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sábado, 30 de agosto de 2025

A terceira idade e a triste revisão de uma vida de ilusão

Caro Confrade, que caminha pela estrada da segunda idade: a velhice chega como um espelho sem polimento, um espelho que não mascara mais nada. Já não há juventude para disfarçar as escolhas erradas com o otimismo de que ainda há tempo. A terceira idade é a última margem antes do fim — e nela, muitos são obrigados a encarar, com brutal honestidade, a vida que construíram, os caminhos que seguiram e, mais profundamente, a ilusão que viveram.


O Despertar Tardio

Para muitos, o envelhecimento é a primeira chance real de parar. O trabalho cessou, os filhos cresceram, os compromissos diminuíram e, para alguns, o cônjuge partiu. É nesse intervalo silencioso que, pela primeira vez, o indivíduo é confrontado com a si mesmo sem as distrações de uma vida agitada. E o que encontra, muitas vezes, não é um legado de sentido, mas um rastro de escolhas que serviram mais a insensível sociedade do que o ser profundo.

O idos olha para trás e observa que muito do que buscou — segurança, status, posses, reconhecimento, títulos — não o acompanha mais. O que fica? Memórias que já se desgastam, relações que não resistiram ao tempo, amizades que eram funcionais, e um corpo que já não responde.

Esse é o primeiro golpe da revisão tardia: perceber que o roteiro que seguiu com tanta dedicação foi escrito por mãos alheias — de ancestrais desconhecidos, dos pais, da sociedade, da cultura, das convenções. A obediência que parecia virtude se revela servidão. A estabilidade tão almejada era apenas anestesia.


A Ilusão de Segurança e Sucesso

Um dos maiores enganos que muitos só percebem na velhice é o da ideia de segurança e sucesso. Trabalhar décadas para juntar bens, pagar a casa, financiar carros, viajar em datas comemorativas, investir em aposentadoria. A lógica parecia sólida. Mas, quando se chega ao topo da escada, percebe-se que ela estava apoiada na parede errada.

O idoso bem-sucedido, que hoje vive sozinho com uma mediana aposentadoria, em uma casa bem ornamentada, se pergunta por que fez tanto para tão pouco. Onde estão aqueles por quem lutou? Onde está o amor? Onde está a alegria? Onde está a plenitude do viver?

A segurança e o sucesso vendidos pelo mundo — poder, influência, segurança financeira — cobra um preço alto: o abafamento do ser profundo. Muitos se aposentam de uma vida inteira de esforço para perceber que trabalharam para acumular coisas que agora não têm mais valor e, muitas vezes, nem uso.


A Solidão Como Espelho

A terceira idade traz com ela uma solidão que é menos social e mais existencial. Mesmo que se esteja cercado de pessoas, há uma sensação de estar fora do ritmo do mundo, como um espectador silencioso que não é mais chamado para o jogo.

E essa solidão revela uma ferida: a ausência de vínculos verdadeiros. Muitos idosos percebem, tardiamente, que nunca se mostraram de fato e que, a maioria de suas relações, não passaram de jogos de conveniência momentânea. Viveram por máscaras — do profissional competente, do pai exemplar, do marido dedicado, do comerciante esperto — mas raramente ousaram ser quem eram de verdade.

Com o tempo, as máscaras caem, e ele então percebe, que a intimidade verdadeira, nunca foi construída. Os filhos não o conhecem como um indivíduo com pensamentos e sentimentos. Os amigos eram apenas colegas de rotina. E o parceiro de vida, muitas vezes, se tornou apenas um cúmplice no teatro social.

A Morte do Desejo

Outro golpe da revisão tardia é a morte do desejo. O corpo, antes cúmplice das aventuras, agora se torna um cárcere de limitações. A libido diminui, os sonhos perdem força, e a vontade de começar algo novo se esvai como fumaça.

E isso não seria um problema se o indivíduo tivesse vivido intensamente enquanto podia. Mas a maioria adiou — o bem-querer, a viagem, os livros, a mudança — esperando o "momento certo", que nunca chegou. Agora, já é tarde para começar muita coisa porque as limitações do corpo, não permitem.

A velhice escancara que o tempo é uma moeda que não aceita devolução. E o que não foi vivido, simplesmente se perdeu.


O Autoengano Como Estilo de Vida

Boa parte da vida foi vivida em função do que parecia certo, do que os outros aprovavam, do que era socialmente aceito. Assim, construiu-se uma existência baseada em aparência, performance, obediência, ajustamento mediocrizante.

O idoso olha para trás e observa que quase nunca disse “não”. Que cedeu para agradar, engolindo a própria verdade, vestindo personagens, sacrificando paixões. E tudo isso por quê? Por medo e cálculo. Medo de não ser amado. Cálculo para não ser excluído. Medo de ser livre demais para caber no mundo.

A terceira idade cobra a fatura de cada concessão feita contra o próprio ser profundo. E ele cobra em silêncio, em insônia, em melancolia sem causa, em crises de choro sem motivo aparente.


A Desesperança Do Que Não Pode Mais Ser

A revisão da vida na terceira idade não é apenas triste — ela pode ser desesperadora. Porque, ao contrário do jovem, que ainda pode mudar o rumo, o idoso tem pouco tempo e pouca energia. Não há horizonte para recomeçar com vigor. O que resta é a aceitação ou o desespero.

Alguns se agarram à sistemas de crença organizada, buscando consolo e promessa de continuidade. Outros se afundam na nostalgia, assistindo aos mesmos filmes, revendo fotos, contando as mesmas histórias. São formas de suportar o que não tem mais conserto, o que foi perdido ao longo de um tempo de sonambulismo.

A revisão é, então, um luto: o luto por uma vida que poderia ter sido e não foi. Por uma coragem que nunca veio. Por um bem-querer que não se viveu. Por uma liberdade que nunca foi ousada.


A Última Chance de Verdade

Mas nem tudo é ruína. Há, mesmo na terceira idade, uma última chance para o despertar da lucidez. Para alguns, é só na proximidade do fim que a percepção das ilusões se torna insuportavelmente clara — e justamente por isso, libertadora. Perceber que tudo foi ilusão é o início de uma libertação, ainda que tardia.

A terceira idade pode se tornar um campo sagrado de observação nua. Já não há muito a perder. Já não há por quem performar. Pode-se, enfim, ser aquilo que nunca se foi.

A voz interna, calada por décadas, pode então, voltar a sussurrar. E quem a escuta, ainda que tarde, pode experimentar um apaziguamento que nunca conheceu. Um apaziguamento sem vaidade, sem maquiagem, sem currículo, sem plateia.


A Sabedoria que Só a Dor Traz

A consciência da dedicação a um modo de viver ilusório, é dolorosa, sim. Mas ela também é fértil. A sabedoria real — não a intelectual, mas a existencial — nasce do confronto com a própria cegueira de décadas.

O idoso que aceita sua ilusão pode, ao menos, morrer lúcido. Pode orientar os mais jovens a não repetir seus erros. Pode se tornar farol não por suas conquistas passantes, mas pelo que observou com o desmoronamento das suas ilusões.

Essa é a dignidade possível: a de alguém que, ao cair em si, finalmente, amadureceu. A dignidade de quem não nega mais. Que não finge. Que, mesmo cansado, decide ser verdadeiro no pouco tempo que lhe resta.


A Revisão Como Redenção

A terceira idade, para muitos, é a estação final de um trem que percorreu o trilho errado. A revisão da vida se impõe — e ela pode esmagar ou redimir. A tristeza de ter vivido uma ilusão é real, mas não precisa ser a estação final da viagem.

A percepção das ilusões, quando finalmente aceita, pode libertar. Pode tornar os últimos anos em os mais autênticos. Pode transformar o idoso em alguém que finalmente , que finalmente sente, que finalmente é.

A lucidez tardia, de fato, é dolorosa. Mas é também bela. Porque nela, há o brilho de um ser que, mesmo tarde, ousou acordar.


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill