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sexta-feira, 1 de março de 2013

Compreendendo o medo, o tempo e a morte


As ideias são pensamento organizado, e o pensamento organizado não resolve nossos profundos problemas psicológicos. O que elimina realmente os nossos problemas é o encará-los, não através do crivo do pensamento, porém, entrando direta e vitalmente em contato com eles, percebendo e sentindo realmente o fato. Se posso empregar a expressão, devemos estar emocionalmente — não sentimentalmente, porém, emocionalmente — em contato com o fato. Se confiarmos no pensamento, por mais engenhoso, por mais bem organizado, por mais erudito, lógico, são, racional que seja, nossos problemas psicológicos nunca serão resolvidos. Porque, como estive salientando outro doa, é o pensamento que cria todos os nossos problemas; e o homem que realmente deseja penetrar esta questão da morte, em vez de evitá-la (a questão) deve descobrir por si mesmo como o pensamento cria o tempo, e como o pensamento também nos impede de compreender o significado, a importância e a profundeza da morte.

(...) Para compreender o medo, precisamos compreender o tempo. Não me refiro ao tempo medido pelo relógio, ao tempo cronológico; este é bastante simples, mecânico, e nele não há muito para compreender. Refiro-me ao tempo psicológico: o recordar os muitos dias passados, todas as coisas que conhecemos, sentimos, gozamos, recolhemos e armazenamos na memória. A lembrança do passado molda-nos o presente, o qual, por sua vez, se projeta no futuro. Todo esse processo é tempo psicológico, no qual está aprisionado o pensamento. O pensamento é o resultado de ontem, atravessando o dia de hoje, para amanhã. O pensamento sobre o futuro está condicionado pelo presente, o qual, a seu turno, está condicionado pelo passado.

O passado constitui-se das coisas que a mente consciente aprendeu na escola, nos empregos que exerceu, do conhecimento técnico que adquiriu, etc., e tudo isso faz parte do processo mecânico da lembrança; mas ele é também constituído de conhecimento psicológico, isto é, das coisas que o indivíduo experimentou e guardou, das lembranças que estão ocultas nas profundezas do inconsciente. Para a maioria de nós falta tempo para investigar o inconsciente, pois estamos sempre muito ocupados, completamente entregues a nossas atividades diárias; assim sendo, o inconsciente transmite-nos várias sugestões e mensagens, na forma de sonhos, e esses sonhos requerem interpretação.

Tudo isso — tanto o processo consciente como o inconsciente — é tempo psicológico: tempo como conhecimento, tempo como experiência, tempo como distância entre o que é e o que deveria ser, tempo como meio de "chegar", lograr êxito, de preencher-se, de "vir a ser". A mente consciente é moldada pelo inconsciente; e é muito difícil compreender os secretos motivos, intenções e compulsões do inconsciente, porque não somos capazes de conseguir acesso ao inconsciente pelo esforço consciente. É negativamente que devemos abeira-nos dele, e não pelo processo positivo da análise. O analista está condicionado pelas suas lembranças; e seu método positivo de abeirar-se de uma coisa que ele não conhece e de cuja existência não está plenamente consciente, é muito pouco significativo.

(...) O homem que deseja saber o que significa morrer, que deseja realmente experimentar, conhecer o seu pleno significado, deve estar consciente da morte em vida, isto é, deve morrer todos os dias. Fisicamente, não podeis morrer todos os dias, embora a todos os momentos se esteja verificando alteração fisiológica. Refiro-me ao morrer psicológico, interior. As coisas que temos acumulado como experiência, conhecimentos, os prazeres e as dores que conhecemos — morrer para tudo isso.

Mas, como sabeis, a maioria de nós não deseja morrer, porque estamos satisfeitos com o nosso viver. E nosso viver é muito feio; é mesquinho, invejoso, uma luta constante. Nosso viver é uma tortura, com esporádicos clarões de alegria que logo se tornam memória, apenas; e a morte é-nos também uma tortura. Mas a morte real é o morrer psicológico para tudo o que conhecemos — isto é, sermos capazes de enfrentar o amanhã, sem saber o que é o amanhã. Não estou enunciando uma teoria ou crença fantástica. A maior parte das pessoas temem a morte e, por isso, creem na reencarnação, na ressurreição, ou estão apegadas a uma outra forma de crença. Mas ao homem que realmente deseja descobrir o que é a morte, a crença não interessa. Crer, meramente, é falta de maturidade. Para descobrirmos o que é a morte, devemos saber morrer psicologicamente.

Não sei se já tentastes alguma vez morrer para algo que vos seja muito caro e vos proporcione prazer — morrer para isso, não como raciocínio, não como uma convicção ou propósito — morrer, simplesmente, para isso, como uma folha que cai da árvore. Se souberdes morrer dessa maneira, cada dia, cada minuto, conhecereis então o término do tempo psicológico. E parece-me que, para a mente amadurecida, a mente verdadeiramente desejosa de investigar, a morte, nesse sentido, é muito importante. Porque investigar não é procurar com um motivo. Não podeis descobrir o que é verdadeiro, se tendes um motivo, ou se estais condicionado por uma crença, por um dogma. Deveis morrer para tudo isso: morrer para a sociedade, para a religião organizada, para as várias formas de segurança a que a mente está apegada.

Afinal de contas, as crenças e os dogmas oferecem segurança psicológica. Vemos que o mundo se acha num estado de confusão total; nesta universal confusão, tudo está se transformando muito rapidamente. Em face de tudo isso, desejamos algo duradouro, permanente e, por isso, nos apegamos a uma crença, um ideal, um dogma, a uma dada forma de segurança psicológica; e isso nos impede de descobrir realmente o que é verdadeiro.

Para descobrir o que é novo, a ele deveis chegar-vos com uma mente "inocente", uma mente fresca, jovem, não contaminada pela sociedade. A sociedade é a estrutura psicológica da inveja, da avidez, da ambição, do poder, do prestígio; e para descobrir o que é verdadeiro, a pessoa precisa morrer para toda essa estrutura, não teoricamente, não abstratamente, porém morrer realmente para a inveja, a perseguição do mais. Enquanto houver essa perseguição do mais, em qualquer forma, não poderá haver compreensão do imenso significado da morte. Todos sabemos que mais cedo ou mais tarde morreremos fisicamente, que o tempo passa, e a morte nos alcançará no caminho; e, porque temos medo, inventamos teorias, coordenamos ideias a respeito da morte, racionalizando-a. Mas isso não é compreender a morte.

Afinal, com a morte não se discute; não podemos pedir-lhe que nos dê mais um dia de vida. Ela é decisiva, inexorável. E não é possível morrer para a inveja da mesma maneira, sem discutir, sem perguntar o que vos acontecerá amanhã, se  morrerdes para a inveja ou ambição? Isso, em verdade, significa compreender o inteiro processo do tempo psicológico.

Sempre estamos pensando em termos relativos ao futuro, planejando para o amanhã, psicologicamente. Não estou falando sobre o planejar a vida prática; isso é coisa completamente diferente. Mas, psicologicamente, desejamos ser alguma coisa amanhã. A mente sagaz se ocupa com o que ela foi e o que irá ser, e toda a nossa vida é edificada sobre essa base. Somos o resultado de nossas "memórias", e memória é tempo psicológico. Mas é possível morrermos, sem esforço, facilmente, para todo esse processo?

Todos quereis morrer para algo que vos é doloroso — e isso é relativamente fácil. Mas eu falo do morrer para algo que vos dá muito prazer, um forte sentimento de riqueza íntima. Se morrerdes para a lembrança de uma experiência estimulante, morrerdes para as vossas "visões", vossas esperanças e preenchimentos, ver-vos-eis frente a frente com um extraordinário sentimento de solidão, sem nada terdes em que vos amparardes. Igrejas, livros, instrutores, sistemas de filosofia — em nada disso confiareis mais, o que está muito certo; porque se depositardes confiança em qualquer dessas coisas, estareis com medo, sereis ainda invejoso, ávido, ambicioso, sequioso de poder.

Infelizmente, quando em nada mais confiamos, tornamo-nos em geral amargurados, satíricos, superficiais, e vivemos então, simplesmente, de dia para dia, dizendo que tanto basta. Mas, por mais filosófica que a mente seja, o que daí resulta é uma vida muito superficial, muito medíocre.

Não sei se já alguma vez tentastes ou experimentastes isto: morrer, sem esforço, para tudo o que conheceis, morrer, não superficialmente, porém, realmente, sem perguntardes o que acontecerá amanhã. Se puderdes fazê-lo, encontrar-vos-eis com um extraordinário sentimento de solidão, um estado de negatividade, no qual não existirá amanhã — e, se experimentardes esse estado até o fim, vereis que não é um estado de fúnebre desespero; pelo contrário.

Afinal de contas, vivemos em maioria terrivelmente sós. Podeis exercer uma ocupação interessante, ter família e dinheiro em abundância, ter os vastos conhecimentos de uma mente culta; mas, se quando vos encontrardes a sós, puderdes por de parte tudo isso, conhecereis aquele extraordinário sentimento de solidão.

Mas, vedes, nesse momento ficamos muito assustados; nunca "experimentamos" esse estado até o fim, para descobrir o que ele é. Tratamos de ligar o rádio, ler um livro, tagarelar com os amigos, ir à igreja, ao cinema, ou ao botequim — pois tudo isso está no mesmo nível, constituindo meios de fuga. Deus é uma fuga estimulante, exatamente como a bebida. Quando a mente está a fugir, não há muita diferença entre Deus e a bebida. Sociologicamente, talvez não seja bom beber; mas fugir para Deus tem também seus inconvenientes.

Assim, para compreendera morte, não verbal ou teoricamente, porém experimentá-la realmente, é preciso morrer para o ontem, para todas as suas lembranças, as feridas psicológicas, a lisonja, o insulto, a mesquinhez, a inveja — é preciso morrer para tudo isso, quer dizer, morrer para si mesmo. Porque tudo isso é o que somos. E vereis então, se chegardes até ai, que existe uma solidão que não é isolamento. Solidão e isolamento são duas coisas diferentes. Mas não podeis alcançar a  solidão, se não experimentardes até o fim e não compreenderdes esse estado de isolamento, em que as relações nada mais significam. Vossas relações com esposa, marido, filho, filha, amigos, emprego — nenhuma delas já nenhum significado tem ao sentirdes que estais completamente só. Estou certo de que alguns de vocês já experimentastes esse estado. E quando fordes capazes de experimentá-lo até o fim e ultrapassá-lo, quando não vos assustar a palavra "só", quando estiverdes mortos para todas as coisas que conheceis, e a sociedade tiver deixado de influenciar-vos, conhecereis então "a outra coisa". A sociedade só poderá influenciar-vos enquanto a ela pertencerdes psicologicamente. A sociedade nenhuma influência pode exercer sobre vós, depois de cortardes o laço psicológico que a ela vos vincula. Então estareis livre das garras da moralidade e respeitabilidade social. Mas o experimentar desse estado de solidão, até o fim, sem procurar fugir nem verbalizar — e isso significa "ficar com ele", completamente — isso requer uma grande soma de energia... Essa energia não contaminada é a solidão que deveis alcançar; e, dessa negação, desse vazio total, surge a criação.

Ora, sem dúvida, toda criação se verifica no vazio, e não quando a mente está cheia. A morte só tem significação ao morrerdes para todas as vossas vaidades, superficialidades, todas as vossas inumeráveis lembranças. Apresenta-se então, algo que transcende o tempo, algo que não podereis alcançar se sentirdes medo, se estiverdes apegado a crenças, se estiverdes nas malhas do sofrimento.

Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito - ICK
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill