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domingo, 25 de agosto de 2013

O crente, o cético e o conhecimento

Um indivíduo cético, sério e sincero está em melhores condições do que um crente fanático; refiro-me àquela espécie de crente que não tem senso para ver que todas as religiões são para a humanidade e não a humanidade para as religiões. Tal crente considera suas crenças, não de uma forma despreocupada e conjectural, como algo que possa ser refutado pela real experiência da Verdade — para a qual tais crenças são apenas um meio — mas como a própria e autêntica Verdade. O chamado cético não é assim tão cético se admite que haja algo verdadeiro e que somente esse algo é importante. Pode-se dizer que aquele que é devoto da Verdade é o melhor de todos os devotos. Nenhum crente merece consideração, se não consegue perceber que a Verdade é tudo em tudo, e que as crenças devem ser consideradas sagradas em proveito da própria Verdade, e não em detrimento. Tal crente está em situação pior do que a do cético sério e honesto, porque, em primeiro lugar, é improvável que absorva as indagações formuladas nestes capítulos. Em segundo lugar, se procurar um Sábio vivo e pedir orientação, é provável que interprete mal o que o Sábio lhe diga; pois acontece que, via de regra, os Sábios não ministram da mesma forma a todos os conhecimentos que trazem dentro de si. Escondem as verdades mais profundas daqueles cujas mentes não estão receptivas e aptas, pois uma verdade mal compreendida é mais fatal do que a simples ignorância. Por conseguinte, quem desejar ser totalmente instruído por um Sábio deve estar preparado para colocar de lado as suas próprias crenças. Não deve ficar fanaticamente apegado a qualquer convicção. O discípulo de mente livre de preconceitos, que tem pouco ou nenhum conhecimento livresco, acha-se em melhor condição do que os letrados cujas mentes estão escravizadas por suas crenças.

(...) a investigação do mundo exterior a nada nos poderá levar, exceto à ignorância. Quando procuramos conhecer alguma coisa que não seja a nós mesmos, sem procurarmos conhecer a verdade de nós mesmos, o conhecimento que obtemos provavelmente não pode ser exato.

(...) quem desejar saber a Verdade seja do que for, deve primeiro conhecer-se a si mesmo e com perfeição. Quer dizer que aquele que não se conhece, parte de um erro inicial, o qual deturpa todo o conhecimento resultante de suas investigações. Quem se conhece a si mesmo, no entanto, está livre de tal erro, e somente ele é capaz de encontrar a Verdade do mundo ou do mundo das coisas.

(...) Nos conhecemos? Pensamos que sim. O homem vulgar afirma com convicção que se conhece a si mesmo da forma adequada; e pode ser-lhe impossível chegar a entender que não se conhece, mesmo que o escute de um Sábio. É necessário termos a mente muito adiantada e grandemente purificada para percebermos e reconhecermos que não nos conhecemos a nós mesmos — que as ideias sobre nós mesmos, acalentadas durante tanto tempo, estão erradas. Os Sábios nos dizem que as nossas ideias sobre nós mesmos são um misto de verdade e de erro.

(...) Dizem-nos os Sábios que deixaremos de identificar-nos com o nosso corpo — e assim nos libertaremos de uma vez por todas dos sofrimentos que surgem por intermédio dele — apenas quando alcançarmos a experiência direta do Ser Real. Assim como agora temos experiência direta do corpo, devemos ter experiência direta desse Ser como ele realmente é. Essa ignorância, que nos leva a identificar-nos com o corpo, é um hábito mental arraigado, engendrado na mente durante longo tempo de ações e pensamentos errôneos. Deles surgiram os vários apegos às coisas. Tais hábitos mentais formam a estrutura da mente; e a simples introdução de um pensamento contrário — que é muito fraco, igual a um recém-nascido — fará pouca diferença. A mente fluirá pelos mesmos canais habituais. Continuará sujeita às mesmas atrações e repulsões. E isso acontecerá porque enquanto é possível ao filósofo livresco sentir às vezes que ele não é seu corpo, não pode, com a mesma facilidade, chegar a sentir que não é sua mente. E esta dupla ignorância só terá fim quando conhecermos o Ser — não teórica mas praticamente, isto e, pela experiência real do Ser.

(...) Até surgir essa compreensão, não se pode dizer que o filósofo tenha se descartado de sua ignorância. Ela sobrevive com todo vigor. Seu conhecimento filosófico não faz qualquer diferença em seu caráter. De fato, como assinala o Sábio, o filósofo livresco está até mesmo em piores condições do que os outros homens. Seu coração é assediado por novos apegos — dos quais o iletrado está livre — que não lhe dão tempo para dedicar-se à tarefa de descobrir o Ser Real. Muitas vezes não têm nem mesmo consciência da premente necessidade de se prepararem para tal empreita, harmonizando o conteúdo de sua mente e dirigindo suas energias para o Ser, e não para o mundo. Infere-se daí que, quem conhece o Ser apenas por intermédio de livros, não o conhece mais do que a gente simples. Por essa razão o Sábio compara o filósofo livresco ao gramofone. Não é melhor do que ninguém pela sua erudição, assim como o gramofone não é melhor pelas boas coisas que repete.

(...) Os livros, devemos lembrar, não passam de sinais indicadores na estrada da sabedoria, que nos liberta; logo, essa sabedoria não pode ser encontrada nos livros. O Ser que precisamos conhecer está no INTERIOR e não no exterior. Caso a sabedoria desperte, nessa oportunidade, o Ser, refulgindo em todo o seu esplendor, mostrar-se-á diretamente, sem qualquer agente intermediário. O estudo dos livros porém engendra a ideia de que o Ser é algo externo, que se precise conhecer como um objeto, por intermédio da mente.

(...) Compreendemos, assim, que todos os nossos sofrimentos são devidos à nossa ignorância sobre o Ser Real. Devemos vencê-la se quisermos gozar a verdadeira felicidade, pois a remoção da causa é a única forma de cura radical que existe. O mais é tratamento paliativo, que pode até mesmo, no final de contas, ser maléfico, agravando, na verdade, a doença. E só poderemos ficar livres dessa ignorância, por meio da experiência com o Ser.

(...) Não é empresa fácil, pois o instrumento a ser usado nesse trabalho é a mente. Ela tem que se desligar de tudo o mais e dirigir-se para o Ser Real. Mas a mente não se desliga facilmente de suas preocupações costumeiras. Se for forçada a isso, não se concentra, e logo volta ao ponto de partida. Assim é porque está cheia de ideias que são frutos da ignorância; e tais ideias rebelam-se para defender a vida de sua geratriz, a ignorância, porque a vida desta é também delas. Temos, portanto, de liquidar todas essas ideias.

(...) Por serem causadas pela ignorância primordial, provavelmente tais ideias são falsas. E é lógico que o conhecimento falso é o inimigo do despertar da Verdade. Portanto, é necessário que examinemos essas ideias e as rejeitemos, se julgadas incorretas; ou mesmo apenas duvidosas. Somente assim estaremos seguros contra sublevações traiçoeiras, ao empreendermos a busca do Ser Real.

Nessa análise, devemos guiar-nos pela absoluta devoção à Verdade. O Gita nos diz: "Aquele que ama a Verdade e submete todo o seu ser ao amor da Verdade, A encontrará". Essa condição é muito importante. É claro que não pode haver amor parcial pela Verdade. Um amor à Verdade sendo limitado implica amor também pela inverdade, em maior ou menor grau. O amor perfeito pela Verdade significa uma total boa-vontade para renunciar a tudo que se julgue ser falso, em decorrência de uma análise justa. Implica, também, a capacidade de submeter a exame completo e imparcial todas as crenças que temos agora quanto ao mundo, à alma e a Deus. O amante da Verdade caracteriza-se por não ter maior apego as suas crenças do que às crenças alheias. Conserva-as a título de hipóteses e pode calmamente refletir sobre a possibilidade de achar que são insustentáveis e dignas de renúncia. É a isenção de apego às suas próprias crenças que lhe permite fazer uma análise imparcial de sua validade. E, se em decorrência dessa análise, julgar que não são válidas, não somente renuncia a elas, como também fica sempre alerta contra a possibilidade de que voltem, até que venham a perder a influência sobre ele. Por conseguinte, devemos cuidar para que sejamos devotos somente da Verdade, e livres de erros. E em prol da Verdade, renunciar ao amor que devotamos às nossas crenças, de modo que a Verdade possa reinar suprema em nossos corações quando a tivermos encontrado.

O que se conhece como filosofia é apenas este exame imparcial de todas as nossas ideias — do conteúdo inteiro de nossa mente. Somente isso é verdadeira filosofia. Tudo o mais não passa de pseudofilosofia. E podemos afirmar com segurança que pseudofilósofos são aquele que, ou não compreenderam o fato de que ignoram o Ser, ou estão completamente satisfeitos de permanecerem sujeitos a tal ignorância.

Consideraremos agora como nos certificaremos de que, em nosso filosofar, evitaremos os engodos que se emboscam em nosso caminho, e de que chegaremos a ideias que não serão adversárias da nossa Busca do Ser Real.

(...) Quem quiser filosofar direto deve evitar os erros de tais filósofos. Deve escolher as provas que sejam adequadas. Deve procurar e encontrar evidências oriundas de experiência, experiência que NÃO seja fruto da ignorância.

Provas válidas, portanto, NÃO se originam da experiência de homens ignorantes, mas sim da experiência dos Sábios, que estão totalmente livres da ignorância. Somente com base na experiência deles podemos construir uma filosofia que atenuaria a influência que a ignorância exerce atualmente sobre nós, tornando, assim, possível que encetemos a nossa Busca, levando-a até o fim, para que possamos, por nossa vez, adquirir experiência similar.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill