Pergunta: Como impedir que o percebimento se torne uma técnica nova “a
última moda” em matéria de meditação?
Krishnamurti: Sendo esta uma
questão muito séria, vou examiná-la com certa profundeza, e espero que vocês
não estejam cansados demais, para seguirem, com uma vigilância sem tensão, as
operações da própria mente de vocês.
É importante meditar, porém mais
importante ainda é compreender o que é a meditação, pois do contrário, a
mente ficará restrita a uma técnica. O aprender uma nova técnica consistente em
respirar de certa maneira, ficar sentado em certa posição, com o tronco ereto,
ou praticar um dos vários sistemas de silenciar a mente — nada disso é
importante. O importante é que vocês e eu investiguemos o que é meditação. Nesse próprio investigar do que é
meditação, estou meditando. Compreendem? Ouçam com calma, senhores; não
concordem nem discordem.
É sumamente importante o meditar.
Se não sabem o que é meditação, isso é como ter uma flor sem perfume. Podem ter
um extraordinário talento oratório, saber pintar ou gozar a vida, possuir
conhecimentos enciclopédicos e saber relacioná-los, mas todas essas coisas não
terão significação alguma, se não sabem o que é meditação. Meditação é o
perfume da vida, tem beleza infinita. Abre portas que a mente não é capaz de
abrir, penetra profundezas incessíveis à mente mais erudita. A meditação, pois,
é importantíssima. Mas sempre fazemos a pergunta errada e por isso obtemos
resposta errada. Dizemos: “Como meditar?”, e lá vamos à procura de um certo swami,
de uma certa pessoa extravagante, ou apanhamos um livro, ou seguimos um
sistema, na esperança de aprendermos a meditar. Ora, se pudermos varrer tudo
isso para o lado — os swamis, os iogues, os intérpretes,
os mestres de respiração e de imobilidade — chegaremos inevitavelmente a esta
pergunta: “Que é meditação?”
Escutem agora com atenção. Não
estamos mais perguntando como meditar, nem qual é a técnica da vigilância, mas,
sim, o
que é meditação — que é a pergunta correta. Se fazem uma pergunta
incorreta, receberão a resposta incorreta; mas se fazem a pergunta correta,
então esta própria pergunta revelará a resposta correta. Assim, que é
meditação? Sabem o que é meditação? Não repitam o que ouviram de outro homem,
ainda que, como eu, conheçam alguém devotado à meditação há vinte e cinco anos.
Vocês
sabem o que é meditação? É claro que não sabem, não é exato? Podem ter lido o
que muitos sacerdotes e santos e eremitas disseram a respeito da contemplação e
da oração, mas não estou falando nada disso. Estou falando sobre a meditação;
não interessa o significado lexicológico da palavra, que podem procurar depois
no dicionário. Que é meditação? Não sabem. E sobre esta base é que meditam! ...
(risos). Não riam, por favor; continuem a escutar. “Eu não sei” — alcançam a
beleza desta frase? Ela significa que minha mente está despida de toda técnica,
toda informação a respeito da meditação, tudo o que outros dela disseram. Minha
mente não sabe. Só podemos avançar na investigação do que é a meditação, quando
somos capazes de dizer honestamente “Não sei”; e não se pode dizer “Não sei” se
persiste em nossa mente qualquer vislumbre de informações de segunda mão — o
que disse o Gita, ou a Bíblia, ou São Francisco, a respeito da contemplação ou
das virtudes da oração, coisa de que tanto se fala nas revistas, hoje em dia, e
que se tornou a última moda. Tudo isso vocês têm de afastar de vocês, porque,
se copiam, se seguem, voltaram ao “coletivo”.
Nessas condições, pode a mente
colocar-se no estado em que seja capaz de dizer “Não sei”? Esse estado é o começo
e o fim da meditação, porque, nele, cada experiência é compreendida e
não guardada. Entendem? Desejam controlar o pensar de vocês; e quando controlam
o pensar, não permitindo distrações, suas energias se consomem no controlar e
não no pensar. Compreendem? Só pode haver acumulação de energia, quando não a
desperdiçamos em controlar, em subjugar, em lutar contra distrações,
suposições, pretensões, incentivos. E esta enorme carga de energia, de
pensamento, é completamente sem movimento. Compreendem? Quando dizem: “Não sei”,
não há movimento do pensamento, não é verdade? Só há movimento de pensamento
quando começam a indagar, a investigar, já que a investigação de vocês vai
sempre do conhecido para o conhecido. Se não estão compreendendo agora, talvez
compreendam mais tarde.
A meditação é um processo de
purificação da mente. A purificação da mente só é possível quando não há “controlador”.
No controlar, o controlador dissipa energia. A dissipação de energia resulta do
atrito entre o controlador e o objeto que ele quer controlar. Mas quando dizem:
“Não sei”, não há movimento do pensamento em direção alguma, visando uma
resposta; a mente está de todo em todo imóvel. E para que a mente esteja
imóvel, faz-se necessária uma energia extraordinária. A mente não pode estar
imóvel, se lhe falta energia — não a energia que se dissipa no conflito, na
repressão, na dominação, na oração, no buscar, no rogar, mas aquela energia que
é toda atenção. Todo movimento do pensamento em qualquer direção representa
dissipação de energia, e para que a mente possa ficar em completa imobilidade,
é necessária a energia da atenção total. Só então pode surgir uma coisa que não
podemos chamar a nós, que não podemos ir procurar, uma coisa que dispensa a
respeitabilidade, que não se ganha com a virtude nem com sacrifícios — o estado
Criador, o Atemporal, o Real.
Jiddu Krishnamurti — Realização sem esforço