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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sobre a crítica e autocrítica

Pergunta: Que lugar tem a crítica nas relações? Qual a diferença entre crítica construtiva e crítica destrutiva?

Krishnamurti: Antes de mais nada, por que criticamos? Para compreender? Ou é simples vontade de irritar os outros? Se vos critico, compreendo-vos? Vem a compreensão como resultado de julgamento? Se desejo compreender, se desejo compreender não na superfície, mas a fundo, o inteiro significado de minha relação convosco, começo por criticar-vos? Ou me torno cônscio dessa relação entre vós e mim, observando-a em silêncio o que se está passando? Se não critico, que acontece? É provável que me ponha a dormir, não é? — o que não significa que não adormecemos quando censuramos os outros. Pode acontecer que isso se torne um hábito, e o hábito faz dormir. Vem-nos uma compreensão mais profunda e mais ampla, criticando os outros? Não importa se a crítica é construtiva ou destrutiva: isso não vem ao caso, por certo. Por conseguinte, a questão é esta: qual o estado da mente e do coração, necessário para que se possa compreender as relações? Qual é o processo da compreensão? Como compreendemos alguma coisa? Como compreendeis vosso filho, se sentis interesse por vosso filho? Observando-o, não é verdade? Observando-o, quando brinca , ou estudando-lhe as diferentes disposições de ânimo; abstendo-vos de projetar vossa opinião sobre ele. Não dizeis que ele devia se isso ou aquilo. Estais muito vigilante, não é verdade? — ativamente vigilante. Então, talvez comeceis a compreender a criança. Se estais constantemente a criticá-la, a injetar-lhe vossa própria personalidade, vossas idiossincrasias, vossas opiniões, determinando como ele deve ser ou como não deve ser, etc., criais, naturalmente, uma barreira nessas relações. Infelizmente, criticamos, quase todos nós, porque desejamos moldar, porque desejamos interferir. Dá-nos certo prazer, certa satisfação moldar uma coisa — as relações com o marido, o filho ou quem quer que seja. Vem-vos, daí, uma sensação de força, sois vós "quem manda", e nisso há uma imensa satisfação. Ora, sem dúvida, em todo esse processo não há compreensão das relações. A mera imposição, o desejo de moldar os outros pela norma especial de vossa idiossincrasia, vosso desejo, vossa vontade, tudo isso impede a compreensão das relações.

E há também a autocrítica. Criticar a si mesmo, condenar ou justificar a s i mesmo, traz a compreensão própria? Quando começo a me criticar, não limito o processo da compreensão, da exploração? A introspecção, que é uma forma de autocrítica, nos revela o "eu"? O que torna possível a revelação do "eu"?  A constante atitude analítica, meticulosa, crítica, não concorre, naturalmente, para revelá-lo. O que traz a revelação do "eu", em virtude da qual começamos a compreendê-lo, é o constante percebimento dele, sem condenação e sem identificação alguma. Tem de haver certa espontaneidade; não podeis estar constantemente a analisá-lo, a discipliná-lo, a moldá-lo. Esta espontaneidade é essencial à compreensão. Se apenas limito, controlo, condeno, ponho termo ao movimento do pensamento e do sentimento, não é verdade? É no movimento do pensamento e do sentimento que posso descobrir alguma coisa — e não no simples controle. Quando se faz uma descoberta, é importante saber agir em relação a ela. Se atuo de acordo com uma ideia, um padrão, um ideal, ajusto, à força, o "eu", a determinado padrão. Não há compreensão aí, não há possibilidade de transcender o "eu". Se posso observar o "eu" sem censura, sem identificação, é-me então possível transcende-lo. Eis porque é totalmente errado todo o processo de aproximação a um ideal. Os ideais são deuses por nós mesmos fabricados, e ajustar-nos a uma imagem projetada de nós mesmos, não é, por certo, libertação.

Nessas condições, só pode haver compreensão quando a mente está silenciosamente cônscia, observando — o que é muito diferente de estar, como tanto gostamos, ativos, agitados, criticando, condenando, justificando. Tal é a estrutura integral do nosso ser,  e através da cortina das ideias, dos preconceitos, dos pontos de vista das experiências, das lembranças, procuramos compreender. É possível nos livrarmos de todas estas cortinas e compreendermos diretamente? Por certo, é isso o que fazemos quando o problema é muito intenso; não percorremos todos esses métodos e, sim, aplicamo-nos ao problema diretamente. A compreensão das relações só vem quando o processo de autocrítica é compreendido e a mente fica tranquila. Se me estais escutando e tentando compreender sem esforço demasiado, o que desejo transmitir-vos, há então possibilidade de nos entendermos; mas se estais continuamente criticando, opondo continuamente vossas opiniões, o que aprendestes nos livros, o que outro vos ensinou, etc., então vós e eu não estamos em relação, porque entre nós dois existe esta cortina. Se estamos ambos tentando descobrir a solução do problema — que se encontra no próprio problema — se estamos ardentemente interessados em aprofundá-lo, em descobrir a verdade que encerra, em descobrir o que ele é — estamos então em relação. Vossa mente está então vigilante e passiva, observando, para ver o que é verdadeiro, nele. Por conseguinte, vossa mente tem de ser muito ágil, não deve estar ancorada em ideia ou ideal algum, em certo julgamento ou opinião, consolidada pelas vossas experiências pessoais. Vem a compreensão, sem dúvida, quando há rápida flexibilidade da mente, que está passivamente vigilante. Ela é então capaz de receptividade, é então sensível. Não é sensível à mente repleta de ideias, de preconceitos, de opiniões pró ou contra. Para compreender as relações, é necessária vigilância passiva — a qual não destrói as  relações. Pelo contrário, ela torna as relações muito mais vitais, muito mais significativas. Há, então, nessas relações, uma possibilidade de verdadeira afeição; há nelas uma cordialidade, um aconchego, que não é mero sentimento ou sensação. Se pudermos entrar em contato, numa relação desta natureza, com todas as coisas, nossos problemas serão então facilmente resolvidos — os problemas relativos à propriedade, à posse, porque nós somos aquilo que possuímos. O home que possui dinheiro, é o dinheiro. O homem que se identifica com a propriedade, é a propriedade, a casa, os móveis. Analogamente, com relação às ideias ou às pessoas; quando há vontade de possuir, não há relações. A maioria de nós quer possuir, porque nada mais tem se não possui coisas. Somos conchas vazias, se não possuímos alguma coisa, se não enchemos nossas vidas com móveis, música, conhecimentos, com isso, com aquilo. E essa concha, assim cheia, faz muito barulho, e a esse barulho chamamos viver; isso nos satisfaz. Quando se dá a ruptura, a quebra dessa condição, vem o sofrimento, porque nos descobrimos subitamente a nós mesmos, tais como somos: conchas vazias, sem muita significação. Estar cônscio de todo o significado das relações é ação, e em resultado dessa ação, há possibilidade de verdadeiras relações, possibilidade de descobrir sua extraordinária profundeza, sua alta significação, e de saber o que é o amor.


Krishnamurti – A primeira e a última liberdade
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill