Percebo que é uma verdade profunda e pouco falada, que muitos buscadores não permanecem na busca espiritual porque não conseguem lidar com a dor do ostracismo. Muitos deles abandonam ou suavizam sua jornada espiritual não por falta de fé ou disciplina, mas porque não suportam a dor do ostracismo — esse exílio sutil e doloroso que acompanha quem decide viver em desacordo com o modo comum de existir.
Se assumir como não sendo mais
parte do “Clube Social”, resulta no ostracismo silencioso. Quando o indivíduo
sente a necessidade de aprofundar cada vez mais na busca descondicionante, ele
começa a questionar as conversas vazias, os hábitos coletivos, os valores
impostos, se tornando cada vez mais introspectivo, seletivo e contemplativo,
valorizando o silêncio, a verdade e a presença — coisas raras e sentidas como
“ameaçadoras” no convívio parental e social.
Em resultado, o indivíduo passa a
ser visto como estranho, inexpressivo, distante, “frio” ou “arrogante”. Ele não
cabe mais nos mesmos círculos e esses círculos, ao perceberem isso, se
ressentem. O buscador não é expulso. Ele vai sendo deixado de lado, como se
fosse um sapato velho que machuca o andar. E para o buscador, isso dói mais do
que a crítica aberta. É a dor do não-pertencimento.
Nós somos seres sociais. A busca
de consciência pode ser interna, mas o desejo de ser visto, compreendido e
acolhido continua pulsando. E quando os amigos não compreendem, a família
interpreta como afastamento, os colegas de trabalho zombam ou ignoram… surge
uma dor que vai além do ego: é a solidão do ser essencial desperto, cercado de
olhares adormecidos.
Alguns buscadores suportam.
Outros, exaustos, voltam à superfície só para se sentirem incluídos novamente.
Tratasse de uma forma de autoabandono, uma imatura estratégia de sobrevivência.
Essa volta ao “normal” não é
sempre consciente. Às vezes, o buscador simplifica suas conversas para não
parecer “profundo demais”, abandona práticas que o conectavam, se envergonha do
que o conecta ao sagrado, se adapta — e aos poucos... se esquece.
Mas isso não se trata de
fraqueza, mas sim, de exaustão. É por saudade de pertencimento.
Mas permanecer na busca é um ato
heroico e solitário... Quem escolhe continuar na busca, apesar do ostracismo,
precisa desenvolver uma força interior silenciosa, encontrando em si mesmo o
colo que o mundo negou, aprendendo a pertencer ao invisível, quando o visível o
rejeita. E essa jornada o torna mais forte, mais maduro, mais compassivo, cada
vez mais e mais desapegado. Mas nada disso ocorre antes de ver sua estrutura
mental e emocional despedaçada.
Mas a boa nova é que é possível
pertencer de outro Jeito... Com o tempo, o buscador percebe que ele não está
sozinho — que existem outros silenciosos aqui e acolá, que são como ele, que
sentem e pensam com ele. Então, ele percebe que pode viver sem a dependência de
grupos, porque, por meio do silêncio, aprendeu que pode pertencer a algo mais
profundo: a verdade, o mistério, a vida em si. Ele percebe também que o amor
verdadeiro não exige adaptação, não exige esforço — que se trata apenas de
presença e autenticidade.
Infelizmente, tratasse de um
fato, que são muitos os que abandonam a busca por não suportar o ostracismo. No
entanto, aqueles poucos que ficam, acabam transformando essa dor em altar de
consagração. E um dia, se esperar por isso, acabam se tornando faróis para os
que virão depois, enfrentando a dor da mesma escuridão.
Agora uma poesia simbólica dessa
delicada realidade: o ostracismo do buscador da Consciência e a dor de não
pertencer... um buscador solitário caminhando entre sombras de pessoas
indistintas, com uma pequena chama acesa nas mãos, protegida do vento.
A Dor de Ser Luz
No início era encanto,
um fogo novo nos olhos,
uma sede que o mundo não mata,
uma fome que nada compra.
Falava do invisível com brilho no olhar,
enquanto os risos surgiam rápidos.
Os familiares chamaram de exagero,
acharam místico demais,
coisas de um estranho que pensa demais.
Aos poucos, o silêncio caiu sobre ele
como uma neve lenta —
ninguém o expulsou.
Mas cessaram os convites.
As conversas perderam cor,
As visitas rarearam,
os olhares passaram por dentro dele
como se ele não estivesse ali.
E o buscador se viu exilado
numa sociedade cheia de vozes,
mas vazia de escuta.
Houve dias em que quis voltar:
rir do que não acha graça,
fingir não ver o que viu,
adormecer a alma
só para ser abraçado.
Mas algo o segurava:
uma chama miúda,
uma voz que dizia:
“Não troque sua essência por aceitação,
Nem dos que lhe sejam mais íntimos.”
E ele ficou, ali, existindo
Meio homem, meio silêncio.
Meio ferido, meio fogo que não se apaga.
Não pertencendo a nada manifesto,
Tudo o que é real
o reconhecendo em silêncio.
E os poucos sensíveis da sociedade,
Sem saber, de longe se aquece
No calor discreto
Do que ele se tornou.