Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Existe descontentamento sem objetivo, sem "motivo"?

Por que estamos descontentes, e que há de maus no descontentamento? Evidentemente, estamos descontentes porque — para dize-lo com muita simplicidade — queremos ser alguma coisa. Se sou um bom pintor, pinto para tornar-me mais famoso; se escrevo um poema, sinto-me insatisfeito por não achá-lo bom e luto para melhorar a minha capacidade.  Se sou dessas pessoas ditas religiosas, também neste terreno quero ser alguma coisa. Sigo o exemplo dos vários santos e desejo alcançar nome igual ao deles. Desde meninos, sempre nos dizem que devemos ser bons ou melhores do que os outros. Fui criado na base da comparação, da competição, da ambição e, por isso, levo em toda a vida o peso do descontentamento. Propriamente falando, descontentamento é inveja; e nossa cultura religiosa e social está baseada na inveja. Somos estimulados para sermos alguma coisa, para maior glória de Deus. Por um lado, estimula-se o descontentamento, e, por outro lado, queremos achar meios e modos de dominar o descontentamento. Estando descontentes, econômica, socialmente, recorremos aos exemplos religiosos, a fim de encontrarmos satisfação; meditamos, praticamos disciplinas, a fim de nos livrarmos do descontentamento, ficarmos em paz. Isto está acontecendo com todos vocês e eu lhes digo que é uma coisa completamente fútil, sem nenhum significado. Seguir, imitar, obedecer uma autoridade em assuntos religiosos é uma coisa má, assim como é uma coisa má a tirania do governo, porque então está completamente perdida a individualidade. 

Atualmente, vocês não são indivíduos, e sim meras máquinas de imitar, produto de um certo meio cultural, um certo sistema educativo. Vocês são o corpo do coletivo, não são indivíduos, sendo isto muito óbvio. Todos são hinduístas ou cristãos, isto ou aquilo, com certos dogmas, crenças, o que significa que são produto da massa. Por conseguinte, não são indivíduos. Precisam estar totalmente descontentes, para poderem descobrir. Mas a sociedade não deseja lhes ver descontentes, porque teriam vitalidade, começariam a questionar, a investigar, a descobrir e, consequentemente, se tornariam perigosos para ela. 

Infelizmente, o descontentamento de quase todos vocês está baseado no desejo de satisfação, e no momento em que se veem satisfeitos, desaparece o descontentamento. E então definham e declinam. Já não observaram como pessoas descontentes quando jovens, perdem esse descontentamento logo que obtêm um bom emprego? Dai ao comunista um emprego rendoso, e lá se foi o seu descontentamento. O mesmo acontece com as pessoas religiosas. Não riam — isso também acontece com vocês. Desejam encontrar o mestre certo, o guru certo, a disciplina certa: e o que se encontra é uma gaiola que os asfixiará de destruirá; e esta destruição se chama "busca da verdade"... Isto é, querem se achar permanentemente satisfeitos, para não sofrerem perturbação, descontentamento, não terem o desejo de investigar. Foi isso o que realmente ocorreu; e quanto mais antiga a civilização, tanto mais destrutiva, porque a tradição sempre gera mediocridade.

Vemos, pois, que o descontentamento, tal como ora o conhecemos, é meramente desejo de encontrar satisfação permanente. E existe de fato satisfação permanente, um permanente estado de paz? Ou só existe um estado em que nada é permanente? Só a mente que, na sua totalidade, é impermanente, incerta, pode descobrir o que é verdadeiro; porque a Verdade não é estática. A Verdade é sempre nova e só pode ser compreendida pela mente que está morrendo para todas as acumulações, todas as experiências e é, por conseguinte, fresca, jovem, "inocente". 

Agora, existe descontentamento sem objetivo, sem "motivo"? Compreendem? A mente cujo descontentamento tem um "motivo" procurará uma conclusão que a satisfaça, destruindo o descontentamento; e, então, a mente definha, declina. Todo nosso descontentamento está baseado em algum "motivo", não? Mas agora estamos fazendo uma pergunta completamente diferente: existe descontentamento sem "motivo", que não seja produto de uma causa? Não devem investigar e averiguar isso? Ora, tal descontentamento é necessário. Ou empregamos uma palavra diferente — o que aliás é sem importância — digamos que é um movimento sem causa, sem "motivo". Penso que tal movimento existe, e isto não é mera especulação nem promessa. Quando a mente compreende o descontentamento que tem "motivo", o descontentamento nascido do desejo de satisfação, permanência; quando percebe, realmente, a verdade relativa a esse descontentamento, vem então à existência "outra coisa". Mas a "outra coisa" não pode ser compreendida nem experimentada, se há descontentamento com "motivo", e atualmente todo descontentamento nosso tem "motivo": não posso alcançar o que desejo, minha mulher não me ama, nada valho assim como sou e, portanto, tenho que ser diferente, e assim por diante. Há esta interminável multiplicidade de causas e efeitos, causadora dessa coisa que chamamos "descontentamento". 

Ora, se a mente está consciente de todo esse processo e o compreende integralmente, percebe a sua verdade, verão então se manifestar um movimento sem "motivo" algum — um movimento, uma ação, uma coisa não estática , que se pode chamar Deus, a Verdade, ou como quiserem. Nesse movimento há beleza infinita, e ele pode ser chamado de "amor"; porque, afinal, o amor é sem "motivo". Se eu os amo e desejo algo de vocês, isto não é amor — embora eu lhe dê esse nome — porque, aí, há "motivo". A atividade social ou religiosa baseada em "motivo", ainda que a denominemos "serviço", não é serviço, porém, sim, autopreenchimento. 

Pode-se descobrir o que é amar sem "motivo"? Isso é uma coisa que se precisa descobrir e que não pode ser praticada. Se disserem: "Como alcançarei esse amor?" — estarão fazendo uma pergunta sem significação, porque o desejo de alcançá-lo já é um "motivo". Se empregam um método, para alcançar esse amor, esse método se tornará mais o "motivo", que é "vocês". Vocês são importante, e não o amor. 

Se penetrarem profundamente esta questão — o que é muito difícil e é, em si, meditação — penso que descobrirão um movimento sem "motivo", um movimento sem causa alguma e é esse movimento que traz a paz ao mundo, e não o movimento do descontentamento de vocês, determinado por alguma causa. O homem em que se verifica esse movimento sem causa é um homem religioso, é um homem que ama e, portanto, pode fazer o que deseja. Mas o político, o reformador social, o homem que cultiva a virtude, a fim de ser feliz ou de conhecer Deus, o homem cujos esforços são o resultado de um "motivo", num nível qualquer —, as atividades desse homem só podem gerar ódios, antagonismos e sofrimentos. 

Eis porque muito importa que cada um de nós descubra por si mesmo, deixando de seguir Sankara, Ramana, Buda ou Cristo. Para nós mesmos descobrirmos, acharmos uma coisa, temos de ser livres; e não somos livres, se meramente citamos Sankara ou outra autoridade qualquer. Se seguimos, nunca achamos. Assim, pois, a liberdade está no começo, e não no fim. A liberdade precisa ser buscada agora, não no futuro. Liberdade significa estar livre de autoridade, da ambição, da avidez, da inveja, do descontentamento que tem um "motivo" e exige resultados, e que asfixia o verdadeiro descontentamento. 

Torna-se necessária uma revolução, não dentro do padrão da sociedade, porém dentro de cada um de nós, a fim de que nos tornemos indivíduos totais e não pequenos Sankaras, pequenos Budas, pequenos Cristos. temos de empreender a jornada sozinhos, completamente desacompanhados, sem ajuda de ninguém, de nenhuma influência, de nenhum estímulo ou desestímulo; porque, então, já não existe "motivo" algum. A própria jornada representa o "motivo", e só os que a empreendem produzirão algo novo, algo não corrompido, neste mundo — e não os reformadores sociais, os "beneméritos", os mestres e seus discípulos, os pregadores de fraternidade. estes nunca trarão paz ao mundo. São eles os verdadeiros mal-feitores. O "homem da paz" é aquele que repele toda autoridade, que compreende, em todos os seus aspectos, a ambição, a inveja, que se desprende totalmente da estrutura desta sociedade aquisitiva e de todas as coisas envolvidas de tradição. Só então a mente é nova. E é necessária uma mente nova, para encontrar deus, a Verdade — ou como quiserem chamá-lo — não uma mente fabricada pela sociedade, pela influência. 

Jiddu Krishnamurti em, Da solidão à plenitude humana
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill