Porque a Verdade - o Deus real, o verdadeiro, e não o "deus" feito pelo homem - não quer uma mente que é destruída, que é mesquinha, superficial, estreita, limitada.
[...] A Verdade precisa de uma mente lúcida, capaz de apreciá-la, de uma mente rica - não de conhecimentos, mas de inocência - uma mente em que a experiência nunca deixe a mais leve cicatriz, uma mente liberta do tempo. Os deuses que inventamos para nosso conforto, aceitam a tortura; aceitam uma mente que vamos tornando embotada. Mas a Realidade não quer isso; quer um ser humano total, completo, de coração pleno, rico, límpido, capaz de sentir intensamente, capaz de ver a beleza de uma árvore, o sorriso de uma criança, e a agonia da mulher que nunca teve comida suficiente para matar a fome. Cada um precisa de ter essa extraordinária sensibilidade, de ser sensível a tudo - ao animal, ao gato que passa sobre o muro, à miséria, à sordidez; à degradação do ser humano que vive na pobreza, no desespero. Temos de ser sensíveis, ou seja, temos de sentir intensamente, não apenas numa determinada direção. Sensibilidade que não é a emoção que vem e desaparece, mas uma sensibilidade de todo o nosso ser, de todo o nosso corpo - dos nervos, dos olhos, dos ouvidos, da voz. Se assim não for, não haverá inteligência. E a inteligência vem com a sensibilidade e a observação. A sensibilidade não é fruto da infinita acumulação de conhecimento e de informação. Podíamos conhecer todos os livros do mundo, lê-los, devorá-los; podíamos estar familiarizados com todos os autores, conhecer todas as coisas que tem sido ditas; mas isso não traz inteligência. O que traz inteligência é a sensibilidade, a sensibilidade total da mente - consciente e inconsciente e do coração, com as suas extraordinárias capacidades de afeição, de simpatia, de generosidade. E com isso vem aquela intensa sensibilidade, sensibilidade à folha descorada que cai da árvore, e à miséria de uma rua degradada - temos de ser sensíveis a ambas as coisas; não se pode ser sensível a uma e insensível à outra. Ser sensível - mas não apenas a isto ou àquilo. E quando há essa sensibilidade unida à observação, há a inteligência necessária para observar - para ver as coisas como são, sem nenhuma fórmula, sem nenhuma opinião; para ver a nuvem como nuvem; para ver os nossos íntimos pensamentos, os nossos secretos desejos, como realmente são, sem os interpretar, sem os aceitar ou rejeitar - para observar, apenas, escutar, apenas, esses desejos secretos; e para observar, quando vamos no autocarro, o passageiro ao nosso lado, os seus modos, a sua maneira de falar - observar, apenas. Então, dessa observação vem a clareza. Tal observação expulsa todas as formas de confusão. E assim, com a sensibilidade e a observação surge aquela extraordinária qualidade da inteligência.