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sábado, 30 de agosto de 2025

A Mente Calculista e seu Álibi Sagrado

O “personagem autocentrado” quando teme perder algo de si — dinheiro, conforto, estabilidade —, aprende a ser calculista até mesmo no terreno da compaixão. Diante o relato da miséria alheia, ele mede mentalmente cada gesto, cada moeda, cada minuto que possa “custar” algo de seu pequeno mundo de insegura segurança.

Então, pra não ter que estender a mão, oferece palavras.

E não são quaisquer palavras: são as que carregam a aura da piedade, a blindagem perfeita contra qualquer acusação de egoísmo.

“Vou orar por você, irmão.”

“Coloque sua situação nas mãos de Deus.”

“Reze, irmão, reze! E Deus, proverá!”

Essas frases, ditas com o rosto solene de quem cumpre um dever espiritual, são a versão polida do “posso, mas... não quero me envolver. É a esmola verbal, o gesto de quem quer parecer bom sem se desgastar.

E quando a oração por si só não basta para encerrar o assunto, surge a estratégia mais antiga: culpar o necessitado.

— Sabe por que você está nessa situação? É porque você se afastou da igreja.

— É porque abandonou a fé.

— É porque se afastou da família.

Assim, o cálculo está completo: ao transformar a dificuldade do outro em “consequência merecida”, o observador inocenta-se de qualquer obrigação real.

Ajudar? Pra quê, se “foi ele mesmo quem cavou o próprio buraco”?

O ato de culpar ainda traz um bônus: alimenta a sensação de superioridade moral, mantendo intacto o mito de que “comigo isso não aconteceria, porque eu sou obediente, sou fiel, sou correto... sou um dito cidadão respeitável, responsável, trabalhador”... Meu nome sempre foi “Trabalho” e meu sobrenome, “Hora Extra”.

O álibi sagrado funciona como um escudo e uma máscara. Escudo, porque protege da incômoda possibilidade de ter que dividir recursos. Máscara, porque mantém o personagem da “pessoa de fé” no palco social.

A verdade é que, muitas vezes, não se trata de fé — mas de medo. Medo de se aproximar demais da vulnerabilidade do outro e ver refletida ali a própria fragilidade. Medo de descobrir que, no fundo, qualquer um pode ser o próximo a precisar mais do que de uma oração.

Esse mecanismo da estrutura com base no medo e no cálculo autocentrado, é genial. Mantém a aura de pessoa espiritualizada, não mexe no bolso, não ocupa tempo e ainda garante uma pitada de superioridade moral. É a caridade de “baixo custo”, de zero investimento, mas de retorno de imagem imediato.

No fim, chamam de fé. Eu chamo de covardia travestida de aleluia.

E assim, seguimos, em nome de Deus, mas a serviço do medo e do cálculo autocentrado.


Oração: a moeda mais barata da fé

Quando alguém chega com um problema sério — sério mesmo, tipo não ter o que comer ou estar afundado em dívidas —, o calculista inseguro já começa a fazer contas invisíveis:
“Se eu ajudar, vou perder dinheiro. Se eu não ajudar, vou perder a imagem de gente boa. E agora?”

Resposta: simples. Usa-se o truque milenar da piedade verbal.
— Vamos orar por você.
— Reze, irmão.
— Deus proverá.

Pronto. É como dar uma nota de zero reais com um sorriso de santidade.

E se a consciência ainda resmungar, existe o modo avançado da desculpa: culpar a própria vítima.
— Isso é porque você se afastou da igreja.
— Porque parou de orar.
— Porque abandonou a família.

Traduzindo: a culpa é sua, então eu estou moralmente liberado de fazer qualquer coisa.

Esse mecanismo é genial. Mantém a aura de pessoa espiritualizada, não mexe no bolso, não ocupa tempo e ainda garante uma pitada de superioridade moral. É a caridade low-cost, zero investimento, retorno de imagem imediato.

No fim, chamam de fé. Eu chamo de covardia travestida de aleluia.


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill