O que é esse “eu” a que sua mente
se apega, e que você deseja que tenha continuação? Por favor, não responda, mas
ouça atentamente. O “eu” existe apenas por meio da identificação com posses,
com um nome, com a família, com fracassos e sucessos, com todas as coisas que você
foi e quer ser. Você é aquilo com que se identificou; você é feito de tudo
aquilo, e, sem isso, você não existe. É essa identificação com pessoas, posse e
idéias que você deseja que continue, mesmo após a morte; mas isso é uma coisa
viva? Ou é apenas uma massa de desejos, buscas, realizações e frustrações contraditórias,
com a tristeza sobrepujando a alegria?
Melhor o conhecido do que o
desconhecido, é isso? Mas o conhecido é tão pequeno, tão insignificante, tão restritivo.
O conhecido é dor, e, ainda assim, você anseia por sua continuidade.
Quando cessa todo o esforço por
saber, surge algo não concebido pela mente. O desconhecido é maior que o
conhecido; o conhecido não é mais que um
barco no oceano do desconhecido. Deixe que todas as coisas passem e sejam.
A verdade é uma coisa estranha;
quanto mais você a busca, mais ela se esquiva. Não se pode capturá-la por
qualquer meio, não importa quão sutil e engenhoso seja; não é possível aprisioná-la
na teia do pensamento. Perceba isso, e deixe que tudo passe. Na jornada da vida
e da morte, você deve caminhar só; nessa jornada, não pode haver qualquer busca
de consolo em conhecimento, em experiência, em memórias. A mente deve ser
purgada de todas as coisas que acumulou em sua ânsia por estar segura; seus
deuses e virtudes devem ser devolvidos à sociedade que os gerou. Deve haver
completa e incontaminada solitude.
Krishnamurti - Comentários sobre o viver