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sábado, 30 de agosto de 2025

SOBRE O DERRAME DE LUCIDEZ

Enquanto há medo, não há a liberdade do amor impessoal e, enquanto não há o derrame de lucidez, há permanência do medo. Sem o libertário derrame de lucidez permanecemos num viver imaturo.

O processo de descondicionamento não apenas começa num vislumbre da libertária e amorosa lucidez, mas também nela termina.

O tempo que o indivíduo leva para completar o processo de descondicionamento depende de vários fatores, mas, sem dúvida, o mais importante é a força do anseio pelo colapso da estrutura psicológica fundamentada no medo.

Quando o indivíduo tem, pela primeira vez, um vislumbre do lúcido e integrado estado incondicionado de ser, geralmente, nada sabe sobre ele; com a sua experiência passa a saber que é a sua exata natureza, possuidora de criatividade, sentido lógico e lucidez que transcendem totalmente seu próprio esforço e cálculos autocentrados provenientes do medo e da carência de lucidez.

No derrame de lucidez, o indivíduo sente a completa libertação do medo, e se vê inserido numa sabedoria, nobreza, beleza, dignidade e reverência por tudo que é.  Com ele, a vida fundamentada na maturidade do estado incondicionado de ser, finalmente desabrocha e se expressa.

O indivíduo que sente um vazio em suas relações e atividades, apesar das realizações sociais e posses materiais, pode estar inconscientemente ansiando pelo lúcido estado de ser superior às adulterações do medo.

A profunda sensação de futilidade e de ausência de real conexão se manifestará, repetidamente e numa crescente, até que a insatisfação e falta de sentido de uma vida totalmente condicionada ao materialismo e ao hedonismo, sejam reconhecidos e aceitos. Nessa faze extremamente inquietante (e quase que enlouquecedora), tem início o processo do colapso da estrutura psicológica fundamentada no medo.

O lúcido e integrado estado incondicionado de ser não é um devaneio intelectual, mas, sim, um estado integrado de presença, sublime, depuradora e livre das adulterações do medo, e que se fundamenta na expandida capacidade de percepção da realidade, dos pensamentos, sentimentos e sensações, fazendo com que o indivíduo veja suas relações e ambientações (que até então eram percebidas como vazias e destituídas de real conexão), por um ponto de vista nobre e amorosamente impessoal.

Do derrame de lucidez surgido da mais profunda sensação de vazio de ausência de sentido e de real conexão, surge uma indescritível liberdade, uma paz mental e emocional, uma sensação de viva conexão com tudo que é, que nenhum condicionamento ou pressão social podem remover.

A estabilização do lúcido estado incondicionado de ser extingue instantaneamente, os desejos e apegos imaturos, neutralizando os cálculos autocentrados que impedem a manifestação do amor impessoal. Então, indivíduo nunca mais sente vazio, solidão ou carência de sentido.

Na estabilização do lúcido estado incondicionado de ser, toda inquietude se dissolve, dando lugar a um indescritível bem-estar.

A estabilização do lúcido estado Incondicionado de ser não é um devaneio ou passageiro estado agradável, ilusório. É o interno e profundo desabrochar de um vital fluxo de paz, poder, leveza e compaixão.

A estabilização do lúcido estado incondicionado de ser produz uma ampliada capacidade de percepção da realidade na qual o "aqui" é universal e o "agora" é eterno. Ocorre a percepção da total ausência de tempo, um sentido do caráter infinito do próprio ser.

A estabilização do lúcido estado incondicionado de ser ocorre de surpresa. Num momento inesperado, ocorre um repentino aprofundamento da capacidade de percepção da realidade, seguido por um deslizar para uma dimensão intocada pelo medo, onde o indivíduo, finalmente, se sente realmente vivo e num ambiente repleto de sentido.

Quando o indivíduo começa a conhecer a si mesmo e a tudo que lhe circunda, sem a antiga adulteração dos condicionamentos, ele se sente verdadeiramente livre das contradições do limitado intelecto e de seus cálculos autocentrados; se sente vivo e naturalmente conectado.

Na estabilização do lúcido estado incondicionado de ser, a benevolência, a paz, o amor, a compaixão e a sabedoria se tornam vivas realidades na natureza do indivíduo, dissolvendo instantaneamente o antigo sentimento de pequenez da vida, sendo substituído por um sentimento de sagrada grandeza.

A estabilização do lúcido estado incondicionado de ser traz um sentimento de elevação, exaltação, esclarecimento pleno e de revelação da própria imortalidade; um estado de refinada ternura e de uma capacidade de amar que se irradia para tudo que circunda o indivíduo.

