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sábado, 30 de agosto de 2025

O buscador distraído, impaciente e indeciso

Tenho certeza de que o confrade, nessa caminha, já deve ter se deparado com o sentimento de estar sempre buscando algo, mas nunca chegando a lugar nenhum. Quando observamos bem, não é difícil de perceber a distração, a impaciência e indecisão, como influências silenciosas que sabotam a tão necessária estabilização da lucidez libertária. Vamos olhar juntos, se é possível ou não, o alcance uma capacidade de observação, capaz de romper o ciclo e, assim, despertar para a presença lúcida.

Ao nosso ver, esse título — que surgiu de uma conversa com um confrade no WhatsApp, nos abre um campo muito fértil de observação. Ele toca em três rachaduras internas, que corroem a profundidade da estabilização da lucidez libertária. São eles: a distração, a impaciência e a indecisão.

Convidamos os confrades para mergulharmos juntos em questões como:

  1. Como cada uma dessas três forças age silenciosamente para sabotar o processo de estabilização da lucidez libertária.
  2. Como elas se reforçam mutuamente, criando um ciclo de estagnação.
  3. Qual seria o antídoto prático e interno para cada uma — não como “dica motivacional”, mas como posicionamento de consciência.

Então vamos olhar juntos

  • Parte 1 – O buscador distraído: a consciência fragmentada e a fome por estímulo.
  • Parte 2 – O buscador impaciente: a pressa como fuga da profundidade.
  • Parte 3 – O buscador indeciso: o medo de compromisso com o real.
  • Parte 4 – A raiz comum e a via de ruptura.

Creio que, juntos, faremos um mergulho sem verniz espiritual, expondo a anatomia psicológica dessas três forças corrosivas e finalizando com a ruptura possível.


O BUSCADOR DISTRAÍDO, IMPACIENTE E INDECISO

Há buscadores que se perdem por ignorância.
Há buscadores que se perdem por vaidade.
Mas há um tipo mais sutil e comum — aquele que se perde por fragmentação: não consegue permanecer inteiro diante da própria busca.

Esse buscador vive entre três campos minados: a distraçãoa impaciência e a indecisão. Ele pode estar rodeado de livros, mestres e técnicas, mas nunca atravessa a soleira. Mantém-se na superfície, porque a própria estrutura interna está sabotando a travessia.


1. O Buscador Distraído — a mente que não aguenta o silêncio

A distração não é só “perder o foco” — é um vício de superfície.
O buscador distraído não suporta a densidade do instante; precisa diluí-lo. O silêncio o incomoda como um espelho que começa a mostrar rachaduras. Então, ele troca de assunto, de prática, de mestre, de livro… sempre com a sensação de que “ainda não encontrou algo que ressoe”.

Mas a verdade é que ele já encontrou — e fugiu.
Encontrou uma prática ou um insight que começou a arranhar o verniz da sua autoimagem, mas rapidamente desviou para outra coisa, chamando isso de “ampliar horizontes”.
A distração é covardia camuflada de curiosidade.

O distraído coleciona fragmentos de caminhos, mas não constrói um. Ele sabe falar de tudo um pouco, cita nomes, frases e tradições, mas não experimenta nada até o fim. Vive na periferia do essencial, porque ir ao núcleo exige permanecer — e permanecer exige uma renúncia total à voracidade de estímulos.

O veneno da distração é que ela parece riqueza — “estou sempre aprendendo” — mas é pobreza de presença. O distraído vive com mil sementes na mão e nenhuma árvore na terra.


2. O Buscador Impaciente — a pressa como fuga da profundidade

A impaciência é a pressa que, na verdade, é medo.
Medo de que o processo seja mais lento que o ego gostaria. Medo de que, ao se entregar, descubra que não há garantias.

O buscador impaciente não quer atravessar o deserto; quer um teletransporte para o oásis. Procura atalhos, técnicas “definitivas”, retiros “transformadores” de fim de semana. Sua relação com a busca é a mesma que o consumidor tem com um aplicativo de entrega: “quanto tempo até chegar?”.

Só que o real não tem pressa. O real não negocia com expectativas humanas. A lucidez amadurece no ritmo de dissolução do ego, e esse ritmo é brutalmente mais lento do que a mente deseja.

A impaciência é o berro do ego por resultados imediatos. É uma recusa em suportar o tempo necessário para que o chão ceda sob os pés. É o pânico de permanecer no meio do processo, onde nada é mais o mesmo, mas ainda não se chegou em lugar algum.

O buscador impaciente, ao sentir que nada acontece “rápido o bastante”, pula para outro caminho — e recomeça sempre no início. É como quem cava dez buracos rasos em vez de um único poço profundo. Nunca encontra água porque nunca cava o suficiente no mesmo ponto.

O antídoto para a impaciência é brutal: aceitar que o tempo não é seu aliado nem seu inimigo — é o próprio mestre. Só permanece quem suporta o desconforto de não ver resultados imediatos.


3. O Buscador Indeciso — o medo de compromisso com o real

A indecisão é a mais venenosa das três, porque disfarça-se de prudência.
O buscador indeciso sempre está “avaliando melhor” antes de dar um passo definitivo. Aparentemente é um sinal de cautela — mas, no fundo, é medo de queimar a ponte com as velhas ilusões.

A indecisão paralisa.
O indeciso analisa tanto as opções que nunca se compromete com nenhuma.
Ele teme estar “no caminho errado” e, para não errar, não caminha.
Mas não caminhar já é o maior erro.

O indeciso vive num limbo existencial: sabe que a vida comum não o satisfaz, mas não se entrega por inteiro a nenhuma via de ruptura. Mantém um pé na margem e outro na água, sempre pronto para recuar. E o que ele chama de “manter a mente aberta” é, muitas vezes, apenas manter a porta aberta para voltar atrás.

O buscador indeciso quer garantias antes de saltar, mas o salto só existe sem garantias.
Quer a segurança de que não perderá nada, mas todo despertar exige perder o que não é essencial.
E, enquanto hesita, o tempo passa — e o despertar vai ficando mais distante, não porque o real se afasta, mas porque a coragem se dissolve.


4. O Triângulo da Autossabotagem — como distração, impaciência e indecisão se alimentam

Essas três forças não agem separadas. Elas se alimentam umas às outras.

  • A distração impede a permanência.
  • A impaciência interrompe a profundidade.
  • A indecisão paralisa a entrega.

Juntas, criam um triângulo perfeito de autossabotagem:

  1. Você se distrai e pula de um estímulo para outro.
  2. Como nada se aprofunda, você fica impaciente.
  3. A impaciência alimenta a dúvida sobre o caminho, gerando indecisão.
  4. A indecisão abre espaço para novas distrações — e o ciclo recomeça.

Esse triângulo é confortável porque mantém a sensação de “estar buscando” sem exigir a morte de nada em você. É um movimento que gasta energia, mas não ameaça a velha identidade. É uma busca de faz-de-conta.


5. A Ruptura — o que acontece quando o buscador se encara

O rompimento desse ciclo não vem de mais técnicas, nem de leituras, nem de novas experiências.
Vem de um ato interno de decisão irrevogável: “Eu não vou mais me permitir sabotar”.

Isso não é um juramento romântico — é um corte.
Um corte com a dispersão: escolher um caminho e não largá-lo só porque ficou desconfortável.
Um corte com a pressa: suportar a aridez do processo sem buscar atalhos.
Um corte com a hesitação: assumir que não há retorno e que, mesmo que doa, o único passo possível é o próximo.

O buscador só amadurece quando aceita morrer para o conforto de “ter opções”.
Quando percebe que distração, impaciência e indecisão não são falhas inocentes — são estratégias inconscientes de sobrevivência do ego.
E que, enquanto essas estratégias governarem, a busca será um teatro onde nada real acontece.


6. A Presença como Antídoto Final

Se há um remédio que toca os três venenos, é este: presença radical.
Estar presente é, por natureza, incompatível com a distração, porque não há espaço para dispersão quando se está inteiro.
Estar presente dissolve a impaciência, porque no instante não há expectativa futura.
Estar presente corta a indecisão, porque no agora só existe o passo imediato — e ele é dado ou não é.

Presença radical não é uma técnica, mas uma rendição.
É parar de negociar com a própria covardia.
É permanecer no ponto de desconforto sem fugir, sem correr e sem hesitar.
E, paradoxalmente, é no momento em que o buscador para de correr que o caminho realmente começa.


O buscador distraído, impaciente e indeciso não é um outro lá fora — é uma configuração que todos carregamos.
Quem a reconhece com honestidade já está um passo à frente.
Mas só atravessa quem ousa cortar o ciclo, suportar o vazio e manter-se inteiro quando tudo em si pede para dispersar, apressar ou recuar.

A busca real começa quando paramos de nos enganar sobre o que estamos fazendo.
E, nesse ponto, não importa mais quantos caminhos existem — só importa o passo que está sendo dado, agora.


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

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K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill