O processo de descondicionamento, derruba o poder de crenças e ideias, anteriormente consideradas verdadeiras, instalando o libertário desencanto em relação aos velhos e dominantes pilares dos implantes sociais.
O conjunto de implantes sociais,
comuns e seculares, — que o meio e a hereditariedade condicionavam a percepção
da realidade do indivíduo —, perdem sua força hipnótica, bem como sua
significação.
O processo de descondicionamento,
produz uma profunda mutação nas ideias, nas opiniões, nas concepções e nas
crenças, resultando em efeitos visíveis, de transformações invisíveis nos
sentimentos.
Tal processo, constitui um
momento crítico para o indivíduo, uma vez que seu poder de percepção da
realidade, se encontra em vias de transformação. Na base dessa transformação da
capacidade de percepção da realidade, encontram-se dois fatores essenciais. O
primeiro, é marcado pela completa destruição das crenças religiosas, místicas,
esotéricas, políticas e sociais, de onde derivam todos os elementos da
sociedade. O segundo, é a criação de condições de existência e de pensamento,
inteiramente novas.
No entanto, como os velhos
condicionamentos, embora abalados, ainda são muito poderosos, e as ideias que
os devem substituir, se encontram ainda em formação, o período mediano do
processo de descondicionamento, invariavelmente, representa para o indivíduo,
um solitário período de transição, de anarquia, de caos e de apatia.
Sobre as ruínas de tantas ideias,
anteriormente consideradas verdadeiras e, presentemente mortas, sobre os
destroços de tantos implantes sociais sucessivamente derrubados, o poder da
observação passiva não reativa é o único que se ergue e parece destinado a
absorver rapidamente os outros poderes.
Quando, finalmente, vacilam e
desaparecem as antigas crenças do indivíduo, e desabam os velhos pilares
sociais, a ação da observação passiva não reativa é a única força que não está
ameaçada e, cujo poder de ação, sempre vai aumentando.
Com a maturação do processo de
descondicionamento, deixam de ter importância, as tendências e rivalidades
pessoais das elites sociais, dos fundadores das religiões e dos impérios, dos
mestres e apóstolos de todas as crenças, dos destacados homens de Estado, das
personalidades de sucesso e, numa esfera menor, dos simples dirigentes de
pequenas coletividades humanas. A voz da sociedade perde seu poder dominante, e
o que passa a mover as ações do indivíduo, é a observação passiva não reativa
que se apossou de seu espírito.
No entanto, o indivíduo precisa
estar bem ciente de que, o desabrochar da maturidade da observação passiva não
reativa é sempre precedido por períodos de solitária e caótica anarquia. A
libertária autonomia psicológica, não surge sem um longo período de solitária
observação.