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sábado, 30 de agosto de 2025

Do Sagrado ao Esportivo - O Novo Ópio do Povo

Hoje, o altar mudou de forma. O púlpito já não está na igreja, mas nos estúdios esportivos— agora gritam-se gols e enterradas. A nova fé se transmite em HD. O novo templo é o estádio, a quadra, a tela. A missa se tornou uma partida transmitida em tempo real.  O povo, órfão de sentido, encontrou em bolas arremessadas e redes balançando sua liturgia semanal.

Ídolos vestem uniformes. Seus milagres são gols de bicicleta, buzinaços, viradas improváveis.

Enquanto os bastidores do mundo desabam — política corrompida, ecossistemas em colapso, miséria disfarçada de progresso — a massa vibra com a próxima rodada.

Cegueira organizada, torcida fervorosa pela distração. Onde antes se prometia o céu após a morte, agora se promete a felicidade aos domingos.

O esporte de alto nível foi sequestrado. Já não forma corpos, forma consumo. Corporações, patrocínios, cifras indecentes. O jogo é só a fachada. O que está em jogo é o seu tempo, sua mente, sua energia.

O povo não precisa mais pensar. Precisa torcer. Precisa de um inimigo simbólico — o time rival. Precisa de uma guerra que não doa, de um êxtase que não questione.
E assim, entre gritos de “campeão” e choros de “roubo”, mantém-se a ordem.
A ordem do sono coletivo.

Enquanto isso, a realidade? Segue jogada para escanteio.


O povo quer emoção, quer vibração

A fé não se dirige mais ao invisível, mas ao invencível — aquele camisa 10 que dribla como se fosse Deus. O futebol, o basquete, e outras arenas do entretenimento competitivo tornaram-se os novos rituais de pertença, transcendência e catarse coletiva.

A religião, nos moldes tradicionais, já não satisfaz as massas. Seu vocabulário envelheceu, seu moralismo perdeu apelo, sua promessa de salvação após a morte perdeu força frente à promessa de êxtase instantâneo a cada vitória.
O povo quer emoção, quer vibração, quer identidade pronta para vestir. E encontra tudo isso no esporte.

Mas há algo mais profundo por trás dessa transformação: o uso calculado do esporte como uma poderosa ferramenta de distração. Uma anestesia social, uma paixão permitida, que domestica os impulsos de revolta e desvia a atenção das verdadeiras mazelas que corroem o tecido do mundo.


O Esporte como Religião do Capital

Religiões sempre serviram para oferecer sentido ao sofrimento, consolo diante do absurdo e controle das massas em nome da “ordem divina”. O esporte, em sua forma atual — hipermercantilizada e espetacular — cumpre exatamente esse papel.

Só que agora, o deus é o entretenimento. E o culto é financiado por multinacionais. As estruturas são quase idênticas:

Ídolos são adorados e seguidos. Regras sagradas (o regulamento) não se questionam. Cores, hinos, bandeiras, gestos e ritos formam um ecossistema simbólico completo.

Há dias santos — finais, clássicos, copas — e peregrinações coletivas aos templos (estádios). Há conversões, fanatismo e até excomunhões (torcedores “traidores”, atletas “caídos”).

Mas, diferentemente da religião tradicional, o culto esportivo não convida à introspecção. Ele excita, inflama, distrai. É uma experiência emocional, rápida e repetitiva, que consome sem transformar.


Catarses Permitidas

O mundo em colapso — desigualdade, corrupção, violência estrutural, crise ambiental — exige questionamento. Mas questionar é perigoso. Pensar é revolucionário. Por isso, oferece-se ao povo emoções seguras.

O jogo, a partida, o campeonato: todos funcionam como válvulas de escape emocional. Chora-se com a derrota, vibra-se com a vitória. Mas nada muda.
As vidas continuam precárias, o sistema segue injusto — e o povo agradece mais um golaço.

É como se disséssemos: “Dê-lhes uma guerra simbólica, e eles não desejarão a real.” A rivalidade entre times encena, de forma domesticada, os conflitos que o povo gostaria de travar com seus verdadeiros opressores. Mas é um teatro. Após o apito final, tudo volta ao normal. A catarse passou, e com ela, a possibilidade de despertar.


O Sonho que nos Mantém Dormindo

Quando um jovem de periferia sonha em ser jogador, o faz por sobrevivência — mas também por falta de outras possibilidades. A mídia vende diariamente a ilusão de que o esporte é o único caminho para a glória e o respeito. Aos poucos, forma-se uma legião de meninos frustrados, de corações quebrados, porque o sonho de “chegar lá” não se concretiza para 99,9% deles.

E mesmo assim, o ciclo continua:

— Estude? Para quê? Vou jogar bola.

— Ler? Filosofar? Melhor treinar chute ao gol.

— Pensar? Não dá dinheiro.

O esporte, então, longe de libertar, aprisiona. Não pelo jogo em si — mas pelo que dele se faz. Ele se torna o único horizonte possível, a única escada social visível, o único mito de superação disponível. Toda uma geração de jovens, potencialmente despertos, é sugada para o vórtice do espetáculo esportivo, onde o corpo é valorizado, mas a mente segue negligenciada.


Da Identidade à Alienação

O fanatismo por clubes ou seleções serve para preencher um vazio: o da identidade diluída. No mundo moderno, ninguém mais sabe quem é. Perdeu-se a comunidade, a tradição, o pertencimento real. E o que sobra? O time.

O sujeito que não tem voz política, não tem dignidade no trabalho, não tem segurança nas ruas, grita como um leão pelo seu clube. Briga, discute, mata e morre. Por quê? Porque ali, naquela identidade coletiva fabricada, ele se sente alguém.

Mas essa identificação cega é uma armadilha. Ela rouba a energia que poderia ser usada na reconstrução da sociedade real. Ela transforma possíveis cidadãos críticos em torcedores fiéis. E a crítica morre ali — soterrada sob bandeiras e gritos de guerra.


O Sistema Agradece

Os que dominam a sociedade, através do “Império do Reflexo”, aplaudem essa idolatria esportiva. Eles sabem que quanto mais o povo torce, menos o povo pensa.
Quanto mais vibra com um campeonato, menos se indigna com a miséria.
E por isso, investem bilhões.

Estádios luxuosos são construídos onde falta escola. Jogadores ganham salários surreais enquanto professores mal sobrevivem. Horas e horas de transmissão ao vivo para acompanhar partidas sem nenhuma relevância histórica, enquanto ninguém mostra as verdadeiras partidas que se jogam nos bastidores do poder.

O povo não se revolta, porque está entretido. E como já ensinava Aldous Huxley:
“Os povos que amam sua servidão são os mais fáceis de controlar.”


O Que Há de Errado com o Jogo?

Nada. O jogo em si é belo. A arte do corpo, a inteligência tática, a emoção do imprevisível. O problema não está no esporte, mas no seu uso. No que dele fizeram.

O esporte poderia educar. Poderia unir. Poderia despertar senso de cooperação, ética, disciplina e superação real. Mas foi capturado. Convertido em produto, propaganda, indústria.

Tornou-se o novo ópio. Agora não mais fumado em cachimbos espirituais, mas consumido em massa por transmissões ao vivo, camisetas oficiais, apostas online e redes sociais.

E o povo? Segue sedado, gritando “é campeão”, enquanto o mundo desmorona ao fundo.


Para Onde Olhar?

Quem vê tudo isso e desperta, sente-se deslocado. Tentar falar sobre isso é como tentar acordar um bêbado no auge da embriaguez. Riem de você. O chamam de chato, de amargo, de “anti”. Mas há algo mais valioso do que ser aceito: ser lúcido.

A lucidez, hoje, é resistência. Recusar o delírio coletivo é um ato revolucionário. E mais do que recusar, é preciso substituir.

Não basta dizer “o esporte é alienante” — é necessário criar novos rituais, novas experiências coletivas significativas. Espaços onde o povo possa sentir pertencimento verdadeiro, onde possa canalizar sua energia para algo que transcenda o consumo e o fanatismo.

O futebol e o basquete, como são apresentados hoje, não são apenas jogos. São dispositivos políticos. São distrações inteligentes. São muros entre a dor real e a consciência que ela poderia despertar. A religião já cumpriu esse papel: prometer paraíso enquanto se aceita o inferno terreno.

Agora, o esporte faz o mesmo: promete êxtase semanal enquanto se empurra a miséria cotidiana para debaixo do tapete.

Quem enxerga isso, não é contra o esporte. É contra o uso perverso que dele se faz. Contra a conversão da beleza em anestesia. Contra o culto ao vazio que impede a construção do novo.

E talvez, só talvez, quando o último grito de gol não conseguir mais calar o grito da consciência, o povo acorde. E ao invés de torcer por um time, comece a lutar pelo bem-estar comum.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill