[...] Em lugar de buscar o que é incondicionado, não será mais importante descobrir se a sua mente está condicionada? Por certo, se sua mente está condicionada — e isso na realidade ocorre — não importa o quanto ela possa investigar sobre a realidade de Deus, ela só poderá reunir conhecimentos ou informações de acordo com esse condicionamento. Sendo assim, pensar sobre Deus é uma grande perda de tempo, é uma especulação desprovida de valor. É algo como eu ficar sentado aqui neste bosque e querer estar no topo daquela montanha. Se eu na verdade quiser saber o que existe no topo da montanha, ou além dela, precisarei ir até lá. De nada adianta eu permanecer sentado aqui, especulando, construindo templos, igrejas e ficando excitado com elas. O que preciso fazer é levantar-me, caminha, lutar, empurrar, chegar até lá e descobrir; mas, como a maioria de nós não quer fazer isso, nos contentamos em ficar sentados aqui e em especular sobre algo que não conhecemos. E eu afirmo que essa especulação é um estorvo, é uma deterioração da mente, e não tem valor algum: só o que faz é produzir mais confusão e mais sofrimento para o homem.
Sendo assim, Deus é algo sobre o qual não se pode falar, que não pode ser descrito, que não pode ser colocado em palavras, porque deve permanecer sendo sempre o desconhecido. No momento em que ocorre o processo do reconhecimento, você voltou ao campo da memória. Digamos, por exemplo, que você teve uma experiência momentânea de algo extraordinário. Naquele preciso momento não existe nenhum pensador que vá afirmar: "Eu preciso me lembrar disso". Existe apenas o momento vivenciado. Mas, quando esse momento se desfaz, o processo do reconhecimento se faz presente. A mente diz: "Tive uma experiência maravilhosa e gostaria de poder ter mais dela", e então tem início a luta do "mais" — porque lhe dá prazer, prestígio, conhecimento, porque você se torna uma autoridade, e todas as outras tolices desse tipo.
A mente persegue aquilo que vivenciou; mas o que vivenciou já terminou, morreu, já foi, e, para descobrir aquilo que é, a mente precisa morrer para o que vivenciou. Isso não é algo que se possa cultivar dia após dia, que possa ser reunido, acumulado, mantido, e sobre o qual se possa então falar e escrever. Tudo o que podemos fazer é verificar que a mente está condicionada e, através do autoconhecimento, compreender o processo do nosso próprio pensamento. Eu preciso me conhecer, não como eu, ideologicamente, gostaria de ser, mas como eu sou na realidade, não importa se feio ou bonito, mesmo que invejoso, ciumento, ambicioso. Mas é muito difícil ver apenas o que se é, sem querer mudá-lo, e esse próprio desejo de mudança é outra forma de condicionamento; e assim seguimos, passando de um condicionamento para outro, jamais vivenciando algo além do que é limitado.
Krishnamurti — Ojai, 21 de Agosto de 1955
Krishnamurti — Ojai, 21 de Agosto de 1955