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quarta-feira, 6 de março de 2013

A fuga do que é


Ele era um homem muito velho, com a barba branca, e o seu corpo magro mal estava coberto pelo hábito cor de açafrão de um saniasi. Tinha modos e fala tranqüilos, mas seus olhos eram repletos de tristeza — a tristeza de uma busca em vão. Com a idade de 15 anos, ele deixou a família e renunciou ao mundano, e por muitos anos vagou por toda a Índia, visitando ashrams, estudando, meditando, buscando sem cessar. Ele morou por algum tempo no ashram do líder político-religioso que trabalhara extenuamente pela liberdade da Índia, e viveu em mais outro, ao sul, onde os cânticos eram agradáveis. No salão onde um homem santo vivia silenciosamente, ele também buscara em silêncio, entre muitos outros. Ele esteve em ashams da costa leste à costa oeste, investigando, questionando, discutindo. No extremo norte, na neve e nas gélidas cavernas, ele também passou; e meditara o sofrimento físico e fez longas peregrinações a templos sagrados. Era versado em sânscrito, e se deleitara em cantar enquanto peregrinava de um lugar a outro.

“Busquei a Deus de todas as maneiras possíveis desde a idade de 15 anos, mas não O encontrei, e agora já passo dos 70. Venho a você como fui a outros, na esperança de encontrá-lo. Preciso encontrá-lo antes de morrer; a não ser, que Ele seja apenas mais um dos muitos mitos da humanidade.”

Se me permite perguntar, senhor, acha que o imensurável  pode ser encontrado na busca por Ele? Seguindo diferentes caminhos, por meio de disciplina e autoflagelaçao, do sacrifício e do serviço devoto, aquele que busca encontrará o eterno? Certamente, senhor, não importa se o eterno existe ou não, e podemos investigar a verdade disso mais tarde; o que é importante é compreender por que buscamos, e o que estamos buscando. Por que buscamos?

“Eu busco porque, sem Deus, a vida tem pouquíssimo significado. Eu O busco devido à tristeza e à dor. Eu O busco porque quero paz. Eu O busco porque Ele é o permanente, o imutável;  porque existe a morte, e Ele é imortal. Ele é ordem, beleza e bondade, e por essa razão eu O busco.”

Ou seja, estando em agonia pelo impermanente, buscamos cheios de esperança aquilo que chamamos de permanente. A razão de nossa busca é encontrar conforto no ideal do permanente, mas esse ideal nasce da impermanência, brota da dor da mudança contínua. O ideal é irreal, enquanto a dor é verdadeira; mas, ao que parece, não compreendemos o fato da dor, e nos apegamos ao ideal, à esperança da ausência de dor. Daí nasce em nós a dualidade entre fato e ideal, com seu conflito infindável entre o que é e o que deveria ser. A razão de nossa busca é escapar da impermanência, da dor, em direção àquilo que a mente acredita ser o estado de permanência, de êxtase perpétuo. Mas esse pensamento em si já é impermanente, pois nasce da dor. O oposto, independente do quão elevado, contém a semente do próprio oposto. Nossa busca, portanto, é apenas o anseio por escapar do que é.

“Quer dizer que temos de parar de buscar?”

Se dispensarmos nossa atenção integral à compreensão do que é, então a busca, como a conhecemos, talvez não seja necessária, de modo algum. Quando a mente está livre da dor, que necessidade tem de buscar a felicidade?

“É possível que a mente se liberte da dor?”

Concluir que ela pode ou não se libertar significa colocar um fim a todo o questionamento e compreensão. Temos de dedicar nossa atenção total à compreensão da dor, e não podemos fazê-lo se estivermos tentando escapar dela, ou se nossa mente estiver ocupada em buscar sua causa. Deve haver total atenção, e não uma preocupação oblíqua.

Quando a mente não busca mais, quando cessa de gerar conflito por meio de suas faltas e anseios, quando está silente em compreensão, somente então pode haver o imensurável.


Krishnamurti – Comentários sobre o viver
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill