A barulhenta estupidez moderna
Vivemos num tempo em que as
pessoas confundem acesso à informação com sabedoria. A estupidez moderna não é
mais fruto da ignorância. É escolha. É conforto. É conveniência. Ninguém quer
pensar, ninguém quer refletir, ninguém quer olhar para o próprio abismo. O
mundo gira em torno de distrações. Entretenimento em excesso, dopamina a cada
clique, e uma massa humana que se sente evoluída por repetir discursos que não
entende.
O observador, silencioso, passivo
e não reativo, não se envolve. Ele observa o absurdo da repetição, o culto ao
superficial, o entretenimento que emburrece e a arrogância de quem nada sabe,
mas tudo opina.
O observador é aquele que não
participa dessa bagunça. Ele olha. Não porque se acha melhor, mas porque
entendeu a armadilha. Ele observa a idiotice institucionalizada, disfarçada de
progresso. Observa o quanto a humanidade se esforça para parecer inteligente
enquanto se afunda em decisões estúpidas, fúteis e autodestrutivas.
A sociedade corre, mas corre para
onde? Para mais telas, mais comparações, mais ruído e menos presença.
O observador não participa da corrida — ele assiste, ele questiona, ele sente o
peso da inconsciência coletiva.
A estupidez moderna é barulhenta,
orgulhosa, viral. O observador silencioso é o oposto: é presença que incomoda,
lucidez que silencia, consciência que liberta.
A estupidez moderna não vem de falta de estudo.
A estupidez moderna vem da recusa
em parar, pensar e encarar a verdade. Pessoas repetem frases prontas,
ideologias de segunda mão, opiniões recicladas. Usam memes como argumentos. Se
ofendem com qualquer coisa. Não suportam o incômodo da dúvida. Querem ter
razão, nunca entender. O debate virou guerra. A escuta virou ameaça. E qualquer
tentativa de diálogo vira um campo minado.
Redes sociais transformaram todo
mundo em especialista. Gente que nunca leu um livro, mas se acha intelectual.
Gente que vive da validação alheia, mas grita independência. Gente que segue
modismos de pensamento como se fossem verdades absolutas. São apenas ecos,
ruídos. Ninguém senta para refletir. Ninguém quer o silêncio — porque ele
assusta. Porque no silêncio, o espelho aparece. E ninguém quer se encarar.
O observador assiste tudo isso. Observa
os comportamentos em massa. Observa a infantilidade generalizada. Observa
adultos agindo como adolescentes mimados. Observa a covardia disfarçada de
“positividade”. Observa o culto ao personagem, à estética, ao prazer imediato. Observa
gente se matando por aprovação, vendendo a alma por curtidas, destruindo a
mente com conteúdos inúteis.
A estupidez moderna é organizada.
Está nos algoritmos, nos produtos
que consumimos, nos discursos que ouvimos. Está nos sistemas de ensino que
adestram em vez de ensinar. Está nos governos que promovem a dependência
emocional, financeira e intelectual. Está nas empresas que lucram com a ignorância
das massas. Está no entretenimento que aliena, nas músicas que emburrecem, nos
filmes que promovem mediocridade como se fosse virtude.
O observador não é um eremita.
Ele vive na sociedade, mas não se perde nela. Ele enxerga a mentira, mesmo
quando todos aplaudem. Ele observa o preço que se paga por fingir que está tudo
bem. Observa como a maioria das pessoas vive de aparências. Casamentos falidos,
relações de fachada, pactos de conveniências momentâneas, amizades
superficiais. Tudo com filtro, tudo com frase de efeito. Mas por dentro, vazio.
Um vazio que assusta, que corrói, que implode.
A estupidez moderna tem orgulho.
Ela não escuta. Ela grita. Ela desqualifica o outro para não ter que
argumentar. Ela cancela, rotula, silencia. Tudo em nome de uma suposta justiça
que mais parece vingança emocional. Ninguém mais tolera o diferente. Fala-se em
diversidade, mas o que se quer é uniformidade de pensamento. Discordar virou
crime. Pensar virou ameaça.
O observador passivo e não
reativo, observa tudo isso. Ele observa o quanto o ser humano está disposto a
se vender por conforto. Aceita qualquer coisa para não precisar mudar. Prefere
a mentira doce à verdade amarga. Se acomoda na mediocridade e chama isso de
equilíbrio. Se apega a dogmas porque pensar dá trabalho. Cria ídolos para não
precisar ser responsável. Terceiriza tudo: a culpa, a escolha, a consciência.
A estupidez moderna é preguiçosa.
Quer resultado sem esforço. Quer
sucesso sem disciplina. Quer espiritualidade sem autoconhecimento. Quer
consciência sem desconforto. E, principalmente, quer culpar os outros por tudo
que não dá certo. É sempre o sistema, o governo, o outro. Nunca a própria
omissão, nunca a própria covardia, nunca a própria hipocrisia.
O observador, ao perceber isso,
se cala. Não por indiferença, mas por inutilidade. Falar com quem não quer
ouvir é desperdício de energia. Apontar a verdade a quem vive da mentira é
ameaça. O observador aprende a se aquietar. Não se expõe. Não discute. Não
tenta salvar ninguém. Entende que o despertar é solitário. Que a ignorância é
confortável. E que a estupidez é, para muitos, um modo de sobrevivência
emocional.
A estupidez moderna não se
reconhece como tal. Ela se acha esperta,
antenada, moderna. Mas é frágil. Qualquer contrariedade a derruba. Qualquer
crítica a desestabiliza. Qualquer silêncio a incomoda. Vive no barulho, na
correria, no excesso. Porque parar é perigoso. Parar revela. Parar expõe. E
ninguém quer lidar com a própria verdade.
O observador vive outro ritmo.
Ele identifica tudo isso, mas sem se identificar. Mas também não tenta mudar a
sociedade à força. Ele trabalha na mudança de si mesmo. Ele cuida da própria
mente, da própria paz, da própria integridade. Ele entende que a sociedade não
quer ser salva — quer ser entretida. E ele se recusa a ser palhaço dessa
tragédia.
A estupidez moderna é cheia de opinião, mas vazia de reflexão.
Ela opina sobre tudo, mas não
entende nada. Vive de manchetes, de cortes, de frases soltas. Não lê nada com
profundidade. Não escuta. Não questiona. Reage. Sempre reage. Com
agressividade, com ironia, com desdém. Porque é mais fácil zombar do que
compreender. Mais fácil odiar do que investigar. Mais fácil debochar do que
sentir.
O observador enxerga a raiz disso
tudo: a dor original. Uma humanidade ferida, traumatizada, desorientada.
Crianças emocionais em corpos adultos. Gente carente, faminta de atenção,
viciada em dopamina. E ao mesmo tempo, cheia de orgulho, cheia de máscaras,
cheia de medo. Medo de ser esquecida, medo de não ser amada, medo de olhar para
dentro e não encontrar nada.
A estupidez moderna não é só um
problema intelectual. É emocional, espiritual, existencial. É o sintoma de uma
humanidade que não quer crescer. Que foge da responsabilidade de se conhecer.
Que troca profundidade por performance. Que vive para impressionar e esquece de
sentir.
O observador, mesmo calado,
incomoda. Sua presença causa desconforto. Porque ele não ri das mesmas piadas,
não repete os mesmos mantras, não participa das mesmas rezas, não compactua com
farsas. Ele não entra no jogo. Não bajula. Não disputa. Não precisa provar
nada. Isso irrita. Porque sua lucidez denuncia a mentira dos outros. Sua
consciência expõe a ilusão coletiva.
A estupidez moderna fez da política, religião
A mente política moderna não
pensa. Ela torce. Ela idolatra. Ela se apega a um lado como se fosse um time de
futebol. Não importa o que o político faça — importa a narrativa. A estupidez
moderna, nesse campo, virou religião. Gente que se mata para defender
corruptos. Gente que briga por bandeiras que nem entende. Gente que grita
contra o “sistema” enquanto se ajoelha para o próprio líder.
A polarização é a fábrica da
estupidez política. Um lado demoniza o outro. Ninguém escuta ninguém. Ninguém
admite erro. Ninguém revisa nada. A política virou reality show. Não se trata
de ideias, se trata de personagens. A massa escolhe seus heróis e fecha os
olhos para os absurdos que cometem. Corrupção, mentira, manipulação — tudo é
perdoado se for do “nosso lado”.
O observador observa isso com
clareza. Observa a ingenuidade dos que acham que votam por consciência, quando
na verdade votam por afeto. Por identificação emocional. Por interesse
classista. Observa a cegueira dos que acreditam que um político salvará o país.
Observa o delírio da dependência psíquica da massa, por figuras de autoridade.
Observa como as pessoas preferem repetir slogans a estudar leis. Preferem
lacrar a propor. Preferem gritar a construir.
A estupidez moderna na política
não se resolve com eleição. Porque o problema não é o político — é a
condicionada mentalidade coletiva. Uma mentalidade que adora se sentir vítima,
que precisa culpar alguém, que terceiriza sua impotência para o Estado. Uma
mentalidade que não sabe o que é liberdade porque nunca assumiu
responsabilidade. Uma mentalidade que confunde militância com virtude.
O observador não se deixa
capturar. Ele não joga o jogo da mente política. Porque ele sabe que não há
heróis no topo. Que toda estrutura de poder se alimenta da ilusão de quem está
na base. Ele não idolatra. Ele não espera salvação. Ele vê o sistema como ele
é: um teatro de vaidades e interesses, mantido por uma plateia que se recusa a
crescer.
Enquanto a estupidez política se
alimenta de emoção e ignorância, o observador se move pela análise e pelo
silêncio. Ele sabe que enquanto a massa grita por mudanças, ela mesma se
sabota. Porque não quer transformação — quer conforto. Quer líderes que digam o
que ela quer ouvir. E líderes assim sempre existem, porque a estupidez popular
é o solo fértil para a manipulação política.
A eficiência da estupidez moderna
A estupidez moderna funciona como
uma engrenagem. Todos participam. Todos alimentam. Das instituições às
famílias. Da mídia à espiritualidade de mercado. Tudo é pensado para manter o
indivíduo inconsciente, distraído, dependente. Desde a infância somos ensinados
a obedecer, a competir, a temer. A vida vira um roteiro: estudar, trabalhar,
consumir, seguir regras. Não pensar. Apenas cumprir.
O observador rompe com isso. Não
se encaixa. Não por rebeldia, mas por sanidade. Ele não suporta a
artificialidade das relações, a superficialidade das conversas, a
previsibilidade dos comportamentos. Ele quer verdade. Mesmo que doa. Mesmo que
custe. Mesmo que isole.
E sim, o preço é o isolamento. O
observador muitas vezes se sente só. Não porque ninguém o cerca, mas porque
poucos compreendem o que ele observa. Ele anda entre zumbis. Entre corpos
ativos e mentes inativas. Observa amigos se afundando em vícios sociais,
narcotizando seus relacionamento embolorados. Observa parentes presos em
narrativas autoenganosas. Observa gente brilhante desperdiçando vida com
distrações.
Mas ele não desiste. Porque sabe
que lucidez e autonomia psíquica não são luxos — são necessidades. É questão de
sobrevivência interior. Elas são as únicas formas de não enlouquecer nesse condicionado
teatro coletivo.
A estupidez moderna se recicla, com
novas roupagens, novas ferramentas, novas distrações. Ela é adaptável. E
sedutora. Vai seguir chamando, seduzindo, prometendo felicidade fácil, sucesso
rápido, aprovação garantida. Mas o observador seguirá firme. Porque ele viu o
que muitos evitam ver: que a liberdade só existe quando se rompe com a mentira.
E isso tem um preço. Mas o custo de viver anestesiado é
muito maior.