Por que alguns preferem dormir?
Vamos lá para um novo texto que
talvez reflita um pouquinho de luz nesta escura e insensível sociedade capital.:
"O despertar e Efeito Cypher". Sentimos que ele tem um enorme potencial simbólico, filosófico
e existencial — especialmente quando falamos com quem já percebeu que esta
sociedade capital não passa de uma ilusória simulação, disfarçada de liberdade.
Você já se perguntou por que,
mesmo após ver a verdade, alguns escolhem voltar ao conforto da ilusão? Para
nós, este é o Efeito Cypher — muito bem abordado no filme “Matrix”, quando
a dor da lucidez se torna insuportável e o indivíduo opta por um retorno
voluntário ao sono do prazer sensorial da pseudo segurança e da falsa
respeitabilidade social.
O despertar não é glamouroso. Não
há garantias, não há pertencimento, não há promessas de felicidade. Há apenas o
real — cru, indiferente, mas verdadeiro. Vivemos numa sociedade onde pensar
dói, sentir é perigoso, e acordar é um ato radical.
Com
certeza, se você está dedicando sua atenção a este podcast, já se deparou com
perguntas semelhantes a estas:
Vale a
pena manter-se desperto em um mundo que premia os adormecidos?
O que fazer
com esse olhar que foi além do compartilhado ordinário e não fingir?
O que fazer
quando bate aquela vontade forte de "voltar para Matrix", qual o
Cypher interior se apresenta?
É possível
viver desperto sem enlouquecer, adoecer ou viver confinado numa observação
ácida rancorosa?
Será que a
lucidez, ao invés de uma bênção, na verdade, não seria uma maldição?
Não teria
sido melhor a escolha pela pílula azul?
(...)
“O
Despertar e o Efeito Cypher” apresenta uma imersão em dilemas internos,
abandonos existenciais e a traição do próprio espírito.
Despertar
é ver demais. E ver demais é perder a paz. Há quem olhe para o abismo...
resista. Mas há também os que, como Cypher, fazem o caminho inverso: preferem
um bife suculento à verdade sem sabor.
Mas
perguntamos ao ouvinte: o que leva alguém a renunciar à própria lucidez? O que
nos torna cúmplices da mentira — mesmo depois de termos tocado a realidade nua?
Este
episódio é sobre essa ruptura interna. Sobre o desejo secreto de não saber.
Sobre o cansaço de ser lúcido num mundo que celebra o entorpecido. Aqui não há
respostas fáceis. Só feridas abertas. Porque despertar é morrer lentamente para
tudo aquilo que já não se pode mais fingir.
E o Efeito
Cypher é o eco da tentação que volta… sempre que a solidão da verdade se torna
insuportável. Ele surge quando o indivíduo percebe que o Despertar não é
transcendência. Não é nirvana. É ruína. É o colapso da fantasia sobre o mundo,
os outros e sobre si mesmo.
Esse efeito
surge quando se vê que quase tudo é simulação: relacionamentos, espiritualidade
de vitrine, promessas de progresso pessoal. É perder a ingenuidade de que as
coisas vão “melhorar”, de que alguém virá salvar.
Surge
quando a cortina cai e revela que o show da vida cotidiana é encenado para
manter a ordem — a ordem do sono capital e partidário.
O efeito
Cypher surge quando o Despertar é um aborto do antigo modo de se relacionar e
estar no mundo, um renascimento sem berço.
Ele surge
quando cai a ficha de que, depois que se acorda, não há mais retorno. De que
também não há solo firme onde se pisa. Que a dor não vem apenas da perda da
ilusão — vem da constatação de que não há pertencimento.
Ele chega
quando você já não cabe mais na Matrix, mas ainda não tem asas para voar sobre
ela. Quando você não se alimenta mais com as conversas, os ideais, os rituais
sociais... mas também não sabe onde encontrar por nutrição, realmente protéica.
O efeito
cypher bate fundo quando você começa a se tornar um estranho até para si mesmo.
Quando se vê numa espécie de exilio espiritual em terra de ninguém.
Quando percebe que a verdade não produz consolo, não aplica verniz. Que ela
apenas existe — fria, indiferente, bruta.
O Efeito
Cypher: A Tentação do Retorno
O
personagem Cypher, no filme Matrix, sabe da verdade... mas escolhe
esquecer. Prefere a mentira bem temperada do que a realidade insossa. Esse é o
efeito Cypher: a tentação de retornar à ignorância. De se reentregar ao
sistema.
De fingir que não viu o que viu. Que não sentiu o que sentiu.
Esse efeito
se manifesta na vida real através da volta ao consumo de distrações midiáticas para
calar o grito interior, ao optar por se anestesiar com espiritualidade
superficial. Ao aceitar trabalhos e relações que nos violentam, apenas para
parecer “normal”. Tal efeito se manifesta quando a lucidez dói tanto que o sono
volta a parecer uma bênção. E, às vezes, o que se quer não é a verdade... é
paz.
Anestesias
Modernas: Como a Matrix nos Reconquista
A Matrix, o
sistema, a normose social — chame como quiser — é extremamente sagaz (há quem
confunda essa sagacidade com inteligência). Ela sabe que nem todos conseguirão
dormir para sempre. Por isso, ela não se cansa de oferecer substitutos. Pílulas
ilusórias disfarçadas de realidade.
Ela oferece
espiritualidade pop, minimalismo como fetiche, coaching como transcendência,
propósito existencial de Instagram e Tik Toc. Tudo para dar a sensação de
“sentido existencial”... sem exigir ruptura real.
E são
muitos que acabam aceitando. Porque é difícil demais caminhar no deserto da
consciência sem miragens televisivas, sem embriagues wi-fi.
Despertar
é um Caminho Solitário, mas Não Precisa Ser Estéril
Despertar
te arranca de tudo. Mas também te entrega a si mesmo. É duro, sim. Mas é
fértil. Porque é real. E só no real é possível criar algo verdadeiro. A
solidão, quando aceita, vira solitude. A lucidez, quando assumida, vira lâmina
— para cortar o que é falso. E o exílio, quando entendido, pode virar refúgio.
Um lugar interno de liberdade.
Talvez
nunca formemos uma grande confraria dos despertos. Mas sempre haverá os que
escolheram a pílula vermelha... e seguem, mesmo aos trancos, despertos.
“Acordar é
deixar de ser personagem… e isso dói mais do que qualquer pesadelo.” Então,
toda vez que bater esse impulso Cypher, vale a pena ter em mente, uma frase de Horace
Walpole: “Quem não quer pensar, é um fanático; quem não pode pensar, é um
idiota; quem não ousa pensar... é um covarde.”