Como tenho dito, a ação de um homem que investiga e a quem a realidade se manifesta será diferente da ação daquele que só teve uma rápida visão desse estado e procura expressá-la. Em geral, somos instruídos numa certa técnica: pintura, engenharia, medicina, etc. Essa técnica é evidentemente necessária, mas o mero aprendizado do mecanismo de uma dada profissão, não despertará o estado criador. A Realidade Criadora — chame-a Deus, a Verdade, ou como você quiser — não pode manifestar-se por meio de uma técnica, mas, sim, só quando a mente compreendeu a si mesma. E você sabe o quanto é difícil um homem compreender a si mesmo? É difícil, porque somos meros amadores, e não temos um interesse real. Se, entretanto, estiver vigilante, se aplicar toda a sua atenção à compreensão de si mesmo, encontrará um tesouro indestrutível. Não precisa ler um único livro de filosofia, psicologia, análise, etc., porque você é um resumo de toda a humanidade, e, se não compreender a si mesmo, continuará a criar problemas e mais problemas, intermináveis sofrimentos. A compreensão de si mesmo não requer impulsos impetuosos, conclusões, mas só muita paciência. A gente tem de ir com toda vagarosidade, milímetro por milímetro, sem dar um só passo em vão — o que não significa que sejamos obrigados a uma vigilância incessante. Isto não é possível. O que significa é que precisamos estar vigilantes e largar de mão cada coisa que observamos, deixa-la ir e vir à vontade, de modo que a mente não se torne uma mera acumulação de coisas apreendidas, e seja capaz de observar cada coisa sempre de maneira nova. Quando a mente é capaz de observar e compreender a si própria, apresenta-se então aquela ação criadora da realidade, e em tal estado a mente pode servir-se da técnica, sem causar sofrimentos.
Jiddu Krishnamurti — Realização sem esforço