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sexta-feira, 15 de março de 2013

Mensagem de um Confrade do outro lado do Atlântico

Olá Amigo Nelson,
As minhas desculpas por só agora ter comunicado; em anexo explico melhor essa demora.

Desejaria pedir que me confirmasse a recepção deste email.

Amistosos cumprimentos a si e todos os seus companheiros.
Dipar
Obrigado.
N: Tenho captado com mais assiduidade as vossas gravações, para além do número referido no anexo. Tem sido um prazer escutar e partilhar das vossas "observações".


Olá Amigo Nelson,

Amistosos cumprimentos, para si e todos os seus "confrades".

Peço desculpa, porque no primeiro contato, dei indicação que seria breve na comunicação, mas não consegui arranjar condição para que este diálogo começasse mais cedo, e depois tenho cá um problema, que a Deca (os meus cumprimentos) define muito bem na gravação Ninguém quer que Você se torne um Iluminado - Parte I, embora noutro diferente contexto, que diz o seguinte, e que se aplica também à dificuldade deste vosso amigo cá do outro lado do Atlântico: «me faltam palavras, e nesse faltar de palavras tem horas que me sinto como uma idiota» - comigo dá-se o mesmo, por vezes não sai nada.

Mas pelo que já ouvi, ter metade dessa capacidade para colocar as palavras, já não seria mau. Apesar da sua auto-análise crítica e de rigor, expressa-se com muita clareza e define corretamente certos estados de consciência que são familiares a muitos de nós. Partilhar da sua experiência já me trouxe momentos preciosos, obrigado Deca.

Para início, caro confrade, logo após a audição dos primeiros temas, captados no YouTube, comecei a notar que a evidência de alguns testemunhos era de tal modo forte, que as próprias palavras que estava escutando me alertavam ao mesmo tempo para que não deixasse a mente participar em qualquer entusiasmo pelo fato de vos ter descoberto.

Por isso, foi necessária uma pausa para acalmar as engrenagens, não avancei com captação apressada de muitas gravações. As sete primeiras já retiradas, vem dando «pano para mangas», muito para observar.

Então, se o mundo não acabar já, temos ainda dezenas temas para ir ouvindo tranquilamente.

A determinado momento dei por mim a fazer cálculos:

Olha aí, não tinhas com quem conversar sobre tais assuntos, vais ter horas e horas de diálogo, prepara o automóvel, não vai faltar tema novo para quando fores levar o cão ao jardim...

- Patinhas (é o cão), vais ter direito a mais meia hora de passeio higiênico!

O pensamento já se estava sutilmente oferecendo para organizar o vosso ficheiro no computador:

- Ora, título para a nova pasta... OutSide44, podemos criar subpastas, mediante temas de proximidade adjacente.

- Pois.

- Não sei em que livro tenho isso, a coisa é mais ou menos assim, não recordo o diálogo exato, deverão já ter lido, lembram-se daquela história que Krishnamurti conta, em que o diabo, andando um dia a passear com um amigo, a certa altura do percurso há um caminhante que se baixa para aparentemente apanhar uma pedra. Vai daí, o amigo do diabo comenta:

- Olha, parece que acabas-te de perder uma alma!

- Então porquê?

- Vês aquele caminhante ali à frente? Acabou de encontrar a Pedra Filosofal, descobriu a Verdade!

Ao que o diabo responde:

- Ah, não te preocupes, ele descobriu a Verdade, agora vou ajudá-lo a organizá-la!

Como vos encontrei.

Costumo ter um pequeno texto dentro de uma capa plastificada que anda sempre dentro do saco, cujo tema é:

A Importância de um Cérebro Completamente Quieto.

Há uns dias atrás, pensei que já deveria existir alguma gravação na Net em áudio; eu próprio poderia gravá-lo, mas decidi que não, preferia que fosse narrado por voz anônima, desejando assim evitar alguma sinuosa interferência subtil do meu ego pregador na leitura. Não era preciso que tivesse a profundidade de algum Morgan Freeman, o que interessava é que fosse proferida por alguém desconhecido.

Tinha decidido que era altura de passar do papel ao mp3, ouviria uma vez ou outra, quando o modo aleatório do dispositivo abrisse eventualmente o tema.

Ter andado há longo tempo com este texto, não se prende propriamente com o exercício de o decorar, cada vez que é lido, funciona com renovada frescura, não há nada a fixar, o que lá está percebe-se instantaneamente. Ou não se percebe. E também se esquece muito facilmente.

Por vezes passam-se semanas sem o reler, mas, mesmo que não o faça, o seu ocasional contato visual, a simples visualização instantânea do título, tem um certo efeito de alerta, uma espécie de lembrança que funciona como antídoto a muitos inúteis pensamentos diários que ocorrem na mente.

Basta olhar, lá está, letra destacada, aquela verdade sempre presente no Agora - A importância de um cérebro completamente quieto - que nunca será demais lembrar...

Pode suceder estar no café ou noutro local, acompanhado, ter que tirar o computador ou outra tralha do saco e sair juntamente o texto para cima da mesa e alguém sentado ao meu lado, dar uma olhadela discreta, e se consegue ler fugazmente o título, antes de eu voltar a guardar o conjunto de folhas agrafadas, ficar algo curioso ou intrigado, como se acabasse de tirar os Manuscritos do Mar Morto do saco. E então, lá pode surgir uma das previsíveis perguntas:

- Isso é de alguma religião ou movimento?

- Olha, nem uma coisa nem outra.

- É algum texto filosófico?

- Texto filosófico. Sim. Mais ou menos isso.

O habitual dilema de explicar, o que nos meus primeiros tempos de "santa ingenuidade", pensava ser tão óbvio.

E contudo está lá tudo, em português acessível, percebe-se bem. Mas isso era o que pensava inicialmente, que toda a gente entendia, mas gradualmente comecei a depreender que não, que afinal nunca conheci ninguém que instantaneamente percebesse e "acordasse" logo ali. Nunca.

Também que posso esperar, exigir, se eu próprio, aparentemente penetrando de imediato cada vez que mergulho na leitura, acabo afinal por ficar tantas vezes perdido. É tão fácil dispersar.

Isto não contando com aquelas «saidinhas do Ser» - também gostei do termo; nunca tinha ocorrido tal definição para definir a dispersão. Só mesmo brasileiro para elastificar o português.

- Posso ver?

Há uns tempos atrás, havia uma certa relutância em mostrar os livros ou textos impressos, por vezes, encapava-os para que não se visse o título, nem o autor.

Mas fui percebendo, que não teria que me preocupar com algum eventual diálogo de surdos, tentando contrapor argumento, perante algumas verdades fossilizadas emanadas da interpretação pessoal e fugaz curiosidade por algum texto, lido ao estilo apressado de catálogo informático para venda de computador com características do produto e condições de pagamento.

E muito particularmente este, já deu para concluir que:

- Deixa correr, não te incomodes, que A Importância de um Cérebro Completamente Quieto é «tiro e queda», por inexplicável razão, quase ninguém o consegue ler até ao fim.

E tal como o Nelson comenta em Um relato de estados de consciência alterados, «geralmente não passam da primeira página».

Se por vezes há comentário, vontade de opinar, poderão surgir alguns previsíveis pontos de vista, pode a conversa esticar um pouco mais, e não demorar nada a que passemos ao âmbito das teorias estudadas, esoterismo, astrologia, mistérios por revelar, teorias dos deuses astronautas, Antigo Testamento, Alan Kardec, pois, teríamos a repetição de familiares diálogos, daquelas horas intermináveis que ao longo de certo período já me poderiam ter queimado os fusíveis de vez. É que já vi alguma gente há minha volta ficar quase tola, amigos, alguns piraram mesmo.

Mas pronto, vai-se aprendendo, se o termo é correto, como sair airosamente deste tipo de diálogo e tentar terminar a conversa de fininho, curta e leve.

Gostei de ouvir o José Victor (um Abraço), com as suas dúvidas e incertezas, suscitando um clima de reflexão fascinante.

A original ideia de ter "confessado" que chegou a queimar 14 livros de Krishnamurti, também me fez rir um pouco.

Todo o seu conjunto de interrogações, apontam para algo que se torna claro, e que se poderá resumir no seguinte:

«Não aceitar nada até encontrar a verdade por si mesmo».

Houve um momento da minha vida com um episódio curioso e algo patético, não propriamente queimando livros, mas tomando uma decisão de certa revolta, numa situação que o meu "lógico intelecto" lá entendeu como medida justa, perante incompreensível "falta de providência divina" pela desdita do que me estava acontecendo e sem haver santinho nenhum que me tenha socorrido.
Andava naqueles tempos, finais de anos setenta, na onda de Yogue Ramacharaca, com Raja Yoga, Djana Yoga, Hata Yoga e toda uma série temas à volta do mesmo, e então precisamente numa altura de crescente entusiasmo, de paixão e expectativa pelo eminente resultado de tanto exercício, meditações e leitura fervorosa, surgiu de repente uma forte gripe, com direito a vinte dias de cama. Ao décimo dia de "molho", pela manhã, logo após acordar, fiquei a magicar:

- Mas o que é que se passa, então logo eu, sincero buscador da verdade, praticante de exercícios que pretendem controlar o bom funcionamento dos órgãos, dá-me assim um badagaio destes, 42° de febre, candidato a uma pneumonia, expectoração que enche para cima de um cesto de lenços por dia, que se passa? Não sei, mas o que sei, é que esta livralhada, vai toda para a garagem e não quero saber tão cedo de teorias, a minha salvação agora são os antibióticos !!!

Desejo de recompensa.

«Ir à missa ou ir ao futebol, vai dar ao mesmo - desejo de preenchimento.» Mas um dia, lá voltei a buscar os livros à garagem.

Ainda, apesar de uma certa sinceridade de pesquisa, procura de significado de algo que não sabia explicar, não tinha dado conta de que continuava dentro do domínio do pensamento, uma mente à espera de resultados.

Era já o início de uma longa viagem que se estenderia por um período de cerca de quarenta anos, e que teve talvez a sua origem no surgimento de um excepcional estado de consciência, ocorrido aos 24 anos (coincidências Amigo Nelson, o que se passou comigo, teve outra variante), que se manteve durante uns meses e depois gradualmente foi desaparecendo, calculo sem dúvida nenhuma, ao ter permitido que o pensamento interferisse no processo, interpretando que aquilo que me estava acontecendo, continha uma sedutora vertente de poder, e caindo na perigosa ideia de pensar que o poderia utilizar.

Foi uma queda tremenda e o início de uma longa e louca busca por uma espécie de paraíso perdido que me iria conduzir a variadas e inesperadas situações, procurando a "fórmula", que me pudesse conduzir de novo a esse estado anterior de consciência.

Uma longa viagem, por caminhos diversos, onde nunca descobri que tudo tinha começado de maneira simples e que as buscas complicadas que estava agora mergulhado, iriam ser todas desmanteladas e tudo teria de voltar ao princípio.

Por vezes surgiam estados sutis, que se cruzavam no meio de ocorrências aparentemente mundanas, lembrando-me nesses momentos qual era a escolha, o que seria mais importante.

Religiões, filosofias, meditações, leitura de livros, aquilo que alguns de nós já conhecemos e que pela novidade, pelas ideias e práticas contidas, principiavam por ser chamas de esperança que se inflamavam até ao limite da expectativa, na procura da lâmpada mágica que me conduzisse ao verdadeiro caminho. Depois de explorar, investigar, experimentar fórmulas, chegava o momento de estagnação, rotina, e depois nova procura, surgia outro livro, outro movimento, outra escola, outro guru...

E assim se vai continuando anos, procurando esse imaginado caminho.

Gradualmente, vai-se iniciando o desmantelar de algumas verdades mantidas pela educação e tradição, e também a desmistificação de algumas das crenças geradas por teorias assimiladas no estudo de outras correntes de pensamento que se estendiam para além do catolicismo caseiro. Mas só isso.

Quanto ao peculiar estado de consciência, ocorrido naquele período de juventude, esse nunca mais surgiu.

Em troca, variados e inesperados cenários me esperavam, alguns contendo histórias só possíveis pela escolha inicial de ingenuamente querer saber o impossível, e que iriam no decorrer desse processo, revelando a disfuncionalidade de quase todos os nossos objetivos, inclusive a minha ânsia de uma experiência extraordinária, transcendental.

Lembro nos inícios, das conversas que tinha com um simpático vizinho, ponderado e respeitável pastor da Igreja Evangélica da pequena comunidade local onde morava na década de 70.

À falta de quem melhor se pudesse dialogar, íamos de vez em quando, junto ao muro que separava os nossos jardins, dissertando em amena cavaqueira sobre estas inquietações da alma e sentido da existência.

O Amigo Moisés, calculava eu de antemão, estava já definitivamente convencido em haver descoberto a verdade e também o caminho da salvação, ia ouvindo pacientemente os meus pontos de vista, esperando através da sua ponderada prática pastoral, introduzir nos momentos adequados, as interrogações e "fatos" que me levassem à conclusão de que a resposta para todas as minhas dúvidas, se encontravam afinal nas Sagradas Escrituras, sugerindo, assim de levezinho, pelo meio de nossa conversa, o previsível convite para que fosse aparecendo lá pela Igreja, onde certamente poderia ser tocado pela revelação dos desígnios de Deus.

Se algum dia tivesse sido um pouco mais claro quanto às minhas dúvida mais polémicas e lhe confessasse que me andava cá assaltar a suspeita de que o cerne de todas as religiões, continha uma interesseira recompensa, a promessa de um paraíso, imaginado pelo medo da morte, penso que talvez o meu simpático vizinho, fosse concluir não ser lá muito prudente tentar captar mais uma alma para o seu rebanho, imbuída de questões tão inconvenientes.

No entender do senso comum de uma comunidade de crentes já formatados, quem não está preparado para entender a fórmula da salvação, é sempre aquele que tem dúvidas – um "verdadeiro crente", seja lá de que religião pertença, nunca tem dúvidas sobre qual o verdadeiro caminho - o seu caminho. Este tipo de fé é coisa complicada.

Mas nunca disse isto, nunca criei esse embaraço ao amigo Moisés, e nas ocasiões que fazia uma visitinha pela sua Igreja, tentei sempre ser um discreto observador, e isso valeu-me pontualmente alguns convites para algumas aprazíveis jantaradas, porque entendia o meu vizinho ter ali um ouvinte à altura, que vinha gradualmente revelando em momentos mais animados já com três copitos de tinto a ajudar, ter conhecimentos bíblicos insuspeitáveis, e talvez, não fosse ter evidenciado já, não professar religião alguma, teria de fato ali encontrado um novo elemento de valor acrescentado para a sua comunidade religiosa.

Pois. Nove anos de colégio interno, com missa e comunhão todos os domingos, confissão aos sábados, reza do terço em todos os santos dias do ano, novenas em todo o mês de maio, fazer parte do coro, com missa cantada em latim, todos os anos de modo diferente, aulas de religião e moral, seminários, estudos bíblicos. Alguma coisa tinha que ficar, e isso foi o visto de entrada para uma fácil integração com diversas correntes do cristianismo, evangélicos, mórmons, congregações cristãs, baptistas e todas as outras vertentes com os seus métodos interpretativos da verdade.

Não era então difícil entrar em sintonia com este tipo de cultos e irmandades. Desde que se saiba a tabuada.

Não sei se no Brasil o termo se aplica, tabuada é citação repetitiva de todos os números básicos da multiplicação, um exercício cuja técnica funciona como ladainha ritualística nos primeiros tempos de escola primária e que o cérebro futuramente passa a reproduzir automaticamente sem pensar, tal como uma máquina de calcular.

Era assim fácil arranjar âmbito que facilitasse uma proximidade à comunidade que fosse alvo da minha curiosidade e que permitisse aquilo que a mente pensava ser um místico trabalho de pesquisa.

Valha-me Deus, agora olhando para traz, pesquisa de quê?

Mais tarde, voando para credos mais exóticos, lá surge o Ocultismo, Movimentos de alegada ligação Extraterrestre, Reiki, Meditação Transcendental e tudo o mais que vocês conhecem, cada um com a sua história.

Por vezes penso que tudo isso, todos esses lugares, foram talvez estágios necessários. Ou poderiam ser desnecessários, não sei.

Há também aquela fase da pesquisa isolada, individual, juntando peças, ambiente de esoterismo eremita, imbuído de um certo espirito de arqueólogo, não me ocorre outra definição para expressar isto. Período de peculiares experiências.

Deixe-me mostrar o exemplo de um quadro dessa fase de pesquisa, penso que se encontrarão analogias com o estado mental percorrido por alguns dos amigos ao longo do processo.

Uma delas, juntando ingredientes de algum fascínio pelo oculto e conhecimento de História, associado às experiências tentadas através de leitura das chamadas energias piramidais, levaria a que numa noite de Setembro de 1990, às duas horas da manhã, me encontrasse sentado num dos degraus do lado leste da pirâmide de Keops, mesmo à entrada da passagem para o interior monumento.

Era proibido subir a este local, fora das visitas diurnas, mas fi-lo clandestinamente, escapando á vigilância dos guardas que fazem a ronda junto às Pirâmides. Estava a uma altura considerável que já me permitia passar despercebido, e com visão privilegiada que permitia abranger grande parte do cenário noturno do Cairo.

Assim instalado, em local que entendia significativo para o fim em vista, julgava ter chegado a hora e o momento propício para apresentar uma série de questões a mim próprio e aos deuses que me quisessem escutar naquela noite.

Horas antes, fim de tarde do dia anterior, nos primeiros momentos de contato com este local, sucedeu uma experiência, um insight estranho. Tinha acabado de largar as malas no hotel que fica muito próximo e vindo a pé até cá; o percurso é efetuado em poucos minutos.

Quando temos a primeira proximidade com esta massa imensa de blocos graníticos, pode suceder um choque tremendo. A imagem de postais, enciclopédias ou livros escolares não dão ideia da sua dimensão real.

A pirâmide por vezes parece dar a sensação avançar sobre nós, de tal forma que o cérebro perde a capacidade de observação objetiva, sendo obrigado a desviar o olhar ou a fechar instintivamente os olhos. Fiz as duas coisas.

Foi então que algo sucedeu de estranho.

Ao fechar os olhos, certo tipo de imagens, de excepcional beleza arquitetonica e de cor, começou a surgir como tela de cinema, aparecendo, desaparecendo e surgindo outra seguinte.

Curiosamente essas imagens nada tinham ver com aquele local nem com formas características de arte egípcia que eu particularmente tão bem conhecia. A sustentação de olhos fechados, nesse momento, era tão difícil como tentar manter o cérebro sem pensamentos, pelo que a visão foi muito curta e fugaz.

O Mena House Oberoi, pode-se dizer que fica à sombra da Grande Pirâmide, está à distância uma escassa centenas de metros do planalto de Gizé.

Antes de jantar, vim à varanda do quarto, virado para o lindo jardim do complexo, tendo como cenário de fundo o majestoso recorte do monumento tão próximo. Voltei a fechar os olhos e aconteceu exatamente o mesmo que se tinha passado uma hora antes, lá em cima, junto à base da pirâmide.

Fiquei de novo a pensar porque nunca me surgiu alguma imagem inerente ao local onde me encontrava, e se isso teria algum significado.

Então nessa noite, pensei estar no momento e circunstâncias adequadas, para mergulhar nalgumas dissertações, meditar em certas questões, e já agora tentar encontrar alguma resposta para ocorrência estranha dessa tarde.

Percorrendo o olhar lentamente em redor do planalto, e voltando de novo ao local onde estava sentado, pensei nesta massa imensa onde me encontrava, que durante o dia se recortava na paisagem, visível a quilometros em redor, e na questão que vem sendo posta há séculos:

Como é que este monumento foi feito, como foi possível erguer tanto bloco de pedra a esta escala?

Fiquei pensativo, à espera, como se fosse possível surgir ali um genio da lâmpada que pudesse responder naquele momento ao meu desejo. Mas nada, só o silêncio da noite.

Pensando, pensando, a resposta mais óbvia, iria certamente parar rumo uma dramática verdade.

Preferia que a solução estivesse contida na tal hipótese dos Deuses Astronautas, que tivesse sido erguida pelas alegadas artes extraterrestres, meios que não tivessem implicado esforço humano.

Uma veleidade, tentar obter a resposta, mas nessa noite contemplativa, o efeito dos ingredientes do longo jantar teriam predisposto a imaginação. Pus-me a pensar que se Champollion tinha dado conta do recado com os hieróglifos, porque não decifrar esta parte do problema?

Então não tinha alguém já alguém dito que era «construtor de pirâmides anonimo»?

Tenho que contar isto. Pertente ao capítulo dos "videntes".

Ajustava-se também o sentimento do solene momento ao que alguém terá escrito: «Diz-se que algumas vidas estão ligadas através dos tempos. Ligadas por um chamamento antigo que ecoa ao longo das eras».

Bom, era hora de reclamar parte da herança, o jantar tinha sido ótimo, bastante estimulante.

Amigo Nelson, parece haver aqui um desvio daquilo que é principal, mas este quadro faz parte de uma das vertentes do percurso mental de quase todos nós.

Para dar então explicação a este termo do tal «construtor de pirâmides anonimo» teremos de entrar no campo das pitorescas histórias de videntes, também familiar para alguns de nós.

Recuando uns meses atrás antes de entrar no Egito, andava na altura com uma incomodativa e persistente dor na anca do lado direito que não me largava.

Uma amiga, interpretando à sua maneira, as minhas deambulações e leituras, achou campo de abertura para a sua sugestão, aconselhando-me então a consultar uma vidente de dignos  créditos; talvez fosse ela a pessoa indicada para explicar a origem do meu incomodo físico.

Pois. Esse capítulo já estava fechado, aliás, nunca tinha sido aberto, nunca dei muito crédito nem perdi tempo com este tipo de práticas, conversa de videntes, cartomantes e bruxos causavam já uma certa alergia e não havia pachorra para tal.

Mas a minha amiga foi insistindo e persistindo para que testasse o parecer da tal vidente, nada teria a perder, testando o prognóstico da senhora.

Fui respondendo que não, que não tinha já paciência para isso, teria sido mais prática se me tivesse aconselhado a tirar um exame radiológico, que aliás já tinha feito.

Entendia o meu desinteresse mas continuava insistindo para que fizesse uma derradeira experiência.

Fui-me pacientemente esquivando à sugestão, mas a certo ponto lembrei-me de Carl Sagan e da sua série Cosmos, onde uma «permanente abertura e saudável cepticismo», foi um dos fatores que me foram sensibilizando ao longo desta série científica e que ironicamente me viria a conduzir futuramente até à descoberta de Krishnamurti.

Embora isto não estivesse contemplado na premissa acima citada, e fosse até curiosamente descartado num dos episódios da série, lá acabei por ceder, adoptando flexibilidade mais abrangente, para fazer a vontade à minha amiga.

Ora, sinceramente já não recordo agora se a senhora deitou cartas ou se fez algum cerimonial de mediunidade com respectivos incensos, mas lembro então que tendo terminado o "exame", não tinha chegado a nenhuma conclusão, e para uma certa surpresa, achava no seu ponderado entender, que o problema nada teria a ver com o campo espiritual, pelo que deveria optar por tirar uma radiografia.

Bom, até achei o prognóstico coerente, estava à espera que me receitasse uma das tradicionais mezinhas, mas não, nada. E também não me levou dinheiro nenhum. Mas então, houve um episódio curioso.

Ao despedirmo-nos, entregou, depositando entre as as minhas mãos, sem fazer algum comentário, um pequeno bilhete dobrado em quatro.

Pelo seu olhar, pareço ter percebido que não o deveria abrir ali e que o fizesse quando estivesse só.

Pouco depois de ter saído resolvi ver o que continha. E então lá estava, escrito em maiúsculas : Construtor Anônimo de Pirâmides.

Fiquei inicialmente algo surpreendido, mas logo de seguida desconfiado, pelo que perguntei à minha amiga se tinha falado antecipadamente com a tal vidente sobre alguma das minhas preferências ou tendências. Garantiu que não, que se tinha limitado a fazer um telefonema para marcar a consulta.

Não fiquei muito convencido. A afirmação poder-se-á considerar muito genérica, se pensarmos que o Antigo Egito serve de mote para muitos credos, rituais e simbolismos. Mas pronto, achei no mínimo curiosa a conclusão, embora com a ambiguidade e reserva que este âmbito suscita.

Conheci duas amigas com tendência para a consulta de videntes. Uma já ia insinuando, que numa encarnação anterior teria sido Cleópatra, outra vivido na corte de Maria Antonieta. Outra amiga, com seus dotes mediúnicos sempre atualizados, também confessou quando da morte da princesa Diana no túnel de Paris, haver sonhado com ela nessa noite e tendo tido então um antecipado e estranho pressentimento. Pois, e tem de haver sempre relação com alguém importante. E porque não se sonha com o pobre vizinho que morreu sózinho em casa e só foi encontrado passado dias?

A explicação para isto é que há videntes com antenas descalibradas, depois só captam acontecimentos à distância.

Voltando de novo aquela noite sentado na pirâmide, dei por mim num humor irónico, lembrando a tal vidente, e que os deuses me poderiam conceder alguns créditos sobre os direitos do tal "construtor anónimo", revelando como se tinham erguido as pirâmides. Não era pedir muito.

O momento tornava-se propício a este devaneio mental, como já disse o jantar tinha sido digno de uma noite das arábias.

Entretanto, outra corrente de pensamento tinha começado a infiltrar-se sutilmente pelo meio destas dissertações.

Estava começando a pronunciar para mim mesmo, algo que começava pelo meu nome dito em tom suave, acompanhado de estado mental que me induzia à lembrança da magia dos natais de minha infância.

Mas porque agora ir buscar para aqui o Natal para este lugar.

O pensamento voltou de novo para a questão anterior, mas desta vez a coisa pareceu tornar-se um pouco mais séria.

A pergunta já rotineiramente banal, feita através de séculos a respeito do modo como estas estruturas e outras similares espalhadas pelo mundo foram erguidas, tem sido tema de muitos livros, debates, acumulando sempre um clima de mistério.

A coisa é vista sempre com um certo distanciamento, nunca passando de mera curiosidade, e pronto, depois passa.

Estou a associar a analogia de ver um filme de guerra sentado no sofá. Mas pode existir uma triste realidade silenciosa que geralmente escapa ao turística absorvido no encantamento, no exotismo do local, na admiração de tão colossais estruturas em época tão remota.

Período de férias, de despreocupação, há que tirar fotos de tudo, muitas vezes nem se olha direito para aquilo que se está a ver, o que interessa é tirar a foto. O que interessa é tirar muitas fotos.

Antigamente, na época do rolo, depois de reveladas, iam parar à gaveta, só vistas raramente quando havia e tempo paciência, e que durarão até que uma geração próxima se lembre de as deitar ao lixo.

Agora vai para ao disco do computador, e se este avariar ou apanhar virus, sem que antes tenhamos passado a informação para um disco exterior, lá se vão todas as recordações através de fotografia, só ficarão as mentais, que depois se apagarão com a morte.

A certo momento, o diálogo para comigo mesmo, era mais ou menos o seguinte:

- Percebo, mas quanto a essa questão do esforço humano que estás a pensar, da possível utilização da escravatura para a construção dos templos e pirâmides, não podes considerar a outra hipótese, da tal tecnologia dos deuses astronautas?

Tudo que vais visitar durante os próximos dias, já te é algo familiar pelo estudo, sabes antecipadamente que não encontrarás nenhuma estrutura que ultrapasse em tamanho esta pirâmide de Keops, sendo que é anterior à maioria de tudo que vais encontrar, excluindo o complexo de Sakara, e um ou outro local pontual de menor relevo na margem esquerda a sul deste planalto certo?

- Sim!

- Então considera que se alguma coisa fora do normal pode explicar a movimentação, a deslocação de colossais volumes de pedra e o encaixe perfeito que caracterizou estas colossais construções que parecem ter sido feitas para gigantes, a solução poderá não estar acessível aqui, mas arranjares a prova noutro lugar.

Serve-te deste padrão máximo de grandeza para encontrares a lógica extraterrestre, através de algum indício encontrado em elemento ou pormenor de menor dimensão que venhas a descobrir nos dias que se seguem.

- Pois, e é assim que se perde uma vida, não é verdade? Pela paixão seja no que for... Pesquisa, mas qual pesquisa? Haverá um desejo de pesquisa sim, mas de outra coisa qualquer que nem sei bem explicar o quê.

Os amigos mais próximos, pela aparente evidência de que sou apanhado pela História do Antigo Egito, dirão de que simplesmente vim em viagem turística ou de estudo. É verdade. Também, que outra coisa poderia explicar.

- Pois não, tu vieste cá pelos teus indecifráveis motivos, mas como não podemos mentir um ao outro, sabemos que podemos abrir um pouco mais o jogo e deduzir que és mais um maluco à procura do Grall à sua maneira.

- Pois é... tens razão, acho que deveria ser mais fácil tentar decifrar o mistério das Pirâmides.

- Ora estás a ver? Sempre deve ser mais fácil que tentar descobrir a tal verdade, que nem sabes do quê.

- Percebo, mas agora vais-te calar meu sutil pensamento. Silêncio. Uns minutos de silêncio.

Engraçado, observo agora: então eu não sou tu? Então porque é que te mandei calar?

- Tens que tomar cuidado, podes começar a queimar os fusíveis. Essa coisa de te estares a observar a ti próprio.

- Pois.. mas olha que a ideia de te observar, parece conter algo de saudável lucidez. Embora tu sejas eu, não é? Ou não é?

Estava à distância de cerca de quatro anos para encontrar o primeiro livro de Krishnamurti.

Bom, o melhor a fazer é tentar disfrutar os próximos dias e não pensarmos para já nestas coisas.

Outros jantares como o desta noite me esperam. A noite foi ótima, vamos dormir.

Passado dias, encontrava-me já a sul do Egito. Iria iniciar um percurso pelo Nilo numa viagem de cruzeiro, de Assuão até Luxor.

Existem dezenas destes barcos de cruzando o Nilo para norte e para sul. Todos eles, na sua maioria com nomes de personagens do Antigo Egipto, como Cleópatra, Ramsés II, Nefirtiti, Hachepsuti, Alexandre o Grande, Tutmósis I, segundo, terceiro. A barco que me iria estar destinado para a viagem chamava-se Keops. Ironias.

Quanto à tal prova que havia magicado naquela noite em Gizé, espantosamente encontrei um local entre Assuão e Luxor, margem direita do Nilo, mais propriamente no Templo de Edfu, onde através de um estranho e surpreendente pormenor, poderia arranjar mais uma tremenda teoria, talvez nunca narrada em nenhum documentário de televisão, dando consistência à tal ideia que tanto agrada aos aficionados da tal intervenção extraterrestre. Quem está mais ou menos familiarizado com o conceito de corte em 3D, penso que perceberia facilmente do que se trata. Curioso é notar que nem um único turista dá conta do pormenor, quando passam pelo local, ninguém pára, limitando-se um ou outro a tirar uma foto ocasional, disparada mais no sentido de plano conjunto.

A coisa é tão flagrante que cheguei a pensar que aquilo possa ser um conjunto de altos relevos, executado atualmente por obra de restauro através da nossa tecnologia moderna. Mas penso que em 1990 o corte em 3D ainda não existisse, e depois se houve restauro, falta saber há quanto tempo teria sido efetuado, o que torna a hipótese ainda mais improvável.

Mas sinceramente, a observação tinha terminado ali, já houve tempos em que fui apaixonado por estas coisas, este Universo é tão imenso, que acumular conhecimento através do cérebro, começa a parecer uma coisa completamente inútil.

Porque é que estou a contar isto?

Parece que estive metendo aqui por caminho do paranormal, mistério e esoterismo, fora do âmbito que deste nosso diálogo.

Fi-lo propositadamente porque sendo este um exemplo resultante das tais experiências individuais, poderão levar a crer que tais ocorrências serão fruto de um particular elevado estado de consciência.

Relativamente a este episódio passado em Gizé, por esta altura já tinha tomado como ponto de partida para aplicação a muitas situações, uma observação de Carl Sagan (foi para mim um dos professores que substituíram o pai que nunca tive), que sendo um cientista com experiência de vida fora deste nosso particular painel de questões, foi todavia de uma constante clareza e honestidade no que respeita áquilo que observamos, vivido por nós ou relatado por alguém, e que diz o seguinte: «Fatos extraordinários, requerem provas extraordinárias».

Não vou considerar literalmente que isto se possa aplicar a tudo.

Para este nosso âmbito, até poria a coisa ao contrário, sendo que teríamos de começar pelo fato extraordinário, evidenciado pelo nosso Estado de Consciência, as pequenas provas extraordinárias, embora representando talvez indícios excepcionais de pontuais estados do Ser, não são indicativo de estado de plenitude total no Agora, de ausência de Sofrimento, de ausência de Medo, de estado permanente de Paz.

A ocorrência de algumas determinadas percepções ou manifestações excepcionais geradas ou captadas pelo Ser, não são garantia de que o objeto, pessoa ou situação inerente a esses fenomenos de excepção, contenham em si algo que as pessoas geralmente tendem por vezes a considerar de sagrado, ou que seja por aí que se entenda encontrar a porta ou caminho que nos leve à tal fórmula da verdade. Mas penso que são curiosos e sutis percursos na viagem.

Avaliar esse estado de Consciência só nos interessa nós, não ao vizinho, e também saber como está a espiritualidade do vizinho será secundário, que adianta saber isso, não é verdade?

O meu relacionamento com o vizinho, já é coisa diferente.

Ainda estava à distância de uns anos de conhecer Krishnamurti, como já disse.

Ia demorar, até perceber que se houve algo de útil nesse percurso, se houve algo válido, foi a desilusão em cada fase do processo, que me iria conduzir ao ponto zero, começando a perceber toda a inutilidade do conhecimento acumulado e a beleza de observar que o mistério é demasiado grande para ser entendido pelo pensamento, tendo de haver algo mais para além do cérebro.

Ainda antes desta conclusão, caso tenhamos a sorte de não ficarmos pirados, poderá a mente ter ainda que percorrer aquilo que interpreta como graus superiores, chegando por exemplo, ao patamar das chamadas "Escolas de Mistérios", e aquilo já não é espiritismo, essa fase ficou para traz há muito, agora a coisa é mais refinada, ambiente mais intelectual, Movimento quase sempre com ramificação internacional, viagens a pontos da Europa ou do Planeta que são marcos no processo do neófito; nunca o Ego esteve tão ilusoriamente convencido de estar próximo do sagrado.

Não comentamos, não cometemos a vaidade, não senhor, de evidenciar que somos os escolhidos. Mas pensamos.

O mundo lá fora está todo perdido, vive na ilusão do consumo, do mediatismo. É por isso que já não vemos televisão - uma das condições do aluno para a admissão numa destas Escolas.

Isto em 1994, agora a coisa está mais flexível, o mediatismo provocado pela Internet, veio a fazer jeito também para tradicionais sociedades secretas, esotéricas, que no passado faziam questão de manter os seus segredos e práticas exclusivamente acessíveis aos elementos da sua fechada comunidade. A verdade é uma questão de datas.

Pronto, mas para descomprimir isto um pouco, deixe-me contar um pequeno trecho engraçado e algo burlesco.

Havia um aluno, numa dessas Escolas, a última que frequentei, que começou a causar certa estranheza lá em casa porque deixou então de ver televisão e a mulher começou a achar a coisa esquisita, suspeitando que o marido andaria meio narcotizado lá com as ideias que os tipos daquela seita que frequentava ultimamente, lhe andariam a meter na cabeça. Até que um dia, o homem estando já de saco cheio com os comentários provocatórios da mulher, que já começava também a pôr em causa a sua sanidade mental, resolveu o problema de vez; na hora em que esta estava vendo a novela da noite, pegou no televisor e atirou-o pela janela fora.

Limpinho - missão é missão, um verdadeiro cátaro não cede às pressões deste mundo decadente, e pronto, assunto arrumado.

Então é assim. Aqui em Portugal há ditado que diz: «Tudo como dantes, no Castelo de Abrantes».

Neste longo percurso, mesmo que nenhuma religião ou credo nos apanhe, mesmo que nada nos prenda e continuemos em frente, há sempre uma última coisa que fica para o fim, muito difícil de afastar: os relacionamentos condicionados e o desconforto da solidão. O Nelson define isto muito bem em Um Relato de Estados de Consciência Alterados, nesse tema, abordou e desmontou uma série de situações que embora sentidas e vividas, são por vezes difíceis de expressar e traduzir mesmo para nós próprios e muito mais difícil a terceiros. Ouvi-lo decifrar alguns desses estados de consciência, funcionou como libertação repentina; obrigado companheiro.

É a primeira vez que estou a fazer este regresso ao passado, pensei nunca o vir a escrever um texto destes, nunca tive amigo próximo com quem pudesse ter esta conversa, em nenhuma corrente religiosa ou filosófica por onde passei, esta linguagem, seria entendida na sua totalidade, embora nada tenha de transcendente.

Estou a escrever, a partilhar estes fatos com os caros confrades, do mesmo modo como partilharam comigo, reciprocamente nos identificamos com muitas das situações narradas.

Por vezes pensamos que essa Infinita Inteligência, não dá o mínimo sinal e que esta persistente teimosia de tentar manter este silêncio que contém ideias divergentes com todos os credos e interesses que nos rodeiam, pode ter como resultado a experiência dessa insuportável solidão.

O Manoel (Um grande Abraço, tem sido um prazer ouvi-lo) expressa este estado, de forma clara, quando comenta:

«Aqui ninguém ganha nada, se for sério, você vai perceber que vai perder tudo» É verdade amigo, em toda alinha, já me faltou menos para qualquer dia chegar à condição de sem abrigo.

E também queria dizer que nem imaginam a quantidade de asneiras que fiz, aqui só estou focando parte de mais interesse para a nossa conversa.

Bem, nunca me droguei nem roubei ninguém, mas "valha-me Deus", confesso que fiz mesmo muita asneira e criei situações na minha vida completamente idiotas. Que se há-de fazer amigo Manoel? Bem, já passou.

Mas também, feitas as contas, apesar de ter perdido muita coisa e arranjar muita incompreensão, já estou quase como a Deca:

«Não troco os piores dias de hoje, pelos melhores de ontem».

Voltando se me permitem à conversa do início, onde estava dizendo que fui procurar a gravação na Net, reparei então que na página do Youtube, encontravam-se á direita uma série de gravações do mesmo editor, entre elas um outro tema que despertou de imediato a atenção: As Dores Corporais e a Importância de Recolhimento. O assunto interessava-me. Após aquela experiência aos 24 anos, dai para a frente, ciclicamente passei sempre a ter dores alternadas em locais diferentes do corpo. Aparece durante um certo tempo, desaparece e surge noutro local. Às vezes penso que me vai dar um badagaio, mas cá me vou aguentando. O incomodo físico mais permanente são zumbidos que surgiram há 4 anos e que ainda não foram embora.

Tendo reparado nesse tema e outros com o mesmo visual que indicavam ser do mesmo editor, resolvi captar alguns, para ir ouvindo atentamente no automóvel sem a Internet aberta.

E estando a chegar ao fim vou confessar, explicar porque afirmei num comentário do YouTube que nunca imaginaria que estes debates relacionados com Krishnamurti ou Eckart Tolle, algum dia seriam encetadas com alguém proveniente do Brasil.

Havia aqui um preconceito antigo, imagem criada, baseada em fatores de alguma razão particular, mas quando a mente faz disso um conceito adquirido por imagens isoladas, é falso.

Então vou ou tentar reproduzir um tipo de pensar aqui de há uns anos atrás, pouco tempo depois de ter entrado em contato com literatura do Krishnamurti. Prepare-se para atrapalhada que vem a seguir, mas que é um exercício de observação de como por vezes o pensamento funciona :

Essa coisa de teres de teres andado uns tempos a observar as práticas lá da IURD, não te fez lá muito bem, agora parece que tudo que é brasileiro te soa a falso, já não bastava teres observado a treta dos orixás, camdomblés e iemanjás, ainda foste arranjar mais lenha para a fogueira.

Mas olha... toma cuidado porque essa tua mentezinha preconceituosa parece estar agora a meter tudo no mesmo saco, e não vai faltar muito para começares a pensar que já não suportas ouvir nada que vem do Brasil. Está bem, pronto.

Mas também olha lá, já depois de tanta coisa teres lido, deste conta que afinal os primeiros livros neste âmbito, eram praticamente todos da Editora Pensamento – São Paulo, lembras? Sim, mas isso já lá vai, o tempo do Magnetismo Pessoal, do Trigueirinho, do Poder do Subconsciente, do Poder da Energia Piramidal, essas dezenas de livros estão agora todos arrumados na estante ou no sótão. Já passou.

Assunto arrumado, amigo, não se fala mais nisso...

Tives-te sorte. Nunca ter ficado colado a nada, nenhuma filosofia, credo ou religião. Pois...

E tudo talvez por causa daquele pequeno livrinho "subversivo" que alguém deixou ficar esquecido na cadeira lá na Escola dos Rosa Cruz, a última Escola que frequentaste, chamava-se Liberte-se do Passado, lembras?

Mas espera lá, anda aí a tua mente pensadora a magicar que tudo que vem agora do Brasil cheira a enrêdo, mas já reparas-te? Esse livrinho que te virou a vida às avessas não era também da Editora Pensamento?

Pois.. "Valha-me Deus", é... essa Editora persegue-me, parece que faço parte da mobília, até me podia candidatar a sócio honorário ou coisa assim...

E não é tudo amigo, o aluno que deixou ficar esse livro na cadeira, nasceu no Brasil, também lembras?

Pois é, pareço não gostar muito do Brasil, mas o raio do país persegue-me. Sim, mas olha, como diz o outro «uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa», estou mesmo a imaginar brasileiro a pegar num texto Krishnamurti; linguagem de futebol e Carnaval pelo meio... havia de ser bonito.

E não é que foi mesmo? A vida tem destas surpresas.

Vou reproduzir uma curta frase de uma das primeiras gravações, isto para vocês é normal, para o cerimonial português com os seus conceitos que tem de linguagem adequada a cada área, é de «partir a louça toda».

Então, segundo o amigo Nelson é assim:

«Então tá aí gente, José Victor entrou aí, já cruzou a bola prá área, então vamos ver quem quiser matar no peito, é entrar de cabeça». Nem mais.

Ora, eu penso não ser nada preconceituoso, mas nunca imaginei que um diálogo sobre um texto de Krishnamurti tivesse esta gramática pelo meio.

E isto dá para verificar como ainda estamos formatados; então não sou eu que costumo observar que aqueles cerimoniais do Vaticano são todos sorumbáticos e sempre com o mesmo discurso? Pois é ...

É um prazer ouvir-vos. A todos.

«Existe uma dimensão muito mais profunda que o fluir dos pensamentos». Uma pequena palavra dirigida à amiga Deca.

Ouvia citar numa gravação o termo «Nazareno». Não sei se é vulgar no Brasil aplicarem esse termo de forma genérica ou se é uma citação particularmente sua.

Cá em Portugal, geralmente toda a gente diz Jesus ou Jesus Cristo.

Mas o nome «Nazareno» é-me particularmente familiar, e é mesmo nesse termo que costumo recordá-lo.

Jesus de Nazaré é um personagem muito especial pela coragem que teve, num tempo em que ser diferente era um risco.

Trouxe um sentido renovador para o relacionamento humano, espalhou um conceito novo pela Judeia daqueles tempos, estranho às leis dos seus sumos-sacerdotes e que se haveria de infiltrar no seio do Império Romano: Amor e Compaixão.

Um amor que não precisa de ser adotado, forçado. Pela compreensão, observação, ele pode surgir naturalmente.

O seu primeiro encontro com Maria Madalena, mostrou essa nova forma de observar sem imagens ou conceitos.

E nem interessa se historicamente, tudo que está no Novo testamento se passou ou não, mas a mensagem principal, renovadora, lançada numa época em que a justiça e a verdade eram ditadas por leis de singular conveniência do poder ou da religião, isso é que foi importante.

É pena que em seu nome se viesse a fazer nos séculos que se seguiriam, tudo aquilo que já sabemos.

O Nazareno é também a causa dos meus Natais de criança. A noite de Natal tinha para uma magia especial, inexplicável. Tempos de pura inocência.

Nasci a 25 de Dezembro de 1951. Coincidências.

Escutei-vos com grata surpresa, agradecido a todos, e devo desde já referir caso nesta mensagem haja esquecido de saudar algum confrade que tenha dado o seu testemunho nas gravações escutadas e não o tenha referido, a todos desejaria igualmente enviar um forte abraço, ouvi atentamente tudo o que disseram, todos foram de preciosa contribuição. Muito Obrigado

Para terminar, resta dizer que DIPAR- significa Documento de Isenção Partidária ou Religiosa, página editada no Facebook, para edição determinado tipo de textos ou documentos específicos; está lá, há já algum tempo, mas pouco utilizada, por algumas razões similares, expressas no tema Um relato de estados de consciência alterados, quanto à utilização exacerbada destes meios.

Sou José Luís Lapa e fico grato por vos ter conhecido.

Obrigado Nelson.

Grande Abraço para todos:

Zé Luís,

joseLulsLflpfl@ioL.pt

Tenho alguns amigos com quem conversar sobre variados assuntos, mas nenhum, nem um sequer, para ter uma conversa deste tipo.

Nem mesmo aquele amigo que um dia deixou ficar por esquecimento um livro numa das cadeiras da sala de reuniões do Lectorium Rosicrucianum, livro esse que continha algumas "inconveniências", divergentes com a prática da Escola da Rosa Cruz Aurea e aliás com todo o movimento religioso que pretenda "organizar" a Verdade. Quer dizer, o autor, até era por vezes pontual e como que timidamente citado - de modo ligeiro, e toca apassar à frente, não fosse surgir por ali alguma análise ou interrogação de aluno mais irreverente.

Nome de Código: Cloverfield (2008) Cloverfield

Foi uma delícia ouvir este grupo!!

Descobrir que não estamos sós, que não é só nos livros que encontramos aquilo que pensamos, ouvir alguém que fala de trechos da nossa história sem nos conhecer, é uma surpresa gratificante.

Foi preciso "atravessar" o Atlântico para encontrar um diálogo tão familiar, mas tão raro e por isso tão precioso, e para ser sincero, no país onde menos esperava. Um dia explico.

Gostaria que me permitissem continuar este diálogo numa outra plataforma, para o caso de introdução de texto um pouco mais extenso. A página Dipar documento do Facebook contém o meu contato por email. Abraço

Já não chorava há muito tempo e estava a precisar... hoje as lágrimas fluiram facilmente tocando uma energia de integração com o misterioso interior.

As interrogações do José Victor revelam um saudável ceticismo, lucidez e abertura para iniciar qualquer viagem de descoberta.


(e-mail recebido em 15/03/2013)

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill