Quando um indivíduo escolhe narcotizar sua Consciência, “de modo consciente” ou “inconsciente”, seja por meio de “distrações, vícios, racionalizações excessivas ou mecanismos de fuga”, para evitar a dor inerente ao processo de descondicionamento, essa negação da realidade interna, pode se manifestar em diversas características psicossomáticas.
No Nível Psicológico, a ansiedade crônica, a tensão constante entre o que é reprimido e o que é vivido gera inquietude interna. O corpo sente o peso daquilo que a mente tenta ignorar.
O vazio causado pela desconexão do ser essencial, do ser incondicionado, se transforma em apatia, desânimo, perda de propósito e depressão existencial.
Ao evitar a dor do processo de descondicionamento, físico, mental e emocional, o indivíduo vivencia transtornos de identidade, construindo máscaras sociais, o que leva à solitária sensação de falsidade e confusão interna.
Conflitos internos não observados de modo silencioso, passivo e não reativo podem se deslocar para sintomas mais "aceitáveis" pela mente condicionada, como manias, compulsões, rituais, fobias, paranóias, medos irracionais.
Já no que diz respeito ao nível físico/psicossomático, podem surgir os distúrbios gástricos (gastrite, refluxo, úlceras). O bloqueio da “digestão emocional” acaba se expressando através do sistema digestivo.
Tensões musculares e dores crônicas (especialmente nas costas, ombros e pescoço) O corpo guarda aquilo que a mente se recusa a soltar — responsabilidade, culpa, frustração.
Distúrbios do sono (insônia, sonolência excessiva, pesadelos). A consciência forçosamente silenciada durante o dia, tenta se manifestar durante os momentos de repouso.
Problemas respiratórios (falta de ar, suspiros frequentes e ronco noturno). A falta de liberdade interior pode ser sentida como sufocamento ou dificuldade em “respirar a vida”.
A relação entre o ronco noturno e a recusa de olhar para as próprias questões emocionais pode ser compreendida por meio de uma leitura psicossomática, simbólica e energética do corpo. Embora o ronco tenha causas fisiológicas claras, ele também pode carregar significados emocionais e inconscientes — especialmente quando se torna crônico ou resistente a tratamentos convencionais.
O sono é o momento em que o inconsciente assume o comando. Quando há conflitos emocionais não elaborados, eles não desaparecem — apenas se deslocam para outras formas de expressão. O ronco pode, simbolicamente, ser representado como uma metáfora do inconsciente:... “Uma voz abafada que tenta sair enquanto a estrutura mental e emocional dorme.”
Fadiga constante e imunidade baixa. O esforço contínuo de manter-se anestesiado consome energia vital, fragilizando o corpo.
Quanto ao nível comportamental e relacional, podemos observar a busca compulsiva pelo conhecido como por exemplo, as distrações como redes sociais, sexo, compras, trabalho excessivo, viagens... Ou então, a busca pelo que chamamos de “novocaína”, a xilocaína da busca por novidade, uma nova forma de anestésico para evitar o contato com a dor do processo de maturação da percepção da realidade.
Dependência química ou emocional. Drogas lícitas ou ilícitas, álcool ou relações codependentes servem como escudos contra o confronto interior.
Fuga do silêncio ou da introspecção. O silêncio se torna ameaçador porque nele habita a verdade que se tenta evitar.
Comportamentos autossabotadores. A pessoa boicota oportunidades de crescimento porque, inconscientemente, associa maturidade à dor.
No entanto, narcotizar a Consciência é, em última instância, uma forma de autoabandono. A dor evitada não desaparece: ela migra, se traveste e se aloja no corpo e na estrutura mental e emocional, corroendo silenciosamente a integridade do ser essencial.
A verdadeira cura começa quando o indivíduo se permite sentir — atravessar o desconforto da verdade, e dela não mais fugir.
“O preço de não sentir”
Eu...
Eu escolhi não sentir.
Não foi de uma vez.
Foi aos poucos... como quem vai fechando janelas para não ouvir o grito da tempestade.
Primeiro vieram as distrações:
as telas, os barulhos, os vícios pequenos...
Depois os grandes.
A urgência de fugir de mim virou rotina.
Comecei a rir sem motivo... só para calar o choro engasgado.
A trabalhar demais…
a fazer sexo sem alma…
a dormir com o cansaço dos que não viveram o dia.
Eu me anestesiei.
Porque doía.
Porque crescer dói.
E eu… eu não queria sangrar.
Mas o corpo sentiu.
Ah, o corpo… esse traidor honesto.
Começou com uma gastrite.
Depois veio a insônia.
As dores sem nome, a falta de ar, o aperto no peito.
Como se o meu próprio corpo gritasse aquilo que eu me recusei a ouvir.
E eu continuei fingindo.
Fingindo que estava tudo bem.
Fingindo que não tinha uma criança assustada dentro de mim, pedindo colo…
e um velho sábio lá no fundo, implorando:
“Por favor, pare de fugir.”
Mas fugir virou vício.
E todo vício é uma tentativa de silenciar o ser essencial.
Silenciar a dor que, no fundo, é convite.
Convite pra crescer.
Pra amadurecer.
Pra deixar de ser casca… e virar semente.
Mas eu não quis.
Preferi a casca.
Preferi o torpor ao invés da verdade.
Preferi não me olhar.
Não me escutar.
Não me suportar....
E hoje…
hoje eu sou só o reflexo do que poderia ter sido.
Um eco.
Uma sombra.
Um corpo que anda, mas não habita a si.
Eu fui o carrasco de mim mesmo…
e o crime foi não sentir.