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sábado, 30 de agosto de 2025

Quando a Chama... Chama

Há um instante — imperceptível aos sentidos, mas incendiário à alma — em que algo nos chama.

Não é um som.
Não é uma ideia.
Não é sequer um pensamento.

É uma Chama.

Não dessas que queimam corpos, mas daquelas que queimam mundos.
Mundos ilusórios.
Mundos construídos sobre promessas que nunca se cumpriram.
Mundos domesticados por medos antigos, anestesiados por vícios invisíveis, moldados por uma cultura que nos ensinou a evitar a dor a qualquer custo.

Mas quando a Chama... chama — não há como desouvir.


I. O Incêndio Silencioso

Tudo pode parecer normal.
O corpo caminha, os olhos funcionam, os compromissos são cumpridos.
Mas algo começa a se abrir por dentro.
Algo que arde, algo que rasga, algo que pergunta:
“Por que estou vivendo assim?”

Essa pergunta não vem da mente lógica.
Ela é uma ferida que sangra no centro do ser.
Ela não pede resposta: ela exige transformação.

O que quer que você tenha chamado de "vida" até então começa a ruir.
Os antigos desejos perdem o sabor.
Os velhos sonhos se tornam pó.
As pessoas ao redor, ainda adormecidas, parecem caminhar como sombras.

E você, que outrora também era sombra entre sombras, agora sente o calor de algo...
Algo que exige tudo.


II. A Queima dos Personagens

Quando a Chama chama, ela vem exigir renúncia.
Renúncia não de coisas exteriores, mas de máscaras.

A máscara do forte.
A máscara do bom.
A máscara do sábio.
A máscara do desperto.
A máscara do útil, do agradável, do “bem-sucedido”.

Todos os personagens que construímos para sermos aceitos no teatro do mundo são lançados no fogo.
E um por um, eles gritam enquanto queimam.

É aterrador.
Porque não são só máscaras — nos confundimos com elas.
Acreditávamos ser aquele que venceu.
Acreditávamos ser aquele que sofreu.
Acreditávamos ser aquele que sabia.

Mas a Chama não quer “aquele que...”
A Chama quer o nu.
O sem forma.
O que não sabe — e mesmo assim, se entrega.


III. A Solidão Iniciática

Quando a Chama chama, ela te separa.
Não por crueldade, mas por necessidade.

Não há como levar os outros consigo.
Nem pais, nem amantes, nem mestres.
É uma travessia que se faz sozinho.

E essa solidão não é a ausência de companhia.
É a ausência de eco.
Você fala — mas ninguém compreende.
Você chora — mas ninguém vê.
Você morre — mas o mundo segue, indiferente.

E ainda assim, é necessário continuar.

É nesse trecho do caminho que muitos desistem.
Tentam voltar para a velha vida.
Tentam religar os fios com quem já não compartilha a mesma frequência.
Tentam abafar a Chama com distrações, amores mornos, drogas sutis, espiritualidades inofensivas.

Mas a Chama não se apaga.
Ela espera.
Silenciosa.
Feroz.
Incorruptível.


IV. O Chamado Não É Uma Escolha

Não se busca o chamado.
Ele é anterior a qualquer vontade.
É a própria Vontade Maior a convocar o retorno à Essência.

Muitos passam a vida inteira buscando sinais.
Meditações, retiros, leituras, mantras.
Mas quando o chamado verdadeiro vem, ele não se parece com nada do que se esperava.

Ele não traz paz.
Traz ruptura.
Não traz certezas.
Traz vazio.
Não traz sucesso.
Traz abandono.

Mas — paradoxalmente — é no meio da ruína que começa o florescimento real.


V. Ardência e Graça

Quem aceitou a Chama como mestra começa a ser refinado por Ela.
Ela queima tudo o que não é essencial.
Ela destrói tudo o que foi adquirido por medo, vaidade ou fuga.

Você perde.
Mas no que perde, ganha visão.

A sensibilidade se expande.
As palavras se tornam poucas.
Os olhos ganham profundezas que não são suas.

E então, como um relâmpago dentro da noite:
Você vê.

Não uma visão sobrenatural.
Não um milagre.
Mas a presença do Real — por trás de tudo o que sempre esteve aí.

O ordinário se revela sagrado.
O silêncio se torna companhia.
E a lágrima deixa de significar dor para expressar Graça.


VI. A Impossibilidade do Retorno

Uma vez que a Chama foi escutada, não há retorno possível.
Você pode até tentar.
Simular o antigo eu.
Entrar nos velhos papéis.
Sorrir nas fotos.
Fingir que acredita no que já não vibra.

Mas algo dentro de você vai gritar.
Um grito mudo, contínuo, insuportável.

Porque agora você sabe.
E saber — nesse caso — é ser chamado à responsabilidade de ser inteiro.
De viver sem máscaras.
De existir com radicalidade.

E isso assusta.
Porque o mundo não sabe lidar com os inteiros.
Só com os funcionais.

Mas a Chama não se preocupa com o mundo.
Ela veio por você.


VII. O Retorno ao Não-Saber

Curiosamente, quanto mais você arde, mais desaprende.
O que parecia importante se desfaz.
As certezas se transformam em perguntas.
E as perguntas, em silêncio.

O silêncio — esse grande portal.
A linguagem da Chama.
O terreno fértil do Inefável.

Você já não fala sobre “ser iluminado”.
Você já não se sente “escolhido”.
Você não quer convencer ninguém.

Você apenas é.
Simples.
Transparente.
Invisível, até.
Mas vivo.


VIII. O Fogo que Cura

A dor da Chama é remédio.
Não há despertar sem ferida.
Não há renascimento sem desintegração.
Não há ser autêntico sem queimar as camadas da persona.

Mas algo extraordinário acontece...
Enquanto tudo parece ruir, uma presença emerge.
Um centro silencioso e luminoso.
Algo que sempre esteve aí — mas estava coberto de poeira, medo e pressa.

Esse centro é inabalável.
Não é uma ideia.
Não é um eu.
É o próprio Ser.

E quando você repousa nesse Ser — ainda que tudo esteja desmoronando — há paz.
Não a paz dos felizes.
Mas a paz dos que já morreram em vida...
e renasceram do outro lado do fogo.


IX. A Chama É Amor em Estado Puro

Amor que não depende.
Amor que não negocia.
Amor que não se curva.

A Chama é o aspecto ardente do Amor Divino.
Aquele que prefere destruir o ego a deixar a alma se perder no conforto.

Ela é severa.
Ela é bela.
Ela é redentora.

E quando você finalmente compreende isso, já não teme mais suas labaredas.
Você ora para ser consumido por ela.
Porque só o que não pode ser queimado é Real.


X. Quando a Chama... chama — atenda.

Mesmo que doa.
Mesmo que te isole.
Mesmo que te enlouqueça por um tempo.

Atenda.

Porque o que ela quer de você
é o que você sempre foi
antes do mundo te moldar.

Ela não quer o bom filho,
nem o devoto fiel,
nem o terapeuta,
nem o poeta,
nem o mestre.

Ela quer o indomado.
O selvagem.
Aquele que ousa se entregar sem garantias.
Aquele que prefere a verdade nua à mentira confortável.

Aquele que ama mais o Fogo que a Fama.
Mais o Ser que o Sucesso.
Mais o Real que a Recompensa.


E talvez um dia...

Quando tudo estiver em silêncio
e o mundo já não te distrair,
você ouça a mesma Chama
chamando alguém ao lado.

E, com um sorriso nos olhos,
sem precisar dizer nada,
você saberá:

É a vez dele arder.


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill