árvore ou em vosso quarto e deixá-la vir a vós? Se estais contando com a ajuda do tempo, o tempo em nada vos ajudará. O tempo é a coisa mais destrutiva que há.
INTERROGANTE: Dissestes que o pensamento é um produto da memória. Ora, percebo muito bem que a maioria de meus pensamentos são muito condicionados, mas não estou bem certo de que seja impossível haver outra espécie de pensamento.
KRISHNAMURTI: Existe pensamento que não seja condicionado? Ou todo e qualquer pensamento é condicionado? Ora, todo pensamento é, obviamente, reação da memória, reação da tradição, do conhecimento, da experiência, acumulados.
Qual vos parece ser o problema essencial da vida?
Qual vos parece ser o problema essencial da vida?
INTERROGANTE: Criar a harmonia.
KRISHNAMURTI: Onde - dentro de nós, fora de nós, ou dentro e fora de nós? Como podemos criar harmonia fora de nós, se não a temos dentro de nós? A harmonia interior é a que deve vir primeiro, e não a exterior. É este o problema essencial? Ou, não é provável que a harmonia seja um resultado, e não um fim em si? Ela é, acontece! É como a gente estar gozando saúde e sair para dar um passeio. Pode-se buscar a harmonia como um fim em si? Nós temos de descobrir a harmonia em nós mesmos. Isso requer nos examinemos profundamente, pois nesta questão estão implicados nossas contradições, esforços, disciplinas. Dizeis que a questão essencial pode ser a harmonia, mas talvez seja o prazer. Atentai nisso que acabamos de dizer: a questão essencial bem pode ser, na maioria dos casos, a ânsia de prazer e da continuação e fortalecimento do prazer - do prazer que me vem da segurança, da experiência sexual, etc. O prazer é um produto da deliberação, e não uma coisa em si. Não sei se me estais entendendo bem. Encontro prazer fazendo alguma coisa; o fazê-la me proporciona prazer; por conseguinte, esse "fazer" que me dá prazer é importante. O prazer não é um fim em si, porém o resultado de um certo ato. É, então, este o desafio, a questão essencial?
Considerai, por favor, o mundo, considerar tudo o que nele está ocorrendo — espantoso progresso tecnológico, guerras, a sociedade próspera e a miséria, a nação que luta contra outra nação, para sua própria segurança, sua glória, etc. etc.
Tudo isso está ocorrendo bem à vossa frente. Se o olhásseis objetivamente, assim como examinais um mapa, teríeis a resposta.
INTERROGANTE: O desafio ou questão essencial é a responsabilidade que as relações impõem.
KRISHNAMURTI: "A responsabilidade que as relações impõem" - será isso?
INTERROGANTE: Em parte, apenas.
KRISHNAMURTI: Sim, outra vez, um fragmento. "Relações" — que significa isso? — estais em relação com pessoas, com indivíduos, com o mundo, a natureza, com tudo o que está acontecendo? Como se pode estar em relação com tudo o que está ocorrendo - não apenas com vossa esposa ou marido: com tudo o que está acontecendo no mundo? Como é possível isso, se estais isolado, se todos os vossos pensamentos, ações, ocupações, palavras, vos estão isolando — quer dizer: "primeiro eu, e o resto que vá para o inferno"?
Bem, por hoje temos de parar. Mas, "ficai" com esta questão, aplicai vossa mente e vosso coração a ver o mundo tal qual é, e não como pensais deveria ser. Vendo-o claramente, esse próprio ver poderá dar-vos a resposta.
7 de julho de 1968.
Krishnamurti - Liberte-se dos condicionamentos