Caro confrade, observemos agora como fica a qualidade mental e emocional do indivíduo que, por não suportar a dor do processo de descondicionamento, opta por novamente narcotizar sua consciência...
A qualidade mental e emocional de um indivíduo que
escolhe narcotizar a consciência, para evitar o processo de descondicionamento,
tende a deteriorar-se de forma silenciosa, profunda e, muitas vezes,
imperceptível, até que se manifeste em oportunidades de novas crises
iniciáticas. Aqui está um retrato desse estado:
Primeiro, a estagnação da mente disfarçada de
estabilidade e centramento. No intelecto estagnado, o pensamento torna-se
repetitivo, emotivo, reativo e defensivo. O indivíduo evita questionar a si
mesmo, preferindo abraçar respostas prontas e reações confortáveis.
Ele foge deliberadamente de qualquer possibilidade de
reflexão: Ler, meditar ou contemplar, torna-se algo desconfortável — como se
olhar para dentro, fosse perigoso, algo que pode ameaçar a pseudo segurança que
ele pensa ter através de seus apegos não questionados.
Existe uma necessidade de constante distração: o tédio
é intolerável, então a mente exige o ruído das redes sociais, do consumo, do
excesso de trabalho, dos vícios leves ou pesados e das conversações de
ambientes batidos, fechados e imaturos. A mente se torna uma gaiola decorada
com o que há de mais novo nas coloridas mensagens de marketing, mas ainda
assim, uma prisão.
Segundo,
o emocional oscila
entre anestesia e ressentimento. As emoções, precisam sempre serem amortecidas,
pois existe pouca alegria genuína, e também pouco sofrimento consciente. O
indivíduo vive numa espécie de “morno existencial”.
Existe um acúmulo de ressentimentos, porque, ao evitar
a dor legítima do crescimento, acumula-se uma dor disfarçada: frustração, culpa
inconsciente e uma sensação de fracasso, que droga nenhuma consegue disfarçar.
Como resultado, a irritabilidade, se torna crônica: Pequenas coisas causam
reações exageradas — não por sua gravidade, mas por tudo o que o indivíduo está
reprimindo.
Então, a cada dia que nasce, o indivíduo sente mais e
mais necessidade de recorrer aos seus “narcóticos psicológicos de escolha”,
como meios de fuga de si mesmo. Nem sempre são substâncias; muitas vezes, são
mecanismos de defesa disfarçados através do cinismo, uma forma de se proteger
da esperança e da vulnerabilidade. Também o hedonismo compulsivo: prazeres
rápidos que, inutilmente, tentam
substituir realizações duradouras.
E nunca pode faltar, aquela “espiritualidade
superficial”, através do uso da fé, como mecanismo para evitar o maduro
enfrentamento interno, uma fé de fachada que, ao proporcionar respeitabilidade,
é usada para não iluminar a própria escuridão.
O quarto ponto a ser observado, é o custo invisível,
manifesto pela dissociação da consciência. Com o tempo, inevitavelmente, o
indivíduo se sente dividido: Ele vive uma vida “funcional”, mas sempre com a
angustiante sensação de que falta algo essencial. Sente um vazio que não
consegue nomear, como se estivesse longe de si mesmo. Então, o sentido da vida
se dissolve, mas ele finge que não percebe.
No entanto, ainda assim existe esperança. A dor que o
indivíduo evita — não desaparece — ela se transforma em chamado. Às vezes em
forma de crises de profunda ansiedade, ataques de pânico diante da morte,
depressão, tédio, angústia e colapso existencial. E paradoxalmente, esses
momentos são oportunidades de quebrar o entorpecimento, de voltar para si. De
iniciar, finalmente, o processo de descondicionamento da Consciência, que foi
imaturamente evitado.
É como dizia Carl Jung: “O que você resiste, persiste.
O que você aceita, se transforma.”