O que é ser egocêntrico? Quando é que você tem consciência de ser "eu"?
(...) Só estou cônscio das atividades do "eu" quando existe oposição, quando a consciência se vê contrariada, quando o "eu" está desejoso de alcançar resultado. O "eu" está ativo, ou tenho consciência daquele centro, quando o prazer termina e eu desejo mais desse prazer; há então resistência e um intencional ajustamento da mente a um determinado fim, o qual me proporcionará deleite, satisfação; estou consciente de mim mesmo e das minhas atividades quando estou cultivando a virtude conscientemente. É só isso o que sabemos. Um homem que cultiva a virtude conscientemente, não é virtuoso. A humildade não pode ser cultivada e nisso é que consiste a beleza da humanidade.
Nessas condições, enquanto existe esse centro de atividade, em qualquer direção, consciente ou inconsciente, há o motivo do tempo e estou consciente do passado e do presente em conjunção com o futuro. O centro dessa atividade, da atividade egocêntrica do "eu", é um processo de tempo. É isso o que você entende por tempo — refere-se, ao processo psicológico do tempo; é a memória que dá continuidade à atividade do centro, que é o "eu". Tenha a bondade de observar-se em funcionamento; não ouça apenas as minhas palavras, não fique hipnotizado pelas minhas palavras. Se você observar a si mesmo e tomar conhecimento desse centro de atividades, verá que ele é apenas o processo do tempo, da memória, do experimentar e traduzir cada experiência, segundo a memória; verá também que a atividade do "eu" é reconhecimento, sendo isso processo da mente.
Pois bem, pode a mente ficar livre da atividade egocêntrica? Talvez seja possível, em momentos raros; talvez possa acontecer à maioria de nós, quando praticamos um ato inconsciente, não intencional, não proposital. É possível a mente ficar livre da atividade egocêntrica? Eis uma pergunta muito importante, que, que deve se fazer em primeiro lugar, pois, precisamente no fazê-la encontrará a resposta. Isto é, se você está consciente do processo total dessa atividade egocêntrica, se está perfeitamente ciente de suas atividades em diversos níveis da sua consciência, então, de certo, tem de perguntar a si mesmo se é possível aquela atividade chegar a um fim; isto é, não pensar dentro dos limites do tempo, não pensar com referência ao que serei, ao que fui, ou ao que sou. Desse modo de pensar procede todo o processo da atividade egocêntrica; aí também tem começo a determinação de vir-a-ser, a determinação de escolher e de evitar, tudo isso processo de tempo. Notam-se, nesse processo, malefício sem fim, miséria, confusão, perversão, degeneração. Fique consciente disso, enquanto falo, nas suas relações, na sua mente.
Positivamente, o processo de tempo não é revolucionário. No processo do tempo não há transformação; só há uma continuidade e nunca um findar. No processo do tempo só existe reconhecimento. Só quando temos a cessação completa do processo do tempo, da atividade do "eu", há o novo, há revolução, há transformação.
Uma vez consciente de todo esse processo do "eu", em sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação, só com a revolução — não pela evolução, não com o "eu" na atividade do vir-a-ser, mas sim pelo completo findar do "eu", há o novo. O processo do tempo não pode trazer o novo; o tempo não é o caminho da criação.
Não sei se você já teve algum momento de criação — não "ação", não me refiro à execução de algum ato — quero significar o momento de criação em que não há reconhecimento algum. Nesse momento se realiza aquele estado extraordinário em que o eu "como atividade de reconhecimento deixou de existir"... Se você está vigilante, verá que naquele estado não existe nenhum "experimentado" que lembra, traduz, reconhece, e depois identifica. Não há nenhum processo de pensamento, que é coisa do tempo. Naquele estado de criação, de ação criadora, naquele estado do novo, que é atemporal, não existe, absolutamente, nenhuma ação do "eu".
Nossa questão, agora, é certamente esta: É possível à mente experimentar, conhecer aquele estado, não momentaneamente, não em instantes raros, mas — não quero usar a expressão "eternamente" ou "para sempre", que implica o tempo — conhecer aquele estado, achar-se naquele estado sem relação alguma com o tempo? Esta, sem dúvida, é uma descoberta muito importante, que cada um de nós deve fazer, porquanto é ela a porta do amor; todas as outras portas representam atividades do "eu". Onde há ação do "eu" não há amor. O amor não é do tempo. Você não pode praticar o amor, pois isso seria uma atividade consciente do "eu", que espera, por meio do amor, alcançar um resultado.
O amor, pois, não é coisa do tempo; você não pode chegar a ele por meio do esforço consciente, por meio de uma disciplina, por meio da identificação, porque tudo isso é processo do tempo. A mente que só conhece o processo do tempo é incapaz de reconhecer o amor. O amor é a única coisa que é nova, eternamente nova. Uma vez que os mais de nós temos cultivado a mente, que é um processo de tempo, resultado do tempo, não sabemos o que é o amor. Falamos a respeito do amor; dizemos que amamos pessoas, que amamos nossos filhos, nossas esposas, nosso próximo; que amamos a natureza; mas, no momento em que estou consciente de que amo, entrou em atividade o "eu" e, consequentemente, o amor deixou de existir.
O processo total da mente só é compreensível no estado de relação — relação com a natureza, com as pessoas, com nossa própria "projeção", com tudo, enfim. Na realidade, a vida não é outra senão relações. Ainda que tentemos isolar-nos das nossas relações, não podemos existir sem elas; embora as relações sejam dolorosas e procuremos evitá-las pela fuga, recolhendo-nos ao isolamento, tornado-nos eremitas, etc., não o podemos fazer. Todos esse métodos constituem um indício de atividade do "eu". Ao perceber o quadro, em sua inteireza, ao perceber integralmente esse processo do tempo como consciência — perceber, sem que haja escolha, sem que haja nenhuma intenção determinada no sentido de um objetivo, sem desejo de resultado — você verá como esse processo do tempo chega a um fim, espontaneamente — um fim não provocado, um fim que não é resultado do desejo. Só quando cessa aquele processo existe o amor, que é eternamente novo.
Não temos de procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que se acha longe de nós. A verdade habita a mente, está presente em suas atividades de cada instante. Ao perceber inteiramente esse processo do tempo, então, esse percebimento libera, descarrega aquela consciência ou energia que está toda aplicada a ser. Quando a mente se serve da consciência como atividade egocêntrica, entra em cena o tempo, com todas as suas misérias, todos os seus conflitos, todos os seus malefícios, todas as suas ilusões intencionais; e só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa, pode existir o amor. Podemos chamá-lo amor ou por outro nome qualquer; o nome que lhe damos não tem importância.
(...) O amor não é uma coisa da mente; o amor não é uma idéia. O amor só pode existir depois de extinta a atividade do "eu". Você, porém, chama essa atividade do "eu" positiva; esse ato "positivo" leva à destruição, à separação, à aflição, à confusão, coisas essas que você conhece muito bem e a fundo. E, toda via, todos nós falamos de cooperação, de fraternidade. Basicamente, o que desejamos é ficar apegados às nossas atividades egocêntrica.
(...) Quando você e eu não somos egocêntricos, amamo-nos um ao outro; então, você e eu estamos interessados na ação e não no resultado; não na idéia, mas no realizar da ação; você e eu temos amor um pelo outro. Quando a minha atividade egocêntrica entra em choque com a sua atividade egocêntrica, "projetamos", então, uma idéia, com relação à qual nós dois estamos em conflito; superficialmente, estamos cooperando, mas, em verdade, estamos continuamente em guerra.
(...) Se você e eu nos amássemos, acredita que existiriam as aldeias sórdidas e repugnantes? Nós agiríamos não ficaríamos a criar teorias e a falar de fraternidade. Evidentemente, não há calor, não há riqueza em nossos corações, e vivemos falando a respeito de tudo; temos métodos, sistemas, partidos, governos e leis. Não sabemos que não é com palavras que se conquista aquele estado de amor.
A palavra "amor" não é amor. A palavra "amor" é só um símbolo e nunca pode ser a realidade. Por isso, não fique hipnotizado pela palavra "amor". Ela não é nenhuma coisa nova. Esse estado só pode realizar-se depois de ter cessado a atividade do "eu"; e, em virtude dessa cessação do "eu", você está cooperando com o alvo de fazer o que é preciso e não com o alvo numa idéia. Você não sabe tudo isso, senhor? Não sabe que quando você e eu nos amamos, fazemos as coisas tão fácil e placidamente? Não falamos de cooperação, não falamos de nenhum sistema de como se faz uma coisa, ficando depois a batalhar por causa do sistema e inteiramente esquecidos da ação. Você sorri, e passa adiante... Envelhecemos em esperteza, mas não em sabedoria...
(...) O amor não é uma coisa da mente; o amor não é uma idéia. O amor só pode existir depois de extinta a atividade do "eu". Você, porém, chama essa atividade do "eu" positiva; esse ato "positivo" leva à destruição, à separação, à aflição, à confusão, coisas essas que você conhece muito bem e a fundo. E, toda via, todos nós falamos de cooperação, de fraternidade. Basicamente, o que desejamos é ficar apegados às nossas atividades egocêntrica.
(...) Quando você e eu não somos egocêntricos, amamo-nos um ao outro; então, você e eu estamos interessados na ação e não no resultado; não na idéia, mas no realizar da ação; você e eu temos amor um pelo outro. Quando a minha atividade egocêntrica entra em choque com a sua atividade egocêntrica, "projetamos", então, uma idéia, com relação à qual nós dois estamos em conflito; superficialmente, estamos cooperando, mas, em verdade, estamos continuamente em guerra.
(...) Se você e eu nos amássemos, acredita que existiriam as aldeias sórdidas e repugnantes? Nós agiríamos não ficaríamos a criar teorias e a falar de fraternidade. Evidentemente, não há calor, não há riqueza em nossos corações, e vivemos falando a respeito de tudo; temos métodos, sistemas, partidos, governos e leis. Não sabemos que não é com palavras que se conquista aquele estado de amor.
A palavra "amor" não é amor. A palavra "amor" é só um símbolo e nunca pode ser a realidade. Por isso, não fique hipnotizado pela palavra "amor". Ela não é nenhuma coisa nova. Esse estado só pode realizar-se depois de ter cessado a atividade do "eu"; e, em virtude dessa cessação do "eu", você está cooperando com o alvo de fazer o que é preciso e não com o alvo numa idéia. Você não sabe tudo isso, senhor? Não sabe que quando você e eu nos amamos, fazemos as coisas tão fácil e placidamente? Não falamos de cooperação, não falamos de nenhum sistema de como se faz uma coisa, ficando depois a batalhar por causa do sistema e inteiramente esquecidos da ação. Você sorri, e passa adiante... Envelhecemos em esperteza, mas não em sabedoria...
Krishnamurti - Quando o pensamento cessa