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terça-feira, 5 de março de 2013

Não há nada para "praticar"; só há a coisa viva.

Andamos sempre a buscar uma certa coisa misteriosa, porque nos vemos insatisfeitos com a vida que estamos levando, com a superficialidade de nossas atividades, tão pouco expressivas, às quais, entretanto, queremos dar significação e sentido; mas esta é uma atividade do intelecto e, por conseguinte, será sempre superficial, ilusória, e, por fim, sem nenhum significado. Todavia, sabendo de tudo isso — sabendo que nossos prazeres são efêmeros e nossas atividades diárias mera rotina; sabendo também que nossos problemas — tantos deles — talvez nunca possam ser resolvidos; e já descrentes de tudo, sem fé nos valores tradicionais, nos instrutores, nos guris, nas sanções da Igreja e da sociedade — continuamos, a maioria de nós, a tatear, a buscar alguma coisa de real valia, incontaminada pelo pensamento, um certo estado extraordinário, de real beleza e êxtase. A maioria de nós, parece-me, deseja descobrir algo que seja permanente, que não possa corromper-se facilmente. Esquecendo a realidade objetiva, entregamo-nos — sem emoção ou sentimentalismo — a esse profundo ansiar, essa profunda investigação, que porventura nos dará acesso a uma realidade não mensurável pelo pensamento e que não cabe em nenhuma categoria de fé ou crença. Mas, tem o buscar alguma significação?

(...) Devemos compreender a significação do buscar, esse desejo de verdade, esse tatear intelectual por uma coisa nova, independente do tempo, não criada por nossas exigências e necessidades, nossas compulsões e desespero. Pode achar-se a verdade mediante a busca? Ela é reconhecível quando a achamos? Se a achamos, podemos dizer: "Eis a verdade", "Eis o real"? Tem a busca algum significado? A maioria dos indivíduos religiosos fala sem cessar sobre a busca da Verdade; e nós perguntamos se se pode buscar a Verdade. Na ideia de buscar, de achar, não está também contida a ideia de reconhecimento, a ideia de que, achando uma coisa, devo ser capaz de reconhecê-la? E o reconhecimento não supõe conhecimento prévio? A Verdade é reconhecível — no sentido de ter sido experimentada, de modo que possamos dizer: "Ei-la"? Assim, que valor tem o buscar? Ou, se o buscar não tem valor algum, o que vale é apenas a observação constante, o constante escutar? (que não é a mesma coisa que buscar). Na observação constante não há movimento do passado. "Observar" significa "ver claramente". Para vermos com clareza, necessitamos de liberdade — precisamos estar livres do ressentimento, da inimizade, do preconceito, da animosidade, livres de todas as memórias que armazenamos como saber e que impedem o ver. Quando existe essa capacidade, essa liberdade com observação constante, não só das coisas exteriores, mas também das coisas interiores, de tudo o que está se passando, que necessidade há, então, de buscar — se o fato — o que é — está à vossa frente para ser observado? Mas, no mesmo instante em que queremos alterar "o que é", começa a deformação. No observar livremente, sem deformação, sem avaliação, sem nenhum desejo de prazer, no simples observar, verifica-se uma extraordinária transformação do que é.

Em geral, queremos preencher nossa vida com conhecimentos, entretenimentos, com crenças e aspirações espirituais, coisa que, quando as observamos, têm muito pouco valor; desejamos ter uma experiência transcendental, acima de todas as coisas mundanas; desejamos experimentar algo imenso, sem limites, atemporal. Para "experimentarmos" o imensurável, temos de compreender o significado da experiência. Porque desejamos "experiência"?... tem ela alguma significação? Pode a experiência despertar a mente que está dormindo, a mente que chegou a certas conclusões e se acha dominada e condicionada pela crença? Pode a experiência despertá-la, destruir toda essa estrutura? Essa mente tão condicionada, tão oprimida por problemas sem conta, pelo desespero e aflição — essa mente é capaz de reagir a algum desafio? É? E, se reage, sua reação não é necessariamente inadequada e, portanto, conducente a mais conflito? Essa perene busca de experiências mais amplas, mais profundas, transcendentais, é apenas uma maneira de fugirmos à realidade, ao que é — que somos nós mesmos e nossa mente condicionada. Que necessidade tem de qualquer experiência a mente verdadeiramente desperta, inteligente e livre? Luz é luz, e não pede por mais luz. O desejo de mais experiência é fuga ao fato real, ao que é.

Se estamos livres dessa incessante busca, livres da exigência e do desejo de experimentar coisas extraordinárias, podemos passar a investigar o que é meditação. Essa palavra, tal como as palavras "amor", "morte", "beleza", "felicidade", está sobremaneira "carregada". Há muitas escolas que ensinam a meditar. Mas, para compreendermos o que é meditação, temos de lançar as bases da conduta virtuosa. Sem essa base, a meditação é, em verdade, uma forma de auto-hipnose. Se não estamos livres da cólera, do ciúme, da inveja, da avidez, da ganância, do ódio, da competição, do desejo de sucesso — de todas as formas "morais" e "respeitáveis" disso que se considera "conduta virtuosa" — se não lançarmos a base correta, se não vivermos uma vida diária isenta de deformação causada pelo nosso medo, ansiedade, avidez, etc., a meditação pouco importa. O lançamento daquela base é sumamente importante. Assim, perguntamos: Que é virtude? Que é moralidade? Não digais, por favor, que esta é uma pergunta "burguesa", sem significação numa sociedade permissiva. Não nos interessa essa espécie de sociedade; o que nos interessa é uma vida totalmente livre do medo, uma vida capaz de amor profundo e inalterável. Sem ela, a meditação se torna uma divagação, assemelha-se a uma droga que se toma — como tantos o fazem — para ter uma experiência maravilhosa... e continuar a viver uma vida vulgar e insignificante. Os que tomam drogas para terem experiências extraordinárias veem talvez um pouco mais intensamente as cores, tornam-se um pouco mais sensíveis e, com a sensibilidade adquirida nesse estado quimicamente produzido, talvez possam ver sem nenhum espaço entre o "observador" e a "coisa observada"; mas, passado o efeito químico, estão de volta ao mesmo lugar onde estavam, de volta ao seu medo, seu tédio, sua velha rotina — e, portanto, obrigados a tomar de novo a droga.

A menos que se lance a base da virtude, a meditação se torna um artifício para controlar a mente, torná-la quieta, forçá-la a ajustar-se ao padrão de um sistema que diz: "Faze estas coisas, e terás valiosa recompensa". Mas, essa mente — não importa o que façamos por meio de todos os métodos e sistemas existentes — permanecerá insignificante, vulgar, condicionada e, por conseguinte, sem valor. Cumpre-nos investigar o que é virtude, o que é conduta. Conduta é o resultado do condicionamento ambiente, da sociedade, da cultura em que a pessoa foi criada? Se vos comportais de acordo com esse condicionamento, isso é virtude? Ou consiste a virtude estar-se livre da moralidade social, da avidez, da inveja, etc. — coias consideradas altamente respeitáveis? Pode-se cultivar a virtude? E, se ela pode ser cultivada, não se torna uma coisa mecânica e, por conseguinte, sem nenhuma "virtude"? A virtude é uma coisa viva, fluente, que se renova constantemente e de maneira nenhuma pode ser "ajuntada" no tempo. Isso é como dizer que se pode cultivar a humildade. Pode-se cultivar a humildade? Só o homem vaidoso "cultiva" a humildade; mas esse homem, não importa o que cultive, permanecerá vaidoso. Mas, quando se vê claramente a natureza da vaidade e do orgulho, esse próprio ver liberta da vaidade e do orgulho; e, então, existe a humildade. Se está bem claro isto, podemos passar a investigar o que é meditação... A meditação, quando a compreendemos de verdade, é uma das coisas mais maravilhosas deste mundo; ma não tendes a possibilidade de compreende-la se não tiverdes terminado o vosso buscar, tatear, desejar, vossa sofreguidão de agarrar uma certa coisa que pensais ser a Verdade, mas que é apenas a vossa própria projeção. Só podeis alcançar o estado de meditação quando já não estais a exigir  nenhuma espécie de experiência, quando compreendeis a confusão em que estais vivendo, a desordem existente em vossa vida. Com a observação dessa desordem, vem a ordem — uma ordem não antecipadamente planejada. Se se fez essa observação — a qual, em si, é meditação — pode-se então perguntar, não só o que é meditação, mas também o que não é meditação, porque na negação do que é falso encontra-se a verdade.

Evidentemente, é falso qualquer sistema ou método que ensina a meditar. Isso é fácil de perceber, intelectual e logicamente, porque, quando nos exercitamos de acordo com um método — por mais nobre que este seja, por mais antigo, ou moderno, ou popular — estamo-nos convertendo em máquinas, executando repetidamente o mesmo ato com o fim de alcançar alguma coisa. Na meditação, o fim não difere dos meios. Mas, o método vos promete alguma coisa; é um meio que leva a um fim. Se o meio é mecânico, o fim será um produto da máquina; é  mente mecânica que diz: "Obterei tal coisa". Temos de estar completamente livres de todos os métodos e sistemas; isso já é o começo da meditação; já estamos a negar uma coisa que é totalmente falsa e sem significação. E, há ainda, os que praticam o percebimento. Pode-se "praticar" percebimento? Se o fazeis, então, em todo o tempo que estais "praticando percebimento", vos estais tornando desatento. Portanto, ficai consciente da desatenção; não vos exerciteis para vos tornardes atentos; se estais conscientes da desatenção, desse percebimento vem a atenção, e não é necessário "praticá-la"...

(...) Lembro-me de uma ocasião em que eu viajava de automóvel, na Índia, com um grupo de pessoas. Eu ia sentado à frente, ao lado do motorista e, atrás, três pessoas discorriam a respeito do percebimento — pois pretendiam conversar comigo sobre essa matéria. O carro ia a toda velocidade. Na estrada achava-se uma cabra, e o motorista, por inadvertência, esmagou o pobre animal. Os cavalheiros que vinham atrás, falando sobre o percebimento, nada perceberam! ... Isso é o mesmo o que todos nós estamos fazendo: muito interessados, intelectualmente, na ideia do percebimento, na investigação verbal, dialética, de opiniões, entretanto cegos ao que se está passando na realidade.

Não há nada para "praticar"; só há a coisa viva.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill