Como lidar com o tedioso “Show de Truman”
Caro confrade, qual a sugestão
que você daria para um recém desperto, para como lidar com o vazio que hoje ele
percebe em relações que, antes do despertar, lhe pareciam nutritivas? Como se
relacionar socialmente sem cair no isolamento que surge do medo? Como lidar com
o tédio que surge das mesmas situações repetitivas, como se estivesse vivendo
no "Show de Truman"?
Quem não viveu isso, que aperte o
delete! Essas são perguntas que tocam diretamente o âmago da experiência de
quem atravessa o despertar de forma radical — e percebe, como um estranho no
próprio mundo, que aquilo que antes parecia pleno, agora exala um silêncio
desabitado.
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Sobre o vazio nas relações antes nutritivas, uma das possibilidades é:
O processo de descondicionamento
exige que aceitemos a morte — simbólica — dos vínculos antigos, sem pressa
de substituição — e se abrir à qualidade, não à quantidade, do novo encontro.
O que parecia nutrir, muitas
vezes apenas distraía. Quando, pela observação passiva não reativa, se expande
nossa capacidade de percepção da realidade, relações baseadas em carências
mútuas, papéis sociais ou afinidades superficiais se tornam estéreis. Mas antes
que a mente pegue isso para criar conflito, é preciso ressaltar que não é
necessário rejeitar essas pessoas, essas ambientações — mas somente reconhecer
que a profundidade da nova percepção, exige um novo campo de vínculos: mais
verdadeiros, mais silenciosos, mais livres.
Ele exige também, que você não
busque preencher o vazio — mas sim, observá-lo passivamente. Pois o
vazio, pode ser o berço de relações fundadas na Consciência, não no personagem
inseguro, calculista e imitador.
Sobre o isolamento após o despertar
O processo também exige a distinguir
solidão existencial de isolamento por proteção. E ousar estar presente entre os
“adormecidos”, sem se esconder nem se impor.
O isolamento nasce quando o medo
de ser mal compreendido, julgado ou rejeitado domina a cena. Mas o isolamento
endurece. E o mundo não precisa de mais muros — precisa de pontes entre os que observam
e os que ainda dormem.
Você não precisa
"explicar" sua nova visão — apenas encarnar o silêncio lúcido que ela
trouxe. Estar com os outros, sem necessidade de aprovação, já é um ato de
rebeldia inteligente.
O grande truque é se manter em
silêncio entre palavras vazias. No espaço entre opiniões. E na escuta passiva
não reativa, entre ruídos.
Show de Truman ou o Dia da
marmota? Qual deles você vive agora?
O lance é usar o tédio como um
radar: ele mostra onde não há vida real. E então buscar viver com presença —
não no que se faz, mas em como se faz.
A sensação de estar dentro de um
script artificial não é ilusão: é percepção crua da repetição mecânica da mente
coletiva. Mas o tédio é apenas o reflexo da ausência de presença e de
capacidade de Amor Impessoal. Quando o despertar é pleno, até varrer o chão ou
olhar para uma folha se torna novo.
Você não precisa buscar por
novidade externa. Precisa de consciência viva.
E às vezes, basta mudar a qualidade da atenção para sair da prisão de Truman,
da manhã tempestuosa do dia da marmota.
Caro confrade, você que despertou,
está em terra de ninguém — entre o mundo velho que não o reconhece, e o novo
que ainda não se revelou. Por isso, sua tarefa não é adaptar-se nem rebelar-se
— mas ancorar-se na observação passiva não reativa. Na presença. Na
verdade. E seguir em seu processo. Mesmo que sozinho. Mesmo sem aprovação dos
familiares. Mesmo que doa.
Porque o que você vislumbrou… não pode mais ser desvislumbrado.