Quando, na maturidade plena da silenciosa observação, a estrutura calculista, usuária e interesseira finalmente colapsa dando lugar ao lúcido e integrado estado incondicionado de ser, o indivíduo sente uma inenarrável sensação de aguda libertação e total alívio.

No libertário derrame de lucidez, o indivíduo se sente totalmente aberto, retirado da debilidade e pequenez de seu "eu" usuário e recolocado num nível livre de autointeresses adulterantes. Um sentimento de reverência e admiração por tudo que é, preenche seu coração. Então, finalmente, ele se sente em casa e não mais como um inseguro, deslocado e desprotegido estrangeiro.

O derrame de lucidez liberta o indivíduo de tudo que nele é baixo, mesquinho, egoísta, dependente e tacanho, fazendo com que os desejos imaturos se dissolvam, e com eles as dependências e frustrações, a ansiedade, o desespero e a expectativa que os acompanham quando não realizados.

Quando o indivíduo, pelo derrame de lucidez, transcende a imatura vida temporal da estrutura psicológica fundamentada no medo para a libertadora e integrada atemporalidade do estado incondicionado de ser, se dissolve a sensação de estar confinado num viver sem sentido. Ele experimenta uma alegria, bondade e beleza jamais imaginadas.

Na estabilização do lúcido estado incondicionado de ser o indivíduo é preenchido por uma fluente inspiração, uma esplêndida esperança e uma claríssima percepção da realidade. O que em sua natureza condicionada é vil, sovino, indigno e baixo é substituído pelo que é nobre, elevado e verdadeiro. Dessa abençoada estabilização, ele extrai uma paz indizível e uma suprema elevação.

Nesse derrame glorioso a consciência do mal no mundo se esvai; em contraposição, a continuidade da bondade e sentido original permanecem intactas.

À medida que a bem-aventurança da lucidez amorosa do estado incondicionado de ser penetra e afeta a natureza sensível do indivíduo, todo apego, preconceito e ressentimento se dissolvem, dando lugar à uma sensação de encantamento e inundação de esperança.

Quando o indivíduo toca o estado incondicionado de ser, sente que seu verdadeiro eu é eterno e que o antigo eu usuário e calculista é uma coisa tola, se alegrando por dele, finalmente, se livrar.

O colapso da estrutura psicológica fundamentada no medo lança o indivíduo numa experiência de completa segurança, fazendo com que ele se sinta humilde e sensibilizado, a tal ponto que o ar parece cálido e agradável e o universo, repleto de cordialidade. A antiga e adulterante estrutura desliza de seus ombros como um pesado e surrado sobretudo, e ele se sente deliciosamente livre.

No bem-aventurado estado de ânimo resultante do libertário derrame de lucidez amorosa e integrativa, o indivíduo é envolvido por uma folga perfeita. Sente que agora tem o tempo e tudo do que precisa. Como sente que não precisa mais correr atrás de nada, não há mais urgência, tensão ou ansiedade, descobrindo assim, uma nova alegria e completude em si mesmo e um novo e mais elevado sentido nas profundezas do viver.

O derrame de lucidez não pertence à consciência do viver condicionado pelo medo; de fato, manifestamente revela sua lamentável mesquinhez e confusão, sua miserável falta de propósito e insatisfação. O indivíduo que vive a imensurável alegria da paz do estado incondicionado de ser não desejará se minguar novamente à limitação do inseguro eu calculista e usuário, pois sabe que o colapso da estrutura não é uma perda de felicidade, mas sim, uma ilimitada ampliação dela.

No derrame de lucidez é como se o próprio ser do indivíduo se clareasse, a tal ponto de se tornar transparente, e se dissipassem as obscuridades que encobrem sua lúcida, amorosa e integrativa natureza incondicionada.

A perspectiva torna-se imensuravelmente mais ampla, o entendimento mais claro e a intuição mais imediata. Um sentimento de certeza feliz e absoluta toma lugar das dúvidas inquietantes. A verdade fica diante do indivíduo e ele a percebe como o fundamento de seu próprio ser.

O libertário derrame de lucidez é precedido por uma revelação vívida, intensa e autocrítica de quão adulterante o indivíduo tem sido, de como tocou de forma leviana seus relacionamentos. Tal revelação o chacoalha até os ossos de modo quase que enlouquecedor. No entanto, com o derrame, ele compreende isso e, ao mesmo tempo, perdoa a si mesmo, sentindo que tudo está certo. Nesse auto perdão, ele se sente enriquecido, como se caísse a teia adulterante que envolvia suas ações.

Perceber o "x" de toda questão conflitante, que resolve todos os problemas de uma existência inconsciente, observar de súbito o que isso tudo significa e perceber como esse "x" libertário sempre esteve presente, pode levar o indivíduo a cair em gargalhada de si mesmo.

A partir da vivência do derrame de lucidez, o indivíduo sabe que começa a viver o amor real que a sociedade em geral desconhece, uma bondade e compaixão que ele raramente vê em ação e um entendimento imediato que ilumina todas as ocorrências da vida.

O derrame eleva o indivíduo muito acima de seus próprios interesses e além de sua limitada consciência insegura e dependente, possibilitando uma compreensão mais aguçada que resulta numa real e profunda solidariedade.

A venturosa experiência do derrame de lucidez chega abruptamente. Num momento o indivíduo é seu habitual eu calculista, usuário e adulterante, lutando contra seus pensamentos irriquietos, sentimentos e sensações psicossomátivas inquietantes. No momento seguinte, colapsa a estrutura fundamentada no medo e, em consequência todas as suas faculdades se acalmam. O intelecto é suspenso; vontade, julgamento, memória e raciocínio são suavemente desativados. Uma profunda serenidade, até então desconhecida, apodera-se do indivíduo e uma primorosa calma nele se instala. Nessadimensão de alegre beleza, o mais adulterante e inconsequente passado é obliterado e a mais débil história é instantaneamente redimida. Com a consciência profundamente tomada pelo derrame de lucidez numa atmosfera de exaltação, os aborrecimentos, dúvidas, pensamentos desconexos e culpas de um viver calculista e usuário mal tocam os umbrais da atenção. Os problemas de toda uma vida de inconsciência reduzem-se a nada e desaparecem os medos com relação ao futuro. A visão de mundo se torna ampliada, enobrecida e esclarecida e deixa de ser limitada por interesses condicionados pelos implantes sociais. Levantam-se os véus que lhe ocultam a verdade única de tudo que é. O estado incondicionado de ser está estabilizado e percebido profundamente. Sua presença nos seus sentimentos mais internos. Nada em sua experiência, intelectual ou emocional, jamais teve para o indivíduo um êxtase tão satisfatório, um contentamento tão paradisíaco, pois o deleite dos níveis que são superiores ao antigo domínio da mente fundamentada no medo, nunca fenece, permanecendo sempre novo e vívido. O mudo toma a textura de um agradável devaneio; é como se o indivíduo ganhasse asas. Jubiloso, maravilhado, irresistivelmente ele se torna aquilo que inquietamente, tanto esperava.

O momento do derrame de lucidez é acompanhado por um breve estado de êxtase, em que a percepção dual de mundo desaparece da consciência, e o corpo permanece totalmente imóvel. Uma idescritível leveza perpassa a cabeça, parecendo imobilizar os pensamentos, mantendo o corpo rígido por algum tempo na mesma posição e lugar em que o encontrou. O indivíduo se sente então em perfeita conexão com todas as criaturas viventes por elos invisíveis de grande compaixão altruísta. A ilusão de separatividade é sublimada, conducida a um nível mais elevado em que a Unidade Universal é verdadeiramente sentida.

No mais elevado estágio do processo de descondicionamento, existem certos momentos em que imensa tristeza e falta de identificação deixam o indivíduo profundamente inquieto. Os antigos desejos imaturos perdem o poder de enredamento, as posses conquistadas perdem o seu valor e até a própria existência carece de um sentido lógico. O indivíduo se sente alérgico ao corre-corre do condicionamento social. O ior de todos os sentimentos, talvez, seja o significado se esvair da atividade humana, que agora se mostra uma inútil tragicomédia, um incessante ir a toda parte sem chegar a lugar algum, um insano soar de instrimentos sem que nenhuma música real seja criada, uma vaidade de todas as vaidades. É então que, para a grande maioria, um terrível ímpeto de se suicidar pode adentrar em seu sangue, e o indivíduo precisará de todo o seu poder de silenciosa observação passiva não reativa, para não ceder ao supremo e neurótico impulso emotivo reativo escapista, para não se esfazer de si mesmo. No entanto, esses negros momentos são imensamente preciosos, pois se mostram como um terreno fértil para a ocorrência do libertário derrame de lucidez. Poucos percebem esse momento como valioso, se mantendo apenas na lamentação ácida. A autodestruição para a qual o indivíduo é compelido por essas experiências do mais elevado estágio do processo de descondicionamento, não é o neurótico ato físico em si, mas algo sutil — um suicídio do pensamento, da emoção e da vontade condicionada pelo medo e seus cálculos autocentrados. Na verdade, o indivíduo está sendo chamado para o colapso de sua estrutura psicológica, a se desapegar de seus desejos, apegos, paixões, ressentimentos, ambições e preconceitos e conquistar a capacidade de viver em total independência psicológica em relação aoexterior. Assim, esses momentos solitários de limbo pesaroso, não são mais que um meio transitório — uma espécie de platô — para um fim que amplia a lucidez da consciência ao ponto de lhe revelar a eternidade de si mesma.

Todo apego que o indivíduo possa ter, desaparece instantaneamente com o derrame de lucidez, como se nunca tivesse existido, pois o indivíduo sente que só existe pura harmonia no âmago das coisas, na Cônsciência Única, e que ele, com o derrame, Nela se estabilizou. No momento do derrame, há uma pesença que amorosamente envolve o coração e de forma serena aquieta os pensamentos, os sentimentos, as emoções e as sensações, levando a uma harmonia e a uma genuína conexão nos relacionamentos humanos e à ausência da adulteração do medo e dos cálculos autocentrados nas relações morais.

O brilho da transcendência de uma estutura psicológica fundamentada no medo para a estrutura psicológica lúcida e incondicionada, permanece no coração mesmo depois de sua ocorrência. Ele o permeia com uma felicidade que não é deste mundo e o preenche com solene reverência por tudo que é. Mas antes desse brilho da transcendência, o indivíduo se sente abandonado, desconectado, emocionalmente fatigado e intelectualmente aborrecido a tal ponto que pode se tornar um ser amargo, ácido e depressivo. Nesse período, tudo que foi lido, toda prática espiritual, se mostram infrutíferos, as aspirações anteriores, como mortas e sem atrativos. Quase sempre se vê involto por uma terrível sensação de solidão, não física, mas sim, no que diz respeito a qualidade de sua percepção e intensão. O aspecto mais perigoso desse avançado estágio do processo de descondicionamento é o enfraquecimento da vontade, que ocorre juntamente com o reaparecimento de antigos padrões de comportamento disfuncional, já esquecidos e, por vezes, somados ao impulso neurótico de colocar fim na própria existência. O indivíduo que passou por esse mais profundo e mais longo período de conturbada inquietação e dúvidas, que precede realizações maduras jamais tornará a sentir excessivos extremos emocionais. O processo de descondicionamento foi como uma operação cirúrgica que lhe extirpou tais extremos. Da renúncia total da identificação com os neuróticos impulsos emotivos reativos escapistas resulta o brilho de uma perfeita estabilização, inquebrantável e permanente com o lúcido estado incondicionado de ser.

A alegria plenamente satisfatória que o indivíduo esteve buscando em várias coisas e práticas — materiais, fisicas ou espirituais — e que vem sempre acompanhadas de algum modo ou em algum momento por desapontamentos, aguarda o indivíduo para sempre na dimensão mais profunda do coração. Mas o indivíduo chega a ela apenas quando tudo aquilo que ele tentou, se mostrou falho, discuncional.

O derrame de lucidez é um fato histórico mundial. Se não o fosse, a perspectiva de saúde mental e emocional para a raça humana, em total dependência dos próprios esforços para um possível descondicionamento, seria pobre e desalentadora. O derrame de lucidez é a força de recolhimento ou de atração para dentro exercida pela natureza primária do ser, que é anterior aos implantes culturais condicionantes. Esta natureza primária, por estar sempre presente, garante que o derrame de lucidez também esteja.

É um sussurro que vem da maturidade da profunda observação silenciosa, uma luz que brilha onde tudo era dúvidas, medos e inquietação. É uma ocorrência que produz duradoura mutação psicológica, descondicionamento profundo e radical e esclarecimento permanente.

É um poder que inspira o coração, esclarece a mente e faz as devidas reparações no adulterado caráter do indivíduo.

O derrame de lucidez é uma mutação psicológica benéfica que ocorre no indivíduo - não pela sua limitada força de vontade -, mas por algum poder interno que não é parte de sua consciência condicionada.

É o derrame de lucidez que inspira as melhores ações do indivíduo, tornando-o capaz de praticá-las. Ele pode ser definido como a resposta da natureza primária, anterior aos implantes culturais condicionantes, à aspiração, sinceridade e fé do indivíduo, resposta que o eleva a um nível relacional acima do seu estado condicionado. Essa ação que nele ocorre, sem que seja uma ação pessoal, começa em quietude profunda e passiva e termina em atividade mental, emocional e física.

Quando o indivíduo é arrasado por acontecimentos e cai emocionalmente prostrado, sua estrutura psicológica fundamentada no medo, fica temporariamente arrasada. Depois, sequem-se momentos de completa exaustão e de completo repouso. Ocorre então uma quietude breve, e é nessa quietude que o derrame de lucidez que sempre emana da natureza primária anterior aos implantes culturais condicionantes, é capaz de produzir a benéfica mutação psicológica.

Ninguém, exceto a própria natureza primária do homem, que é anterior aos implantes culturais condicionantes, pode lhe conceder o libertário e integrativo derrame de lucidez.

O destino da estrutura mental e emocional fundamentada no medo é ser levada por um processo de descondicionamento até a estabilização do estado de ser intocado pelo medo e lá colapsar ou, mais corretamente, transcender a si mesma. Mas, como ela não vai de boa vontade colocar fim à própria existência, algum poder além dela precisa intervir para efetuar tal transcendência salutar. Tal poder é o incausado derrame de lucidez, e essa é a razão pela qual a manifestação do derrame de lucidez é imperativo.

O que justifica o derrame de lucidez é o fato de que apenas o estado intocado pelo medo pode contar ao indivíduo o que ele é, pode ensiná-lo sobre si mesmo. O limitado intelecto não pode fazê-lo, os sentidos certamente não o podem, e a experiência comum está muito longe disso.

Não está dentro da capacidade humana ir além do vislumbre do estado incondicionado de ser. Se nele deve o indivíduo se estabelecer de maneira firme e duradoura, então o derrame de lucidez é absolutamente necessário. Nenhuma metodologia fará com que isso ocorra. Programações espirituais, ritos, abstinências, meditação profunda sobre os mais novos livros jamais farão com que ele ocorra.

O derrame de lucidez age como um catalizador. Onde o indivíduo é incapaz de se liberar de inconfessos comportamentos débeis, ele o ajuda a fazê-lo. Onde o jugo das respostas mecânicas dos sentidos, das glândulas e dos complexos inconscientes o mantém cativo de um padrão condicionado, ele o liberta.

Nada que o indivíduo faça pode trazer essa maravilhosa mutação psicológica, porque ela não resulta de esforço. Não depende do poder da sua vontade nem da força de seu desejo. É algo que pode apenas ser feito para o indivíduo, não pelo indivíduo. É o resultado de sua absorção por outra Força mais elevada, que é o derrame de lucidez.  É mais esquivo e ao mesmo tempo mais satisfatório que tudo o mais na vida.

O esforço violento pode conseguir a maioria das coisas, mas não pode conseguir o derrame de lucidez.  O colapso da estrutura adulterada deve ser, no final, um presente da exata natureza incondicionada do ser. Quando a estrutura sabe de sua impotência e desiste de seus esforços e objetivos imaturos, quando se vê empacada e espera por uma ocorrência superior a si mesma, então o derrame de lucidez tem a possibilidade de ocorrer.

Não está dentro da capacidade do indivíduo terminar o processo de descondicionamento nem sua subsequente libertação do medo: sua natureza primária anterior aos implantes culturais condicionantes precisa efetuá-los atuando na mutação de sua psique. Esse poder ativador é o derrame de lucidez.

A plenitude do processo de descondicionamento que o indivíduo é incapaz de conseguir por todos os seus esforços vai, se ele for abençoado pelo derrame de lucidez, ser-lhe dado inesperada e repentinamente, quando todo o desejo por isso se acalmar.

Muitos não conseguem se desidentificar de seus pensamentos, emoções e sensações, apesar de seus maiores esforços. Isso só demonstra a dificuldade que há em fazê-lo, não a sua impossibilidade. Em tais casos, só o derrame de lucidez vai livrá-los de sua mecanicidadegrilhão não solicitada.

Só quando o indivíduo, frustrado e desapontado, ferido e em sofrimento, descobre que não pode mudar significativamente seu caráter é que, a partir da profunda percepção de sua impotência, fica pronto para a ocorrência do libertário e integrativo derrame de lucidez. Enquanto acreditava no esforço de sua busca poderia fazê-lo, só colecionava frustrações. E o modo de esperar pelo derrame de lucidez é manter-se na observação silenciosa, passiva e não reativa, sem fazer absolutamente nada, já que tudo que fez anteriormente, além de não funcionar, só causou diferentes adulterações.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill