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sábado, 24 de agosto de 2013

É possível a total libertação do "eu"?

Pergunta: Parece-me que no momento em que entra em cena o “eu”, apresenta-se um problema. Esse “eu” coloca-se então a trabalhar para resolver o problema, e isso é absurdo. Não é o próprio “eu” o único problema?

Krishnamurti: Sim, senhor, evidentemente. Enquanto há um centro, há uma periferia, que é o tempo psicológico. E a questão é: em face das caóticas exigências criadas pelo “eu” — minha pátria, minha religião, minha família, meu seguro, minha hipoteca, meu isto e meu aquilo  — exigências em que está enredado todo o ente humano, é possível viver neste mundo e eliminar o “eu”, não teoricamente, porém realmente, assim como se extirpa um câncer? É possível viver num dado país, exercer um emprego, ter esposa, marido, filhos, ter uma casa, e ao mesmo tempo não ter nenhum centro? Percorrer alegremente a vida toda e livre da dor — é possível isso?

(...) O hábito é, essencialmente, um feixe de “memórias”, ou seja o “eu”.

Ora, é possível, vivendo neste mundo, abandonar completamente esse feixe? Mais uma vez, peço-lhes que não digam que é ou não é possível. Vocês têm que investigar, têm que estar cônscios dele, têm que penetrá-lo — não movidos pelo desespero, nem pela esperança de acabar com ele, mas simplesmente com o fim de descobri-lo. Eu digo que isso pode e deve ser feito, pois, do contrário, nossa vida continua muito sórdida. Vocês podem ser capazes de escrever poesias, podem ser um homem famoso, exercer um cargo importante, possuir uma bela casa, uma esposa encantadora, filhos talentosos, etc. etc.; mas, enquanto não estiverem libertados do “eu”, continuarão dentro da prisão construída pelo homem, incapaz de irem além.

(...) Pergunta: Quando não há “eu”, que é isso que olha escuta?

Krishnamurti: Veja, isso já é uma questão teórica. Quando morrem para tudo o que conhecem, quando para vocês já não existe ontem nem amanhã, nem o presente no sentido de tempo psicológico, que existe então? Como posso responder-lhes? Verbalmente, posso dizer-lhes que existe algo imenso, algo extraordinariamente vivo; mas isso nada lhes significará. A meu ver, a questão real é esta: É possível eliminar o “eu”? Se a examinarem profundamente, vocês mesmos responderão à pergunta.  

Pergunta: Estou contaminado pela sociedade. Como poderei livrar-me dessa contaminação?

Krishnamurti: Ora, a questão não é de como se libertarem dessa contaminação, porque, assim, apenas criam outro conflito, outro problema. O “eu” não está contaminado pela sociedade; ele próprio é a contaminação. O “eu” é uma coisa que se formou pelo conflito, pela inveja, pela ambição e o desejo de poder, pela agonia, o sentimento de culpa, o desespero. E é possível o “eu” dissolver-se sem conflito?

Isso não são questões teóricas ou teológicas. Se uma pessoa tem sério interesse em compreender a si própria, verá que todo esforço para dissolver o “eu” tem motivo; resulta de uma reação e, por conseguinte, faz parte ainda do “eu”. Que se pode fazer, então? Pode-se ver o fato e nada fazer em relação a ele. O fato é que todo pensamento, todo sentimento é resultado da sociedade, com suas ambições, sua inveja, sua avidez; e esse processo inteiro é o “eu”. O próprio ato de perceber inteiramente esse processo constitui a sua dissolução; não se precisa fazer esforço nenhum para dissolvê-lo. Perceber uma coisa venenosa é deixar de tocá-la.   

(...) Pergunta: Depois de nos “esvaziarmos” do “eu”, que há para preencher a mente?

Krishnamurti: Como posso responder-lhe? Primeiro, trate de “esvaziar” a mente e, depois, você descobrirá o que há. Não só você, pessoalmente, senhor: todos nós. Esta é uma questão de interesse geral. Temos muito medo do vazio e desejamos preenche-lo. Temos medo de nossa esgotante solidão, e procuramos fugir dela. É o fugir que gera o medo; mas o fugir nos coloca ativos e, por isso, quando fugimos, pensamos que estamos muito positivos. Quando tiverem compreendido essa solidão, depois de atravessá-la e ultrapassá-la, descobrirão por si mesmos o que  quando o “eu” já não existe. Mas, como em tudo mais, senhor, devem começar pelo vazio. A taça só é útil quando vazia. Mas, para compreender esse vazio, é preciso atravessá-lo num clarão, por assim dizer, e lançar a base correta. Então, vocês saberão; nunca mais perguntarão o que  além daquele vazio.

Ouvinte: Então, por certo, o significado da vida é este: a taça deve ser útil.

Krishnamurti: A taça só pode ser útil quando vazia. Vocês podem então enchê-la com o que gostam. Mas se a taça de vocês está cheia — cheia de sofrimento, aflição, conflito — que utilidade ela tem? Senhor, que utilidade tem nossa vida, tal como é: competição, guerras, conflitos internacionais, divisão entre Oriente e Ocidente, entre esta e aquela religião? Que utilidade tem isso?

Interpelante: Você não me entendeu bem. Ao dizer “a taça dever ser útil”, eu quis dizer que a finalidade da vida é cumprir a vontade de Deus.

Krishnamurti: Todo político, todo negociante, todo general preparador de guerras, fala sobre “a vontade de Deus”. O comunista também fala da “vontade de Deus”, mas no seu caso se trata da “vontade do Estado”, etc. etc. Que é a “vontade de Deus”? Só poderão averiguar isso quando já não estiverem buscando, já não estiverem pedindo, quando já não pertencerem a nenhum grupo separado, quando já não tiverem medo, quando se acharem num estado de completa incerteza — que não significa demência. Nesse estado, o pensamento já não busca um pouso seguro. Então, talvez, aquilo que se pode chamar “Deus” — ou outro nome qualquer — começará a atuar.  

Jiddu Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito 


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill