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sábado, 30 de agosto de 2025

SOMOS TODOS UM? – O SONAMBULISMO NA CAMA DA ESPIRITUALIDADE POP

SOMOS TODOS UM? – O SONAMBULISMO NA CAMA DO ADVAITA POP

“Somos todos um.” Essa é a frase preferida dos mestres de Instagram, dos palestrantes de auditório climatizado, dos autores de autoajuda transcendental que ocupam a estante ao lado de best-sellers de dieta e finanças. É o mantra de quem quer parecer profundo sem ter atravessado nem dois centímetros do próprio abismo. Uma frase tão repetida que virou papel de parede espiritual, tão barata que já não paga nem a ilusão que promete.

Porque, se você acredita mesmo que “somos todos um”, transfira já o seu saldo bancário para a minha conta. Se não existe separação entre você e eu, então o que está guardado como “seu” deve ser igualmente “nosso”. Se a unidade é real, então o limite do extrato, a senha do cartão, o cofre da casa, tudo deveria ser transparente, compartilhado, indistinto. Mas não é.

O “um” pop só funciona até o caixa eletrônico. A fronteira da unidade é o dinheiro. Ali, o falso personagem desperto mostra os dentes. Ali, a frase vira pó. O sujeito que proclama “somos todos um”, segura firme a carteira, paga caro por retiros “não-duais” e vende workshops de iluminação rápida. Unidade? Só enquanto dura a progressão do extrato bancário.


O UM DE SALA VIP DE AEROPORTO

O “somos um” da espiritualidade pop é como propaganda de perfume: não serve para limpar, apenas para mascarar o cheiro da carne. É uma água de colônia borrifada por cima do suor de medo do falso personagem. Cheira bem, vende bem, mas não transforma nada.

Esse “um” de sala vip de aeroporto é portátil, cabe em qualquer boca. Pode ser repetido num retiro, num podcast, numa postagem com foto de pôr do sol. É plástico: nunca rasga, nunca sangra, nunca põe o falso personagem em perigo. É um “um” que consola, não que dissolve. Um “somos um” terapêutico, feito sob medida para gente que não quer perder nada, apenas se sentir melhor com tudo que já tem.


A UNIDADE QUE MORRE NO EXTRATO

Voltemos ao dinheiro, porque é o espelho mais honesto do falso personagem.
O mesmo sujeito que repete “somos todos um” com lágrimas nos olhos é capaz de assassinar em silêncio se alguém ameaçar sua conta bancária, sua poupança, sua herança, ou sua posse sexual. O “um” vira cinza quando a unidade exige a renúncia do adulterante “meu”.

Não existe “meu” no verdadeiro “um”. Mas o falso personagem espiritualizado vive disso: “meu caminho”, “minha experiência”, “meu grupo”, “meu insight”. Até a iluminação se torna propriedade privada, com direitos de copyright. Até a não-dualidade se transforma em investimento rentável.

É ridículo, mas é assim: no mercado espiritual, a unidade é vendida em pacotes, com certificado, com parcelamento em doze vezes sem juros. O “somos um” dá lucro, produz agências de viagem com roteiros para montanhas sagradas. E enquanto der lucro, não passará de marketing travestido de sabedoria.


SEXO, TERRITÓRIO E CIÚME: O TRIPLO GOLPE NO “UM”

O segundo teste do “somos todos um” é o corpo. Proclamar unidade em palestra é fácil. Difícil é quando a parceira, o parceiro, resolve provar a mesma unidade nos lençóis de outro. O falso personagem iluminado surta. O ciúme engole o mantra. A unidade desaparece na velocidade de um tapa na cara.

O corpo é a fortaleza da posse. “Somos todos um”, mas ninguém mexe no meu brinquedo sexual. A cama é território particular, o corpo é bandeira nacional. O falso personagem coloca cercas elétricas onde a frase prometia dissolução.

O terceiro teste é o território. “Somos todos um”, mas essa cadeira é minha, essa almofada é minha, esse canto do templo é meu, esse microfone é meu. Basta alguém ocupar o lugar favorito no retiro para a unidade evaporar. O “um” não resiste a um simples deslocamento territorial.

E o quarto teste é o poder. O “somos um” funciona muito bem enquanto o sujeito está no púlpito, recebendo guirlandas, sendo reconhecido como mestre, guru, facilitador. Mas se alguém ousa questionar sua autoridade, o “um” implode. A unidade era só cenário para vaidade e lucro espiritual. O falso personagem iluminado não tolera concorrência.


O CLUBE DOS ILUMINADOS

No fundo, o “somos todos um” da espiritualidade pop é só um grito tribal. É a senha de pertencimento de um grupo que se acredita superior. “Somos todos um” significa, na prática: “somos todos nós, os despertos, contra eles, os adormecidos.”

O paradoxo é grotesco: a frase que deveria dissolver fronteiras se torna uma arma de segregação. A unidade serve para separar: os que entendem e os que não entendem, os iluminados e os ignorantes. Os que tem mestres terrenos e os que seguem mestres canalizados.

É a versão espiritual do clube fechado. Quem repete a frase entra. Quem duvida é expulso. O “um” vira passaporte de vaidade. Nada mais.


A NARCOTIZAÇÃO CONCEITUAL ADVAITA

Aqui está a parte mais perigosa. O alcoólatra tem ressaca. O viciado em drogas tem colapso físico. O compulsivo sexual tem marcas e desespero de gestações não programadas. Toda narcotização clássica deixa rastros. Mas a narcotização conceitual advaita não deixa sinais. É a droga perfeita.

O sujeito lê meia dúzia de frases de mestres das montanhas sagradas, aprende a dizer “não há ninguém aqui”, “a pessoa não existe” e “o eu é uma ilusão”, e pronto: está dopado. Não sofre, não colapsa, não atravessa noite escura nenhuma. Mas também não desperta. Vive num torpor refinado. Um sono profundo embalado pela sensação de lucidez.

Esse é o grande perigo: o indivíduo se sente livre quando está mais preso do que nunca. Acredita estar iluminado quando apenas recitou slogans. É uma prisão sem grades, uma anestesia sem dor. Por isso é mais mortal que qualquer vício: porque não gera crise. E sem crise demolidora, não há despertar.

A narcotização conceitual é como gás incolor: mata lentamente, sem cheiro, sem fumaça, sem aviso. Enquanto o adicto químico ainda pode reconhecer sua cadeia, o adicto conceitual acredita que está voando.


O VERDADEIRO “SOMOS UM”

O real “somos um” não é conceito, não é slogan, não é tribo. É dissolução radical. É quando não sobra mais a muralha do “meu” e do “seu”. É quando não há banco, nem cama, nem título, nem status, nem clubinho. É quando não há sequer alguém para proclamar unidade.

O “um” verdadeiro não consola, destrói. Não é um abraço coletivo, é uma fogueira. O falso personagem não se vê abraçado, não recebe guirlanda, mas é consumido. Não há selfie possível, não há like, não há marketing de linhagem espiritual. Há apenas silêncio.

O que sobra? Nada que possa ser dito. Porque toda palavra já divide. O “somos um” real é indizível. Quem vive não precisa proclamar. Quem proclama, ainda não viveu.

 


CONCLUSÃO: DO SLOGAN AO INCÊNDIO

A espiritualidade pop transformou o “somos todos um”, em mercadoria de aeroporto. Um adesivo colado sobre o caixão do eu. Mas a verdade é que esse caixão só se abre com fogo do descondicionamento. E o fogo não é democrático, não oferece consolo, não poupa nada do que é produto do autointeresse.

Enquanto houver saldo bancário separado, cama privada, ciúme guardado, território marcado e vaidade protegida, não há “um”. Há apenas o falso personagem em roupão branco, em túnica laranja. Há apenas sonambulismo numa cama confortável chamada espiritualidade pop.

O verdadeiro “um” não se vende, não se posta, não se proclama. Ele acontece quando todo impulso emotivo reativo separatista arde até virar cinza. E aí, no silêncio sem slogans, talvez reste aquilo que nunca foi dois.



Somos todos um?

Somos todos um,
até o boleto chegar,
até o saldo bancário ser tocado,
até o corpo ser desejado por outro,
até a cadeira favorita ser ocupada.

Somos todos um,
mas cada ego guarda a chave do cofre,
a senha do celular,
o ciúme no travesseiro.

Somos todos um,
no Instagram,
na foto de pôr do sol,
na palestra paga em doze vezes.

Mas o verdadeiro um
não consola,
não perfuma,
não acaricia o ego.

O verdadeiro um incendeia,
dissolve,
aniquila o “meu” e o “seu”.

Unidade não é slogan,
é morte.
E só resta silêncio
quando o fogo acaba.


Revelação do Um

Não, não somos todos um
como repetem as bocas sonâmbulas,
com frases compradas em livraria de aeroporto.

A unidade não é um bordado de palavras,
nem consolo de ego cansado,
nem clube de iluminados que se abraçam
em retiros pagos à vista.

O Um verdadeiro não cabe em slogans.
O Um é incêndio.
É o colapso do “meu” e do “seu”,
é a queda da muralha do “eu”.

O Um não acaricia,
não conforta,
não oferece certificado de sabedoria.
Ele arranca a pele do personagem,
expõe a carne viva,
reduz tudo a cinzas.

Só depois da morte do falso,
quando não sobra voz para proclamar,
o Um se revela.

E então já não há frase,
já não há grupo,
já não há quem diga:
“somos todos um.”

Há apenas o indizível.
Há apenas o silêncio
que sempre esteve aqui.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



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David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill