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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Diálogo sobre o que está além do vazio e do silêncio

Krishnamurti:... O vazio é energia, e o vazio existe no silêncio, ou ao contrário, não importa — certo? Oh, sim, existe alguma coisa além disso tudo. Provavelmente nunca poderá ser colocada em palavras; mas ela tem de ser colocada em palavras. Você está acompanhando? 

DB: Você está dizendo que o absoluto deve ser colocado em palavras, mas sentimos que isso não é possível? Qualquer tentativa de colocá-lo em palavras torna-o relativo.

K: Sim. Não sei como colocar tudo isso. 

DB: Creio que temos uma longa história de perigo com o absoluto. As pessoas o colocaram em palavras, e ele se tomou muito opressivo. 

K: Abandonemos tudo isso. Veja bem, ignorarmos o que outras pessoas disseram, Aristóteles, Buda, e outros, tem uma vantagem. Entende o que quero dizer? Uma vantagem no sentido de que a mente não está influenciada pelas idéias de outras pessoas, e nem presa às afirmações de outras pessoas. Tudo isso faz parte do nosso condicionamento. Vamos agora além de tudo isso! O que estamos tentando fazer? 

DB: Acho que estamos tentando nos comunicar com relação a esse absoluto, esse além. 

K: Eu retirei imediatamente essa palavra "absoluto". 

DB: Então seja lá o que for; o que está além do vazio e do silêncio. 

K: Além disso tudo. Existe o além disso tudo. Tudo isso é alguma coisa, parte de uma imensidão. 

DB: Sim, mesmo o vazio e o silêncio são uma imensidão, não são? A energia em si é uma imensidão. 

K: Sim, eu compreendo isso. Porém existe uma coisa muito mais imensa do que isso. O vazio, o silêncio e a energia são imensos, realmente imensuráveis. Mas existe uma coisa — estou usando a palavra "maior" do que isso. 

DB: Estou apenas ponderando. Estou observando. Podemos ver que não importa o que digamos sobre o vazio, ou sobre qualquer outra coisa, existe algo além. 

K: Não, como um cientista, por que você aceita — aceita não, perdoe-me por usar essa palavra — por que você acompanha isso? 

DB: Porque nós chegamos aqui passo a passo, percebendo a necessidade de cada passo. 

K: Você percebe que tudo isso é muito lógico, razoável, sensato. 

DB: Além disso, podemos perceber que está tão certo. 

K: Sim. Assim, se eu disser que existe uma coisa maior do que todo esse silêncio, essa energia — você aceitaria isso? Aceitaria no sentido de que até agora temos sido lógicos. 

DB: Digamos que certamente há algo além de qualquer coisa a que você se refira. Silêncio, energia, seja o que for, então sempre há, logicamente, espaço para alguma coisa além. Porém o ponto é o seguinte: mesmo que você diga que há algo além disso, logicamente ainda deixa espaço para irmos novamente além disso. 

K: Não. 

DB: Bem, por que é assim? Veja, qualquer coisa que você diga, sempre existe lugar para algo além. 

K: Não há nada além. 

DB: Bem, esse ponto não está claro, percebe? 

K: Não existe nada além. Eu me mantenho fiel a isso. Não de forma dogmática ou obstinada. Sinto que isso é o começo e o final de tudo. O fim e o início são a mesma coisa — certo? 

DB: Em que sentido? No sentido de que você está usando o início de tudo como o final?

K: Sim. Certo? Você diria isso? 

DB: Sim. Se tomarmos a base de onde isso vem, deve ser a base aonde isso cai. 

K: Está correto. Essa é a base sobre a qual tudo existe, espaço .. . 

DB: ... energia .. . 

K: . . . energia, vazio, silêncio, tudo que é. Tudo isso. Não a base, você compreende? 

DB: Não, isso é apenas uma metáfora. 

K: Não há nada além disso. Nenhuma causa. Se tivermos uma causa então teremos uma base. 

DB: Temos outra base. 

K: Não. Isso é o começo e o fim. 

DB: Está se tornando mais claro. 

K: É verdade. Isso transmite alguma coisa a você? 

DB: Sim, acho que sim. 

K: Alguma coisa. Você diria ainda que não há começo e nem fim? 

DB: Sim. Ele vem da base, vai para a base, mas não começa nem termina. 

K: Sim. Não existe início nem fim. As implicações são enormes. Isso, a morte — morte não no sentido de eu vou morrer, mas o término completo de tudo? 

DB: Veja bem, primeiro você disse que o vazio é o final de tudo, então em que sentido é esse mais, agora? O vazio é o fim das coisas, não é?

K: Sim, sim. É essa morte, esse vazio? A morte de tudo que a mente cultivou. Esse vazio não é o produto da mente, da mente específica. 

DB: Não, da mente universal. 

K: Esse vazio é isso. 

DB: Sim. 

K: Esse vazio só pode existir quando há morte — a morte total — do particular. 

DB: Sim. 

K: Não sei se estou conseguindo transmitir isso. 

DB: Sim, isso é o vazio. Mas quando você diz isso, nessa base a morte vai mais adiante? 

K: Oh, sim. 

DB: Então estamos dizendo que o final do particular, a morte do específico, é o vazio, que é universal. Você vai dizer agora que o universal também morre? 

K: Sim, é isso que estou tentando dizer. 

DB: Na base. 

K: Isso transmite alguma coisa? 

DB: Possivelmente, sim. 

K: Espere um minuto. Vejamos. Creio que isso transmite algo, não é verdade? 

DB: Sim. Ora, se o particular e o universal morrem, então isso é a morte? 

K: Sim. Afinal de contas, um astrônomo diz que tudo no universo está morrendo, explodindo, morrendo.

DB: Mas, naturalmente, poderíamos supor que havia algo além. 

K: Sim, é exatamente isso. 

DB: Acho que estamos avançando. 0 universal e o particular. Primeiro o particular morre no vazio, e depois vem o universal. 

K: E isso morre também. 

DB: Na base, certo? 

K: Sim. 

DB: Então poderíamos dizer que a base não nasce e nem morre. 

K: Está correto. 

DB: Bem, acho que dizermos que o universal partiu torna-se quase inexprimível, porque a expressão é o universal. 

K: Veja — estou apenas explicando: tudo está morrendo, a não ser aquilo. Isso transmite alguma coisa? 

DB: Sim. Bem, é a partir daquilo que tudo surge, e naquilo que tudo morre. 

K: Então aquilo não tem começo nem fim. 

DB: O que significaria falar sobre o término do universal? O que significaria termos o fim do universal? 

K: Nada. Por que isso deveria ter um significado se está acontecendo? Qual é a relação disso com o homem? Você está acompanhando o que quero dizer? O homem está passando por uma época terrível. Qual é a relação disso com o homem? 

DB: Digamos que o homem sente que ele tem de ter algum contato com a base suprema da sua vida, caso contrário não há significado. 

K: Mas ele não tem. A base não possui qualquer relacionamento com o homem. Ele está se matando, ele está fazendo tudo em oposição à base. 

DB: Sim, é por isso que a vida não tem qualquer significado para o homem. 

K: Sou um homem comum; eu digo, está bem, você falou maravilhosamente a respeito do pôr-do-sol, mas o que tem isso a ver comigo? Isso ou o que você está falando vai me ajudar a superar minha feiúra? Minhas brigas com minha mulher ou seja lá o que for? 

DB: Creio que deveríamos voltar, e dizer que entramos nisso começando logicamente com o sofrimento da humanidade, mostrando que ele se origina de um passo errado, que conduz inevitavelmente .. . 

K: Sim, mas o homem pede: ajude-me a superar o passo errado. Coloque-me de volta no caminho certo; e a isso respondemos: por favor não se transforme em nada. 

DB: Certo. Qual é o problema então? 

K: Ele nem escutará. 

DB: Parece-me, então, que a pessoa que percebe isso precisa descobrir qual é a barreira que impede o homem de escutar. 

K: Obviamente você pode ver qual é a barreira. 

DB: Qual é a barreira? 

K: O "eu". 

DB: Sim, mas eu quero dizer mais profundamente. 

K: Mais profundamente, todos os nossos pensamentos, apegos profundos — tudo que está no nosso caminho. Se não pudermos abandonar essas coisas, então não teremos qualquer relação com aquilo. O homem, porém, não deseja abandoná-las. 

DB: Sim, eu entendo. O que ele quer é o resultado da maneira como ele está pensando. 

K: O que ele quer é um modo confortável, fácil, de viver sem qualquer problema, e ele não pode ter isso.

DB: Não. Somente se abandonar tudo isso. 

K. Tem de haver uma ligação. Deve existir alguma relação com a base e com isso, alguma conexão com o homem comum; caso contrário, qual é o significado de vivermos? 

DB: É isso que eu estava tentando dizer antes. Sem essa relação ... 

K: ... não há significado. 

DB: E então as pessoas inventam o significado. 

K: Naturalmente. 

DB: Mesmo se voltarmos atrás, veremos que as antigas religiões disseram coisas parecidas, que Deus é a base, e, portanto, elas procuram Deus. 

K: Ah, não, isso não é Deus. 

DB: Não, não é Deus, mas está dizendo a mesma coisa. Poderíamos dizer que "deus" é uma tentativa de colocar essa noção de um modo um tanto pessoal demais, talvez. 

K: Sim. Dê-lhes esperança, dê-lhes fé, entende? Torne a vida um pouco mais confortável de ser vivida. 

DB: Bem, você está querendo saber neste ponto: como isso poderá ser transmitido ao homem comum? É essa a sua pergunta? 

K: Mais ou menos; e também é importante que ele escute isso. Você é um cientista. É bom o bastante para escutar porque somos amigos. Quem escutará, porém, entre os outros cientistas? Sinto que se nos dedicarmos a isso, teremos um mundo maravilhosamente bem organizado. 

DB: Sim. E o que faremos nesse mundo? 

K: Viveremos. 

DB: Mas, quero dizer, falamos alguma coisa a respeito da criatividade ... 

K: Sim; e então, se não temos conflito, se não há nenhum "eu", há alguma outra coisa que está atuando. 

DB: Sim, é importante dizer isso, porque a idéia cristã de perfeição parece ser bastante maçante, porque não há nada a fazer! 

K: Devemos continuar esse assunto em alguma outra ocasião, porque isso é algo que tem que ser colocado em órbita. 

DB: Parece impossível. 

K: Fomos bastante longe. 

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2 de abril de 1980, Ojai, Califórnia 55
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill